História Duas Coroas - Segunda Temporada - E nunca se esqueça que aquela coroa é sua.

A transmissão foi ao vivo, de modo que quando as câmeras desligaram eu ainda estava eletrizada. Agora todos (todos!!) sabem que Tom está vivo e de que lado ele está também. Liam vem em minha direção e eu já sei o que vem a seguir. –Por que?

-Eu tinha que dizer. Estava entalado em minha garganta e... se vamos iniciar uma guerra que ela seja para valer. Com todas as cartas à mesa. –Não era para eu ter mencionado Thomas. Só quem sabia dele e Adela além de mim eram Liam e James. Talvez alguns funcionários do palácio também tenham visto, mas nada demais. Eu os expus. À todos. Minha convicção desaparece por um estante enquanto lembro daquele rapaz que brincava comigo e Liam. A dor no entanto logo se vai quando sinto braços me rodeando e eu me prendo neles. Por um segundo, apenas um segundo cheguei a sentir saudades daquela pele áspera, porém confortável, daquele cheiro que apenas ele tem, do jeito como me sinto segura e como podemos compartilhar nossas dores de infância. Meu gigante. –Acho que meu pai não viu. Quer dizer... ele estava no hospital, ninguém deixaria ele ver isso. Se tivesse chance de ele ter visto eu não diria.

Liam apenas põe sua cabeça sobre a minha, apoiando o queixo no topo dela. Podia ver seu pescoço –mais especificamente seu pomo de adão- se movendo enquanto engolia em seco. –Me diga qualquer coisa. Preciso apenas pensar, resolver, planejar.

-Eu acho que estou apaixonada. –Sussurro. –Eu sei que isso é bobo, -dou uma risada fraca- mas isso me assusta.

-Ele também te ama –Ele tira a cabeça de cima da minha e me olha nos olhos com sorriso travesso.

-Quem? –Fixo seus olhos azuis em desafio.

-Príncipe Victor! –James entra gritando na sala.

-Isso responde sua pergunta? –Liam sussurra baixinho antes de se virar para ver a confusão que se formava atrás de si.

Vi o soldado que me acompanhou na última missão –Spencer? - fazer um sinal para Liam –algo como um código- que o fez ir correndo. Estava prestes a perguntar o que estava acontecendo quando um vulto me puxa. James. –Venha.

-O que?

-Rápido. Sem perguntas. –Um sinal alto ecoa pelo lugar. Me sinto meio fora do contexto. Todos pareciam de repente ter ficado apressados, gritando e procurando por pessoas enquanto eu estava parada sem entender praticamente nada. Quase igual... ao ataque de Adela no palácio de Iléa!

-Onde está Victor? –Pergunto a primeira coisa que me vem à cabeça. James grita algumas coisas que não ouço. Passo os olhos pelo lugar e não o acho.

-Siga-me! Eu não estou... –James continua falando. Vick?? -...rendo! Ande, não há tempo para...-Vick? Vick? Onde...? –Esqueça! –James tenta me puxar mas eu o empurro.

-Eles já estão próximos. Não acho Mary. –Viro-me e uma onda de alivio percorre meu corpo. Vick. –O general pediu para que fosse atrás dela. Spencer está nos esperando lá embaixo, ele me explicou as passagens. Consigo ir sozinho. Vá atrás de Mary! –Fico apenas parada observando. James corre. Viro-me para Vick querendo ao menos perguntar o porquê de ter demorando tanto, mas sem me dirigir uma palavra ele me pega e sai correndo. Eu tenho pernas (!), posso andar sozinha (!!), mas eu apenas...permiti.

Descemos correndo até umas passagens estranhas e Vick me põe no chão. Querendo fazer algo tento abrir a porta. –Merda! Trancada. –Viro-me para Vick que está desesperado. Ele me empurra e tenta abrir a porta. Nada. –Você vai acabar quebrando a maçaneta. –Ele se vira. Ótimo, a primeira coisa que digo depois da nossa primeira briga realmente séria é “Você vai acabar quebrando a maçaneta”.

-Saiam da frente! –James grita. Victor corre atrás dele e pega uma Mary desmaiada de seus braços. Sua preocupação com ela é completamente visível. Talvez algumas coisas nunca mudem afinal. Dois barulhos altos ao meu lado. James abre a porta com dois tiros. Vick entra primeiro com Mary e James faz um sinal para que eu entre.

-E Liam? –James olha para além de mim e eu tenho medo da resposta. Não! Não! Saio correndo em direção a confusão. –Me solte! –Estou prestes a lhe desferir um chute quando noto que quem me segura é o dono de uma cabeleira ruiva. –Me solte... Liam! Liam! –Minha voz está totalmente esganiçada. Minha garganta se fecha e lágrimas quentes escorrem. –Liam!!

Eu vejo o moreno vindo correndo e Vick percebendo que eu não correria me solta me deixando cair de joelhos no chão. Liam se ajoelha ao meu lado e me abraça. Eu sem forças só me deixo ser abraçada. –Eu vou ficar. –Nessa hora minhas energias voltam em desespero.  Me agarro a Liam com força e ele me levanta do chão. Enfio minha cabeça em seu pescoço em prantos. Eu já havia perdido Thomas, agora Liam? Eu não havia vindo justamente para que ele não pusesse sua vida em risco? –Eu tenho que ir. Eu te amo demais pequena. Nunca se esqueça disso. –Ele sussurra em meu ouvido e depois me solta, mas eu não.

Não o solto e cravo minhas unhas em suas costas. Tento pensar em qualquer banalidade. E dou um pequeno sorriso em meio a dor. –Você... –Fungo. - ...tem que pintar o cabelo novamente. –Ele ri. Uma risada triste, mas ainda assim uma risada. –Já está voltando a ser loiro.

-Creio que eu não tenha que me esconder mais. Eu te amo e caso alguma coisa... –Ele para e uma dor imensa me invade. –Seja feliz, pequena. E nunca se esqueça que aquela coroa é sua. –Ele me solta e vai. Corre sem olhar para trás.

Tento ir atrás em um impulso, mas alguém me puxa. E eu me debato. Grito e não ligo se iria machucá-lo. Chuto, arranho, me jogo. –Liam!! –Ele se afastava e eu era arrastada par dentro da escuridão atrás da porta. –Liam!! –Eu já nem consegui gritar. Apenas conseguia chorar. A minutos atrás eu estava em seus braços. É tudo culpa da transmissão. O que eu fiz?

-Não respirem!!! –Uma voz masculina excessivamente grossa grita e eu vejo algo como uma fumaça com uma coloração estranha. Eu não obedeço. E apago.

~Continua