Tinder
O tédio é uma obra do demônio. Ficar vegetando em um sofá não era a maneira mais aconselhável de viver a vida, mas que se foda porque sou canceriano e tenho todo direito de ficar triste.
Malia não queria mais saber de mim. Nenhum dos meus amigos queria saber de mim. O pior era que amanhã seria o dia da minha entrevista e eu não consigo me concentrar em nada, já até esqueci as respostas das possíveis perguntas.
A única parte boa é que meu pai pagou o conserto do meu celular e eu nem precisei chorar tanto. Acho que ele se sente culpado por estar bebendo... tanta coisa importante acontecendo na minha vida e eu aqui depressivo porque meus amigos não querem falar comigo! Ah, que se dane.
Levantei do sofá e fui andando até a livraria. Que lugar melhor para arrumar um crush cult? Só não quero macho com barba igual ao do Machado de Assis e mulher feminista que odeia os homens. Mas não vamos esquecer quem é o DUFF, isso mesmo, euzinho Melo. Tinha uma garota com a metade do cabelo raspado. Ela me atendeu com uma vontade enorme de morrer, fiquei com sono só de olhar para ela. Acabei mesmo comprando uns livros e fui a uma lanchonete que ficava perto da livraria.
_ Posso ajudar? _ perguntou ninguém menos do que Brett Talbot do Devenford.
Fiz minha melhor cara de ressentido.
_ Que tal um pouco de gelo para o meu rosto machucado?
Brett levantou os olhos do caderno de anotar pedidos e me encarou surpreso.
_ Miles? O que você está fazendo aqui? _ questionou surpreso.
_ Meu nome é Stiles e eu só estava com tédio então fui à livraria procurar alguém interessante, mas só tinha uma garota estranha com cara de quem queria estar morta, por isso resolvi vir aqui na lanchonete porque parecia ser confortável e acho que a comida é boa e...
Calei a boca. Que mico.
_ A Clara é estranha mesmo e é muito difícil encontrar alguém interessante naquela livraria. A lanchonete dos meus pais é ótima mesma a comida nem se fala.
Fiquei em choque. Geralmente as pessoas tiram onda da minha cara pelo fato de que eu falo bastante se deixar.
_ Mas cá entre nós, a lanchonete é uma área da galera de Devenford.
_ Se você quiser eu posso ir embo...
_ Não! Relaxa ai Stiles. Hoje é por conta da casa, mas me avise caso alguém mexa com você.
Adoraria que alguém mexesse comigo.
_ Aviso sim.
_ Você irá comer o especial da minha mãe.
Ele disse isso e saiu sem me deixar muita escolha.
Enquanto esperava o especial da mãe dele, peguei meu celular e isso mesmo, abri o Tinder.
Cada povo bonito. Fiquei surpreso com a quantidade de match’s que eu tive. Para um DUFF eu estava podendo. Encontrei algumas pessoas conhecidas. Tirei print das descrições do perfil. NÃO! Derek Hale no Tinder? Deus é pai.
“sou um cara extrovertido e inteligente. Minha mente é aberta para coisas novas. Não fique com vergonha e de um oi”.
Ah, que falsidade do caralho. Tirei um print e mandei para o Derek. Graças ao maldito trabalho eu tive que salvar o número dele. Claro que falei que ele era um mentiroso e que eu tinha pena de quem acreditasse nessas mentiras.
Depois de um tempo Brett voltou com o especial da mãe dele e ó vou te falar, que delicia. Dei umas garfadas na torta de maracujá.
_ Chega à manteiga derrete _ falei para ele, fazendo graça.
Ele riu muito.
_ Aquele pão quentinho hummmmmmmmmm
Quase engasguei de tanto rir.
_ Não acredito que você conhece isso.
_ Meu melhor amigo é totalmente gay e ele me obriga a conhecer essas pérolas da internet _ explicou ele.
Chateado. Pensei que Brett fosse totalmente gay.
Alguns clientes entraram na lanchonete e ele foi atender. Comi minha torta e continuei no Tinder. Meu pai ligou e disse que eu deveria ir pra casa, pois estava tarde. Olhei no relógio da parede e vi que marcava 16h17min. Alguma coisa estava acontecendo.
_ Já vai? _ perguntou Brett, barrando minha passagem na porta.
_ Meu pai ligou e disse que eu deveria ir para casa.
_ Está tudo bem?
_ Eu acho que sim. Brett, diga para sua mãe que o especial dela estava uma delícia e obrigado por tudo.
Ele deu um sorriso torto.
_ Eu que tenho que agradecer. Se você tivesse contado para alguém sobre a briga e sobre o soco eu teria perdido minha bolsa em Harvard.
Encarei-o surpreso.
_ Eu também vou para Harvard, quase isso. Amanhã tenho uma entrevista, mas já passei nas provas.
_ Isso é ótimo! Tenho certeza que você irá passar na entrevista. Até porque você é simpático e engraçado, difícil não gostar de você.
Fiquei vermelho e queria sair correndo o mais rápido possível, mas minha educação gritou comigo.
_ Brett, venha aqui _ chamou uma mulher parecida com ele, só que baixinha.
_ Minha mãe _ explicou ele.
_ Até mais _ falei, me despedindo.
_ Até e boa sorte _ disse ele, sorrindo.
Quando estava na porta da minha casa eu percebi que havia esquecido meus livros. Suspirei e entrei em casa. Dessa vez meu pai estava bebendo refrigerante e assistindo Grey's Anatomy.
Sentei ao lado dele.
_ O que foi? _ perguntei logo de cara.
Ele me encarou confuso.
_ O senhor disse para eu vir embora porque estava tarde.
_ Ah. É que daqui a pouco eu vou trabalhar e queria passar um tempo com você.
Onw.
_ Eu queria me desculpar com você _ começou ele, pausando a série _ Você é tudo o que eu tenho e a coisa que eu mais amo.
Segurei na mão dele como um incentivo.
_ Eu sei que sua mãe escolheu ficar com outra pessoa e eu não vou dizer que isso não me deixa triste, pois deixa! Mas vou tentar superar isso.
Dei um sorriso bobo e abracei meu pai.
Não precisava de mais nada.
_ Pai? _ chamei depois de um tempo.
_ Sim _ disse ele.
_ Meredith Grey é chata.
_ Sai daqui!
Fui correndo pro meu quarto. Deitei na minha cama sorrindo.
Me pai me acordou 19horas. Eu tinha que pegar um avião para ir a Cambridge. Fiquei todo tremido na hora de decolar o voo, já que ele não pode ir junto. Se o avião cair, só eu irei morrer e a linhagem Stilinski estará salva.
_ Tente relaxar _ disse uma mulher que estava sentada ao meu lado _ Nada irá acontecer com você.
A voz dela era tão suave e verdadeira que eu realmente acreditei nisso. Aos poucos fui soltando o acento.
_ Ter medo de altura é normal _ disse ela.
_ Meu medo é do avião cair e eu parar em uma ilha como a de Lost.
Pensa numa mulher que riu. Teria ficado sem graça se eu não tivesse olhado pela janela e visto as nuvens.
_ Meu nome é Lya Coulter.
_ Stiles Stilinski. A senhora é psicóloga?
Ela me encarou com a intensidade daqueles olhos verdes. Me senti exposto.
_ Sou psiquiatra. E você?
_ Estudante.
_ De psicologia?
_ Não. Sou estudante do ensino médio.
A senhorita Lya pareceu surpresa.
_ Estou indo fazer uma entrevista em Harvard _ expliquei.
Algo no semblante dela mudou.
_ Espero que passe.
_ Obrigado.
A viajem passou rapidinho. Fiquei conversando com a Sra. Lya e nem vi quando o avião aterrissou. Só nos despedimos quando peguei um taxi para o hotel reservado.
Fiquei tentado em dar uma volta e conhecer Cambridge, mas o medo de me perder era maior que minha curiosidade.
Acabei ficando no hotel mesmo, comendo doces e mais doces.
_ Como você acha que será seu período em Harvard? _ perguntou a Sra. Lya.
Exatamente. Ela é a pessoa que vai me entrevistar, inclusive já está fazendo isso.
_ Quero pensar que será bom, mas tenho certeza que a palavra que mais se aproxima é “cansativo”.
_ E os seus amigos? Você me parece ser simpático e com certeza deve ter muitos. O que você vai fazer se for aprovado e tiver que ir embora?
_ Amigos? _ eu poderia dar uma resposta linda e totalmente falsa, mas ela saberia disso _ Eu troco por outros.
Sra. Lya assentiu e deu um sorriso.
Quando eu já estava saindo da sala dela ouvi que fui chamado novamente.
_ Eu não entendi o que a senhora disse.
_ Eu disse que você já pode começar a fazer outros amigos. Isso é só.
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