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História Duke Of Blood - Bondade


Escrita por: jinyoungs e jiminstand

Capítulo 3 - Bondade



13 de Julho de 1606

– Por que você está aqui? - pergunta o garoto de cabelos castanhos ao abrir a porta, dando à Taehyung uma visão ampla da parte de dentro da casa. A sala estava vazia, porém bagunçada, e várias folhas estavam espalhadas pela mesinha de centro. – Você não deveria estar na China com seu pai? Eu não esperava reencontra-lo tão cedo. Está tudo bem? Você se meteu em encrenca?

Taehyung balança a cabeça negativamente mesmo sabendo que sua mente ainda não havia computado todas aquelas perguntas. Só de pensar em contar a verdade a respeito de onde esteve, fez com que Taehyung se sentisse exausto. Como poderia explicar o impulso que sentiu de simplesmente saltar em um trem e visitar o amigo? Ou o próprio motivo que o levou a largar o pai na China e voltar à Coreia de repente? Ou, até mesmo depois de anos, como poderia explicar a tranquilidade bizarra na voz do tio, Príncipe Jungsan, enquanto cortava os membros daquele pobre rato? Taehyung pensou um pouco e descobriu que, na verdade, ele não queria saber explicar isso.

– Eu só precisava sair um pouco. Viajei por um longo tempo. E não, não estou encrencado e tenho certeza que meu pai não precisará mais de mim para formar uma aliança política com a China, aliás, não vai me convidar para entrar? - ao falar, Taehyung tenta manter seus olhos fixos nos do garoto à frente. Não queria demonstrar nenhum tipo de sentimento, e para sua sorte, ele era ótimo fazendo isso.

– Bom isso! - responde o outro deixando aquele ar questionário para trás. – E sim, entre, porque preciso mesmo lhe dizer uma coisa.

Taehyung adentra a pequena sala e, após jogar suas malas em canto qualquer, senta-se no sofá respirando fundo. O outro garoto olha para a porta atrás dele, depois fica na ponta dos pés, examinando todas as janelas, provavelmente para conferir se há alguém bisbilhotando. Depois, apoia as mãos no sofá. Taehyung segue-o com os olhos a cada movimento, mas logo desiste de tentar desvendar o que está acontecendo.

– Você consegue ser um garoto por alguns segundos?

– Eu acredito que sou sempre um garoto, Hoseok. - Taehyung franze as sobrancelhas. Hoseok rola os olhos para cima e afasta os cabelos da testa.

– Sério isso, Taehyung? Eu apostava meu traje hanbok* que você era um avestruz.

– Você está deixando transparecer o palhaço dentro de você. - diz Taehyung e Hoseok empalida-se. – Hoseok, você está bem? - Taehyung pergunta sem entender o motivo daquela reação.
Hoseok sempre teve um jeito brincalhão. Na escola, era ele sempre o palhaço da turma. Taehyung adorava isso; com Hoseok as risadas vinham naturalmente, o que fazia Taehyung se sentir bem, sendo esse, um dos vários motivos para ter escolhido ele como amigo-companheiro de toda sua adolescência e até hoje.

– Palhaços. - Hoseok dispara e Taehyung trava.

– Oi?

– Palhaços! Eles estão por aí. Não ouviu no noticiário?

 – Não sei do que você está falando, Hoseok.

Hoseok não diz mais nada. Apenas vagueia pela própria casa observando os próprios quadros. Lembrava-se que seu pai considerava a arte algo sem utilidade prática e que sua apreciação é um desperdício de tempo que poderia ser usado estudando para virar o Primeiro-Ministro da Província. Porém, embora Hoseok tivesse tido essa educação e apenas tenha visto obras em livros didáticos na infância, sua casa era decorada com vários tipos de arte que ele mesmo criava.

– Não sei ao certo. - diz Hoseok por fim. – Recentemente houve dois homicídios. Mas, vários relatos dizem que avistaram figuras de palhaços próximo a esses locais. - Hoseok encarou Taehyung enquanto falava. – O mais bizarro é que as vítimas apresentam coisas peculiar, porém iguais. No início, acreditava-se que teria sido um acidente. A vítima teria tropeçado e caído de cara sobre um tronco de árvore fazendo seu maxilar desprender. Uma morte horrível, eu diria, porém, ontem uma nova vítima apareceu com esse mesmo problema. O maxilar foi encontrado completamente despregado do crânio.

– Você está querendo dizer que...

– Sim! É muito provável que tenha sido feito pela mesma pessoa. - completou Hoseok. – Realmente não sei dizer... mas, e se os crimes e os palhaços tiverem alguma relação? - Hoseok parecia ansioso, mas Taehyung apenas encarava o amigo com um olhar indeciso.

– Hoseok, não me diga que você está acreditando nisso.

– Não estou confirmando nada, mas que é estranho, isso é. Aliás, você vive vadiando por aí, seu vagabundo, deveria ter mais cuidado.

– Você está dizendo que se preocupa comigo? - Taehyung lança, com uma sobrancelha erguida.

– Óbvio. - Hoseok retruca com seu típico sorriso de deboche. Taehyung sente o peso do sarcasmo no ar, o que o fez xingar Hoseok de várias formas mentalmente.

– Cale a boca e faça algo útil me trazendo algo para comer. - diz Taehyung levantando-se e entrando no primeiro quarto que avistou.

Quando Hoseok retorna com um bolinho e um prato de japchae* em cada mão, Taehyung já estava sentado na beirada da cama de Hoseok, olhando para os próprios sapatos sujos e desgastados. Precisaria inclinar-se para tirá-los antes de subir na cama, mas simplesmente ignorou-os. Hoseok apenas entrega um dos bolinhos e o Japchae.
Japchae era a comida preferida de Taehyung que, ao ver aquilo, sentiu o peito se encher de gratidão. É uma sensação terna, quase como uma dor. Talvez todos tenham essa dor dentro de si, afinal. Pensou Taehyung.

O bolinho era de nozes com avelã. Taehyung lembrou-se que sua mãe costumava cozinhar pães do mesmo sabor para dar aos moradores de rua da Zona Oeste, mas ele nunca chegou a experimentar um. Mesmo naquela época, já se considerava velho demais para ser mimado; sempre quis ser independente. Com essas lembranças, Taehyung tenta ignorar a pontada de dor que sente no estômago sempre que pensava em sua mãe. Não gostava de lembrar da morte dela há alguns anos, então, ele apenas seguiu comendo o japchae, enquanto Hoseok arrumava algo para fazer em sua cômoda.

– Você já viu alguma vez? - perguntou Taehyung. Hoseok o encara demonstrando algo como "eu deveria entender esta pergunta?" em seu rosto. Vendo isso, Taehyung continuou: – Os palhaços, quero dizer. Já viu algum deles? 

Hoseok para de fazer o que estava fazendo, deixando uma gaveta aberta e intacta. Ele se mantém quieto por alguns segundos antes de se virar para o amigo.

– Uma vez. - ele diz e volta a arrumar algo na cômoda. Taehyung notou que ele disse aquilo sem aquela malícia comum de Hoseok. Talvez queria provar que não estava com medo ou, simplesmente, que não queria brincar com algo que ele considerava sério, mesmo que fosse relacionado à palhaços.

– Posso ficar por um tempo, Hoseok? - perguntou Taehyung mudando de assunto, mesmo já sabendo a resposta. Ele já havia feito aquilo várias vezes. A casa de Hoseok virou um refúgio, um segundo lar para ele. Quando as coisas pareciam pesar demais, ou quando ele não conseguia aguentar a pressão, ele escondia-se na casa do amigo e passava dias por lá. Ninguém sabia disso, muito menos o motivo disso, e Taehyung amava esse fato.
Agora, mesmo estando de volta à Coreia, Taehyung sabia que só iria voltar ao palácio quando se sentisse confortável o bastante para isso, e algo lhe dizia que isso iria demorar, demorar bem muito. Portanto, quando Hoseok concordou com a cabeça e logo em seguida deu um sorriso, aquele sorriso que Taehyung acreditava que poderia salvar vidas, Taehyung apenas deitou-se sobre a cama e dormiu, mesmo sabendo que aquele não era o quarto de hóspedes.


○●○

 

8 de Agosto de 1606


Ele não os notava, é claro. Ninguém presta atenção às roupas vibrantes que o seguia há alguns metros de distância. É um fato que Gyeonggi tem um dos sistemas de vigilância mais amplos que o século XVII poderia ofertar naquela época: o olho humano. É impossível fazer algo em Gyeonggi sem que, em algum momento, o circuito de câmeras natural do ser humano o filme. Os olhos cintilantes da figura gravavam silenciosamente o progresso de Kim Minhyuk e o seguiam quando ele virou à esquina. Eram onze e dezessete da noite; ele não deveria estar no trabalho à essa hora. Tinha esquecido de que hoje precisava voltar mais cedo para casa e agora estava correndo para tentar chegar a tempo, pois como consequência, havia perdido o bonde das onze também. Antes de sair, além do casaco,  Minhyuk tinha pego o bloco de notas para anotar um bilhete à uma das secretaria do Vice-Ministro da Província. Era difícil escrever e andar ao mesmo tempo; quer dizer, se ele não quisesse cair da escada ou dar de cara em uma prateleira.

"Estou ayrasado... amanhã enttegarei o relatório."

Ele tentou escrever a palavra “atrasado” e “entregarei” três vezes, mas as letras sempre pareciam “ayrasado” e “enttegarei”. Ele não estava ayrasado, só atrasado. Mas se recusou a parar de andar para consertar. Não podia perder mais tempo; e a secretária teria de dar um jeito de entender a mensagem.

Eu vi Minhyuk saindo da indústria de têxtil apressado. Eu vi que ele não quis esperar o bonde das 00hs, e decidiu ir andando sozinho ignorando o fato de estar nevando fraco. Eu vi quando ele chegou próximo à floresta. Eu vi tudo; pois foi eu quem planejou cada detalhe. Cada minuto, cada segundo, cada palavra. Eu pensei em tudo.

390 segundos, eu contei. Foram necessários 390 segundos até Minhyuk perceber algo estranho acontecendo.
Aos 102 segundos, ele não notou a figura de nariz vermelho se aproximando lentamente de suas costas segurando um grosso tronco nas mãos. Aos 342 segundos ele não notou que a figura atrás preparava-se para atacar enquando sorria radiosamente para a nuca do rapaz. Mas, aos 390 segundos, por sorte ou quase isso, Minhyuk olhou para trás.
Minhyuk correu o mais rápido que pôde. Correu para onde as árvores estavam mais juntas, na escuridão que se adensava. Correu por sua vida. Correu para dentro da floresta. Procurava a escuridão na parte mais densa da floresta com a trivial ilusão de que as folhas o esconderiam. Alí ele acreditou que estava só. Mas não... Não completamente.

O crepúsculo era distorcido e desfigurado pela escuridão e pelo próprio pânico. Eu odiava essa parte, mas adorava vê por puro terror, Minhyuk parou para escutar. Sua respiração era ofegante, pesada e rasgava o silêncio, soando como se ele estivesse rasgando um papel toalha. Minhyuk tentava escutar, mas tudo que ele conseguiu ouvir era o sangue latejando nos ouvidos e o gorgolejar baixinho de um riacho. Ele não ouvia mais outros passos; nenhum galho partindo, nenhum som de folhas sendo pisadas sobre a fina camada de neve.
"Será que consegui escapar?"
Eu aposto que ele pensava isso. Eu aposto que Minhyuk desejava isso com todas suas forças... pena que eu não iria deixar ele obtê-lo.

– Vamos jogar! - entoei suavemente enquanto esperava meu brinquedinho chegar.

○●○


Notas Finais


*Hanbok (한복): é um tradicional vestido coreano, comumente usado na era Joseon. Muitas vezes, é caracterizado por cores fortes.
*Japchae(잡채): é um tipo de espaguete coreano com carnes e vegetais.

Espero que tenham gostado. Voltaremos em breve¡! ♡


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