História Dupla Personalidade, Kim Tae Hyung - Meu melhor amigo

Meu nome é Yuri. Sim, meu nome é masculino no Brasil, sofri com esse nome por muito tempo até me acostumar e ter orgulho.

Meus pais eram brasileiros que se conheceram na Coréia do Sul. Ambos eram adoradores de cultura oriental e por isso me deram esse nome japonês. Se viram pela primeira vez em um tuor de turismo pelas praias de Busan e se encontraram novamente enquanto visitavam a ilha de Jeju.

Eles insistem em contar a piada de que foi “amor a segunda vista”, apesar de eu não acreditar que um amor possa se desenvolver tão rápido. Mas mesmo assim, eles se aproximaram na Coréia do Sul e vieram se casar no Brasil, que foi onde eu fui nascer e crescer. Pelo menos até eu fazer oito anos, quando meus pais decidiram se mudar pra o lugar onde se conheceram para viver, numa cidade chamada Daegu.

Minha chegada na Coréia não foi fácil. Apesar de ter sido treinada desde sempre a falar pelo menos o básico de coreano e inglês, eu ainda não sabia falar nenhuma tão bem quanto eu gostaria, então meu primeiro dia de aula não foi lá a melhor experiência da minha vida.

Além de ser a única com feições estrangeiras, eu ainda não conseguia me comunicar bem. Foi um verdadeiro terror ter todos me encarrando descaradamente, nem sequer fazendo menção de disfarçar , até o próprios professores. Eu sentia como se pudesse ser rodeada e atacada a qualquer segundo. Claro que até hoje sofro com esses olhares mesmo morando aqui a 10 anos e falando coreano muito bem, mas imaginem uma criança que já não tinha facilidade de socializar com as pessoas do seu país, em que era considerada “normal”, tentando viver em um lugar em que as pessoas lhe jogavam olhares de julgamento, por algo que ela sequer tinha culpa.

Hoje eu sei que aquilo era apenas curiosidade e minhas dificuldades de socializar foram por água a baixo, porque atualmente eu sou a pessoa mais falante e extrovertida que eu conheço. Tirando talvez, ele. Aquele que me ajudou a superar esse momento complicado que foram as primeiras semanas de Coréia.

Kim Taehyung era meu melhor amigo. Nos conhecemos naquela mesma escola. Onde todos me olhavam torto, ele foi o primeiro a me olhar com admiração, chegar em mim e tentar conversar. Ele era alto, magro, com olhos e cabelo castanho escuro que tinha um corte de tigelinha, meio desconectado. Sua pele era bronzeada em um tom que nunca havia visto em ninguém e a primeira vez que ele me sorriu com aquele sorriso quadrado sincero, foi um alívio em meio a tantos sorrisos falsos vindos dos professores.

Tae: Oi. Meu nome é Kim Taehyung. Qual o seu? Você consegue me entender?

Yuri: Eu não falo muito bem coreano e meu nome é Yuri.

Tae: Você é de onde?

Yuri: Brasil.

Tae: Wow.

Ele parou me olhando de boca aberta, meio sorrindo. Seus olhos quase chegavam a brilhar. Ele parecia me analisar inteira e de repente soltou essa:

Tae: Você é bonita. Você é loira mesmo? Seu cabelo é bonito.-Ele falava gesticulando e pausadamente para que eu entender.

Yuri: Sim. Eu sou loira mesmo. Obrigada. -Eu respondi meio tímida pelo elogio repentino.

Tae: Wow. Gostei de você. Vamos ser amigos?

Ele soltou um enorme sorriso quadrado e apertou os olhos em um eye smile me estendendo a mão e eu, que levei muito tempo para entender e absorver suas palavras, fiquei parada olhando para ele.

Tae: Não vai me deixar ficar com a mão estendida aqui, não é? Os outros já estão começando a olhar. Eu disse que gostei de você e que quero ser seu amigo.

Ele falou a última frase pausadamente de novo. Me encarando um pouquinho mais sério, então eu apertei sua mão e sorri de volta.

Yuri: Tudo bem, vamos ser amigos.

E a partir desse dia, eu posso dizer que nunca mais nos separamos. Nossa amizade ia crescendo a cada dia mais e mais. Ele sempre repreendia as pessoas que me olhavam torto e me ajudou com o coreano. Já eu lhe ajudava com os estudos e a controlar toda sua impulsividade. No entanto isso foi por pouco tempo, por que com a nossa proximidade, eu acabei virando tão impulsiva quanto ele.

Por conseguinte, nossas famílias acabaram se conhecendo e se tornando muito próximas e depois de um tempo minha família se mudou para o mesmo conjunto onde Taehyung morava. Nossas mães e nossos pais também se tornaram amigos e os irmãos de Tae, meus próprios irmãos. Erámos praticamente uma família só.

No entanto isso trazia uma consequência um tanto desagradável. Nossos pais insistiam em um possível relacionamento entre mim e Tae e nós sempre tínhamos que explicar que éramos apenas amigos, mas eles nunca desistiram, nem mesmo quando ambos começaram a namorar outras pessoas.

Não vou dizer que nunca senti nada pelo Taehyung. Em algum momento deve ter acontecido, tipo como quando ele começou a namorar a tal menina que só o fez sofrer. Eu fiquei com ciúmes , mas depois percebi que era apenas um medo de perder meu amigo e nada mais.

Mas Tae com certeza daria um ótimo namorado. Ele conseguia ser sensível, engraçado e sexy. Sim, eu considero ele sexy, na verdade ele é um dos caras mais bonitos da escola, mas eu nunca o vi mais do que como amigo, porque também ele era um amigo perfeito. Ele nunca me deixou ficar triste e sempre me protegeu.

As meninas nos olhavam com inveja por eu sair com ele e os garotos agiam da mesma forma com ele, porque eu também não era de se jogar fora. Na verdade, eu me encaixava muito bem nos padrões coreanos: altura média, magra, olhos grandes e verdes, cabelo comprido e loiro, pele mais pálida que um boneco de neve, o que me dava muita raiva, eu ficava corada por qualquer coisa. Porem os meninos tinham dificuldades em se aproximarem de mim, por eu ser tão energética e por um certo medinho de Tae, que podia ser muito fofo, mas se alguém me ameaçasse ele se tornava assustador.

Nós dois estudamos nas mesmas escolas sempre e depois que nos formamos no ensino médio, passamos a frequentar o mesmo cursinho preparatório, pois nenhum dos dois tinha nível suficiente para a faculdade. Eu pretendia seguir a carreira de meus pais e trabalhar com turismo e sendo tradutora, no entanto também seria uma ótima professora de coreano para estrangeiros. Seria bem difícil, mas com certeza eu conseguiria.

Eu nunca havia tido algum amigo como Taehyung na minha vida e queria que isso nunca mudasse. Que nossa amizade fosse sempre pura e que quando estivéssemos velhinhos nós ainda nós iríamos cuidar dos netinhos de cada um e rir de besteiras, assim como sempre fazíamos desde crianças.

Ele se tornou a pessoa mais especial da minha vida, com sua personalidade estranha. Eu desconfiava que ele sofria de algum tipo de dupla personalidade. Ele mudava de humor em segundos, nem sempre ficava explicado o porquê.