História Dying With You - Haircut

Point Of View Selena Gomez 
10:06am — Stanford Hospital and Clinics 
 

    Ligo o chuveiro. A água morna me faz suspirar em alívio. As vezes, no banho, eu não me via doente. Era como se o câncer tivesse evacuado e desaparecido por completo. Todavia, então, eu saía de debaixo daquela água e sentia meu corpo fraco novamente. Não sabia se o fato de ninguém me olhar com pena ajudava em meu esquecimento, — agora entendia porque Justin odiava em tão alto grau tal tipo de olhar — e nem queria saber. Só precisava de mais tempo debaixo da água. Só um pouco mais de tempo para esquecer, por um momento, que eu estava morrendo. 

    Suspiro fazendo a água que escorria por meu rosto voar no ar e cair no chão azulejado. Toco em meu cabelo, o apalpando e massageando. Porém, ao afastar minhas mãos, em meus dedos enrugados, veio junto uma grande quantidade de fios. Olhei para aquilo tentando entender o que estava acontecendo e encostei minha traseira na parede ao mesmo tempo em que olhava atônita para aquela quantidade anormal  de cabelo em minhas mãos. Eu o estava perdendo. Eu morria mais rápido do que imaginava, e que me diziam ser o tempo certo. Eu estava em meus últimos meses. 

    Solto o fio, o jogando no ralo, posteriormente deslizando minhas costas pela parede e chorando enquanto pensava em como  seria a reação de Mandy e Brian quando contasse que logo os deixaria. E, principal, a Justin. 

    Desligo o chuveiro e suspiro logo abrindo a porta do box e vendo Sophie segurando a camisola-barra-lona de circo branca que chamavam de roupa de hospital. Ela me lança um sorriso de canto, porém quando vê meu rosto — em que olhos e nariz provavelmente se encontravam vermelhos —, seu sorriso desaparece. 

    — O que houve, querida? — sua mão vai de encontro à mecha de cabelo na frente de meu rosto, logo a colocando para trás de minha orelha 

    Não digo nada, apenas levo meus olhos para dentro do box indicando à ruiva onde estava o motivo de meu choro. Sophie entendera e foi na direção do chuveiro posteriormente levando os olhos para o ralo, onde já quase no se via o mesmo visto que fora tomado pelo preto de meus cabelos. Sophie volta seu olhar para mim e seus olhos demonstram a tristeza ao ver tal cena, porém não há muita surpresa. Talvez ela soubesse, como eu, que isso, cedo ou tarde, aconteceria. 

—

    Sophie me levava para o escritório de Jeremy para mostrá-lo e dizer o que estava acontecendo e o que deveria acontecer. Eu apenas pensava em como ficaria ao ter que fazer o que tinha de ser feito. Os corredores estavam relevantemente cheios e isso me assustava e acanhava. O medo de todos era transmitido em cada olhar e o meu, em minha face. 

    Ao chegar na porta do escritório do doutor, Sophie bate duas vezes antes de receber, rapidamente, a permissão de Jeremy para que pudéssemos entrar. A ruiva abre a porta e segura em minha mão me puxando para dentro do cômodo. Adentro e suspiro, tentando não começar uma nova piscina de lágrimas como havia feito no banheiro, nos ombros de Sophie.

     — Ah! Como está Selena? — seu tom é grave e a velocidade de sua fala é lenta. Isso me deixa ainda mais nervosa, portanto lhe lanço apenas um sorriso amarelo — O que há? — ele solta uma papelada que estava em suas mãos e a põe em cima da mesa de vidro. Se levanta vindo em minha direção e abaixo a cabeça engolindo em seco — Sophie? — entendeu que eu nada falaria, portanto optou pela enfermeira à minha frente que deu uma leve risada com meu desnecessário receio 

    — Ela mexeu nos cabelos enquanto tomava banho... — a ruiva não diz mais nada ao passo que Jeremy profere um aaah demorado e convicto do ocorrido 

    Ele sabia o que havia acontecido. Cogitei que Sophie já teria o trazido muitos pacientes com o mesmo acontecimento que o meu. Talvez nossas expressões o ajudassem a entender ainda mais. 

    — Chame Anne e a peça para preparar a tesoura e a máquina — ordena à enfermeira que assente e eu apenas arregalo os olhos que agora se encontram novamente marejados 

    Ouço a maçaneta da  porta ranger e a mesma ser aberta. Era Justin. 

    — Pai, eu... — sua fala é interrompida pelo próprio ao me ver parada ao lado de seu pai. Justin semicerra os olhos e faz um minúsculo o quase fechado com a boca — O que tá acontecendo? — indaga olhando para mim, Jeremy e Sophie incessantemente 

    — Isso — digo levando minha mão até os fios pretos e a enrolando nos mesmos. Não sinto dor ao puxar o tufo, afinal, já não pertenciam mais a meu couro cabeludo. Levo a mão na direção do loiro e o mesmo arregala os olhos, inércio — Isso tá acontecendo — dou de ombros ao passo que lhe lanço um sorriso fraco. Bem fraco.

— 
 

    Me movo constantemente na cadeira branca de plástico. Estou incomodada tanto com o assento, quanto com a plateia que ganhei de brinde. 

    Estavam na minha frente Brian, Mandy, Sophie e Jeremy. Atrás, no intuito de cortar meus cabelos, estava Anne, já preparada com suas ferramentas ao meu lado esquerdo, sobre uma mesa de metal. E ao meu lado, segurando minha mão e me transmitindo forças, estava Justin. Eu respirava fundo a cada trinta segundos. Me perguntava se ela estava bem e apta para fazer o que eu lhe estava proporcionando, ainda que soubesse que a mesma não poderia ficar por muito tempo devido a fraqueza excessiva. E logo vejo a loira entrar pela porta com seu sorriso radiante de sempre. Taylor estava aparece. 

    — É aqui o cabeleireiro? — indaga humorística fazendo todos rirem. Taylor entra e caminha devagar até mim. Estava fraca e era sustentada pelos braços de sua mãe. Seu sorriso aumenta ao chegar à minha retaguarda. Ela segura meus cabelos e os acaricia suspirando — Eu vou chorar ao ter que cortar essa obra prima — a olho e a mesma simula uma cara de choro. Rio fraco de sua palhaçada — Você vai ficar linda — seu sorriso fora acompanhado por uma piscadela 

    Taylor pega a tesoura e a gira nos dedos. Estava se sentindo uma cabeleireira. 

   Rio de sua palhaçada e finalmente viro-me de costas para ela, afim de começarmos — e logo acabarmos com isso. Ouço a loira suspirar. Ela segura meu cabelo novamente e mede o tamanho que acha adequado para passar o objeto metálico e afiado. Respiro fundo e fecho olhos logo sentindo Justin segurar minha mão e apertá-la, me transmitindo tranquilidade. Ouço o tilintar das lâminas da tesoura colidindo uma com a outra e sinto parte de meu cabelo se soltar. Ele caiu até minha orelha; onde agora era seu comprimento. Aperto minhas pálpebras e contraio os lábios, apertando ainda mais forte as mãos de Justin que suspira. Ouço o encontro entre as lâminas mais três vezes até ter todo o cabelo cortado. Sentia-o terminar em minha bochecha. 

    Taylor o joga para trás, posteriormente o jogando para a frente novamente e logo me mostra o espelho, o direcionando para meu rosto e vejo o resultado. Eu estava linda. Olho para o lado e vejo Justin inércio. O sorriso de canto mostrou-me o quanto ele gostara de meu novo visual. Sorri. 

    — Bem... — Taylor profere apreensiva e olho para Anne, que começa a caminhar para minha direção. Meu sorriso se desfaz — É com você — se dirige à enfermeira que assente lentamente 

    A mãe de Taylor a segura e a ajuda a caminhar para a porta. A loira acena e faço o mesmo, logo vendo-a ir embora. 

    — Preparada? — Anne indaga e apenas assinto, novamente apertando a mão de Justin 

    Anne pega a máquina e a liga, produzindo o som mais agonizante já ouvido em minha existência. 

    Olho para Justin novamente. Meus olhos estão marejados e minhas sobrancelhas tortas. Eu estava prestes a chorar quando o senti pôr a outra mão em meu rosto. Abro os olhos e suas órbitas mel fitam o fundo das minhas. 

    — Você é linda — sussurra em meu ouvido — De qualquer jeito — conclui beijando minha bochecha 

—

    Deitada na cama de meu quarto, eu chorava toda vez que roçava minha nuca no travesseiro e o sentia como é; sem fios entre os dois. Tocava em minha testa e passeava meu dedo na tentativa de chegá-lo até os fios, porém não o encontraria. Não mais. Mais uma lágrima cai. 

    Todos achavam que o motivo da tristeza que sentia pela falta de meus cabelos era por ter minha beleza jogada fora junto com os mesmos, todavia não era apenas isso. Estar careca apenas me lembraria que eu estou doente e que agora, mais do que nunca, estou perto da morte. Me sentia fraca e sem autoestima. Ainda que Justin me dissesse que sou bela, eu não acreditaria. Até porque ele havia sumido depois de minha passagem ao cabeleireiro. E isso fazia horas. Cogitei que ele estaria fazendo de tudo para me evitar. Para evitar alguém tão feia como eu. 

    Ouço a porta ser batida. Até mesmo um mero barulho fino de um punho fechado indo contra a madeira fora agonizante. Suspiro enquanto Mandy permite a entrada do autor da batida. 

    A porta se abre revelando Sophie e Anne sorrindo. Semicerro os olhos pensando no que estava acontecendo quando as duas esticam o braço para suas esquerdas. A direção em que Justin veio. Com seus cabelos em falta. Ele estava careca. O olhei inércia enquanto tentava fechar a boca em surpresa. 

     — Desculpa, falei para elas que isso era desnecessário, mas não me ouviram — deu de ombros olhando para mim logo me lançando seu sorriso sapeca. Justin caminha até minha cama e sigo cada movimento seu com os olhos. Mais especificamente para sua cabeça — Deve estar se perguntando o porquê — arqueia as sobrancelhas e levanta os dois braços, um para cada lado — É porque sou um cara muito legal — solto ar junto com um sorriso — que se importa com seus sentimentos — contrai os lábios

      Justin leva as mãos à sua lateral, puxando um pouco a camisa para cima, de lá tirando um pano cor grená. Era uma touca. Ele me olha e suspira. Arqueio as sobrancelhas.

      — Isso é bem valioso pra mim — diz enquanto caminha à mim, levantando a touca a levando em direção à minha cabeça — Era da minha mãe. Ela usou quando teve a cabeça raspada... — a encaixa suspirando enquanto sorrio fraco — Eu usei quando tive a cabeça raspada... — ele se abaixa, ficando na altura de meu rosto. Seu sorriso é torto e demonstra tamanho sentimento por tal objeto — e agora passo-a para você — me lança uma piscadela

    Justin levanta um pequeno espelho e me vejo nele refletida. Fora impossível segurar o choro; caí em prantos. Me vi bonita novamente. Justin me abraçou e todos presentes aplaudiram e começaram a dizer o quanto éramos fofos ou o quanto eu estava linda. 

      — Você é maravilhosa de qualquer jeito — seu sorriso era sincero, fazendo-me suspirar

     Não conseguia dizê-lo que para mim, ele era o mesmo. Portanto, a única forma que encontrei de retribuir sua fala, fora com um beijo. Quente e molhado, quase me faz ignorar a sensação de tocar em sua cabeça agora sem cabelo. Imagino se para fora o mesmo. Apenas sei que, de seus lábios, nunca iria querer me afastar. 

       Nunca.