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História É Errado Te Amar? (em revisão) - O Poder de Um Olhar


Escrita por: Akisa-sann

Notas do Autor


Bom, gente é um prazer estar escrevendo isso. Não sei se terá uma repercussão boa, mas ainda assim fico grata de escrever!

Bom minha estória é original mas espero muito que vocês gostem, afinal eu trabalhei e vou trabalhar muito duro para postar os capítulos e para que eles sejam interessantes!
Espero que gostem dos personagens assim como eu curti criá-los!

- Letícia Saints

Capítulo 1 - O Poder de Um Olhar


07:45 A.M

Ethan se sobressaltou quando o despertador tocou, ele não estava mais dormindo, mas só de pensar no que lhe esperava dava preguiça de levantar. O quarto estava escuro apesar de já ser de manhã, talvez o fato do tempo lá fora estar horrivelmente nublado tivesse alguma parcela de culpa.

O garoto suspirou exasperado já se lembrando do que lhe aguardava. Naquela manhã nublada e fria seria seu primeiro dia em um novo colégio; mais um para a sua longa lista de colégios caros, com pessoas esnobes que pensavam ser melhores que as outras por terem tido a sorte de nascer em uma família rica, e aquilo, na opinião de Ethan, não era motivo para se gabar, afinal qual era a grande coisa de poder dizer que vinha de uma família com status? Do que adiantava ter tanto dinheiro, mas não ver a cara de seu pai por um mês inteiro por causa do trabalho dele? Ou mesmo poder comprar tudo o que queria e não poder dar a quem queria? Quando tinha certo status na praça, não se podia sequer confiar nas pessoas, o que resultava em uma triste e solitária vida e aquilo era algo que Ethan não queria para si.

Ele se forçou a sair da cama — que era grande demais para apenas uma pessoa — e jogou os lençóis de lado se sentindo exausto, arrastou-se até o banheiro e se encarou no espelho, mas imediatamente se arrependeu de tê-lo feito. Na verdade se arrependia mesmo era de ter feito o que fez na noite passada.

Apenas para fazer raiva a seu pai — que nunca estava em casa, mas se sentia no direito de mandar em sua vida — saiu passando a noite quase toda fora, mesmo sabendo que no outro dia começaria suas aulas. Havia chegado há apenas três horas e dormindo mais ou menos uma hora e meia. Seus cabelos estavam uma bagunça, sua roupa extremamente amassada, com marcas de batom e cheiro de perfume caro que as garotas tinham deixado nele. Pôs as mãos nos olhos e massageou as pálpebras doídas com a ponta dos dedos, suspirando ainda mais exasperado que antes, parecia que recentemente tudo o que ele fazia era suspirar, não importava o quão bom tinha sido sua diversão, logo após ele continuava se sentindo vazio.

Depois de ter certeza de que não tinha mais jeito, Ethan se despiu e ligou o chuveiro; não usou a banheira, pois se o fizesse não sairia dali tão cedo e acabaria perdendo o dia de aula. A água quentinha lhe escorria dos cabelos aos ombros e em seguida para todo o corpo, aquilo lhe acordou um pouco e depois de apenas alguns poucos minutos embaixo da água, teve que sair; fechou os olhos e ergueu a cabeça passando uma toalha por seus quadris. Estava mais magro que antes, agora sentia seus ossos pélvicos mais salientes e talvez fosse todo o estresse que vinha passando.

O garoto realmente queria evitar se encontrar com o pai quando estivesse saindo, o que era pouco provável, já que ele estava trabalhando em casa aquele mês e esse era noventa por cento dos motivos de seus problemas.

Ethan pegou a primeira roupa que achou e vestiu, não estava com disposição e nem via motivos para se preocupar com a aparência, e também não se interessava muito por moda, mas a roupa até que lhe caiu bem, na medida do possível. Sua calça jeans preta não chamava atenção, mas contrastava com a blusa branca de algodão estilo moletom, porém o casaco preto que havia posto por cima a encobria parcialmente e além de lhe proteger daquele frio ridículo que fazia ainda lhe ajudava com a sua camuflagem, já que odiava chamar atenção, finalizando com um coturno marrom e a mochila também preta, que era norma da escola.

Ele arrumou os cabelos, ou pelo menos tentou deixá-los meio normais, já que eles achavam que tinham sua própria vida e continuavam saindo e voando pra onde queriam, então desceu as largas escadas que davam para a sala de visitas e de jantar com cautela para, infelizmente, ver que seus pais já estavam tomando café da manhã ali.

Ethan ainda não tinha se acostumado àquele local, só fazia uma semana que haviam se mudado e era tudo muito novo; não que a casa não fosse tão extravagante como a antiga, mas o ambiente era diferente. Ele respirou fundo tentando juntar coragem e força de vontade para tentar pelo menos ter um diálogo decente com seu pai, um que não acabasse nele saindo furioso enquanto o outro lhe chamava de inútil. Entrou no cômodo indiferente, como se não houvesse aprontado nada na noite passada e também como se seu pai não existisse ali.

— Bom dia mãe. — se aproximou lhe dando um beijo na bochecha — Acho que estou meio em cima da hora, então estou indo; até sexta.

Um fato bom sobre o novo colégio era que havia dormitórios e os alunos podiam optar por passar o período de aulas lá e voltar para casa apenas no final da semana. Ethan estava mais do que grato por isso e muito ansioso para sair logo daquela casa.

— Ethan... — ele congelou no lugar e girou sobre seus calcanhares roboticamente para olhar para seu pai, que estava com a mesma expressão entediada de sempre — Sente-se e coma um pouco. Me espere um minuto, eu irei lhe deixar.

— Hã... não, obrigado, mas não precisa, mas valeu mesmo. — ele aproveitou para fazer uma careta, já que o homem estava ocupado demais olhando para o celular.

— Eu não estou perguntando, estou avisando. Agora se sente e coma.

— Por quê?! — Ethan piscou algumas vezes encarando o pai sem realmente entender o porquê daquilo — Por quê perder tempo me levando até lá?! Eu sei que não é porque você está preocupado comigo.

— Nada em especial. — seu pai falou sem cerimônia, finalmente desgrudando os olhos gélidos da tela do aparelho e lhe encarando — Quero apenas cumprimentar a Diretora Solar. E aproveitar para explicar o motivo de você estar se matriculando no meio do ano letivo.

— Eu posso falar com ela sozinho, não precisa gastar seu tempo tão precioso comigo. — Ethan falou aquilo fazendo com que, sem querer, saísse com mais veneno do que o esperado; seu pai estreitou os olhos e tencionou a mandíbula fazendo sua boca secar.

— Eu já decidi que vou com você, não é um grande sacrifício. Não é como se eu quisesse, mas existem coisas que precisamos fazer, mesmo sem querer. Então quanto mais rápido formos, mais rápido isso acaba para nós dois, hum?! Não dificulte uma coisa que é pra ser facial, pode ser?

— Edmund, você precisa falar assim sempre com seu filho? — sua mãe encarava seu pai com um olhar severo, mas ele apenas a ignorou.

— Bom... — Ethan sabia que não devia começar uma briga com seu pai porque sempre sairia perdendo, mas seu orgulho não lhe deixava engolir as palavras do outro — Eu sinto muito se dificulto a sua vida, é só que é a única coisa interessante pra fazer na minha vida. Acho que dificultar a sua vida é a melhor coisa que eu tenho pra fazer, e cá entre nós, se a sua vida fosse perfeita até em casa, seria muito justo com as pessoas que vivem de forma infeliz, certo? Só estou tentando manter o equilíbrio.

— Chega, os dois! Comam comportadamente e em silêncio ou saiam.

Ethan abriu a boca para falar, mas ao olhar para a expressão facial de sua mãe, sabia que a tinha decepcionado, então resolveu parar por ali; mesmo sabendo que a situação não era nada justa, resolveu não falar mais nada, afinal não ia adiantar muita coisa, talvez só servisse pra deixar o homem ainda mais irritado. Eles seguiram para o tráfego sem terminar o café, o clima estava realmente tenso no carro, sua mãe tinha permanecido em casa e estava apenas os dois juntos, o que nunca acabava bem.

— E então, sobre ontem à noite... — seu pai tamborilava os dedos no volante, o que mostrava o quanto estava irritado.

— Não quero falar sobre isso.

— Mas eu sim. — a voz do homem soava ameaçadoramente calma — Não vou pedir que você pare de sair e curtir, Ethan, afinal ainda é jovem, mas pelo menos evite fazer este tipo de show. Já se esqueceu da última vez?!

— "Esse tipo de show"? Se estiver preocupado que eu vá ser pego em alguma calçada por aí, drogado e desmaiado, não se preocupe...

— Não é disso que eu estou falando. Espera um pouco... que história é essa de drogado? Está usando drogas agora? O que você tem nessa sua cabeça, garoto? Ou você é apenas muito idiota? Você não pensa na sua mãe nem por um segundo? No quando isso a deixaria preocupada... — por um momento o homem soou como se realmente se importasse, mas logo Ethan deduziu que era apenas sua impressão — Nunca lhe impedi de fazer o que queria, você sempre sai para onde quer, leva quem quer pra casa e eu nunca cortei a sua mesada, na verdade lhe dou mais do que você merece. Se não gosta de mim, não posso fazer nada sobre isso, nem sei quais são os seus motivos, mas não vou tolerar esse seu comportamento egoísta! Se é apenas para me afetar você pode fazer qualquer outra coisa, mas não aja assim, pois a única pessoa que você fere é a sua mãe e ela não merece esse tipo de comportamento de você.

— Você fala como se se importasse com a gente. — antes de conseguir se controlar, Ethan falou.

— Ela é minha esposa, é claro que eu me importo.

— E essa atuação faz parte do seu personagem de "homem perfeito" ou está apenas tentando me irritar?

— O quê...? Escuta aqui, Ethan, eu não preciso provar nada a um garoto...

Ethan revirou os olhos e pôs seus fones de ouvido no volume máximo, não queria ouvir mais as mentiras daquele homem, não o conhecia mais e estava cansado de ser tratado como um idiota por todos. Ele só estava fazendo aquilo para puní-lo, Ethan sabia muito bem disso, sabia também exatamente o que ele queria dizer com "cumprimentar a diretora Solar".

Ia explicar a mulher o quanto ele podia ferrar com a vida dela e com a escola caso alguma coisa acontecesse e vazasse, fazendo a mídia se envolver. Ia ser uma conversa mais ou menos assim: "Olha aqui, se esse garoto aprontar alguma coisa e aparecer qualquer que seja na mídia, eu acabo com vocês".

Da última vez, quando a mídia se envolveu, ele tinha que admitir que as coisas ficaram feias para sua família por um tempo, mas afinal como ele ia saber que o simples fato de acender um cigarro na escola ia se transformar em uma notícia como aquela?

"O adolescente, mais conhecido como Ethan Fitzgerald — filho do milionário Edmund Fitzgerald e da renomada escritora de best-sellers, Dakota Fitzgerald — foi pego em flagrante usando drogas ilícitas na escola, o garoto descrito pelos colegas como problemático já foi pego praticando coisas semelhantes em suas escolas anteriores, escolas as quais o mesmo foi expulso. Brigas, vandalismo, bullying, posse de drogas e instrumentos que poderiam ser usados como armas são apenas algumas das acusações em seu longo histórico de feitos vândalos. Apesar de tais fatos nunca terem sido confirmados, o simples fato de terem surgido não servem como prova de tais atos?! Porém as perguntas que não querem calar são: Será que o garoto é um viciado? Porque seus pais nunca mencionaram que seu único filho sofria de transtornos psicológicos[...]?"

E assim ele ficou conhecido como "um lunático violento e viciado em drogas que envergonhava o nome da família". Por isso seu pai perdera muitos contratos com grandes empresas sócias e muito de seu crédito e fama na cidade onde moravam, e por esse mesmo motivo tinham se mudado para uma nova cidade, onde seu pai conseguira bons contatos e assim, sócios para fechar negócios e abrir uma nova filial.

Ethan estava tão perdido em pensamentos que nem se deu conta que seu pai estava dirigindo em uma estrada de terra com grama morta dos lados; a estrada parecia infinita. Ele não lembrava ao certo quando tinham adentrado nela e não conseguia ver seu fim. A paisagem era quase mórbida com a grama amarelada dos lados e o céu cinza acima deles. Depois de mais alguns longos minutos com o carro sacudindo pela estrada maltrapilha, ele finalmente avistou uma enorme construção ao longe. Quando o pai lhe dissera que era "grande" ele não imaginou aquilo tudo; o colégio parecia mais como um hotel cinco estrelas.

Ao chegarem, seu pai entrou em um grande estacionamento de piso lustroso e lâmpadas amareladas no teto até onde se conseguia ver, o que particularmente ele achou um tanto sem nexo, afinal era só um estacionamento. Quando finalmente estacionaram, saiu do carro o mais rápido possível, já era humilhante o suficiente ter ido até ali com seu pai perfeito, não era preciso que soubessem que ele era seu filho, não queria má fama assim que chegasse, então começou a caminhar rapidamente sem ter certeza de para onde estava indo; apenas seguiu a claridade natural que vinha do grande portão por onde haviam entrado.

— Ethan, onde você está indo? — perguntou o homem erguendo uma sobrancelha perfeitamente delineada, caminhando na direção contrária.

— Para a minha aula, não é óbvio?

— Seria falta de educação eu ir falar com a Sra. Solar e não levá-lo comigo para que se conheçam. — disse ele com um sorrisinho que Ethan havia aprendido a odiar e temer — Você irá até lá comigo.

— Por quê eu preciso fazer isso?! — ele suspirou exasperado pela terceira vez em apenas uma manhã, estava começando a se alterar — Você está fazendo isso como uma forma de punição?!

— Punição? E porque eu faria isso? Por quê você acha que merece ser punido, Ethan?

— Por causa da... notícia?! E... pela noite passada, talvez?!

— Nós já conversamos sobre aquela notícia e tenho certeza que você se lembra muito bem. — ah e como Ethan se lembrava, o que ele não conseguia fazer, era esquecer — E quanto à noite passada, quando tentei falar com você no carro, você me ignorou, e não falaremos sobre isso aqui, não é o lugar adequado, mas conversaremos uma outra hora. Não pense que eu me esquecerei disso. — os olhos de seu pai faiscaram ameaçadoramente.

— Então me deixa ir para a minha sala, vai. Ninguém precisa saber que você é meu pai; nós dois saímos ganhando, você mesmo disse que não queria fazer isso.

— Já chega, Ethan, você vai lá comigo e pronto.

— Porque você sempre faz isso?! É só pra me ver assim, chateado?! Você gosta tanto de abrir ainda mais o espaço gigantesco que existe entre nós?!

— Você não consegue pensar que eu faço alguma coisa por você, porque eu sou seu pai e me preocupo com a sua vida?! — o homem pareceu sério — Mesmo assim quem aparentemente gosta de aumentar mais ainda o espaço entre nós é você, fazendo de tudo para me envergonhar. Hunf, custa tanto assim fazer algo que eu peço uma vez na sua vida?

— Sempre a mesma coisa. Só se preocupa com esse seu nome de merda. Desculpe, mas não acho que você saiba o que é amar, respeitar ou se preocupar com mais alguém que não seja você mesmo. — por um momento a sombra de uma expressão que parecia mágoa passou pelo rosto de seu pai, mas logo ele se recompôs parecendo mais chateado que antes.

— Ótimo, agora que você entendeu a sua situação, podemos ir?!

— O quê? — Ethan não estava acreditando naquilo.

— Você vem sozinho ou quer que eu vá até aí e lhe carregue até a sala da diretora, Ethan?

— Você não se atreveria.

— Mas não foi você mesmo que disse que eu não sei o que significa "respeitar ou se preocupar com alguém a não ser eu mesmo"?! Essa situação só favorece a mim, não é mesmo?! Não é sábio da sua parte duvidar de mim.

Seu pai, que já havia caminhado alguns metros — Ethan havia parado no lugar, perplexo — parou e lhe olhou com aquele sorriso que sequer chegava a mexer em seus gelados olhos, aquele sorriso que Ethan conhecia tão bem, porque era exatamente o mesmo que um dia ele amou e admirou.

Se ele tinha achado humilhante ir até o colégio com seu pai, imagina então ter que entrar sendo carregado por ele. Odiava aquele fato, mas infelizmente eles se pareciam bastante um com o outro. Claro, não do jeito que ele gostaria que fosse, afinal se pudesse escolher alguma coisa do homem, talvez escolhesse a altura e os músculos.

Seu pai era o tipo de todo mundo, o tipo "bonito e rico de morrer". Era bastante alto, com 1,92 de altura, pele pálida, olhos azuis-turquesa e tinha os cabelos, que era a principal atração. Cabelos ruivos com tons variados do vinho ao laranja, cortados curtos e muito bem arrumados para não ficar nem um único fio fora do lugar. Os fios escuros se misturavam com os mais claros e quando ele andava pareciam às chamas de uma vela dançando de acordo com o vento.

Era hipnotizante olhar para Edmund Fitzgerald, com seus olhos gelados e seus cabelos quentes. Seu sorriso era frio e indiferente assim como o olhar e mostrava dentes brancos e alinhados, contrastando com o cavanhaque perfeitamente feito e nem uma única imperfeição na pele. Para completar a sua imagem de deus, um terno caro e bem alinhado acompanhava sua postura perfeita, ele parecia ter nascido para aquilo; era intimidador olhá-lo. As pessoas queriam ser ele ou queriam ser dele.

Na sua frente Ethan parecia um experimento que não havia dado certo. Ao invés da altura ou dos músculos, ele herdara apenas os pontos fracos do pai; pelo menos nele eram pontos fracos. Era uma versão meio destrambelhada do outro, uma espécie de rascunho.

Enquanto seu pai era alto e com a postura perfeita, Ethan era baixo para a média da sua idade, apenas 1,68 de altura, e não se importava muito com a postura ou com as roupas. Tinha o cabelo ruivo também, mas o pintava e por isso era bem mais escuro que os do pai e bem maior também. Enquanto o do homem era cortado curto, com apenas um pequeno topete, o seu era comprido, chegando quase até os ombros.

Os tons dos fios dos de seu pai eram mais para vermelho e laranja enquanto os seus ficavam mais para o vinho e o castanho por conta da tinta, só dava para notar que era vermelho se estivesse no sol ou em um lugar bem iluminado que desse para ver o reflexo, mas com a mudança e tudo o que havia acontecido, a bendita tinta estava saindo e ele não tinha tornado a pintá-lo, o que era estranho, já que a raiz era vermelho-alaranjado e as pontas castanho-acobreado.

Seus dentes também eram muito brancos e alinhados, o que lhe deixava bem chateado; a pele também era tão pálida quanto à de seu pai, quase como um zumbi, porém não era tão imaculada assim, afinal ele tinha vários machucados antigos e cicatrizes de brigas passadas, as quais ele sempre se metia. Por outro lado, Ethan também se parecia um pouco com sua mãe, como por exemplo, a estatura baixa e magra, a aparência frágil e élfica quase feminina, de características pequenas; rosto pontudo, nariz arrebitado, que passava certo ar de superioridade, e olhos cinza tempestade.

Ele sempre sofrera com o fato de ter a aparência frágil demais, lembrava que em um de seus colégios fora perseguido até o último dia de aula por um de seus colegas de classe; o maldito não lhe deixara em paz um único dia por causa de sua aparência e tornou sua vida escolar um inferno. Sempre batia nas mesmas teclas, perguntando se ele tinha mesmo "alguma coisa" entre as pernas.

No seu penúltimo ano do fundamental havia também quatro garotos que sempre o cercava fazendo piadas idiotas. Houve também o evento no seu último dia, antes das férias de verão do seu oitavo ano, quando um garoto de sua sala, o qual seus amigos sempre implicavam, o arrastou para um local afastado da escola enquanto ele caminhava em direção ao carro; o garoto o xingou e bateu sem piedade, parecia fora de si. Claro que ele também revidou, mas para a sua infelicidade ele não contava que o maldito fosse tão bom e tão mais forte do que aparentava ser, e estivesse com tanta raiva lhe motivando — raiva que ele nem sequer entendia — e as coisas começaram a dar erradas tomando um curso diferente, lhe fazendo sentir medo de uma briga pela primeira vez na vida.

O garoto começou a lhe tocar em lugares estranhos e constrangedores enquanto falava de seus amigos, como se ele fosse culpado pelo bullying que faziam. Ethan teve que lutar muito e depois de ser molestado e ter apanhado quase até desmaiar, finalmente conseguiu fugir, não sabia como, mas conseguira voltar para as proximidades do colégio e seu tutor lhe achara tropeçando pelas ruas, o levara de volta para o carro e seguiu para a sua casa.

Ethan estava em choque pelo que o garoto falara e completamente detonado; ele havia quebrado seu nariz, machucado suas costelas, seu rosto estava coberto de cortes, e na fulga havia perdido até seus tênis e o blazer da farda. Quando entrou em casa e sua mãe lhe viu, veio correndo ao seu encontro perguntando o que havia lhe acontecido, seu pai chegou logo depois, com um ar carrancudo e perguntando o que era todo aquele barulho e ao lhe encarar, sua expressão se transformou de raiva para nojo.

— Olha só o que aconteceu com seu filho Edmund, isso não pode continuar. — mas a única coisa que ele fez foi olhar para Ethan com olhos gelados como um iceberg, bufar em desprezo e dizer simplesmente:

— Se você não é homem o suficiente para ficar e brigar ou para se defender, pegue pelo menos o que restou da sua dignidade, se é que tem alguma, e vá a um hospital sozinho, sem precisar vir chorando para a sua mãe. — ele virou para sua esposa e continuou — Satisfeita Dakota? Olha só o que você fez, criou um covarde, um garoto que não serve para nada. O que ele fará quando você não estiver mais aqui? — dizendo isso ele se virou e voltou ao seu escritório.

Sua mãe chamou o médico da família, que arrumou seu nariz e enfaixou suas costelas, Ethan não chorou na frente de seu pai ou dela, muito menos de seu agressor, mas no silêncio do seu quarto, enquanto tirava as ataduras para tomar um banho, sentiu a garganta apertar. Enquanto tomava banho e a água tocava seu rosto, ele sentiu as lágrimas descerem calmamente mornas, se misturando a água, sentou-se no chão, sozinho, no silêncio e só então chorou; não por ter apanhado ou sido humilhado, afinal o próprio garoto parecia não querer fazer aquilo, mas sim pela forma como o pai o tratou, como se fosse um estorvo, um peso. Não se orgulhava de demonstrar tamanha fraqueza, mas na ocasião não conseguira segurar.

Ficou observando seu sangue misturar-se a água e escorrer pelo ralo pelo que pareceram horas, quando finalmente saiu do banho e vestiu seu pijama, deitou na cama e abraçou o travesseiro, momentos mais tarde sua mãe bateu na porta e entrou sentando-se ao seu lado, botou um travesseiro no colo e ele deitou-se em suas pernas, ela disse que lhe contaria uma de suas histórias, exatamente como quando ele era criança.

Ela lhe acariciava os cabelos enquanto suas lágrimas caíam mornas molhando o travesseiro; começou com a voz suave de sempre e Ethan fechou os olhos ouvindo aquela voz calma e meiga que era como bálsamo para sua alma. A história dizia o seguinte:

"Há muito tempo atrás, existiu uma pequena aldeia a qual era lar de um garotinho, esse garoto era o mais menosprezado de todos por não ter altura ou porte físico, todos riam e zombavam dele pelas costas, até mesmo seus pais o desprezava por causa de sua aparência pequena e magra, o pobre garoto todas as noites chorava em silêncio, mas o que seus colegas não sabiam era que ele vinha de uma linhagem muito, muito antiga e rara. Uma família que tinha poderes sobrenaturais. Essa família era um clã, que por acaso era o clã que protegia a aldeia, mas quando o garotinho falou para seus amigos eles zombaram ainda mais dele. Porém, um dia inimigos invadiram a cidade e o garotinho magro o qual todos riam, se transformou em um enorme dragão negro, com olhos amarelos que paralisavam quem ousasse olhar, com asas tão grandes e fortes que jogava os inimigos do outro lado do mar, com um poder de fogo tão forte que com um único jato queimou todos os navios, os reduzindo a cinzas. Depois disso todos queriam ser amigos do garoto e ele viveu o resto de seus dias feliz, mas antes ele aprendeu que: Mesmo coisas pequenas podem se tornar grandiosas".

Ethan no outro dia foi até o centro da cidade e fez uma tatuagem para lhe lembrar daquele dia. Ele gravou aquele dragão da história de sua mãe na sua pele, porque ele sabia que era como aquele garoto, aparentemente frágil e covarde para as pessoas, mas por dentro, tão forte quanto um dragão.

***

Quando Ethan finalmente voltou ao presente, percebeu que já estavam caminhando em um corredor apinhado de alunos curiosos que sorriam ou faziam cara feia e cochichavam entre si, até que finalmente chegaram à porta aonde se podia ler "DIRETORIA" e entraram.

A mulher que veio ao encontro deles era alta, por volta de seus quarenta e poucos anos, com olhos e cabelos negros. Seu cabelo estava preso em um perfeito rabo-de-cavalo bem apertado no topo de sua cabeça, tinha cílios grandes e cheios e um estranho brilho nos olhos, que os fazia parecer estarem sempre arregalados; usava um terninho cinza, sapatos pretos de salto e um batom excessivamente vermelho. Ela lembrava a Ethan uma vilã ou uma bruxa má dos contos de fadas, só um pouco mais moderna, mas com as mesmas características marcantes que eram:

1ª) as unhas e os lábios, 2ª) os olhos e 3ª) as sobrancelhas, que eram muito arqueadas. Ela estendeu uma mão pálida, com dedos longos e unhas vermelhas e pontudas.

— Olá Sr. Fitzgerald, é um prazer receber você e seu... filho aqui. — ela lhe olhou de cima a baixo com desprezo nítido o suficiente para lhe fazer ficar desconcertado.

— Sim, igualmente. Então, eu gostaria de lhe explicar a situação.

Seu pai conversou com a diretora por bastante tempo e Ethan ficou observando-o flertar com ela; quando ela disse que estava faltando alguns documentos para a conclusão da matrícula ou quando tentou insinuar que Ethan não era qualificado para estudar na escola ou mesmo que já estavam na metade do ano letivo — já haviam passado até mesmo das férias de verão e Agosto já estava começando — ele sorriu e falou em como os olhos dela eram admiráveis e ela finalmente cedeu, e no final ainda lhe pediu seu número.

Depois de esperar por pelo menos meia hora, Ethan começou a se distrair novamente, ele lembrou que enquanto caminhava pelo corredor algo no meio daquela multidão de rostos tinha chamado sua atenção, não foi bem uma coisa que ele soubesse definir, pois estava muito perdido nos próprios pensamentos para ter prestado atenção, foi apenas uma impressão, como se a parte de seu subconsciente que estava funcionando tivesse prestado atenção por ele, era só uma vaga lembrança que começava a ficar nítida agora. A lembrança de um par de olhos incrivelmente dourados lhe seguindo tão intensamente, que chegou a tirar-lhe o fôlego.

~ C O N T I N U A ~



Notas Finais


Boa leitura fanfiqueiros... 💙


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