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História É Errado Te Amar? (em revisão) - Uma Hora Todos Cedem


Escrita por: Akisa-sann

Capítulo 12 - Uma Hora Todos Cedem


Como era possível alguém ser tão cabeça dura? De pé, ao lado de fora do carro e sob uma chuva que se fazia cada vez mais insistente, Willian encarava Ethan se fazendo internamente aquele questionamento. Mesmo sem argumentos plausíveis e acabando de sair de uma grande confusão, o garoto ainda conseguia desconfigurar o sistema perfeito que Willian havia criado dentro de si, lhe fazendo perder a cabeça. Ele precisou de todo seu autocontrole para não matar Sebastian e agora precisava lidar com a teimosia infantil do outro.

Por que tinha que ser tão difícil?

Quando já não aguentava mais mandá-lo entrar no carro, seu autocontrole, que já estava por um fio, finalmente foi levado ao limite e ele explodiu, extravasando todos os sentimentos de raiva, insegurança e preocupação que vinha guardando desde a primeira semana depois de conhecê-lo, e se surpreendeu quando Ethan quietamente entrou no carro parecendo desconcertado, como se só então percebesse que estava agindo como um idiota.

Aquilo era surreal levando em consideração a personalidade difícil do garoto, e mesmo sem entender nada do que tinha acabado de acontecer ou como funcionava sua cabeça, ficou feliz quando ele finalmente entrou no veículo. O carro estava quente por causa do aquecedor e isso melhorava um pouco a situação, e tirando o fato de que Ethan — com um feio corte no lábio, a blusa em tiras e manchas de sangue — não parava de tremer e havia um Sebastian muito quieto e quase choroso no banco de trás, estava tudo correndo bem.

Will seguiu para a avenida movimentada em direção ao colégio e em trinta minutos chegaram; as luzes ao lado do portão estavam apagadas, o que era estranho, mas mesmo assim ele entrou estacionando seu carro mais para o fundo do estacionamento, assim ninguém suspeitaria que eles haviam voltado tão tarde e evitaria interrogatórios desnecessários. O que ainda lhe deixava mais animado era o fato de, pelo menos, já ser sexta-feira.

Ele desceu do carro e deu a volta, ajudando Ethan a sair, este tremia ainda mais e estava pálido, o lado do seu rosto que Sebastian tinha golpeado ainda estava muito vermelho e inchado, com marcas de dedos. O próprio Sebastian tinha seus hematomas no rosto e não esperou nem mesmo ele terminar de estacionar direito para sair como um raio do carro e, literalmente, correr para o dormitório, deixando os outros dois a sós. Willian apoiou o garoto com seu corpo e o guiou pelo estacionamento, ele era tão leve que o surpreendeu e ainda mais esbelto sob o toque firme de suas mãos. Chovia bastante e já estava bastante escuro aquela altura, então ele precisou correr carregando o peso de Ethan quase todo, por isso ainda se molharam bastante, mas finalmente chegaram ao alojamento; sorte a deles que não havia mais ninguém fora dos quartos.

Quando Will tentou abrir a porta, esta estava trancada, mas por sorte, ele era considerado um aluno exemplar e tinha permissão para ter uma cópia das chaves de quase todos os lugares reservados da escola; não sabia o que Sebastian tinha feito para entrar, mas não podia deixar a porta aberta, se não suspeitariam, afinal só ele tinha uma cópia daquela chave.

Ele precisou segurar Ethan um pouco mais forte para usar a outra mão para pegar a chave no seu bolso e destrancar a porta, o que lhe fez mais uma vez perceber o quanto ele era frágil. Seu corpo era tão esbelto... Willian sentia que se o apertasse com demasiada força, poderia quebrá-lo. Ao adentrar o edifício, ele teve um pouco de dificuldade ao guiá-los, pois estava muito escuro; devia estar passando das nove.

Como eles tinham demorado tanto a chegar, ele não fazia ideia. Porém, ainda haviam pessoas acordadas, porque a luz do corredor do andar de cima estava acesa; também descobriu como Sebastian havia entrado. Havia uma janela destrancada próxima ao final do corredor do primeiro andar e do lado de fora, ao lado da janela, havia uma árvore. Agora sabia como os delinquentezinhos fugiam do dormitório e nunca eram pegos, burrice a dele só perceber aquilo naquela hora, mas graças a Sebastian, o segredo fora revelado e a farra acabaria na segunda-feira, quando ele contasse ao supervisor.

Willian levou Ethan até seu quarto, o ajudou a sentar na cama e foi até o outro cômodo pegar algo para ele beber, ao chegar à geladeira pegou um pouco de leite, que era a única coisa apropriada para a ocasião — era aquilo ou sorvete — e pôs em um copo. Mesmo que não tivesse coragem de realmente bater em Sebastian, tinha que admitir que ele havia feito um ótimo trabalho em Ethan, pois havia conseguido o machucar razoavelmente. Estava voltando para a cama quando recebeu uma mensagem de texto de sua madrasta.

De: Isabel
Assunto: Imprevisto...

Querido Willian, hoje houve um imprevisto e seu pai precisou viajar para Washington a negócios. Eu vim com ele, pois vou fazer um trabalho aqui, como você já deve saber. Não se preocupe conosco e se possível, tente ficar no colégio este final de semana, okay?! Seu pai voltará na quarta, enquanto isso, você consegue se virar sozinho, certo!? Deixei meu número particular e o do seu pai (ele mudou de número) para o caso de emergências.

Beijos da Isabel... Não fique solitário e não apronte nada, te amo!
Ps: Não leve garotas para casa!

— Sua garota louca...

Willian balançou a cabeça em desaprovação. Ele jamais levaria garotas para sua casa e Isabel sabia disso, tinha uma namorada, não seria justo fazer aquilo com ela, e mesmo que não tivesse uma, não era exatamente o tipo de comportamento que ele costumava ter, mas ela insistia em falar aquelas coisas, somente para irritá-lo; ela era mesmo como uma irmã mais velha irritante.

— Vocês podiam ao menos ter ligado, não é? É pra isso que inventaram o celular. Quanta consideração! Bem, de qualquer forma, eu normalmente fico sozinho mesmo, não vai fazer diferença.

Ele adentrou o quarto com o copo de leite nas mãos e encontrou Ethan mexendo nos seus porta-retratos, ele já devia estar melhor, pois não tremia mais e já conseguia se manter de pé sozinho. Willian recostou-se na porta e ficou o observando através da luz fraca do abajur de canto, enquanto o garoto olhava as fotos com um interesse impressionante.

Ele os tinha levado todos consigo quando começara a estudar no St. Louis. Já que era um colégio interno, ele não voltaria muito em casa, então resolveu deixar seu quarto pelo menos parecido com o da sua casa, o que não era uma tarefa fácil já que, fora os porta-retratos, tudo era extremamente branco, assim como todo o resto do colégio e aquilo não podia ser mudado por um simples aluno. Até tentou dar algum charme ao lugar, mas não tinha ficado exatamente como queria. Pelo menos os quadros, as fotos e os livros davam um ar de "quarto" ao lugar. Na verdade, as vezes sentia saudade de casa, do pai, dos amigos, da vizinhança, do avô, mas lembrava que estava fazendo aquilo tudo por eles, para realmente orgulhá-los como eles diziam se orgulhar.

Will se sentia um tanto nostálgico. Enquanto pensava naquilo, Ethan caminhou até a janela ainda alheio a sua presença e espalmou suas mãos no vidro olhando a chuva forte e agitada que caía lá fora. Alguns minutos se passaram sem que ele notasse sua presença de volta ao quarto e continuava a olhar pelo vidro embaçado; os músculos de suas costas estavam tensos e sua pele estava arrepiada pelo frio, sua roupa e seus cabelos ainda estavam molhados e ele respirava pela boca, deixando o vidro da janela mais embaçado ainda, mas em certo momento, olhou para o reflexo e acabou lhe notando, então congelou por alguns instantes, antes de se voltar para encará-lo.

— Se sente melhor? — perguntou caminhando para perto dele.

— Hã... há quanto tempo você está aí?

— Cheguei agora...! — falou sorrindo divertido pelo nervosismo óbvio dele — Então, você está bem?

— Sim, me sinto melhor, obrigado.

— Você quer umas roupas emprestadas?

 Não.

— Então, o que? Vai ficar aí de pé, olhando a chuva pela janela, todo ensopado e tremendo de frio? É o que pretende fazer a noite toda?

— Claro que não! — Ethan girou os olhos — É só que... Eu tenho roupas no meu quarto! De qualquer forma, não acho que suas roupas... bom, elas não vão caber em mim.

— E você está preocupado com isso, é sério?

 Bom, se não der em mim, como eu vou usá-las?

— Isso não importa... nós damos um jeito. Você precisa se preocupar é com a sua situação; não está completamente recuperado, não é mesmo? Precisa se aquecer corretamente e limpar essa sujeira aí, pra sua saúde não piorar. Anda logo, vai tomar banho.

— Mas por que você está assumindo que eu vou ficar...? E suas roupas são ridiculamente grandes, você não está vendo? — o garoto protestou ainda se recusando a ceder — Por algum motivo isso me irrita! — o garoto resmungou como uma criança fazendo birra, e aquilo lhe arrancou um sorriso. Por trás da arrogância e personalidade forte, Ethan era muito mais fofo do que aparentava ser.

Ele mostrou ao garoto onde era o banheiro e o mandou se sentir em casa, mas Ethan continuava tenso e quando entrou no banheiro fechando a porta atrás de si, o ouviu soltar a respiração. Pegou uma calça de moletom, um casaco de frio e uma de suas boxers novas colocando-os em cima da cama; sentou-se o esperado e olhou para o relógio. Já ia dar 23:04, o tempo tinha passado voando e ele nem percebera. Enquanto esperava pegou seu celular e notou que tinha mensagens e ligações perdidas de Érika

De: Érika
Assunto: Onde você está?

Onde vc está, Will? Eu te procurei por td parte desse maldito colégio, até fui ao seu quarto e vc simplesmente ñ estava em lugar algum!
OBS: levei uma advertência por ter entrado no alojamento masculino, E É TUDO CULPA SUA!

De: Érika
Assunto: Responde

WILLIAN, POR FAVOR, ESTOU FICANDO PREOCUPADA. ME RESPONDE ASSIM QUE VER ISSO, DROGA... QUAL SEU PROBLEMA?!

E a lista de mensagens continuava, mais ou menos umas nove mensagens de texto, fora as de voz e as chamadas perdidas. Ele havia esquecido que tinha combinado encontrar com ela para irem ao cinema. Aquele dia era aniversário dela e ela estava super animada com aquilo. Tinha pisado na bola novamente com Érika e apesar de ela ser difícil e muito mimada, ele gostava dela e não queria vê-la se machucar novamente, afinal ela também era sua amiga mais antiga e praticamente uma irmã mais nova, claro, irmã com benefícios, mas aquilo não tinha nada a ver com a atual questão.

Teriam que ter uma conversa séria para ele poder dizer que não podiam mais continuar com aquilo; aquela era uma situação que jamais devia ter se desenvolvido, imagine então chegar tão longe com aquilo. Não, só iria acabar em mágoas se insistissem e não queria ser o responsável por magoá-la, pelo menos, magoá-la ainda mais do que vinha magoando. Apagou as mensagens e enviou uma para ela.

De: Will
Para: Érika
Assunto: Imprevisto!

Desculpe por hj, estou bem! Surgiu algo do colégio que precisei resolver e acabei perdendo a hora.
OBS: Quero falar c vc amanhã, pfv, ñ se atrase p o almoço, vamos conversar durante este período!

Will saiu para pegar comida pensando em como a garota reagiria àquilo, afinal término não era exatamente um presente de aniversário que as pessoas sonhavam em ganhar, mas mesmo que ela não conseguisse ver que era para o bem de ambos, principalmente o dela, no futuro ela agradeceria a ele por aquilo. Quando voltou ao quarto, Ethan estava penteando os cabelos e ele, pego de surpresa, ficou sem fala por uns quinze segundos, apenas parado como um idiota lhe olhando.

O garoto estava vestindo a sua calça de moletom, que era enorme nele, ficava cobrindo seus pés e pendendo nos quadris; o casaco de frio estava meio aberto e secava o cabelo. Estava realmente lindo recém banhado, bem ali, de pé na sua frente, bem no seu quarto, fresquinho e pronto para dormir... Aquilo era exigir demais de seu autocontrole, era querer testá-lo em um nível elevado demais.

Os cabelos de Ethan, agora já totalmente ruivos, sem nem um vestígio de tinta, pareciam negros na penumbra do quarto e Will notou pela abertura do casaco, que seus mamilos estavam expostos. Ele desviou o olhar e entrou pousando a pizza que tinha pedido em cima do criado-mudo enquanto Ethan sentava na cama e lhe observava com seus grandes e redondos olhos cinzas brilhando. Ele parecia melhor depois do banho, mas seu rosto ainda estava levemente vermelho do tapa recebido por Sebastian.

Willian percebeu que também estava com frio, tenso e sujo e na frente do garoto, agora limpinho, aquele fato se tornava ainda mais óbvio. Os olhos dele repousados sobre si lhe fazia ainda mais ciente de que não estava nada atraente, então, limpando a garganta, avisou que tomaria um banho também, lhe falou que se estivesse com muita fome, não precisava esperá-lo, a pizza ainda estava morna, porque tinha acabado de esquentar.

O garoto entrou no banheiro e tirou a roupa, foi para baixo do chuveiro e deixou a água morna cair em seu corpo tirando as impurezas e também a tensão. Começou a relaxar e se sentir aquecido por dentro, fechou os olhos tentado a ir para a banheira, pois acabara de perceber o quanto estava cansado e esgotado de tudo; de sua vida, da escola, de toda a pressão exercida sobre ele e aquilo começava a refletir em seu corpo, lhe esgotando. O acontecido com Sebastian e Ethan só havia acionado o gatilho.

As pessoas sempre esperavam mais dele já que o egoísta do seu irmão, que era o que devia ser responsável pelas empresas de seu avô materno, se recusava a ter responsabilidade e assumir seu lugar como herdeiro de sua mãe; agora ele tinha sobre as costas as empresas da família do pai e também da mãe, um aglomerado de empresas de dias famílias sobre suas costas, o que era praticamente impossível administrar sozinho. Aquilo era tão injusto, e ainda assim, ele não podia reclamar sem pensar na confiança que sua família havia depositado nele e se imaginar quebrando aquela confiança era simplesmente inviável, não iria permitir falhas novamente.

William sabia que devia dar o seu melhor, não só por ele, mas por todos que acreditavam nele, porém as vezes era meio frustrante não poder tomar suas próprias decisões. Era triste ter tantos olhos lhe observando, as vezes se sentia uma marionete, talvez realmente fosse uma, já que até mesmo os planos para seu futuro já tinham sido feito por terceiros. Quanto mais velho ficava e a formatura se aproximava, mais Will se sentia sufocar, a cada passo que dava, mais perto da vida adulta ficava e perceber que seria uma vida moldada e sonhada por outro alguém aos poucos estava lhe levando à loucura. Só queria ser anônimo por um tempo, para poder respirar com seus próprios pulmões.

Teria que passar todos os seus dias vivendo a vida de outro alguém? Por quanto tempo aguentaria? Ele precisava extravasar de alguma forma, se acalmar e relaxar, talvez com um filme ou uma massagem, até mesmo com um dia de folga ou uma boa noite de sono, sem preocupações ou algo do tipo, o que ele não tinha já há algum tempo, afinal ele era só um adolescente. Às vezes temia que as pessoas acabassem esquecendo esse fato tão importante.

Willian suspirou cansado e saiu de debaixo do chuveiro, afinal se continuasse pensando naquilo o banho duraria a noite toda e só lhe deixaria ainda mais cansado. Pegou uma toalha enrolando-a nos quadris e colocou outra em volta do pescoço saindo do banheiro. Para a sua surpresa, Ethan ainda estava sentado exatamente no mesmo lugar e posição de quando ele fora para o banho, parecia que tinha dado "pausa" e agora podia dar "play" novamente.

O garoto estava sentado na ponta da cama, com as mãos juntas sobre as pernas, com uma postura um tanto reta demais, ele estava realmente tenso, Will notou. Talvez não se sentisse confortável em seu quarto, com a ideia de dormir no mesmo lugar e na mesma cama de outro garoto, mas seu quarto era no mesmo alojamento, ele poderia voltar para lá quando quisesse, certo? Entrei, por que o esperar? Will sorriu tentando aliviar o clima, pegou a calça de seu pijama e depois de vestir, voltou.

A chuva agora caía mais forte que nunca e o céu estava tão negro que parecia que ele nunca mais veria as estrelas novamente, aliás, realmente já fazia muito tempo que não via um céu completamente limpo, com a lua e as estrelas, e aquilo lhe fez sentir saudades da casa de seu avô. O garoto se aproximou tentando decifrar o que se passava na mente de Ethan e o porquê de ele continuar tão tenso, sentou-se na cama em posição de lótus, ainda sendo acompanhado pelos olhos atentos do garoto, pegou a pizza e colocou em cima das pernas tentando parecer o mais amigável possível; pegou uma latinha de coca e deu a outra para ele sorrindo, mas o garoto apenas lhe encarou cauteloso.

— Você não vai comer?

— C-Claro! — respondeu ele, mas parecia um pouco aéreo, meio distraído.

— Qual é, Ethan, sou só eu, por que está tão nervoso?

— Eu não estou... Nervoso.

— Então apenas aja como se você estivesse na casa de um de seus amigos.

— Eu não vou pra casa de amigos...!

— Ah, qual é? Você nunca foi pra casa de ninguém?

— Não, não foi. — eles se encararam e o garoto continuou após uma pausa desconfortável — O máximo que eu tive foram alguns colegas, nunca considerei ninguém um amigo próximo o suficiente pra ir à sua casa ou para levá-lo à minha. Não é fácil ter esse tipo de relação quando seu pai é Edmund Fitzgerald.

— Uau... — ele não sabia o que falar — Bom, acho que é verdade, mas deve ter uma ou duas pessoas em quem você pode confiar.

— Não, não tem!

— Nunca é tarde pra aprender a confiar em alguém, Ethan...

— Eu não preciso disso... Não quero ser o motivo da queda de ninguém novamente. — Ethan falava de Sebastian?

Willian encarou o garoto e seus olhares se encontraram, porém ele não disse mais nada e Ethan pareceu perceber que, de certa forma, ele lhe entendera, então se aproximou e arrastou as pernas para cima da cama, dobrando-as; eles ficaram um de frente para o outro e Will abriu a embalagem da pizza. Comeram até não aguentar mais e aos poucos, Ethan foi se acostumando ao novo ambiente e se soltando. Mesmo que ainda timidamente sutil, começou a falar mais e sorrir com mais frequência. Quem diria que ele seria tão tímido? Afinal, parecia ter uma língua bem afiada e sua postura e semblante mostravam uma expressão sempre tão confiante.

Will descobriu que ele tinha um ótimo gosto musical e era um contador de histórias muito bom, mas demorava muito para entender piadas de duplo sentido e ele preferia não explicá-las; ele também gostava de escrever e vivia criando histórias aleatórias sobre seus colegas. Quando deu meia-noite e quarenta Willian já estava exausto, Ethan perguntou onde ele dormiria e só então ele recebeu que o garoto pretendia mesmo dormir em seu quarto e ficou ciente também de que não havia outro lugar para ele dormir se não a sua própria cama; tinha certeza que ele não concordaria com aquilo, mas mesmo assim arriscou.

— Bom, eu não esperava que você fosse mesmo dormir aqui, então... eu não tenho um colchão reserva ou algo assim, porque nunca esperei que outra pessoa fora a Érika viesse dormir aqui, então se você vai ficar, tem que dormir na cama comigo. Mas se você quiser eu posso dormir no sofá...!

— Bom... não era a minha intenção dormir aqui também. — falou ele parecendo um pouco irritado e Will não entendeu bem o porquê — Eu pretendia ir pra casa pegar umas coisas pra o meu quarto, por isso ia pegar o metrô, mas um certo alguém me arrastou novamente até o colégio.

— Isso porque você foi pegar o metrô no meio das atividades da escola.

— Isso não importa! Se eu saísse apenas quando as atividades acabassem, não daria tempo pegar o trem e eu não conseguiria voltar a tempo pra te encontrar.

— Então, você simplesmente resolveu que iria sair e saiu? Tem certeza de que pretendia mesmo voltar pra me encontrar, como tinha prometido?

— Não acho que isso importe agora e nem quero discutir por algo que está no passado; o fato é que meu quarto ainda está uma bagunça por conta da mudança e eu sei que já faz quase dois meses que eu estou aqui, mas ainda não tive tempo nem disposição o suficiente pra arrumá-lo adequadamente, porque o horário de aulas é muito puxado nessa porcaria de colégio e eu passei duas semanas no hospital, então eu ia dormir em casa hoje, já que tenho que passar o resto da semana dormindo em um amontoado de coisas. Queria, pelo menos no final da semana, dormir em um quarto de verdade.

— Viu só? Você não ia voltar! Como pôde fazer isso comigo? Eu confiei em você!

— Tsk, ah qual é, para com o drama. Temos o resto do final de semana e o próximo pra concluir isso. Olha só, no final das contas não conseguimos começar nada hoje.

— Se você tivesse cumprido com a sua palavra e se comportado, teria dado tempo.

— E, por que mesmo que você de repente quer me dar lição de moral, tanto tempo depois do que rolou? Não basta o tanto que você falou antes de entrarmos no carro? Você também não estava fora?

— Eu estava fora com a permissão do diretor, ao contrário de você e do Sebastian. Dois quebradores de regras, hum?

— De qualquer forma... — falou ele lhe interrompendo — se você não se importar, eu vou dormir na cama... E está tudo bem pra mim você dormir aqui também, afinal nós vamos apenas dormir, não é mesmo? Que mal tem nisso? Eu não sou nem um pervertido... você é? — ele lhe olhou com um ar divertido e acusadoramente sarcástico — Acho que não, então não tem problema algum.

— Tudo bem, desde que concordamos pelo menos nisso.

— Mas antes quero perguntar uma coisa.

— Hum?

— Eu não entendo esse favoritismo... Por que o diretor é tão complacente com você? Afinal, por que você é considerado melhor que os outros? Ou rola algum tipo de suborno?

— Ei... você está brincando, não é? É óbvio o porquê de eu ser o melhor, e quanto ao suborno, quem você pensa que eu sou?

Para sua surpresa, Ethan deu um pequeno sorriso, ficou vermelho e baixou a cabeça concordando, eles se deitaram um de cada lado da cama — tendo a certeza de manter uma certa distância um do outro — se enrolaram com o edredom fofinho e quente, e então Ethan finalmente desejou-lhe boa noite se virando para o outro lado. Willian continuou encarando sua nuca por alguns minutos, até que adormeceu sentindo o cheiro e a suavidade de seus cabelos, que se enroscavam a mão posta embaixo da cabeça.

~ C O N T I N U A ~



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