1. Spirit Fanfics >
  2. É Errado Te Amar? (em revisão) >
  3. O Peso de Uma Ligação

História É Errado Te Amar? (em revisão) - O Peso de Uma Ligação


Escrita por: Akisa-sann

Capítulo 21 - O Peso de Uma Ligação


As gotas de chuva lá fora ricocheteavam no solo e ecoavam pela casa vazia, a lareira ainda crepidava fortemente ao canto, tudo estava como o de costume, nem parecia que há alguns minutos atrás algo quase catastrófico acabara de acontecer em um quarto daquela casa. A penumbra era quase completa quando Willian finalmente acordou de seu transe, talvez já houvesse se passado bastante tempo desde que Érika havia partido, mas parecia o presente momento na mente do garoto, que ainda tinha cada detalhe fresco em sua cabeça, que latejava com um misto de sentimentos conflitantes; dos melhores aos piores possíveis.

O silêncio que perdurara após a ida da garota se prolongou por vários minutos, o que lhe deixou em um clima estranho com Ethan, que agora o encarava sério e aparentemente preocupado, porém ele não sabia o que dizer para quebrar o gelo e não tinha confiança em si mesmo, afinal ainda sentia a raiva borbulhar em seu interior como veneno mortal. Não sabia exatamente de quem ou mesmo de quê estava com tanta raiva, afinal não sentia que era de Ethan, que agarrava seu antebraço com uma força surpreendente para alguém tão magro. Ou mesmo da garota, pois sabia que ela havia feito aquilo com as melhores intenções.

A conhecia tempo o bastante para saber como ela pensava e agia. Quanto a Ethan, este estava muito sério, seus olhos cinzas pareciam estranhamente gelados, como se ele também estivesse chateado com toda aquela situação. Seu roupão aberto pendia frouxamente de seus ombros deixando muita pele exposta.

Willian era vários centímetros mais alto que o garoto e isso lhe dava uma visão bastante vantajosa que incluía os mamilos endurecidos de Ethan e o início de sua barriga lisa. O garoto permanecia com a cabeça erguida lhe encarando cauteloso, os olhos cintilando muito atentos a qualquer mudança de humor. Suas mãos estavam suadas em seu braço e seus dedos estavam brancos pela força que fazia. Os lábios apertados em uma linha dura e tensa.

A luminosidade das chamas ao longe transformava sua pele leitosa em uma cor bela e sedutora, seus cabelos ruivos assumindo um tom ainda mais vivo que antes. Parado ali diante de Willian, ele parecia tão sexy que chegava a ser perigoso. Era quase injusto o quão bonito ele era, mesmo sem se esforçar para isso, mais injusto ainda o fato de ele nem perceber o quão bonito e sedutor era. Aquilo lhe tornava muito mais perigoso do que se ele soubesse. Willian o desejava com todas as suas forças, sentia seu sangue correndo para um único lugar em seu corpo, que pulsava ferozmente.

Sem aguentar aquela visão, ele se aproximou passando os braços em volta dos ombros do garoto, o puxando para si. Este recostou o rosto em seu peito e levou uma das mãos até ali fechando os olhos como se tentasse ouvir seus batimentos, como se procurasse algo ao que se agarrar. Willian não reclamou daquilo, apesar de se lembrar da pergunta que ele lhe fizera há um tempo, se de fato ele possuía um coração. Se concentrou no delicioso aroma que emanava dos cabelos de Ethan enquanto o abraçava com força junto ao peito desejando diminuir o máximo possível a distância entre os dois corpos, enquanto lhe acariciava a nuca com a ponta dos dedos sentindo a respiração quente dele em sua pele exposta.

Os minutos se passaram despercebidos até que Ethan finalmente fez o primeiro movimento, afrouxou um pouco o aperto ao redor de sua cintura e afastou-se aos poucos. Ele parecia tenso, quase receoso, mas ainda assim, após uma pequena pausa a qual respirou fundo, finalmente olhou para cima, para Willian, parecendo ainda incerto. Naquele momento seus olhos brilhavam mais que qualquer luz no cômodo e aquele brilho iluminou os olhos de Willian fazendo toda a sua raiva residual se extinguir, ou pelo menos, apaziguar.

O garoto sorriu para o outro a sua frente e seus olhares se prenderam e perderam um no outro, aquele ato fez a incerteza no rosto de Ethan desaparecer e deu a Willian confiança de pegá-lo pela mão e o levar novamente para seu quarto, mas dessa vez não encontraria uma garota metida lá para atrapalhar seus planos.

Por um momento ele se esqueceu o que havia acontecido e caminhou todo o percurso excitadamente ansioso, segurando firmemente a mão do garoto, porém o quarto apareceu diante de seus olhos e assim que a porta do cômodo se abriu, toda a cena de minutos antes tornou a sua cabeça, lhe lembrando da maldita situação. Não era como se desse para fingir que não tinha acontecido, não depois de tudo que Erika havia dito.

Willian sentiu a raiva aquecer seu peito novamente, então soltou a mão de Ethan rapidamente e caminhou até a janela encarando o nada enquanto respirava fundo para se acalmar. Ele estava com raiva, muita raiva, e quanto mais pensava naquilo mais ficava irritado, por vários motivos, por todos os acontecimentos até ali, por tudo o que tinha sido dito, pelos nomes citados e também pelo medo que nublava seus sentidos. Um medo gélido do que Ethan iria pensar ou fazer após ouvir aquilo tudo e perceber o quão complicada era a sua situação. Willian precisava se acalmar, sabia disso, mas por algum motivo não conseguia e era mais do que apenas raiva que lhe atormentava, quase podia sentir o choro rasgando sua garganta que doía enquanto ele o engolia de volta, a frustração apertando seu peito.

Will finalmente queria algo para si mais do que nunca, jamais se sentira assim antes, nem mesmo por Ciro. Pensara que aquilo fosse finalmente ser seu, mas temia que Erika tinha lhe roubado aquilo, lhe tirado aquele algo importante que passou sua vida correndo atrás. Sentia que se fizesse um movimento errado, Ethan escorreria por suas mãos para sempre, tudo por causa do que a garota havia falado. Ele sequer teve a chance de explicar tudo, agora havia perdido o momento e não queria voltar a tocar no assunto. Mas ela era Érika, ela sempre faria aquilo, se dissesse respeito a ele e... a Matthew.

Enquanto arrumava a cama ferozmente, pensando e remoendo cada frase dita pela garota, principalmente as sobre a sua família e o seu enfadonho futuro, Willian ouviu ao longe Ethan lhe dizer que iria tomar banho e, ainda irritado e distraído, apenas acenou com a cabeça automaticamente, afinal sabia que se virasse para lhe encarar, não conseguiria esconder suas emoções que estavam ridiculamente estampadas em seu rosto, inclusive as lágrimas indesejadas que começavam a manchar sua visão.

Willian não tinha confiança em si mesmo para agir friamente, então apenas concordou desejando que ele entrasse logo no banheiro. Ouviu o garoto bufar ante a resposta seca que deu e seus passos até o banheiro, que hesitaram um momento antes de bater a porta. Willian finalmente sentou-se na cama respirando fundo e piscando com força para limpar a visão. Esfregou os olhos com raiva ouvindo as batidas do próprio coração, não se lembrava de um dia já ter sentido tamanho medo de perder alguém como sentia naquele momento. Tudo em que conseguia pensar era em quando Ethan saísse daquele banheiro. Como devia tratá-lo? Conseguiria agir normalmente? E se ele dissesse que queria ir embora? O que faria? E se ele quisesse uma explicação? Will seria capaz de lhe explicar tudo? Sua cabeça girou e latejou enquanto sua mente alucinava as piores cenas possíveis e seu estômago revirava só de imaginar. Estava pensando em tudo isso quando percebeu que seu celular tocava com um número desconhecido.

— Alô?

— Alô... Willian?

A voz que ressoou do outro lado da linha fez o garoto perder o fôlego; em um segundo lampejos de imagens surgiram em sua mente como flashbacks. Um afago carinhoso nos cabelos, a quentura de um abraço, o sentimento de ser amado; uma mesa composta por uma família feliz. Um garotinho ao seu lado piscando para ele enquanto pegava as escondidas os tomates que ele tanto odiava. A cálida sensação de lar e então, lágrimas, gritos e ruínas. Closets e quartos vazios. Um último "eu te amo", um último olhar borrado por lágrimas e então, um carro partindo para sempre com os dois, até a distância corromper tudo que um dia ele prezara.

Aquela voz era carregada de lembranças dolorosas, mas também felizes, de calor e frieza, amor e desprezo; era seu motivo de tentar tanto e ao mesmo tempo, sua revolta por se importar tanto com aquela única opinião. Ela era tão imponente como ele se lembrava, tão familiar, que chegava a lhe dar arrepios e ainda tão estranha que soava como um som novo em seus ouvidos. Era como reabrir feridas já quase cicatrizadas e vê-las sangrando novamente, e sempre naquela mesma época, ele precisava se lembrar da existência daquela mulher. Estar em um momento tão sensível só fez seu humor piorar e seu rosto endureceu. Aos mãos e lábios de repente trêmulos e a visão novamente embaçada de lágrimas.

— Katarina? — sua voz saiu áspera e ríspida até mesmo aos seus ouvidos.

— Katarina? Não era pra ser... mãe?! — os dedos do garoto já não possuíam mais sangue algum de tanto que ele apertava o celular, afinal por que precisava lembrar-se das coisas boas também? Seria tão mais fácil se apenas conseguisse odiá-la de uma vez — Você me surpreendeu, Willian. Aconteceu alguma coisa para você estar tão nervoso? Não acredito que seja apenas choque pela minha ligação, estou certa?

— Desculpe, mas não acho que você saiba o que me deixa ou não nervoso. — fez uma pausa tentando controlar a voz que tremia suavemente — Também não vejo motivos para te chamar de mãe, mas você também já sabe disso. Então apenas vá direto ao ponto e diga o que você quer.

— Eu... — após uma pausa curta, a mulher limpou a garganta e continuou — Bem, você já deve saber o motivo pelo qual liguei...

— E você já deve saber a minha resposta. — Willian a cortou, ouviu seu suspiro do outro lado da linha antes dela continuar.

— Seu avô quer muito te ver, Willian. Já faz quase quatro anos que se recusa a vir aqui. Não acha que já está na hora de parar com essa birra infantil e vir vê-lo? Esse ano vamos estar convidando toda a família para seu aniversário... Bom, talvez ele...

— Vou vê-lo nas férias de inverno desse ano, já tinha conversado com meu pai sobre isso. Mas não vou aparecer aí quando toda essa gente está aí fingindo se gostar enquanto alfinetam uns aos outros pelas costas. Não quero ter nada a ver com essa família. Ou você acha que eu não sei que todos eles só estão interessados no testamento do vovô?!

— Infelizmente não podemos mudar o sangue que corre em nossas veias, então gostando ou não, você ainda faz parte dessa família.  Não estou lhe pedindo algo impossível, nem para ser simpático com alguém, só estou pedindo que apareça para vê-lo. Você não precisa ficar, basta passar para vê-lo. Este ano é diferente, talvez ele não... Talvez esse seja...

— Sim, eu sei! Ele está doente já há muito tempo, você não precisa dizer isso todo ano. Ele já esperou até aqui, por que não pode esperar até às férias de inverno?

— Porque talvez ele não resista até lá, Willian. — a voz da mulher subiu uma oitava e ela se calou por um momento antes de prosseguir — Talvez este seja o último aniversário dele. O médico dele veio aqui ontem... As coisas não estão boas, não estão nada boas. Suas hemácias estão quase mínimas, ele parou totalmente de responder ao tratamento e... O médico lhe deu semanas, seis meses no máximo. — a voz da mulher era carregada de emoção, mas Willian não sabia dizer se ela estava chorando — Você é o neto favorito dele, não podia ao menos tentar fazer um esforço?

— Você... não faça isso! Só... não! Não aja como se isso só fosse importante pra você! Não é como se você tivesse sido a melhor filha do mundo esses últimos anos, afinal você passou todos esses anos na China cuidando da sua empresa e só voltou agora , não foi? Quanto tempo faz que o vovô está doente? E onde você esteve esse tempo todo? Você só voltou há dois anos para vê-lo. Até mês passado você estava fora, não era? Só voltou por causa do aniversário dele, então não venha insinuar que eu não me importo, eu me importo mais do que um dia você se importará. Acha que não sei que você faz isso só para aliviar o peso na consciência quando ele morrer? Só pra no final dizer que esteva com ele nos seus momentos finais? Você faz isso para as pessoas pensarem que você é uma boa pessoa, mas você não me engana, Katarina. Você pode enganar a todos, mas não a mim. Você acabou acreditando em suas próprias mentiras? O que você sabe sobre se importar com os sentimentos dos outros? Como você poderia saber...? — silêncio.

— V-Você tem razão sobre eu não ser tão presente, mas você não sabe os meus motivos ou como eu me sinto, Willian, então não tem direito nenhum de me julgar. Você pode não acreditar e não sei o que você pensa de mim, mas na verdade, eu também me importo... Muito, afinal ele é meu pai. Me preocupo com ele mais do que você imagina, por isso pedi ao Matthew para ficar lá. Não aja como se fosse difícil apenas pra você, não faça parecer que só você sofre. — Willian sabia que aquilo queria dizer muito mais do que apenas a visita ao seu avô, mas não tinha como entender de que forma ela sofrera, pois não a via como alguém com sentimentos... não mais. — Seu pai também foi convidado desta vez. Eu não entendo o porquê que depois de tanto tempo papai decidiu aceitar a visita do Paul, mas se ele o convidou, eu não posso fazer nada.

— A presença do meu pai é bem melhor que a sua, pode ter certeza.

— Claro que sim... Afinal ele é um homem justo e honesto, certo? Você devia questioná-lo mais, Willian. — por um momento o garoto ficou atônito, afinal o que ela quisera dizer com aquilo? — Acho que você devia conversar mais com seu irmão também, eu não acho que vocês compartilham da mesma opinião sobre o Paul.

— Não coloque o Matthew no meio disso. Eu não conheço mais você ou a pessoa que você diz ser meu irmão. Se era só isso, eu vou desligar.

— Você continua lento como sempre para conseguir ver as coisas do jeito que elas são, Willian. Se você o tivesse dado uma chance ao invés de aceitar a atitude dele e a retribuído com ódio, talvez você conseguisse entendê-lo e ver nas entrelinhas seus motivos e medos. De qualquer forma, espero que você repense antes de tomar a sua decisão.

— Eu não quero ouvir você proteger seu filho favorito dando desculpas para as atitudes de merda dele, e nem preciso tentar entendê-lo, ele não me diz respeito e eu não quero ter mais nada a ver com ele... chega! A Bianca foi a última coisa que ele tomou de mim.

— Ele só estava com medo de não ser aceito...

— Ele é uma criança? Por acaso ele não é dois anos mais velho que eu? Por que diabos ele ainda sofre com coisas como aceitação? E por que eu preciso aceitá-lo ou pedir perdão? Não me lembro de ter feito nada de errado, diferente dele. Quem me deve um pedido de desculpas é ele.

— Nenhum dos dois deve desculpas ao outro, mas você devia ao menos tentar entendê-lo. Ele merece! Você fala assim porque nunca foi rejeitado por ninguém. É fácil julgar, difícil é se por no lugar de quem sofre e tentar entender sua situação. O Matthew já fui muito mal interpretado por todos. — por um nanosegundo a voz da mulher falhou um tom, mas logo se recuperou, porém ela pareceu prestes a chorar e aquilo intrigou o garoto.

— Ele merece...? Ele... merece?! — riu sem humor — O que ele fez para que mereça as minhas desculpas ou compreensão? Eu também não mereço? Por que ele é tão melhor que eu, por que o ama tanto? Onde eu sou diferente dele, em quê ele é tão melhor?

— Chega! Não foi por isso que eu liguei... — a mulher suspirou do outro lado da linha — De qualquer forma, você não saberia. — a última parte saiu como um sussurro quase inaudível — Bom, seu pai já confirmou presença, mas disse que não te obrigaria a vir, então estou aqui falando com você. Não estou pedindo pra você fazer isso por mim ou pelo Matthew ou por qualquer pessoa que venha para a festa, estou pedindo pra fazer pelo seu avô, que pode ter apenas semanas de vida.

— Eu vou pensar sobre isso. E se eu resolver ir, será apenas para vê-lo, e depois irei embora. A não ser que Matthew tenha outra de suas ideias brilhantes de se passar por mim para me meter em encrenca. Afinal é isso que ele faz de melhor, não é?

— Faz três anos que você não o vê, não é? Ele está muito diferente da última vez que você o viu, Willian. Vocês já não se parecem tanto.

— Preferia que continuasse assim, sem vê-lo por mais três anos.

— Por que você o odeia tanto, Willian? — a pergunta da mulher não parecia ter nenhum tipo de deboche ou sarcasmo, era uma pergunta sincera, o que só o deixava ainda mais irritado, sua mãe sabia exatamente o porquê.

— Talvez por que a pessoa que devia ser meu irmão mais velho, que devia cuidar de mim quando eu precisasse, fez exatamente o contrário? Ele me magoa e ferra comigo sempre que pode, colocou meus amigos contra mim, fodeu minhas namoradas uma a uma e brincou com os sentimentos da Bianca até que ela... — se obrigou a parar no último minuto, não queria entrar naquele assunto novamente — Eu jamais vou perdoá-lo pelo que ele fez com a Bianca ou com o Sebastian... jamais! Eu o odeio e ele me odeia, pra mim essa situação é perfeita como está.

— Se isso é verdade, Willian, por que tanta mágoa? Por que eu consigo ouvir a tristeza em sua voz mesmo através do celular? Ele é apenas dois anos mais velho que você, então por que cobra tanta maturidade dele, quando você mesmo não passa de um garoto com o orgulho inflado demais para ver o que está embaixo do seu nariz? Vocês dois não passam de crianças orgulhosa...

— Você não tem mais o direito de me dar conselhos. O perdeu há oito anos, quando pegou Matthew pela mão e foi embora me deixando pra trás, você lembra?

— Sim! Todos os dias! — a sinceridade da mulher lhe pegou de surpresa — Não tem um dia sequer que eu não me lembre disso. Mas o Matt não tem nada a ver com isso. A culpa é dos adultos que não souberam resolver seus problemas, não das crianças que foram pegas no meio do fogo cruzado. Então, por que você o acusa de algo que ele não fez? Isso não é apenas você procurando um culpado? Ele não fez nada àquela garota, ela se condenou sozinha. Seu irmão não colocou a corda no pescoço dela, colocou?

— Foi por causa dele! A culpa dela ter feito aquilo foi dele, ela nunca faria algo como aquilo por vontade própria. Tudo o que Matthew toca, ele destrói. Foi assim com a nossa família, foi assim com a vovó, foi assim com o Sebastian e foi assim com ela também, ele a magoou tanto que ela rachou e ruiu. — ouviu a mulher sorrir.

— Como você saberia? Você passava mais tempo com seus amigos, jogando basquete, do que com sua própria namorada, como poderia entender os sentimentos de uma garota rejeitada e culpada? Matt só estava tentando ajudar... Mas não podemos controlar o coração de se apaixonar, e é difícil se doar e ser o que a outra pessoa precisa, quando você mesmo não se reconhece.

— Quem te disse isso, o Matthew? E que história é essa de culpada? Por que ela se sentiria culpada por algo? E em que merda ele a ajudou? A acabar com a própria vida? Ele ensinou ela a como se pendurar ou deu a ela a corda?

— Não fale as coisa sem saber, garoto. Procure enxergar com seus próprios olhos, Will...

— NÃO ME CHAME DE WILL... Pra você é Willian! Willian, entendeu! Você perdeu o direito de me chamar de "Will", de "filho", de "querido" ou qualquer coisa do tipo. Perdeu esse direito quando traiu meu pai e foi embora, quando tirou meu irmão de mim e me deixou sozinho, quando preferiu ele, quando o fez me odiar. Perdeu esse maldito direito quando roubou a minha infância... por ser uma péssima mãe, uma mulher fria e orgulhosa, que sacrificou a própria família em prol de sua carreira. Por só pensar em si mesma e no seu trabalho de merda, e definitivamente, perdeu o direito quando deixou uma criança de dez anos com um pai que estava sempre ocupado demais para lembrar que era responsável por outra pessoa. Tinha dias que eu sequer me lembrava do rosto do meu próprio pai! Eu precisei de você! Era seu dever cuidar de mim quando eu estivesse sozinho e com medo... Era seu dever, mas você se foi, levou meu irmão e me deixou com a porra de pai jovem e irresponsável, sem sequer olhar para trás para dizer adeus. Você tem ideia de como eu estava assustado? Que tipo de mãe deixa o filho para trás? O dever de um pai é amar seu filho... Era seu dever me amar, eu precisei do seu amor, mas não havia nada. Você não merece o título de mãe só porque me pariu. — Willian percebeu horrorizado que tinha, de fato, soado como uma criança mimada e que tinha os olhos cheios de lágrimas, engoliu uma vez, pigarreou para arrumar a voz e respirou fundo tentando se acalmar.

— Eu... eu entendi! Me desculpe, Willian, mas eu também era jovem. E não levei seu irmão comigo por escolha e sim porque seu pai não... Era minha obrigação cuidar da minha criança. E no final, acabei falhando com ele também, já que sequer pude...! — ela se calou antes de falar mais do que devia e após uma pausa continuou mais recomposta — Enfim, se mudar de ideia apareça. Como eu disse antes, não é... por mim, é pelo seu avô! Ele está morrendo e eu sei que você vai se arrepender se deixá-lo morrer sem se despedir. Você pode trazer a... Érika se quiser, para não se sentir tão sozinho. Não vai ser só eu e o Matthew, será toda a família, não se preocupe em ter que esbarrar em mim de minuto em minuto, terá gente demais para eu ter tempo pra... pra falar com você! Adeus... Willian.

Will se sentia como um balão seco. Sentia-se oco e frio, triste e incrivelmente sozinho; ficou parado olhando para a tela do celular até que ela se apagasse, não sabia o porquê de sua mãe ter soado tão triste e melancólica, não era justo ela se sentir daquela forma. Em primeiro lugar a culpa era dela por ter destruído a sua família, ela havia traído seu pai com um homem qualquer, levado Matthew embora e lhe abandonado, e então fugiu de suas responsabilidades como mãe indo para a China e deixando Matthew com os pais. Não entendia o porquê de ela se sentir daquela forma. Se ela tinha ido embora por sua própria escolha, então por que se sentia triste ao ser tratada friamente por ele? Não era como se eles tivessem um relacionamento mãe-filho, ela não tinha o direito de ficar com raiva dele por tratá-la assim e muito menos de ficar triste.

Um barulho vindo do banheiro o tirou de seu devaneio e ele foi até o cômodo ainda pensando subconscientemente na forma como sua mãe agira, abriu a porta ainda com o celular na mão e encontrou Ethan deitado na banheira com os olhos fechados e a boca entreaberta, os cabelos presos em um coque, os braços relaxados nas bordas e as pernas cruzadas, o restante de seu corpo imerso na água com espuma perfumada; quando ouviu o barulho da porta, ele abriu os olhos e se sentou bem rápido olhando do seu rosto para o celular e de novo para seu rosto, franziu o cenho parecendo preocupado e pigarreou antes de começar a falar.

— Hã... algum problema?

— Me diga você! — ele não queria, mas soou sarcástico.

— Você recebeu uma ligação? Quem era? Algo aconteceu?

— Ninguém... — Will não queria, mas estava ressentido pelo fato de Ethan ter deixado Érika entrar e ainda ter conversado com ela de boa.

— Será que dá para você parar com isso? Se vai agir assim, eu vou embora. Não é minha culpa se sua ex entrou na sua casa sem sua permissão, é sua culpa por não ter pego a chave quando terminou com ela.

— Ah, agora isso é minha culpa?

— Willian, não me faça de idiota. Se você quer ficar com raiva, tudo bem, eu não vou te impedir de ficar com raiva! Então se está com raiva pelo menos grite comigo, só não aja assim.

— Assim como? Não sei do que você está falando.

— Assim, Willian... Como se tivesse falado com um estranho.

— Eu não estou!

— Então tá, você não precisa mais falar comigo, beleza? Eu tô caindo fora.

— Espera aí... — Willian falou antes de conseguir se parar, sua mente gritando consigo mesmo. — O problema é que eu estou com raiva e estou procurando alguém pra descontá-la. Além do mais, você não pode ir pra casa nessa chuva, há essa hora e sem roupa... vão chamar a polícia se te verem assim. Te confundirão com um pervertido. — passou a mão pelos cabelos tentando se acalmar — Estou com raiva sim, mas também estou com medo, Ethan. Tá bom? Satisfeito? Eu estou com medo disso tudo.

— O quê? — o garoto lhe encarou meio confuso, meio incrédulo.

— Estou com medo do tanto que eu gosto de você, do que você pensa de mim agora... Estou com medo porque, mesmo sabendo que a Erika está certa, ainda assim não me importo, Ethan.

— Você é um idiota, sabia? — Ethan falou simplesmente, a expressão preocupada se desfazendo.

— O quê?

— Como você pode ainda pensar assim mesmo depois de eu ter...

— Você o quê?

— Esquece! — o pescoço e as orelhas do garoto começaram a assumir um tom levemente rosado.

— Isso não é justo, termine de falar.

— Já disse para esquecer.

— Qual é, você já falou a metade, só termina logo. — ele lhe encarou com olhos muito selvagens para alguém que estava envergonhado e após uma breve hesitação, continuou.

— Depois de eu ter deixado você... Você fazer todas aquelas coisas comigo. Acha mesmo que eu faria isso com qualquer cara? Eu não daria minha bunda em uma bandeja pra qualquer um, beleza? Você foi meu primeiro... O que mais eu preciso te dar pra você confiar em mim? Ainda não está satisfeito?

— Eu acho sim.

Willian falou sem conseguir disfarçar o sorriso que se formou em seus lábios. Queria ir até ele e abraçá-lo, beijá-lo e não o deixar ir nunca mais, mas se segurou, não podia ser tão fraco ante aquele garoto, então respirou fundo sacudindo a cabeça já pensando que ia se arrepender daquilo que ia sugerir. O encarou estreitando os olhos e não pôde evitar olhar mais do que devia, já que o garoto estava bem ali de pé na sua frente, completamente nu, de livre e espontânea vontade. Quando Ethan percebeu o que ele estava fazendo — lhe comendo com os olhos — corou fortemente e sentou-se novamente na banheira, agora sem espuma, e para se cobrir encolheu os joelhos encostando-os no peito e passando os braços ao redor do corpo.

Willian não conseguiu segurar o meio sorriso e o fez, apenas para provocá-lo, então encarou novamente a tela do celular. O que estava para propor seria algo perfeito para eles fazerem juntos e ainda lhe daria a chance de ver seu avô, mas ainda assim a inquietação em seu coração lhe fazia ficar agitado e tudo aquilo tinha um nome: Matthew.

— Está afim de viajar?

Ethan lhe olhou com desconfiado e em dúvida, talvez pensasse que ele estava rindo da sua cara ou só perdido o juízo mesmo, mas quando percebeu que ele estava sério, levantou-se devagar na banheira esquecendo-se novamente que estava nu; ele notou que o garoto estava ruborizando novamente e baixara a cabeça para tentar esconder dele. Willian sorriu novamente, ergueu uma sobrancelha, pegou a toalha colocou-a no ombro e saiu para o quarto rindo.

Ethan, obviamente, gritou com ele e lhe xingou exigindo que ele voltasse com a "maldita toalha", mas ele não se importou; deitou-se na cama e ficou esperando o garoto sair, infelizmente, ele não era tão fácil e saiu do banheiro completamente encharcado vestindo a blusa que ele tinha lhe emprestado — esta grudava ao seu corpo marcando certas áreas — os cabelos pingando e os dentes batendo.

— O que você acha que está fazendo, seu imbecil? — ele perguntou caminhando rapidamente até onde Willian estava e tentado pegar o roupão de suas mãos.

— Eu que pergunto... qual roupa você vai vestir agora? — riu e puxou o roupão para mais longe o impedindo de pegar.

— I-Isso não importa, me devolva o roupão, eu estou com frio!

— Então porque não me deixa te aquecer? — Ethan lhe olhou feio o fazendo gargalhar, então ele se levantou e lhe entregou o roupão, o garoto se enrolou rapidamente tirando a blusa encharcada e jogando-a em cima dele parecendo extremamente chateado.

— Quer ajuda pra colocá-lo?

— Cala a boca!

— Poxa, você ruboriza muito rápido, em!

— Cala a boca, Willian, eu estou avisando... vou te enterrar vivo!

— Escuta... — Willian de repente ficou sério, o clima ficando mais tenso que alguns momentos antes, seus olhos brilharam ardentemente sob a visão do outro, lindo e praticamente nu no seu quarto — Sobre mais cedo, foi mal, eu não queria...

— CALA A BOCA, DROGA!

— Quê? — Will lhe olhou um tanto surpreso, não sabia o que tinha feito dessa vez, ia apenas se desculpar por mais cedo, mas quando o encarou ele não lhe olhava nos olhos. — Qual o problema, estou tentando pedir desculpas a você, sabia?

— Não peça... eu não quero suas desculpas! Por favor, não peça, por que se não eu vou ter que desculpá-lo e eu não quero... não quero ter a sensação de que você me deve satisfação, porque eu... n-não quero me apegar! — Will se aproximou dele passando os braços ao redor de sua cintura e não se importou mesmo quando ele virou o rosto tentando se desvencilhar de seu abraço.

— Se apegue a mim. Eu quero que você me queira tanto quanto eu te quero. — o garoto o encarou, os olhos cinza cintilando perigosamente.

— Eu já disse que você é estranho?

— Já...! E você é lindo, sabia?

— Chega! Só... vamos dormir!

Willian riu alto enquanto Ethan se desvencilhava de seu aperto e corria para a cama vermelho como um tomate.

~ C O N T I N U A ~




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...