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História É Errado Te Amar? (em revisão) - Aos Poucos Ele Irá Me Aceitar


Escrita por: Akisa-sann

Capítulo 24 - Aos Poucos Ele Irá Me Aceitar


Sexta-feira19:05 da noite

O vento uivante da noite fazia as árvores se agitarem ao longe. O cheiro de chuva que ele trazia era aconchegante, porém trazia também a gélida sensação de um feriado molhado. As aulas da semana haviam chegado ao fim mais cedo naquele dia trazendo a animação e expectativa de um feriado prolongado. O jantar seria servido dentro de alguns minutos e todos — alunos e professores —, já se preparavam para o tão esperado feriado, tornando os arredores do colégio, assim como os dormitórios, movimentados.
      
Willian caminhou até sua mesa, junto à seus colegas do conselho e sentou-se suspirando, sentia como se carregasse o peso do mundo nos ombros, principalmente porque não tinha visto Ethan durante todo aquele dia e logo após uma briga. No outro dia ele havia saído e voltado bem tarde da noite parecendo bastante abalado. Willian se sentiu tentado a ir atrás dele tentar conversar, mas acabou desistindo no final.

Enquanto devaneava sobre Ethan, um professor se aproximou o puxando para o presente. O garoto o encarou e sorriu esperando não estar com uma carranca. Por que tinha que fazer o seu papel de bom aluno mesmo no jantar das vésperas de um feriado? Ainda assim respondeu a todas as perguntas do homem sobre seu futuro e possíveis cursos que poderia fazer na faculdade, até que, depois de quase uma hora, o homem finalmente se despediu dele indo para a sua mesa, afinal o jantar acabara de ser anunciado.

— Qual o problema, cara? — Will se sobressaltou com a voz de Gabriel ao seu lado — Você tem estado muito quieto esses últimos dias. Aconteceu alguma coisa?

— Nada fora do normal! Acho que só estou cansado.

— Hum...! Você devia dar um tempo de vez em quando, sabe? Descansar também faz parte de ser um bom aluno, afinal sem descanso não tem como você ir bem nas provas e elas estão às portas.

Willian, de fato, estava mais quieto que o normal, mas aquela semana estava uma completa bagunça, então não era para menos. Sequer tinha percebido o tanto de estresse que a ligação de sua mãe tinha lhe causado até perceber o quão sensível estava. Tudo lhe fazia explodir, o mero pensamento de rever a mulher após tanto tempo lhe fazia estremecer, assim como não estava nada ansioso para rever seu irmão mais velho após três longos anos fingindo que ele não existia. A perspectiva de ver o estado de seu avô, que estava com os dias contados, lhe aterrorizava e a aproximação das provas finais lhe dava dores de estômago. Fora toda a pressão colocada em seus ombros pelos professores. Por tudo isso, sem querer, tinha acabado descarregando mais do que devia em Ethan e tinham acabado brigando. Pela primeira vez tivera uma briga razoavelmente séria com o garoto e aquilo lhe deixava terrivelmente ansioso.

Após pensar naquilo tudo, de repente se sentiu muito cansado. Willian deu uma breve olhada para o amigo, suspirou e baixou a cabeça massageando as pálpebras pesadas com os polegares e os indicadores, na tentativa de mandar embora o cansaço e estresse acumulado. Tornou a erguer a cabeça e olhou ao redor apenas por acaso, mas algo chamou a atenção de seus olhos cansados. Era a mesma mesa onde Ethan estava no jantar da outra noite, bem no canto, próxima a uma árvore, quase na penumbra, já fora dos limites da cantina. Ali um grupo muito barulhento estava sentado e imediatamente ele soube que eram os amigos de Ethan. Enquanto os encarava, alguns acenaram para ele, que franziu as sobrancelhas estranhando aquele ato, mas então percebeu que, na verdade, os acenos não eram para ele e sim para alguém que vinha às suas costas.

Willian seguiu com os olhos até eles pousarem em alguém. Ethan vinha caminhando ao longe, já sorrindo para os amigos à mesa. Ele caminhava em direção aos garotos de forma despreocupada, todo o abalo do outro dia esquecido pelo sorriso que seus lábios desenhavam, de dentes brancos e perfeitamente alinhados. Ele tinha tomado banho e seus cabelos ainda estavam úmidos, parecendo mais escuros do que realmente eram na claridade fraca do ambiente. Apesar do clima frio, ele usava roupas muito finas e aquilo o preocupou.
      
Seu jeans preto, rasgado nos joelhos e nas coxas, deixava à mostra a pele pálida de suas pernas. A blusa de algodão branca, com gola V, parecia absorver a luminosidade do ambiente causando a ilusão de que ele puxava a luz para si. O casaco escuro que ele trazia amarrado aos quadris, balançava alegremente por trás de suas pernas tornando seu andar preguiçoso ainda mais sedutor e, claro, não poderia faltar o All Star cano longo, que ele insistia em deixar com os cadarços soltos.

A blusa que ele usava, além de ser fina demais para o clima e ter uma gola V muito cavada, parecia ser um número maior que o dele deixando suas clavículas muito visíveis; ele andava com indiferença e um ar arrogante, como se aquele lugar não fosse bom o bastante para ele.

O garoto sentou-se à mesa e sorriu, mas o sorriso não chegou a atingir-lhe os olhos gelados e o ato pareceu tão sincero quanto sua atitude em relação aos denominados amigos. Os garotos ao seu redor, assim como ele, estavam meio indiferentes à sua presença exceto por um, que estava sentado na sua frente e parecia ser o mais próximo dele. O garoto o olhava de um jeito que Willian não gostou nada. Ele sorriu para Ethan e este lhe retribuiu de forma bem mais calorosa que antes, eles se debruçaram sobre a mesa e começaram uma conversa baixa até que o garoto olhou para baixo erguendo as sobrancelhas e Will ficou tenso com seu movimento repentino.
      
Este levou uma mão à gola da blusa de Ethan, que estava frouxa, ficando bamba. Por estar debruçado a blusa ficava praticamente aberta à olhares curiosos. O garoto enganchou o dedo indicador na gola e a puxou para baixo deixando-a ainda mais aberta, olhou para dentro da blusa e ergueu uma sobrancelha maliciosamente fazendo algum comentário que fez o outro rir. Ethan imediatamente puxou-a de volta dando um tapa em sua mão divertido, porém a diversão finalmente acabou quando algumas garotas se aproximaram rindo e falando alto juntando-se a eles na mesa, obrigando-os a se afastarem, o que não pareceu agradá-los muito, Will, por outro lado, se sentia mais que agradecido à elas. Ele nunca tinha realmente prestado atenção no sr. amigo, mas ele e Ethan tinham estilos bastante semelhantes, também não era feio — apesar de ter uma beleza bem normal — e não parecia ser uma má pessoa, o que só lhe deixava mais e mais irritado.

O tal garoto tinha o cabelo liso de um castanho claro quase loiro bem sem graça e estava cortado no estilo corte americano. Ele tinha alguns piercings nas orelhas e no nariz, também usava jeans preto com um coturno marrom, um casaco preto fechado até em cima, tinha um sorriso meio debochado sempre presente e segurava um pirulito entre os dentes. Apesar de estar sentado ele parecia ser razoavelmente alto e atlético.

De repente, algo começou a aflorar na memória de Willian. Aquele garoto era de algum clube esportivo. Sabia disso porque se lembrou de vê-lo em um dos banners do colégio e também na página de esportes do site. Talvez fosse o representante de algum clube masculino, mas não conseguia se lembrar ao certo e nem lembrava de já tê-lo visto nas aulas, para dizer a verdade. Ele tinha um ar meio entediado e parecia ser bem despreocupado, assim como a maioria dos que compunham a mesa. Seus olhos, azul-água, também pareciam meio apagados, quase sem brilho, como se a vida não valesse a pena, mas fora aquilo tudo, ele era até alguém bem bonito, porém bem comum. Willian não conseguia entender como não tinha prestado atenção nele antes, mas, agora queria saber quem ele era.

— Ei, Gabriel, você está vendo aquele garoto ali?

— Hã? — o garoto virou para ele preguiçosamente — Onde? Só o que tem é garotos por aqui.

— Tsk, ali naquela mesa, seu idiota! Aquele ao lado do Ethan... Fitzgerald. Você sabe quem é ele?

— Ah, o James? É claro que eu sei quem ele é! Ele entrou para o clube de vôlei da faculdade esse ano. Assim que se formou no ensino médio convidaram ele para o time, aparentemente ele é famoso por lá. — Willian franziu o cenho, como assim faculdade? — Dizem que ele é um gênio, o melhor Ás que já tivemos em muito tempo, assim como você... Tenho certeza que a galera da universidade não vê a hora de você se formar para ir jogar pelo nosso time lá. Pelo que eu ouvi, ele é bom tanto no ataque como na defesa e consegue jogar em várias posições. Por causa dele o nosso time da faculdade ganhou a semifinal e vai para o nacional esse ano... Isso até saiu no noticiário nacional. Isso trouxe ainda mais fama para o colégio, já que ele estuda aqui desde o primeiro ano do médio. — Gabriel sorriu amarelo parecendo meio invejoso — Ele tem esse jeito meio arrogante, mas até que é um cara legal... se não mexerem com ele, é claro, mas acho que todos os caras famozinhos são assim no final, não é? — Gabriel o encarou com um olhar significativo — Ele terminou o terceiro ano, ano passado e começou logo a faculdade em Setembro, mas não quis mudar para um quarto na ala da faculdade. Pode não parecer, mas o teste de QI dele deu cento e cinquenta e três! Talvez seja por isso que ele parece sempre tão entediado, acho que ele já sabe o suficiente para um cara da idade dele. Também, com um QI desses... — então o garoto finalmente parou de falar do tal James e lhe olhou com olhos estreitos — Espera, por que a curiosidade repentina? Você nunca tinha ouvido falar dele antes? Nem mesmo o viu?

— Eu é quem devia estar te perguntando! — Willian rebateu o garoto na tentativa de fugir da pergunta — Para alguém que se diz desinteressado, você sabe bastante sobre ele, não? — Gabriel desviou os olhos, o que lhe pegou de surpresa.

— Só me surpreende vocês dois não terem se tornado amigos... ou terem pelo menos uma rivalidade amistosa, quer dizer, ele vivia conversando com o Ciro, pensei que você o conhecia... Bom, eu adoraria ver vocês dois competirem, sabe? Saber quem ganharia.

— Não viaja, Gabriel. — parou por um segundo tentando achar em sua mente algo que dissesse respeito àquele garoto; ele se lembrava de já ter ouvido falar de alguém parecido, mas nunca havia se interessado de fato por alguém assim tão famoso. Talvez devesse ter dado mais atenção a isso antes.

— Só tô dizendo! Mas, por que você está interessado nele de repente? Ele fez alguma coisa errada pra chamar sua atenção, assim do nada? Quero dizer, alguma coisa pior do que ele já faz? — o garoto riu debochado.

— É... ele meio que também está de olho em uma coisa que eu quero.

— Hum... — Gabriel pôs uma mão em seu ombro — Boa sorte! Acho que você finalmente achou um rival a altura... ele está em pé de igualdade com você. Ele é legal, bonito, rico, inteligente, badboy, é bom no esporte que pratica... na verdade, muito bom! E em outras coisas também... E agora tem uma carta na manga...

— E o que seria? — Willian perguntou irritado.

— Ele é universitário agora. Ouvi dizer que as garotas adoram "homens maduros" e isso na língua delas quer dizer: "garotos universitários". E quer saber o que mais? Eu nunca ouvi falar de uma vez sequer em que o James desistiu de algo, então sugiro que, se você quer algo que ele também quer, tenha força de vontade o suficiente pra lutar por isso.

Willian não gostou muito daquele comentário, mas iria deixar para lá por enquanto. O jantar finalmente terminara e ele precisava tomar banho, afinal iria sair as onze, como tinha dito a Ethan mais cedo. Chegando ao seu quarto, se despiu e entrou no banheiro deixando a água lhe lavar por completo.

Quando estava abotoando sua calça, alguém bateu na porta de seu quarto insistentemente, ele terminou de vesti-la e caminhou em direção a entrada, uma pontada de esperança se formando em seu íntimo, torcendo para ser Ethan, mesmo sabendo que ele jamais bateria em sua porta daquela forma, pois só uma pessoa tinha a audácia de bater assim em seu quarto... apenas Érika fazia aquilo. Ele abriu e a encarou sério, ela parecia normal novamente, não tinha mais resquício de raiva em seu olhar e nem de mágoa em suas íris verdes. Ele bem que ficou tentado a fechar a porta na cara dela de imediato, porém antes de decidir se faria ou não, ela se meteu por baixo de seu braço adentrando o lugar e acabando com todas as suas chances de fazê-lo.

— Calma... não me expulse. — ela falou quando viu sua cara.

— E por que eu não deveria? Afinal, o que você quer? Será que dá pra aceitar de vez que nós...

— Willian, desencana, tá? — ela o cortou sentando na cama e cruzando as pernas, olhando ao redor — O que passou ficou no passado, certo? Afinal o que eu poso fazer se você gosta de transar com garotos? Eu não vou implantar um pau em mim só pra continuar esse relacionamento fajuta. Meu corpo é o de uma garota, uma muito gostosa a propósito e gosto dele assim... Na verdade, adoro peitos! Nunca vou entender porque você prefere o corpo sem graça de um cara!

— Exatamente, eu adoro, assim como você ama o corpo flácido das mulheres! — ela estreitou os olhos pra ele.

— Bom, isso só prova que temos nossas próprias preferências... Nunca daria certo entre nós se ambos gostamos do que vemos no espelho. — o garoto estreitou os olhos pra ela, sabia exatamente do que ela estava falando, já que a garota era igual a ele e só estava sendo obrigada a casar com Sebastian pois seus pais descobriram que ela estava namorando uma garota — Bom, eu só estou aqui porque quero usar seu banheiro, o meu... bom, temos um problema no meu.

— E qual seria o problema?

— Tem um bicho lá, ele não quer sair, é enorme e eu não vou tirá-lo.

— Sério isso?! Só saia!

— Por favor, Willian, eu não estou brincando. Eu só quero usar seu banheiro, só isso! Que mal há em me deixar tomar banho? Só porque não namoramos mais, não quer dizer que não sou mais sua amiga.

— Tá, tá, okay, eu já entendi, mas seja rápida, estou de saída. E, se você se diz minha amiga, eu sugiro que comesse a agir como uma.

— E eu posso saber o que eu fiz que lhe diz o contrário?

— Você ainda tem a cara de pau de me perguntar? Como se já não fosse o suficiente o que fez da última vez, você acha que eu não sei que você andou enchendo a cabeça do Ethan com as suas mentiras novamente?

— Ei, eu e ele só estamos tentando formar uma amizade também e pra isso precisamos conversar... Só aconteceu de o assunto dessa vez ser você! E o que eu disse a ele sobre você não são mentiras, eu te conheço muito bem... bem até demais para o meu próprio bem, e ele queria saber mais sobre você, então eu falei. Se acreditou ou não no que eu disse, é sinal de que não confia em você para ouvir da sua própria boca, por isso veio me procurar. Se não há confiança, então esse relacionamento não irá durar nem até o final do ano letivo.

— Vá embora... use o banheiro de outra pessoa, você não tem amigas?

— Estão todas viajando a essa hora.

— Não é problema meu, estou de saída e você está me atrapalhando.

— Vai a algum lugar? — perguntou ela olhando para a mala que estava em cima da cama.

— Algo assim!

— Você vai levar ele, não vai? — ela lhe encarou estreitando os olhos — Então é por isso que ele estava tão lindo hoje. Será que se arrumou todo só pra você ou será que não era  pra você? — ela falou lhe lançando um sorriso sarcástico, tinha certeza que ela também havia visto ele com James mais cedo, no jantar, e agora estava se aproveitando daquilo para lhe perturbar.

— Isso não é da sua conta, não é mesmo? Agora, você veio tentar descobrir pra onde eu vou levá-lo ou usar o meu banheiro?

— Poxa... vão sair em lua-de-mel, hum? Que romântico!

— Érika... eu estou te avisando.

— Então quer dizer que vocês estão mesmo namorando? Tipo, oficialmente? — ela se aproximou dele e sussurrou — Você tem certeza que é uma boa ideia levar ele até aquele lugar?

— Chega... — Will a pegou pelo pulso e começou a lhe levar para a porta.

— Tá, tá bom, eu parei! Tsk... Meu Deus... só queria saber se você está em seu juízo perfeito ou se não está sendo levado pelo momento. — ela lhe encarou ficando séria — Você tem certeza disso? Ouvi dizer que sua mãe voltou e... Matthew ainda mora lá, não mora? Vocês ainda continuam agindo como dois imbecis, não é? Então, tem certeza de que está fazendo a coisa certa? Por favor, me diz que você não está levando ele só pra se exibir. Porque se for, não é muito maduro da sua parte... mas vocês nunca foram maduros mesmo.

— O que você acha que eu sou, Érika, um idiota? Sei muito bem como ele é, não levaria Ethan apenas para exibi-lo sabendo dos riscos.

— Eu não acho, Willian, eu sei que você é um idiota pra certas coisas e te conheço muito bem, por isso estou perguntando, porque sei que você faria isso apenas como birra, para incitá-lo. Afinal são duas crianças, agindo de forma tão infantil. Você não devia ter raiva de ser chamado assim, nem você nem ele. Vocês dois me tiram do sério, francamente.

— Chega, já disse pra parar de agir como minha mãe. Eu sou o mais velho aqui, lembra? E você sabe muito bem o que ele fez, só que não foi com você que as coisas aconteceram, não é? Por isso você ainda o defende. Então não, eu não vou falar do Matthew com você, porque você sempre vai apoiá-lo.

— Eu sempre vou apoiar os dois nas coisas certas, seu imbecil. E não, não vou apoiar nem um dos dois quando se trata dessa birra ridícula, afinal os dois são idiotas e teimosos... e quem não sabe o que ele fez é você. — a garota fechou os olhos suspirando e se afastou alguns passos — É apenas que há motivos e motivos pelos quais eu entendo o Matthew e você nem tenta enxergar através da bagunça que você mesmo criou da imagem dele. Se ao menos eu pudesse te dizer...

— Saia do meu quarto!

— Tá bom, tá bom, eu já tô indo.

Depois de soltar todo o veneno que conseguiu, a garota finalmente entrou no banheiro, lhe deixando no quarto bufando de raiva, porque sabia muito bem do que ela estava falando. Ela conhecia Matthew — aquele maldito garoto que infernizara sua vida —, mas por algum motivo, ela sempre tentava fazer com que eles voltassem a se falar e nunca concordava com o que Will falava sobre ele e aquilo lhe tirava do sério. Ele sabia que ela era amiga de ambos, mas não podia simplesmente perdoá-lo. Quem sabe se o garoto não fosse tão fodidamente difícil de lidar, eles ainda poderiam ter uma chance, mas se ele lhe odiava e não lhe queria por perto, por que precisava insistir em se aproximar?
      
Willian sacudiu a cabeça fazendo a massa fervente de raiva que se formava em seu peito se dissolver, afinal sabia que era esse o objetivo da garota, lhe tirar do sério. Foi até seu closet escolher uma blusa para ver se esfriava a cabeça; demorou, mas finalmente achou uma que lhe agradava. Era creme, de mangas longas e gola polo; a colocou em cima da cama e foi procurar seu casaco. Quando saiu do seu closet novamente, Érika estava saindo do banheiro com uma toalha enrolada no corpo e outra nos cabelos, ela sorriu e começou a se aproximar lentamente lhe fazendo rolar os olhos, desgostoso.

— Você não podia ter se trocado lá dentro?

— Esqueci de trazer minhas roupas, e não é como se você não soubesse o que tem por baixo da toalha, ou se interessasse.

— Tsk... só sai logo, o Ethan vai chegar a qualquer momento. — lhe cortou antes que ela o deixasse irritado de vez.

— Essa blusa fica bem em você! — falou ela olhando para a blusa estendida na cama parecendo nostálgica — Eu demorei muito pra achar essa cor, mas achei que destacaria a cor dos seus olhos.

Foi então que ele se lembrou... Érika tinha lhe dado aquela blusa no dia de seu aniversário, no ano passado, quando ele estava bastante pra baixo e passando por uma barra. Ela lhe obrigou a beber com ela até cair e tinha ficado muito grato por isso. Ele nem se lembrava mais daquilo, parecia ter sido há tanto tempo. Abriu a boca para responder, mas percebeu uma sombra no chão, próxima a porta, seu coração saltou lhe fazendo hesitar por um momento, a garota também pareceu perceber e sorriu sarcástica erguendo uma sobrancelha para ele e tornando a sentar na cama com as pernas cruzadas.

Engolindo em seco, ele foi até a porta e a abriu dando de cara com Ethan, que tinha uma mochila nos ombros; estava lindo como sempre e olhando mais de perto podia ver o quanto, de fato, aquela roupa lhe caía bem. O garoto lhe olhou com tanta surpresa que lhe fez ponderar se ele estava ouvindo sua conversa com Érika. Antes que conseguisse sequer formular uma frase para tentar se redimir, a garota apareceu por trás de si.

— Bom, foi mesmo uma ótima escolha de blusa, Willian, eu passei muito tempo pra achá-la e escolhi especialmente pra você, então vai ficar perfeita. Tchau, tchau, divirtam-se na viagem e mande um oi para o Sr. Clifford por mim, e... para o Matthew também.

Willian tencionou com a última parte e estreitou os olhos encarando-a, sentia que ela estava planejando algo, mas não conseguia entender o quê. Quando a garota se afastou mais, ele se virou para encarar Ethan e perguntou se ele não iria entrar, o garoto de fato o fez, porém entrou abruptamente batendo em seu ombro no caminho e colocando a mala de qualquer jeito ao pé da porta. Ao se inclinar, sua blusa também foi para frente e a gola ficou pendendo frouxamente, o que lhe permitiu ver seus mamilos. Então era aquilo que James estava vendo mais cedo, no jantar.

Willian suspirou tentando controlar a raiva, terminou de se vestir rapidamente e foram para o carro. Disse a Ethan que dormisse um pouco, porque a viajem era longa, mas como sempre, o garoto não o fez, na verdade ele parecia sentir prazer em fazer exatamente o contrário do que Willian lhe pedia e aquilo lhe fazia querer pegá-lo de jeito e lhe dar uma lição bem boa, para o fazer aprender a se comportar. Já não bastava ele ser um pequeno diabinho, ainda tinha que ser teimoso, malditamente sexy e injustamente lindo?

Deus não era justo!

O garoto havia colocado seus fones de ouvido e estes estavam realmente altos, pois Will conseguia ouvir perfeitamente bem a melodia de Times Like These. Ele gostava bastante daquele cantor e a música parecia combinar perfeitamente com o clima, até se surpreendeu de terem o mesmo gosto musical. Aquilo provava que ainda sabia muito pouco sobre o garoto. Ele havia aberto a janela e a brisa entrava no carro lhe deixando com frio, seu cabelo estava meio grande, então continuava esvoaçando e roçando em seu pescoço, lhe fazendo se arrepiar. Olhou de esguelha para Ethan, que estava escorado no banco, com os pés apoiados no parabrisa do carro e olhava para fora da janela parecendo meio emburrado. Daquele jeito, ele parecia uma criança de castigo. Ele era tão esbelto, tão bonito.

Apesar de bastante másculo, ele também parecia delicado, de certa forma. Aquele corpo magro, aquela pele pálida... Imediatamente o garoto, James, veio a sua mente e ele sentiu a raiva ferver em seu peito. Não gostava dele, não gostava nada dele e daquela sensação de impotência que o outro lhe causava. Afinal Ethan era amigo dele e não podia fazer nada para mudar aquilo. Ele sorria para aquela garoto como nunca havia sorrido para Willian, agia despreocupadamente como nunca havia agindo em sua frente e aquilo lhe preocupava. O que James tinha que ele não tinha? Por que o garoto era melhor?

Olhou para ele o observando, apesar de tudo, ele ainda era inegavelmente um homem, e um muito bonito. Mesmo sendo magro, seus braços tinham músculos firmes, seu abdômen não era tão definido quanto o seu, mas ainda era liso e firme, a linha de sua mandíbula era levemente saltada e mesmo sendo mais baixo que a maioria dos garotos da sua idade, sua estrutura óssea ainda era a de um jovem homem. Seu corpo esbelto e sensual destacava a masculinidade do corpo que só um homem possui e aquilo fazia seu sangue ferver.

Willian sentia uma obsessão tão grande por aquele garoto que o queria só para si, não queria compartilhá-lo com ninguém. Também sabia dos riscos de levá-lo àquela viagem, porque sabia que aquela pessoa estaria lá e assim como ele, esta pessoa também se sentiria atraído por Ethan e, ao que parecia, Willian já tinha um outro cara para se preocupar... maldito James.

Willian estava chateado com todos os pensamentos em sua cabeça e o pico foi quando Ethan resolveu acender um cigarro. Ele o encarou incrédulo antes de tomar aquilo de entre os lábios do garoto e o jogar pela janela. A conversa que se seguiu foi uma das mais confusas e interessantes que já tivera com o garoto, nela ele descobriu que Ethan estava com ciúmes de Erika, o que lhe fez sorrir como um idiota, porém ele sempre acabava falando alguma merda e sem querer o chamou de idiota. Depois disso, se arrependeu, é claro, pois parecia ter acertado bem em cima da ferida.

Ethan lhe encarou com a cara mais zangada que ele já tinha lhe visto fazer, recolocou os fones, virou novamente para a janela e fechou os olhos. Ele continuou lhe chamando, mas não obteve resposta, lhe cutucou, mas também não teve muito resultado, talvez finalmente houvesse dormido. O garoto estava encolhido, sua pele se arrepiava e sua respiração condensava, Will sabia que aquilo ia acontecer quando vira sua roupa no jantar, então tinha preparado um cobertor para aquela situação. Pôs o carro no modo automático por alguns instantes enquanto pegava o cobertor e o cobria, fechou as janelas e ligou o aquecedor.

Se desculparia depois, no momento ia deixá-lo dormir.

***

— Ethan, acorda!

Eles finalmente tinham chegado. Willian estava tão cansado que tinha a sensação de que ia desmaiar a qualquer momento. Aquilo era tão nostálgico, todo aquele verde e a casa de seus avôs. Aquela paisagem rústica e antiga. Respirou fundo sentindo o cheiro de chá que já lhe lembrava de seu avô, o cheiro de terra molhada pelo orvalho e vegetação, tão típica de interior; era totalmente diferente do cheiro de plantas mortas e mofo do colégio. A névoa da manhã também lhe trazia velhas lembranças, algumas boas, outras nem tanto. Will sentiu seu peito comprimir e seu coração acelerar ao olhar para a casa a apenas alguns metros de distância, esta não tinha mudado nada, o que era quase cruel. 
      
Depois de Ethan ter acordado, eles entraram. O imóvel continuava exatamente igual lá dentro, ali era o único local que parecia ter parado no tempo, era o único lugar onde sentia que podia tirar todo aquele peso das costas, que podia voltar a ser um garotinho de cinco anos na casa dos avôs e talvez, por aquele motivo, quando viu seu avô — que sempre lhe passava a sensação de felicidade, que lhe fortalecia e revigorava — tão debilitado e frágil, chorou. Tudo ali estava o mesmo, menos quem ele queria que permanecesse intacto.

Chorou, não um choro qualquer, mas um choro amargo, um choro de despedida, porque depois que ele partisse, não teria mais motivos para voltar ali. Um choro de cansaço, por tudo que tinha que aguentar na vida lá fora, um choro de raiva, por seu único membro em toda a família ao qual ele ainda amava, lhe estar sendo tirado, de sua mãe, que lhe deixou, que escolheu seu irmão ao invés dele. Aquele foi seu choro, um choro que juntou tudo o que vinha passando ao longo do tempo, todos os choros que não havia chorado. Chorou por tudo que já devia ter sido chorado no passado, mas se privou e não o fez.
      
Seu avô lhe abraçou, mas não falou nada, nem uma palavra de consolação, o que ele apreciou muito, afinal sabia que não iria ficar tudo bem. Depois que finalmente parou de chorar eles se despediram do senhor e foram até seu antigo quarto, que também continuava do mesmo jeito, aquilo o satisfez muito. A chave era mantida com seu avô, que não deixou ninguém entrar no quarto por todos aqueles anos que ele não havia ido lá a não ser para limpá-lo. Ethan caminhava atrás dele em silêncio, sabia que ele estava chorando baixinho, amava aquela sua parte que se importava tanto com os outros. Ele até fingia indiferença, mas a verdade era que talvez se importasse mais que a família de seu avô.

Enquanto caminhavam, algo estava lhe incomodando e era o fato do velho homem ter percebido que tinham uma relação mais profunda que a amizade, afinal eles eram assim tão óbvios? Se sim, precisava disfarçar urgentemente isso, pois aquela pessoa não podia notar que Ethan era alguém especial para ele, não naquele sentido. "Se ele perceber, irá querer pegá-lo de mim!" Pensou, afinal sempre fora assim, tudo que Willian prezava, ele queria para si e acabava conseguindo pegar, mas dessa vez era diferente, pois não estava disposto a desistir de Ethan assim tão fácil como desistira de todo o resto.

— Willian... você está bem?

— Ah, sim desculpe. — se assustou com o chamado de Ethan, mas também ficou surpreso com a gentileza em sua voz, o que ele nunca havia ouvido antes — Só estava um pouco perdido nos meus pensamentos, só isso.

— Você quer ficar com o seu avô mais um pouco? Eu arrumo nossas coisas.

— Não, tudo bem, eu preciso dormir um pouco, passei a noite toda dirigindo. Se eu não dormir agora, sinto que posso desmaiar a qualquer momento.

O garoto concordou com a cabeça lentamente enquanto desfazia as malas. Tinham se programado para passar quatro dias e três noites, voltariam na terça à tarde, já que na quarta as aulas recomeçavam. Aquela noite o resto da família chegaria e antes que a casa lotasse e sua mãe aparecesse com Matthew, Will queria mostrar os arredores a Ethan. Estava suado e grudento por conta da noite, então disse ao garoto para tomar um banho que depois ele também iria.

Quando chegou sua vez de tomar seu banho e entrou na banheira, percebeu que Ethan havia esquecido seu celular na pia, provavelmente nem lembrava ou estava com vergonha de entrar e pegá-lo com ele ali, tomando banho. Sorriu para si mesmo e começou a relaxar. Lembrou da primeira vez que o tinha visto, dos pequenos detalhes, de suas reações e expressões e por algum motivo aquilo estava lhe deixando excitado, Willian tinha prometido ser paciente, então eles nunca tinham ido até o fim e aquilo estava começando a pesar. Cada vez mais ansiava transar com o garoto sem precisar parar na melhor parte, estava cansado de esperar e sabia que ele também o desejava.

Quando Willian percebeu, já estava se imaginando em cima de Ethan, olhou para baixo e não era surpresa: Ali estava o Willian Jr. de pé, bem acordado lhe dando tchau sem cerimônia. Precisava dar um jeito naquilo antes de sair do banho, era verdade que o queria muito, mas não estava assim tão desesperado ao ponto de, mesmo caindo de sono e cansaço, querer transar, e se para ele seria cansativo, imagina só para Ethan. Pelo menos, era assim que queria pensar, já que estava pensando em ser o ativo. Não que fosse dizer aquilo ao garoto, sabia muito bem que ele tinha todo o direito que querer ficar por cima também.

Saiu do banheiro e deu de cara com um Ethan profundamente adormecido na cama, ele tremia levemente, já que o clima estava frio, afinal estavam caminhando rapidamente para Dezembro, ou seja, a neve estava se aproximando. O garoto estava enroscado em posição fetal no cantinho da cama, próximo a parede. Willian sorriu caminhando até lá e sentando-se ao lado dele, tocou seu rosto, lhe acariciando e ele suspirou profundamente durante seu sono. Ele sentiu os próprios olhos pesarem também, ajustou o aquecedor, deitou-se ao seu lado pegando o cobertor e os enrolando, aconchegou-se e fechou os olhos. Ele não sabia ao certo quando pegara no sono, mas sabia que tinha adormecido rapidamente com a suave sensação da temperatura de Ethan ao seu lado.

~ C O N T I N U A ~



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