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História É Errado Te Amar? (em revisão) - Verdades Dolorosas


Escrita por: Akisa-sann

Capítulo 7 - Verdades Dolorosas


Ethan respirava fundo enquanto caminhava ligeiro para fora daquele vestiário tentando acalmar seu corpo, que parecia ter ativado um sinal de alerta máximo. Não aguentava mais aquela sensação estranha que insistia em permanecer em seu corpo, como se estivesse em chamas, mas desde que o braço de Willian Monggomory tinha encostado-se a sua pele, ele insistia em continuar sensível ao mínimo toque, fosse qual fosse o toque e por conta disso, quando chegou à quadra deixando Willian e seu amigo — um garoto chamado Gabriel — a sós no vestiário, ele sentiu o frio que fazia como um chicote em sua pele.

A sensação desconhecida lhe fez arfar, enquanto sua respiração se condensava de leve lhe fazendo tremer e sentir-se cansado, como se houvesse corrido uma maratona, também sentia seu corpo com muito mais detalhes e assim também os problemas que este possuía, como por exemplo, o latejar dolorido em seu nariz e uma dor lancinante no estômago, como se estivesse prestes a morrer; era como se ele houvesse acabado de receber aquela maldita bolada daquele garoto fodido.

Falando naquilo, se sentia ridículo como nunca se sentira antes, agora como iria conseguir encarar seus colegas sem morrer de vergonha?! E nem ia falar de Sebastian, pois ele era o responsável por pelo menos 85% de seus problemas desde que chegara ali. Quando estava chegando às arquibancadas, sua visão começou a ficar turva novamente, talvez por estar caminhando muito rápido. Só deu tempo de sentar e ela escureceu, os sons ficando cada vez mais distantes e difusos em sua perspectiva.

Ethan não entendia o que estava acontecendo, não acreditava que estava mesmo a ponto de desmaiar novamente, apenas porque tinha sido atingido no rosto por uma bola. Porém seus pulmões estavam ardendo estranhamente, como se houvesse entrado em contato com fumaça em abundância, a sensação era sufocante e dolorosamente agonizante. Sua mãe precisava chegar logo ou ele iria desmaiar novamente e daquela vez não haveria ninguém para lhe ajudar.

Ele suspirou tentando se acalmar e não se desesperar com a dor que só aumentava e pensamentos desnecessários começaram a surgir em sua cabeça, coisas como: Talvez o pai tivesse razão sobre ele, talvez realmente fosse um fraco que dependia da mãe para tudo, e tinha que admitir que ela não era o tipo de pessoa desocupada que podia ir ao colégio olhar como ele estava a cada vez que levasse uma bolada em uma aula de Ed. Física e ela também não tinha culpa de ele não ser bom em esportes.

Ethan também odiava ter que pedir alguma coisa a ela, não gostava de incomodar ninguém com seus problemas, mas ela fazia o possível para ser uma boa mãe, aliás, ela era a única que agia como família em sua casa, mesmo em meio a prazos apertados, jantares e palestras, entrevistas e vida pessoal.

Ethan sabia que sua mãe fazia de tudo para agradá-lo, talvez em uma tentativa de compensar sua falta de tempo e ausência, por isso, mesmo estando tão ocupada com seu manuscrito, que já estava em cima da data de entrega, prometera ir até lá por ele. O garoto piscou algumas vezes tentando ajustar sua visão turva e ao olhar para cima a avistou caminhando em sua direção e não pôde deixar de sorrir, afinal ela era uma mulher realmente incrível, não só sua personalidade ou o quão culta era, mas seu exterior também refletia sua beleza interior de uma forma gritante e formosa, fazendo jus ao quão bela ela era.

Dakota Fitzgerald tinha seus 1,66 de altura muito bem aproveitados em um corpo esbelto. Suas curvas e traços eram delicados e sofisticados a deixando com um ar de nobreza vintage incrivelmente conceitual e sexy. Apesar de possuir proporções pequenas, não lhe faltavam curvas, lhe fazendo chamar atenção por onde passava, assim como atrair os olhares desejosos de alunos e alunas que a observavam passar, exatamente a mesma reação que seu filho causara ao chegar ali.

Sua beleza se acentuava ainda mais enquanto ela andava encima de um salto quinze, negro e lustroso como uma pedra de obsidiana e em um vestido tubinho, vinho, que ia até abaixo de seus joelhos, com um fino cinto amarelo marcando-lhe a cintura perfeita e destacando o quadril nota 10 que ela possuía, destacando também sua pele excessivamente pálida, assim como a do filho.

As mangas curtas do vestido deixavam a mostra braços pálidos e delicados, que seguravam um sobretudo, marrom bem claro, dobrado, enquanto o outro segurava uma bolsa amarela ao lado do corpo. Um óculos de sol repousava no topo de sua cabeça, sobre longos cabelos negros, que caíam em uma cascata ondulante sobre os ombros indo para as costas, sobrepondo seu rosto afilado e de nariz levemente arrebitado, com lábios carnudos, que estavam tingidos com batom nude, destacando os olhos cinza-tempestade enfeitados com longos e cheios cílios negros.

A mulher detectou o filho a alguns metros de distância e assim que seus olhares se cruzaram seus lábios se curvaram desenhando um belo sorriso que enterneceu sua expressão imediatamente, seus olhos sendo marcados por algumas rugas ao fazê-lo. Ethan fez o melhor que pôde para sorrir de volta sem morrer com a dor que se alastrava por todo seu tórax como se veneno se espalhasse lentamente por seus órgãos.

Mesmo com dor e quase inconsciente, ainda se sentia orgulhoso e fazia questão de que soubessem que ela era sua mãe, pois era uma mulher realmente linda e atraente, simpática e com uma ótima personalidade, inteligente e culta, bela em sua simplicidade natural. Sentiu-se meio dividido, afinal chegava a ser engraçado e até uma piada de mau gosto aquele fato, pois o único filho que ela tivera era totalmente o seu oposto; tudo o que ele tinha de bom para falar de si mesmo era sobre a sua aparência e aquilo não duraria para o resto de sua vida.

Ethan odiava admitir, mas sabia que sua mãe e seu pai juntos eram como um casal modelo, todos queriam ser iguais a eles. Eles eram como algo divinamente feito sob medida, um completava o outro de uma forma tão compatível que chegava a ser ridículo; os dois juntos eram ícone de perfeição e beleza, tanto que até o próprio Ethan já havia sentido inveja um dia, mas aquilo já não era mais daquele jeito, pois havia descoberto que tudo aquilo não passava de encenação, uma mera aparência, superficial e frágil, que se olhada mais de perto, seria facilmente derrubada, pois já haviam rachaduras demais.

Ethan tentou enxotar aqueles pensamentos negativos para longe e quando sua mãe se aproximou o suficiente, ele se ergueu sorrindo, tentando fingir que estava tudo bem, que ela não precisava se preocupar e que estava tudo sob controle. Em sua cabeça a cena que ele projetara fora de que iria até ela e lhe daria um abraço, já que fazia quase duas semanas que não se viam, desde que ele havia ido para o St. Louis, porém o que aconteceu foi totalmente diferente da imagem projetada em sua mente.

No momento em que se ergueu e tentou caminhar para se encontrar com ela, Ethan se arrependeu de tê-lo feito, pois sua cabeça girou novamente, a dor tingindo sua visão de vermelho e pontos luminosos um momento antes de escurecer completamente, porém daquela vez, ele não voltou.

***

O uivo do vento era audível ao longe assim como o irritante e constante tic tac do relógio, que parecia fazer de propósito para lhe chatear. Ethan se forçou a abrir os olhos com muita dificuldade e dor, e percebeu que estava em um lugar bastante escuro e com um cheiro ligeiramente familiar de álcool hospitalar, o garoto quase não conseguiu ver nada, até que seus olhos se acostumaram com a falta de luz. Ele não sabia onde estava, mas sabia que não era no céu, por isso deduziu que não estava morto, o que lhe fez lamentar profundamente.

Queria muito abrir mais os olhos e olhar ao seu redor para ver onde estava, mas não conseguia forçá-los a se abrirem mais e sua visão continuava embaçada e difusa, como se seus olhos já não fizessem mais parte de seu corpo e estivessem em estado de decomposição. Só depois de algum tempo — bastante tempo na verdade — sua visão começou a focalizar, porém Ethan lamentara muito ter despertado e queria voltar a dormir imediatamente, pois sua cabeça doía com tanta intensidade que o incidente de mais cedo parecia ter acabado de acontecer.

Ele não estava sentindo aquilo até um momento atrás, porém no momento em que começara a se mexer e seu corpo finalmente acordou, ele não conseguiu mais nem mesmo pensar direito por causa da intensidade da dor. Se forçou a sentar-se e apertou as têmporas doídas, respirou fundo com dificuldade e avaliou onde estava, por um momento pensou que estivesse na enfermaria/hospital do colégio, porém depois lhe caiu a fixa de que, na verdade, ele estava em um hospital fora do campus da escola, então a vergonha quase lhe sufocou.

Não queria sequer acreditar na possibilidade de ter ido parar em um hospital só por que tinha levado uma bolada. E ainda tinha desmaiado antes de chegar ao carro de sua mãe, e na frente de toda a escola. Quem no mundo tinha ajudado ela a colocá-lo no carro? Ele não queria nem saber, não conseguia nem mesmo imaginar com que cara iria voltar àquele lugar e encarar aquelas pessoas depois daquele fiasco. Definitivamente queria estar morto.

A escuridão da noite também tomava conta da paisagem lá fora e não apenas do quarto em que estava, assim como o silêncio, que era quase absoluto. Ao olhar ao redor, Ethan viu sua mãe sentada e adormecida em uma poltrona ao lado de sua cama e não pôde evitar sorrir contemplando-a, daquela forma ela parecia ser ainda mais jovem do que realmente era, mesmo com as marcas do cansaço por baixo da maquiagem. Queria poder vê-la mais vezes com aquela expressão serena no rosto, apesar de que quando a olhou com mais atenção sentiu seus olhos embaçarem com lágrimas, pois por trás da expressão calma, ela possuía preocupação e olheiras, assim como olhos inchados mostrando que já havia chorado o suficiente.

Ethan se levantou devagar e com cuidado para não fazer barulho, ao lado de sua maca estavam seus pertences, e também algumas coisas da mulher, o que lhe fez ponderar há quanto tempo ela estava ali, e ele também. Ele caminhou até a janela do quarto onde estava com o chão frio sob seus pés, ignorou o desconforto e se aproximou afastando a enorme cortina e encarando o vidro, o céu estava pesado e cinzento, a névoa estava espessa e cobria o ar, gélida. Caía uma tempestade lá fora castigando a terra com toda a fúria, os relâmpagos iluminando ao longe e as correntes elétricas que os raios soltavam cortavam o céu, dividindo-o em dois.

Dali de cima Ethan podia ver o quão bonita a cidade ficava durante uma tempestade. A névoa cobria tudo deixando-a com um ar mais mórbido que o habitual e os sons abafados dos trovões enchiam-lhe os ouvidos como um cântico de guerra, as grossas e cristalinas gotas de água caindo eram belas e graciosas, embaçando o vidro da janela a qual ele teve que passar a mão para conseguir enxergar com clareza.

Parecia muito tempo desde que vira um céu estrelado e sem nuvens ou mesmo a lua, agora tudo o que via diariamente era aquelas estúpidas nuvens de tempestade e as gotas de chuva embaçando os vidros das janelas por onde ele passava. Era como viver sempre o mesmo dia; pelo menos naquele momento tinha algo de diferente naquela tempestade, a noite chuvosa parecia mais bonita que o normal, quase como uma brincadeira de mau gosto da natureza, lhe lembrando o quão insignificante ele era e como não importava se ele estava bem ou não, machucado ou não, quando a natureza queria fazer um show e mostrar o quão bonita era, ela simplesmente o fazia.

Os carros lá embaixo não passavam de pequenas luzes no chão, iluminando a noite, tornando a cidade pontilhada e colorida, o que lhe fez se perguntar que hora seria aquela, pois apesar de a avenida estar parcialmente movimentada, a noite já parecia profunda, aparentando já ser madrugada. A chuva fustigava a janela cada vez mais forte fazendo barulho e tornando o quarto acolhedor e a cama convidativa, ele estava finalmente se acostumando com o frio que fazia naquela cidade, pois já ia fazer dois meses desde que seu pai tinha resolvido se mudar para aquele lugar. Segundo ele, precisava de um lugar calmo para poder trabalhar e de novos sócios também, nem sequer lhe perguntara qual a sua opinião sobre aquilo, mas ele nunca perguntava mesmo.

Sua cidade anterior era bastante ensolarada, então Ethan estava tendo um pouco de dificuldade em se acostumar com o clima e seu corpo continuava rejeitando a mudança de ambiente. A visão da cama lhe fazia ficar sonolento e sua cabeça latejante ajudava com aquilo, mas ele se sentia melhor e a dor não tinha nem de longe a mesma intensidade de antes. O garoto voltou para a cama e sentou-se sentindo sua visão escurecer de repente e uma quentura descer por seu rosto, a dor se intensificando na região de suas têmporas; ele tocou o nariz e seus dedos vieram tingidos de vermelho vivo.

Ethan congelou começando a sentir medo daquela situação, sua visão ficava cada vez mais cheia de pontinhos coloridos e aos poucos ia escurecendo. Ele não conseguia entender o porquê de estar sangrando novamente, afinal nem tinha sido uma coisa assim tão séria, já tinha passado por momentos piores e nunca tinha precisado ir a um hospital e as dores nunca haviam sido tão intensas e prolongadas.

Seus pulmões estavam queimando, o que não era a primeira vez, mas naquele momento a intensidade era tamanha que fazia as lágrimas escorrerem contra a sua vontade, era como se seu corpo pegasse fogo, quase como ter veneno correndo nas veias. Ele se deitou apertando o nariz e ficou olhando para o teto branco do quarto na penumbra, ouvindo o gorgolejo da chuva lá fora enquanto o sangue escorria para sua garganta, lhe fazendo engasgar e seus olhos embaçavam com as lágrimas que afloravam por conta da dor quase insuportável. Ele mordia o lábio inferior e agarrava a colcha da cama com força quando se sobressaltou com a voz de sua mãe cortando o silêncio.

— Ethan, você está acordado? Você acordou? Está com dor?!

— Na...da. — respondeu engasgando.

— Ah meu Deus... Ethan...!?

Sua mãe foi até o lado de sua cama e tocou o local onde ele tinha estado mordendo, sentiu arder quando os dedos dela lhe tocaram e logo em seguida os viu sujos de sangue; tinha mordido o lábio com tanta força que o tinha cortado. A mulher parecia realmente preocupada, mas também aliviada, acariciou sua bochecha enxugando uma lágrima e tentando limpar o sangue que escorria de seu nariz com a manga de sua blusa.

Ethan não sabia o que estava acontecendo ou o porquê de ela estar chorando, mas sentia-se confortável ao lado da mãe. Ela era uma das únicas pessoas as quais ele não tinha vergonha de mostrar aquele lado fraco e ridículo dele, o seu verdadeiro "eu". Ela colocou a mão sobre seu braço e beijou-lhe a testa, suas lágrimas caíram quentinhas sobre seu rosto, mas ele não conseguia entender o porquê de ela estar chorando. Viu quando ela apertou um botão ao lado de sua cama e logo em seguida uma enfermeira apareceu parecendo atordoada.

Ambas, sua mãe e a enfermeira, conversaram rapidamente entre sussurros e depois a enfermeira voltou com uma agulha de aspecto nada amigável carregada de remédio e alguns tufos de algodão, ela colocou o algodão em suas narinas e aplicou o remédio em sua veia do antebraço esquerdo, este entrou rasgando seus glóbulos vermelhos em dois, quase como se seu braço fosse cair de tanta dor.

Segundo ela, era para parar a dor, mas aparentemente as dores só pioravam; depois de conversar um pouco com sua mãe, que chorava cada vez mais, a mulher lhe pôs no aerosol e trocou as ataduras em suas costelas, que ele não se lembrava de ter precisão. Percebera que tinha partes de seu tórax pontilhadas de manchas com uma aparência horrível que variava entre vermelhas, verdes e amarelas, algumas quase pretas. Finalmente a mulher se afastou dele e se despediu dizendo que se houvesse qualquer outro problema, lhe chamassem novamente. Após o ocorrido a sala tornou a ficar na penumbra silenciosa e sufocante, exceto pelos soluços cada vez mais descontrolados de sua mãe.

— Mãe, o que houve? Qual o problema? Eu estou bem, não precisa se preocupar tanto.

— Eu só... eu sinto muito mesmo, Ethan.

— Pelo quê? Não foi sua culpa, foi só um acidente.

— É sempre só mais um acidente e mesmo sabendo que não é só isso eu e seu pai nunca fizemos nada. Quantas vezes você chegou em casa chorando ou com machucados pelo corpo, sem nunca reclamar ou se queixar e mesmo eu sabendo disso tudo, nunca nem mesmo perguntei a você o que se passava. Você é meu filho, mas eu nunca agi como mãe. Dona Jackeline é sua babá e esteve mais presente que eu que sou mãe.

— Mãe, não faça isso.

— Eu sabia, sempre soube, mas nunca fiz nada, agora você está aqui e a culpa é minha.

— Do que você está falando?! — agora Ethan estava confuso; sua mãe lhe olhava enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto manchando-o — Você não teve nada a ver com isso mãe, foi apenas um descuido meu, eu devia ter desviado da bola.

— Uma contusão antiga no seu pulmão... — ela falou entre soluços — Seu médico me perguntou se você praticava algum esporte ou se fazia parte de algum clube de luta, ele disse que a contusão podia ter sido uma pancada forte nessa região, algo como um murro ou um chute no tórax. Mas eu não soube responder, porque não sei. Não sei se que tipo de esporte você gosta, ou de qual clube você faz parte... Não sei de nada.

— Mãe, por favor, não... — Ethan já estava prevendo o que viria a seguir.

— Mas um acontecimento não sai da minha cabeça... Continuo me lembrando do que aconteceu da última vez. Você estava sangrando tanto, parecia tão abalado sendo carregado por Anthony, mas nunca me disse o aconteceu ou o porquê, e eu nunca quis saber, sequer me dei o trabalho de perguntar. — sua expressão estava tão séria que Ethan, mesmo sabendo, temeu o que viria a seguir, seus olhos tinham tanta dor que ele sentiu raiva de si mesmo por estar fazendo ela passar por aquilo — E então, agora eu estou preparada e quero saber... O que aconteceu, Ethan? O que te fizeram naquele dia?

— Mãe... — sabia que ela perguntaria, mas não queria lembrar-se daquilo e muito menos dizê-la o que tinha acontecido; não tinha estrutura psicológica para lhe falar sem se quebrar em milhões de pedaços, mas a expressão dela mostrava que não toleraria mentiras ou desculpas.

— Ethan, você está desacordado há quase vinte dias. Vinte dias! Sabe o que eu passei nesse meio tempo? Vi meu filho entrar em coma, tive que acordar todos os dias e esperar você acordar, mas você não acordava. Eu estava desesperada, o medo de te perder era quase insuportável. O médico disse que você está com a imunidade lá em baixo, com uma pneumonia gravíssima, provavelmente por conta do frio. Você chegou com hemorragia interna e com uma infecção nos pulmões e tudo porque eu fui negligente, coloquei a culpa na mudança e no meu manuscrito e esqueci que também sou mãe. Se você não tivesse levado aquela bolada e vindo ao hospital, teria acabado morrendo e eu nem ia saber o motivo. As notícias não eram nada boas e tudo isso foi porque eu não notei que meu filho estava mal bem debaixo do meu nariz. Porque ignorei o fato de você se meter em brigas constantemente e não fiz nada, porque fechei meus olhos para o fato de você ainda ser só um adolescente, só porque você é forte. Mas não passa de uma criança, precisa dos pais. As contusões no seu corpo são graves, Ethan, e eu fingi não ver. Por causa da contusão em seu pulmão, quando você recebeu a pancada na cabeça e desmaiou, ficou sem respirar por muito tempo e faltou oxigênio no seu cérebro, isso causou um leve inchaço e quando você desmaiou pela segunda vez, bateu a cabeça no chão e entrou em coma. — ela soluçava — Você não sabe o que é ver seu filho definhar em uma cama de hospital por dias, enquanto você implora para ele acordar, mas ele não pode te responder e você nem sabe se ele está te ouvindo. Enquanto a culpa te consome e você sequer pode pedir desculpas! Você não sabe como é isso, você ainda não é pai. Então, por favor, me diga, eu preciso saber, Ethan.

— Mãe, você é muito ocupada para prestar atenção em detalhes como esses, eu não te culpo por isso, não sou mais uma criança, então não se preocupe, você não precisa saber, afinal já passou. Isso foi há quanto tempo? Já faz quase quatro anos, não exagere, foram apenas alguns dias, não foi?

— Mas essa é a questão, Ethan, não passou. Se não, não estaríamos aqui, e meu trabalho não é desculpa, afinal eu também sou mãe, isso era para ser o mais importante, minha prioridade, por isso eu exijo saber o que aconteceu; se não fosse nada demais você não teria mais sequelas daquele dia. E não haja como se não fosse nada, porque não foram apenas alguns dias, pra mim foi uma eternidade, um pesadelo.

— Só que isso não é da sua conta. — aquilo saiu mais brusco do que ele pretendia e ele viu a preocupação se transformar em mágoa no rosto dela.

— Desde quando o que se passa com você não é mais da minha conta, hum?! — ele não respondeu nada e desviou seu olhar do dela. — Você não me conta mais nada? Então vai ser assim a partir de agora? — a ouviu abafar um soluço — Então eu não sou mais sua mãe, porque meu filho confiava em mim para contar seus problemas. — sua voz tremia e falhava enquanto ela falava aquilo e lhe encarava.

— Eu não... não quero que você saiba o que aconteceu, pra não lhe preocupar, só isso.

— E você acha que eu não vou me preocupar se você começar a desmaiar e ter hemorragias no colégio, Ethan?! Acha que fico mais tranquila sem saber de nada, apenas fazendo suposições? Você acha mesmo que as minhas suposições são boas?

— Não foi hemorragia, foi apenas um acidente de jogo, mãe.

— Um simples acidente de jogo não causaria uma hemorragia interna, Ethan, é isso que estou tentando lhe dizer. Tem uma contusão no seu pulmão, se é que isso é possível... Meu Deus! — ela passou as mãos pelo rosto — Com a queda que você levou no colégio após a... bolada — ela falou enfatizando o "bolada" deixando claro sua insatisfação — o machucado rebentou e deu hemorragia interna, então eu preciso entender como isso aconteceu.

— Okay, mas prometa que não vai surtar, por favor.

— Eu prometo! Agora fale.

— Naquele dia eu estava indo para casa como de costume, fui até o estacionamento onde Anthony sempre me aguardava no carro, mas... eu tinha problemas com um garoto naquela época. Eu fui descuidado e ele acabou me cercando no caminho. Ele tinha alguns problemas com meus amigos e estava bem chateado com as brincadeiras dos caras.

— E...? O que mais?

— Só isso.

— Ethan, você prometeu.

— Mas é só isso, mãe. Eu tentei brigar com ele, mas ele era maior e mais forte então eu acabei apanhando.

— Você me prometeu!

— Ah meu Deus, você quer tanto assim os detalhes? Ele me espancou e... eu não sei, não sei o que ele estava tentando fazer, mãe, honestamente? Eu não sei! Ele parecia fora de si, estava irritado com alguma coisa, algo sobre um vídeo, não sei o que estava tentando fazer ao rasgar minha roupa, talvez um vídeo meu? Mas foi por esse motivo que cheguei em casa sem blusa e sem tênis. Bom, de alguma forma eu consegui escapar e tive que correr para chegar ao carro onde Anthony me pegou e me levou de volta. Patético, não?!

— Eu... o-o quê...? Ah meu Deus...! Então foi por isso que Edmund... — ela lhe olhava com horror, suas pupilas dilatadas, suas lágrimas caindo cada vez mais. O que o seu pai tinha a ver com aquilo tudo? — Ethan, eu sinto tanto querido, eu... — ela lhe abraçou e chorou.

Ethan não queria lhe contar porque sabia que ela reagiria exatamente daquele jeito, mas não conseguia esconder nada de sua mãe, ela lhe conhecia bem demais. Ele lhe abraçou de volta e disse que estava tudo bem, então ela disse um "eu te amo" sussurrado e meio sem fôlego, mas que desfez todo o seu autocontrole; sentiu as lágrimas chegando, engoliu em seco e encarou o teto tentando evitá-las, mas seu esforço foi em vão.

Elas vieram com total força queimando sua garganta e lhe deixando com um gosto amargo na boca, embaçando seus olhos e fazendo seu peito doer como se brasas estivessem sendo acesas dentro dele, assim como trazendo consigo as preocupações que ele tentara não pensar sobre, como as provas, Sebastian e até mesmo Willian Monggomory.

Ethan se afastou um pouco deixando um espaço na cama e ela deitou-se ao seu lado, puxou o cobertor para enrolá-los e a sentiu aconchegar a cabeça em seu ombro, acariciando seu braço enquanto lhe segurava firme, aquilo foi lhe deixando sonolento e ele pegou no sono ao som da chuva e do aconchego dos braços dela, algum tempo depois de chorar até seus olhos estarem tão inchados ao ponto de ser difícil mantê-los abertos. Sua mãe já havia dormido há muito tempo, também chorando, agarrada a ele como se a qualquer momento alguém pudesse arrancá-lo de seus braços.

~ C O N T I N U A ~



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