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História E nós? - Obrigado


Escrita por: someonedead

Notas do Autor


Yooooooou!!!!
Então, como eu avisei a vocês, a maioria não viu isso, mas eu avisei, eu só iria postar depois do ENEM.
Pq eu estava me matando de estudar nessa última semana e não tinha tempo para escrever.
Mas eu arranjei um tempo e fiz esse capítulo. <3
Eu espero que vocês gostem.
Gente, perdoem meus atrasos e não desistam da fic pelo amor de Shakespeare.
Boa leitura e desculpe qualquer erro.

Capítulo 13 - Obrigado


Miguel estava parado na soleira da entrada de sua casa com as mãos nos bolsos. Estar de volta aquele de lugar depois de pouco mais de 4 meses era mais estranho que ele achou que seria. Isso provavelmente era devido ao fato pelo qual ele teve que retornar para a sua cidade natal.

Ele estava na mesma posição havia mais de 10 minutos, o ar quente e sufocante típico de Santa Ruth lhe golpeando no pescoço. Não sabia ao certo o que teria que fazer quando entrasse por aquela porta, deveria cumprimentar a todos? Deveria sorrir e dizer que estava com saudades? Não, sorrir não era uma opção no momento. Por isso ele estava ali diante da porta de carvalho, observando as linhas na madeira. Na parte superior da porta próximo ao umbral havia o nome de Thomas e abaixo o nome Miguel. Eles haviam escrito aquilo quando tinham 10 anos. Por algum motivo decidiram tentar riscar seus nomes o mais alto que conseguiriam na porta nova de sua casa, então pegaram cada um uma chave de fenda na garagem e fizeram o trabalho.

A avó de Miguel havia dando um puxão de orelha em cada um deles. Literalmente. A memória fez com que seu coração se apertasse e o sentimento de tristeza inundou seu peito. Ele respirou fundo e pôs a mão na maçaneta.

A porta se abriu.

Julia era toda uma confusão de cabelos negros e bagunçados, maquiagem borrada, barriga exuberante e tristeza contida. Essa última parte era difícil de encarar. Quando Miguel viu sua irmã, o primeiro instinto dele foi abraçá-la o mais forte que conseguia sem incomodá-la. O cheiro de canela e sabonete característico dela lhe invadiu as narinas. Era mais um sentimento do que um cheiro. Era mais uma memória do que um cheiro. Ele sentiu a nostalgia de estar de volta ao seu lar, ele lembrou das noites em que escapara para a cama da irmã quando criança por estar com medo de dormir no quarto sozinho. Isso tudo o atingiu rápido demais, forte demais e quando ele percebera, já estava chorando. As lágrimas quentes queimando seu rosto.

Eles não falaram nada quando entraram. Não precisava, já haviam conversado com aqueles toques, com aquelas lágrimas. Era assim que ele e sua irmã se comunicavam e sempre seria assim.

Sua casa continuava espaçosa demais como sempre fora. A sala continuava ampla, com suas cadeiras de madeira e os dois sofás elegantes, a cozinha com sua bancada de mármore e a sua janela para o quintal verde e vasto mais ao longe. Muito espaço pra poucas pessoas. Sempre fora assim. Sempre sobrava espaço. Agora sobraria ainda mais. Não havia mais ninguém para tricotar com a cadeira na porta dos fundos porquê ali “A brisa é mais fresca”. Não havia ninguém para fazer biscoitos a tarde. Não havia mais ninguém pra reclamar quando as janelas e portas estivessem escancaradas. Não havia mais ninguém para chamar de Vovó.

Miguel entendia muito bem o conceito de morte. É completamente impossível para qualquer criatura não se deparar com a morte. Ela está nas músicas, está nos livros, nos poemas, nos filmes, nos jornais. Está na casa daquela moça que mora do outro lado da cidade, cujo o filho sofreu um acidente. Está em Hollywood quando aquele ator do seu filme favorito não resistiu ao câncer. Mas, você não espera que ela esteja na sua casa. Você ignora o fato de que ela pode estar perto. Se recusa a pensar naquilo. E quando ela chega, abrupta e cruelmente, suas defesas caem e você se vê no chão, chorando e se perguntando o porquê.

Depois de deitar em sua cama e fechar os olhos, Miguel pensou no que poderia ter feito e não fez, no que poderia ter dito e não disse e que agora era tarde demais pra ser feito.

A morte traz consigo arrependimento. “Eu me arrependo de não tê-la abraçado”, “Eu me arrependo de não ter tido, eu te amo, antes de viajar”. As lágrimas tentam simbolizar a dor invisível do coração, mas certamente são só pequenas gotas daquele mar de tristeza.  

Thomas abriu a porta de seu quarto cerca de 30 minutos depois. Ele havia ido cumprimentar a sua própria família e buscar algumas roupas que não estivessem rasgadas como a sua maioria. Não bateu na porta. Não precisava. Apenas a empurrou e se jogou na cama ao lado de Miguel e ficou em silêncio por vários e vários minutos, os olhos fechados e a respiração uniforme. Ele respirou profundamente antes de dizer:

- Sabe o que ela diria numa hora dessas? –

Miguel não respondeu.

- Tirem esses pés imundos de cima da cama. – Ele imitou muito bem a voz da sua avó. Um sotaque um tanto arrastado e um tom grave, mas não irritante.

Eles riram. Ela com certeza diria algo como aquilo.

- Obrigado, Tom. – Disse Miguel sinceramente. A companhia do outro era tudo o que ele precisava naquele momento. Apenas o fato de ficarem ali em silêncio preenchia um pouco o buraco dentro dele.

Thomas se virou para encará-lo. Os narizes próximos, a respiração um do outro resfolegando fracamente em seus rostos.

- Não precisa agradecer. Ela é minha avó também. – Ele respondeu.

- Eu sei. –

Thomas ficou colado em Miguel o tempo inteiro: No velório quando várias pessoas, algumas das quais ele sequer sabia quem eram, começaram a aparecer e dizer que sentiam pela perda dele e de sua família. No caminho para o cemitério quando seu pai teve que pedir para voltar com sua mãe pois ela estava passando mal. Quando começaram a jogar terra em cima do caixão cobrindo a tampa primeiramente, onde o rosto anguloso e sereno de sua avó aos poucos desaparecia. Thomas segurou em seus ombros, Thomas o acalmou e Thomas chorou quando ele chorou.

No caminho de volta para casa no carro de Julia, eles ficaram em silêncio. Sua irmã e seu cunhado na frente conversaram melancolicamente sobre algo relacionado a pedir um dia de folga no trabalho e Miguel mantinha seus olhos na paisagem do lado de fora. As casas passando rapidamente como vultos coloridos sobre seus olhos que ardiam e ameaçavam romper em lágrimas novamente. Ele encostou a cabeça no vidro frio de fechou os olhos. E sentiu a mão de Thomas segurar a sua. Diferente do vidro, a mão de seu amigo estava quente, estava viva e lhe trazia de volta para aquele momento. Um momento doloroso, mas real. Agora aquilo era algo pelo qual ele tinha que passar querendo ou não e esse pensamento triste ficou instaurado numa parte mais oculta de sua cabeça, uma parte que não o deixava esquecer, mas não o forçava a se lembrar.  Era algo natural. Ah sim. Era isso. A morte é algo natural.

Ele não tirou sua mão de debaixo da de Thomas e seu amigo também não a soltou. E eles continuaram em silêncio.

Depois de tomar um banho quente, Miguel foi até a cozinha buscar algo pra comer enquanto Thomas tomava banho.

Seu pai estava sentado num banco com os braços apoiados na mesa e uma xícara de chá fumegante nas mãos.  Ele parecia mais velho, mais cansado. As linhas ao redor dos olhos mais proeminentes e a roupa amassada, isso além dos cabelos bagunçados. Seu pai nunca deixara seus cabelos bagunçados. Devido à idade, para Antônio Alvarez, manter sua cabeça com cabelos era uma luta constante. Com o passar dos anos, gradativamente o centro de sua cabeça começou a embranquecer junto com os fios, e as famosas entradas começaram a ficar mais visíveis e com isso o homem se desesperou. Shampoos, pílulas e qualquer coisa que pudesse minimamente ajudá-lo a não parecer tão velho quanto era foi comprado e reprovado por ele. Então ele fazia um certo tipo de milagre que impedia as entradas de aparecerem quando ficava horas na frente do espelho com um tubo de gel e um pente.

Agora ele parecia tão velho. Muito mais velho do que era e pela primeira vez não parecia se importar com isso. Levantou os olhos do balcão quando o viu o filho e tentou dar o seu melhor sorriso.

- Oi, campeão. – Ele disse. Seu pai sempre o chamava de campeão.

- Oi pai. Como está a mamãe? –

- Está mais calma. Dormindo agora. Vai ser difícil para ela. – Aquela preocupação nos olhos de seu pai deu um puxão um tanto estranho dentro de Miguel, mas ele não soube identificar por que.

- Eu sei. Ela vai fazer muita falta. – Falou tristemente enquanto se sentava numa das cadeiras ao redor da mesa de vidro.

- Você vai ficar o resto da semana? –

Miguel não tinha pensado a respeito daquilo. Apenas pediu que Lilian avisasse na universidade que ele precisava faltar alguns dias por motivos de força maior e simplesmente voltou. Julian se ofereceu para vir com ele várias vezes mas ele não aceitou. Não porque não havia contado aos pais que era gay e estava namorando, mas porque por algum motivo ele não via Julian ali com toda a sua família. Era algo duro e ruim para se pensar, mas ele não conseguia se desprender daquela sensação.

- Sim. – Ele respondeu sem considerar muito o assunto.

- Isso é bom. –

Eles ficaram em silêncio por um tempo até a voz de Thomas preencher boa parte da casa.

- Lito eu preciso de uma toalha! – Ele gritou de seu quarto. Miguel revirou os olhos.

Seu pai riu. Não era risada tão contagiante, mas havia humor nela, mas Miguel nem entendeu o porquê daquilo, então lançou um olhar um tanto confuso e arqueou uma sobrancelha para o homem.

- Desculpe. – Ele tentou se recompor. – Você fez uma cara exatamente igual a da sua mãe quando eu esqueço a toalha. Falando nisso, vou ver como ela está. – Ele se levantou - Até mais filho, leve a toalha para o Thomas ou ele vai usar a sua e a sua mãe odeia quando eu faço isso, então... – Miguel subiu a passos largos para o quarto.

Thomas havia usado a sua toalha.

- Você demorou demais, eu estava com frio. -  Ouviu seu amigo protestar enquanto vestia uma camisa larga com estampa de uma caveira com uma rosa na boca.

- Poderia ter trago a sua própria toalha. –

- Você poderia deixar de ser resmungão. – Seu amigo se jogou mais uma vez na sua cama. - Você não ia buscar algo pra comer? – Perguntou com a cara enfiada no travesseiro, o que deixou sua voz um pouco anasalada.

Só agora ele se deu conta de que havia esquecido disso.

Miguel soltou pesadamente o ar de seu pulmão e se jogou também na cama ficando desajeitadamente ao lado de seu amigo.

- Você acha que eu deveria ter deixado o Jules vir comigo? – Ele finalmente perguntou.

Silêncio. Depois de alguns vários segundos Thomas resmungou ainda com o rosto no travesseiro.

- Não sei. Acho que ia ser um pouco desconfortável pra ele, ou para nós. Não sei. –

Então não era apenas Miguel que achava aquilo, o que significava que não era um pensamento tão ruim assim.

- Entendo. –

Miguel ficou um tempo olhando para o telhado tão familiar de seu quarto. Ele já havia passado inúmeras noites naquele lugar, já observara aquele telhado tantas vezes que era impossível contar mas, de algum modo, ele parecia diferentes. Só aquele pequeno espaço estava diferente. Ou talvez Miguel estivesse diferente, era difícil dizer.

Demorou um pouco para ele perceber que Thomas estava dormindo. O corpo se movendo minimamente para cima e para baixo num ritmo lento.

Ele se acomodou ao lado do outro sentindo o calor de seus corpos próximos. Fechou os olhos. Se deixou pensar em sua avó mais uma vez, se deixou ver seu rosto mais uma vez. Pensou no que poderia ter dito e não disse, no que poderia ter feito e não fez. Abriu os olhos e viu o rosto sereno de Thomas ao seu lado. E sem saber se ela era capaz de ouvir, ele sussurrou para a sua avó.

- Obrigado. -

 


Notas Finais


Então?
Por favor deixem um comentário, me incentiva bastante. Mais uma vez desculpem, a minha vida desregrada.
Obrigado a todos por tirarem um tempinho pra ler.
Eu prometo que respondo todos os comentários do outro cap assim que chegar de viajem. ^^
Amo vcs.
Até \o


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