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História E nós? - "Not today"


Escrita por: someonedead

Notas do Autor


Eu tô medo desse cap.
Eu escrevi ele e achei bem legal, ai eu reli ele agora e já fiquei meio.
"NHAAAN." Vai saber né.
Boa leitura e desculpem qualquer erro.

Capítulo 15 - "Not today"


As noites de Santa Ruth nunca foram frias, eram cheias de estrelas no céu e com uma brisa fresca que soprava o cheiro das montanhas por toda a cidade. No inverno costumava chover, não muito, apenas o suficiente para que a cidade não enfrentasse uma seca terrível, mas em geral, era uma cidade quente durante o dia e fresca durante a noite. Aquela noite não era diferente das demais. Depois que voltar para casa e tomar um bom e relaxante banho, Miguel vestiu uma roupa não tão casual assim e sentou na varanda para esperar seu amigo para irem para à seja lá onde Thomas planejava o levar.

Ele estava observando o pequeno fluxo de carros na rua a sua frente, as vezes sorrindo e acenando quando alguém que passava caminhando lhe desejava boa noite. O celular em seu bolso começou a vibrar. Ele pegou o aparelho e sorriu involuntariamente para tela.

Lilian havia lhe ligado logo depois que ele chegara em casa procurando saber como ele estava. Lhe contou algumas coisa da faculdade e disse que havia saído com Julian aquele dia e que ele o ligaria depois que fechasse a loja. E agora com o nome e a foto de um Julian com cara amassada de sono e cabelos bagunçados sendo mostrados na tela de seu celular, foi impossível não sorrir.

- Oi, Jules. – Ele disse depois que aceitar a chamada.

- Hey, garoto Pokémon. Tudo bem? – Disse o outro. Miguel conseguia visualizá-lo perfeitamente. Sem camisa, cabelos molhados escorrendo como uma cascata negra, o baixo ao seu lado na cama e o sorriso travesso em seus lábios.

- Tudo bem sim. – Respondeu. Ele não estava se sentindo tão confiante como tentava demonstrar, a perda de sua avó ainda lhe ferroava o coração cada vez que ele respirava.

- Não aceito essa resposta. –

- E que tipo de resposta você quer? – Perguntou tentando soar divertido. Ele sorriu e acenou brevemente para a vizinha que chegara com o filho de carro.

- A resposta verdadeira. Não pode mentir para mim. –

Miguel respirou fundo e consertou sua postura, sentando-se ereto.

- Estou triste, é claro. Eu a amava demais. Você não faz ideia Jules, era simplesmente a melhor pessoa do universo. Eu sinto que uma parte de mim se foi e não sei isso vai melhorar. – Julian conseguia fazer isso com ele. Ele colocava para fora as palavras e sequer percebia que estava fazendo. Elas saiam carregadas de sentimentos os quais ele queria esconder.

- Eu acredito em você. Ela provavelmente era incrível. Fazia biscoitos para você? Isso é padrão de fábrica né? – Ele sorriu do outro lado da linha. O início daquela sua risada gostosa que fazia Miguel se arrepiar. – Todas as avós já vêm prontas para fazer biscoitos e bolos. –

Miguel sorriu junto com ele.

- Ela fazia sim. Maravilhosos. – Seu coração pesou no peito ao lembrar do gosto de chocolate em seus lábios.

- Vai ficar mais fácil, Miguel. – A menção de seu nome saindo dos lábios de Julian o fez prestar bastante atenção. Seu namorado raramente o chamava pelo nome. – De alguma forma, vai ficar mais fácil. Você ainda sentir falta dela, ainda se sentir triste por não ter ela, mas o tempo ajuda um pouco. Não será hoje e nem amanhã, mas você vai passar por isso. – Ele disse tudo pausadamente e com uma voz cheia de compreensão e compaixão, uma compaixão que mexeu com Miguel de formas que ele não saberia explicar de forma nenhuma. Alívio percorreu seu corpo porque ele acreditou em cada palavra que Julian dissera. Iria ficar mais fácil. Mas não hoje.

- Obrigado, Jules. – Ele disse com sinceridade.

- Tudo bem, Ash. – Ele voltou ao seu tom brincalhão. – Eu estou lendo aquele livro que você me indicou. – Ele disse.

- Sério? O que você está achando? – Miguel havia indicado alguns livros para Julian após esse dizer que não lia um livro já havia algum tempo.

- Estou pressentindo a morte do meu personagem favorito. Se isso acontecer eu vou jogar o livro na sua cara e correr. –

Um carro preto parou na porta da casa de Miguel antes que ele pudesse responder a Julian. Não era um carro de luxo ou algo do tipo, mas era bastante brilhante. O vidro da frente foi abaixado e Thomas sorriu descaradamente no banco do motorista.

- Roubei o carro do Clóvis. – Ele disse como se estivesse orgulhoso de si mesmo.

- Alô? –Julian perguntou.

- Desculpe Jules. Eu estava esperando Tom e ele acabou de chegar. – Falou enquanto se levantava.

 - Ele não tá planejando levar você pra uma festa ou algo do tipo né? –

- Eu acho que não. Ele não seria tão doido assim. –

- Okay, espero mesmo. Vou deixar você ir se divertir. Eu vou terminar de ler essa coisa e eu consigo arremessar o livro entre umas 3 cidades então se prepare. –

Miguel riu mais uma vez e coçou a cabeça. O personagem favorito dele com toda certeza iria morrer.

- Vou ficar esperto. Até mais, Jules. –

- Até mais, garoto Pokémon.  Dá um oi pro porco espinho. –

Demorou um pouco pra ele perceber que Julian falava de Thomas e aquilo fez ele gargalhar um tanto alto demais e Thomas lançou para ele um olhar estranho.

- Vou falar. –

- Okay. Tente se divertir. Amo você. – As palavras saíram tão naturalmente que Miguel demorou para absorver o significado. Julian desligou do outro lado e Miguel continuou parado com a mão na maçaneta do carro. Era a primeira vez que Julian lhe dissera aquilo. Amo você. Miguel tinha certeza de que deveria ter tido algo, mas ele ficara tão estupefato que não conseguiu sequer se mover. E também tinha certeza de que aquilo ficaria gravado nele.

- Vamos, Lito. Clóvis vai me matar quando descobrir que eu roubei o carro dele. –

Ele entrou no carro e Thomas começou a dirigir, ele parecia incomodado com alguma coisa, mas não mencionou nada, então eles ficaram em silêncio e vagaram pela sua tão conhecida cidade.

Thomas estacionou o carro num campo de gramado baixo e molhado pelo orvalho, uma brisa mais fria correu pelos braços de Miguel e ele levantou o olhar pra observar o local assim que saiu do carro.

Era simplesmente maravilhoso.

Eles estavam cercados por árvores altas com poucas folhas e muitos galhos secos e finos se estendendo para o alto e lançando sombras esguias com o brilho prateado da lua. A grama era baixa e parecia artificial de tão simétrica. Na frente deles havia um pequeno píer de madeira marrom e de aparência velha e a frente desse um majestoso lago de águas calmas e escuras.

De todos os lugares que Thomas poderia levá-lo, aquele era o último que Miguel poderia pensar.

Seu amigo remexia no porta-malas do carro e procurava algo enquanto Miguel apenas apreciava a paisagem boquiaberto, os dedos coçando para descrevê-la em alguma de cena de alguma história. Era como o cenário de uma bela fantasia.

- Que lugar é esse? – Ele finalmente perguntou.

- Às pessoas costumam vir pescar aqui de vez em quando, escondido é claro, é proibido pescar aqui. – Respondeu o outro ainda atrás do carro. Depois de alguns minutos ele saiu com uma toalha nos ombros e uma cesta de piquenique nas mãos.

- A gente sempre quis acampar e nunca conseguiu porque “É claro que não vamos deixar duas crianças sozinhas na floresta.”- Ele disse tentando imitar o seu pai. Miguel riu. Estava rindo bastante aquela noite.  – Então vamos pelo menos fazer um piquenique aqui. Eu trouxe até uma cesta. – Ele parecia orgulhoso de si mesmo por ter lembrado desse detalhe.

- Estou vendo. – Apontou Miguel. – Esse lugar é maravilhoso. –

- Eu sei. – Thomas fechou o porta-malas e caminhou até Miguel o puxando pelo braço até o píer.

Ele estendeu a toalha e começou a tirar vários sanduiches e doces de dentro da cesta, espalhando-os pelo local.

Miguel não resistiu ao impulso de tirar os sapatos e colocar os pés dentro do lago. A água estava fria.

- Têm piranhas ai, Lito. –

Miguel tirou os pés da água num pulo rápido, se pondo de pé e sentindo o coração bater forte na garganta. Era idiota, mas ele olhou pra seus dedos conferindo rapidamente se todos estavam ali.

Thomas começou a rir descontroladamente colocando as mãos na barriga e se curvando.

- Eu estava brincando, Lito. Não têm como ter piranhas aqui. – Ele disse tentando se controlar.

Aquela pontada de raiva que nasceu em Miguel fez ele se abaixar jogar água no amigo.

- Para, desculpa. Foi só uma brincadeira. – Ele pediu se recompondo e cobrindo o rosto com as mãos.

Depois de um tempo eles se sentaram e começaram a comer vagarosamente, aproveitando a presença um do outro e o clima ao redor, o ambiente e tudo o mais que Miguel sequer sabia explicar.

Ele estava ali e estava feliz por estar ali, não poderia ver uma maneira daquele momento ser mais perfeito, mas as palavras de Julian ainda martelavam lentamente em sua cabeça. Amo você. Amo você. Amo você. A frase se repetindo infinitamente.

- Desculpe por ter sido um babaca um tempo atrás. – Aquilo era uma surpresa. Thomas mantinha seu olhar no lago e parecia pensativo.

- Tudo bem, Tom. Eu também estava estranho. Não sei bem o que estava acontecendo comigo. – Ele disse apesar de fazer uma leve ideia do que se passava com ele.

Aquilo atraiu a atenção de seu amigo. Ele o olhou por um longo minuto, o sanduiche parado em sua mão a caminho da boca.

- Vinho. – Ele disse. – Já que você não gosta de bebidas forte, vamos beber vinho. – Era difícil ter certeza tendo só os faróis do carro como fonte de luz, mas Miguel jurou ter visto Thomas corar. Seu amigo pegou uma garrafa na cesta e colocou vinho em copos descartáveis. Miguel olhou para ele com um olhar acusatório.

- Não se preocupe, não vou largar aqui. Coloco na cesta e levo pra casa. – Jogou as mãos pro alto num tom de exasperação falsa. Havia diversão em sua voz.

Eles beberam o vinho lentamente. Miguel era muito provavelmente a pessoa mais fraca do mundo em relação a bebida. Duas doses e ele já estava um tanto tonto.

A sua visão tremulava as vezes e ele tinha que piscar violentamente para que voltasse ao normal.

Ouve um pequeno estalo, como alguma coisa rachando levemente. Miguel achou que poderiam ser as árvores ao redor ou algo tipo, mas então veio um mais alto ainda e Thomas o olhou assustado. Um TRACK alto ribombou pelo pequeno bosque e os dois caíram na água.

A água estava gelada e com o susto, Miguel engoliu um pouco dela tossindo violentamente logo depois. Ele achou que poderia se afogar, afinal não sabia nadar, mas logo ele notou que o lugar onde estavam não era tão fundo como parecia. A água chegava logo acima de seu peito, na base do pescoço. Thomas ria descontroladamente, os cabelos molhados grudados na testa.

- Você está bem, Lito? – Ele perguntou entre risos.

- Estou bem. – Respondeu.

Ele tentou dar um passo mas escorregou em alguma coisa e afundou na água mais uma vez, quando voltou a superfície ele também começou a rir mesmo sem saber exatamente o porquê daquilo. Por sorte seus óculos não escaparam do rosto.

Os dois saíram da água e começaram a recolher os objetos do piquenique. A comida agora estava perdida, mas ele recuperaram a garrafa de vinho, a cesta e os copos de plástico.

-Estou com frio agora. – Disse Miguel já encostado no carro de Clóvis. Thomas sugeriu que eles esperassem um pouco para não molharem todo o carro do irmão ou com certeza Clóvis o mataria.

Thomas abriu a porta do carro e procurou algo lá dentro, depois a fechou e Jogou sobre Miguel o seu casaco.

- Você não está com frio? – Perguntou.

- Estou bem. – Thomas respondeu, mas ele estava tremendo.

Miguel lhe lançou um olhar daqueles que ele tinha certeza que funcionaria com seu amigo e o mesmo sentou-se ao seu lado. Ele abriu o casaco e os dois se encostaram com cobrindo seus ombros. Não adiantava muita coisa com a roupa molhada e pesada em seus corpos, mas ficar pelados não era uma opção muito viável.

- Devia ter deixado meu celular em casa. – Disse Miguel enquanto olhava com desprezo pra tela apagada do seu aparelho. Thomas tomou-o de sua mão e sacudiu violentamente o aparelho como se aquilo fosse ajudar a reparar o dano.

E então a coisa mais estranha do mundo aconteceu. A tela se acendeu o aparelho simplesmente voltou a vida.

- Caralho! – Thomas quase gritou. Até ele estava surpreso.

- Sua senha ainda é a mesma? – Ele perguntou, mas já estava desenhando o padrão no celular. A tela foi desbloqueada e ele sorriu descaradamente.

- Vamos ouvir música. –

Miguel se encostou mais no amigo sentindo seu coração se contrair no peito.

 Um pássaro cantou em algum lugar no bosque e Miguel olhou para cima. Milhares e milhares de estrelas cintilando como pedras preciosas no céu. E a lua, majestosa como sempre, lançava seu reflexo no lago, parecia um medalhão gigante e tremulo na superfície das águas.

Alguma coisa estava acontecendo.

De repente, Thomas deu um pulo e ficou encarando o celular de Miguel por alguns segundos. O primeiro pensamento de Miguel foi de que ele havia visto alguma foto de Julian ou até mesmo uma foto SUA num momento constrangedor.

- O que foi? – Perguntou apreensivo.

- É que... – Ele fez uma pausa e encarou o amigo com um sorriso no rosto. – Você têm música de verdade no seu celular, caramba, Lito. –

Ele parecia genuinamente feliz por aquilo e isso fez Miguel sorrir involuntariamente. Ele provavelmente ficaria com dor nos lábios de tanto sorrir aquele dia.

- Músicas clássicas ainda são músicas, Tom. – Miguel replicou. O sorriso nos lábios do amigo aumentou e seus olhos brilhavam enquanto ele descia a playlist.

- Eu achei que se tivesse uma música com letra seria algo estranho. Tipo Let it go! – Ele disse. – Mas você têm um bom gosto. Nirvana, The Cure, Elliott Smith. Muito bem. –

A noite continuava um tanto clara. Miguel não mencionou que fora Julian que lhe passara todas aquelas músicas. Julian que dissera que lhe amava. Com uma certa dor no peito, Miguel tentou não pensar em Julian naquele momento. Estava tudo tão simples e ao mesmo tempo tão mágico. Era deslumbrante.

- The Smiths. É tudo o que eu preciso agora. – Ele deu play na música. – Eu poderia te dar um beijo agora. –

A música começou a se desenrolar. Miguel apreciava a música, o som vibrante e a melodia eletricamente melancólica lhe era prazerosa.

- And if a double-decker bus. Crashes into us .To die by your side. Is such a heavenly way to die. –* Thomas cantarolava baixinho. A voz dele era um tanto rouca e provocava cócegas no pescoço de Miguel.

 Seu amigo continuava cantando de olhos fechados, imerso na música. Ele estava tão lindo. Sempre fora, de um jeito selvagem e livre e de um jeito Thomas, mas naquele momento havia algo mais. Algo que fazia Miguel se aproximar dele involuntariamente, ainda mais, como se nenhuma proximidade fosse suficiente.

- Sabe Lito. – Ele se virou. Não pareceu incomodado com a proximidade de seus rostos. Fitou os olhos de Miguel e sorriu de lado. – Acho que eu não me importaria de morrer ao seu lado. –

Aquilo fora tão esmagador que Miguel não soube reagir de outra forma. Seu cérebro pareceu entrar em curto, faíscas dançaram na frente de seus óculos e ele se viu dono de uma necessidade grande demais para ser contida.

Deixou-se levar. Não conteve aquela inquietação que nasceu nele. Apenas lançou-se para frente e colou seus lábios nos de Thomas.

Miguel sempre achou que quando e se ele beijasse Thomas, a coisa seria simples, calma e romântica. Mas aquilo era tudo, menos calma.

Eles se lançaram um ao outro com uma fome simplesmente indescritível, as bocas se chocando com violência. Miguel levou involuntariamente suas mãos para a nuca de Thomas. Havia fogo e havia eletricidade e havia desejo. Um desejo reprimido por muito tempo. As mãos de Miguel estavam... Ele não sabia mais onde elas estavam, mas o que importava era que estavam em Thomas. Seu corpo inteiro parecia queimar e ele sabia que havia soltado um gemido baixo e sufocado pelo beijo.

Eles se separam ofegantes. As pupilas de Thomas estavam negras e ele o observava com um desejo que ele nunca vira antes.

Miguel pôs as mãos no peito do amigo, mas não queria afastá-lo, queria afastar a si mesmo.

Aquilo era tão errado e tão prazerosamente certo. Ele sonhou com aquilo tantas vezes e nenhuma delas nunca chegou perto do que fora realmente.

- Miguel. – Seu nome soou de um jeito completamente diferente dessa vez. Parecia necessário e faminto.

Thomas cobriu as mãos de Miguel com as dele e então tocou seu braço e seu pescoço e seu rosto e seus lábios.

- Por favor. – Ele pediu.

E então eles se beijaram novamente. E novamente e novamente e mais uma vez.

E a lua os assistia e tirava suas próprias conclusões do que significava aquilo, e que ela lhes dissesse depois pois nenhum dos dois fazia a menor ideia do que poderia ser.

 

 


Notas Finais


* Trecho da música " There is a light that never goes out"
"E se um ônibus de dois andares colidisse contra nós
Morrer ao seu lado, que jeito divino de morrer"
Então. Comentários?
Até mais. Bjs... :3


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