O céu parecia tão irado quanto Miguel.
Completamente negro e enraivecido, jogava sobre a cidade umas das piores tempestades que Miguel já pode presenciar. O barulho da chuva e os trovões escurecedores lhe provocavam arrepios e lembranças ruins. Os relâmpagos clareavam momentaneamente todo o local, lançando sombras assustadoras ao longo do caminho. A cabeça de Miguel girava e girava. E ele sentia raiva, tristeza, pena de si mesmo e principalmente culpa.
Sua roupa pesava no corpo e o cabelo molhado o deixava ainda mais irritado. Não era pra menos. Estava debaixo dessa tempestade. Completamente encharcado e perdido. Sua respiração saia falha e entrecortada.
Subiu os pequenos degraus e tocou a campainha da casa.
Era uma casa um tanto grande, com dois andares e um belo jardim, agora completamente escuro e lamacento. Miguel perguntou-se se ela iria se importar dele entrar sujando a casa de lama.
A porta se abriu e Lilian o encarou com espanto. Os olhos incrivelmente abertos e uma expressão de preocupação em seu rosto.
- Miguel o que houve? – Ela berrou enquanto o puxava para dentro de casa.
- Eu posso ficar aqui essa noite? – Ele não achou que iria conseguir falar com tudo que estava sentindo, com todas aquelas palavras e sentimentos presos em sua garganta.
- Claro que sim. – Lilian disse. – Meu Deus, você precisa se secar. – E ela o levou até o seu quarto.
Não falou nada enquanto secava seu cabelo ou lhe tirava os sapatos molhados e colocava meias secas em seus pés. Continuou o ajudando em silêncio, mas ele sabia o que viria em seguida. Depois de jogar uma toalha para Miguel e o fazer retirar pelo menos a camisa molhada e vestir um moletom dela, Lilian finalmente sentou-se ao lado dele no tapete e o encarou seriamente.
- Você precisa me dizer o que aconteceu. Devo ligar pro Thomas? – Ela perguntou o encarando.
- Não! – A garota assustou-se com o tom nervoso dele. – Não ligue para ninguém. Eu conto. – Respirou fundo e tentou de alguma forma colocar tudo o que havia acontecido em palavras. – Eu... – Não conseguiu, os olhos arderam, a garganta secou e o seu peito pareceu inchar rapidamente o sufocando.
- Miguel... – Lilian segurou sua mão.
- Ai. – Protestou o rapaz de dor. – Acho que quebrei o dedo. – Ele disse olhando para o polegar que estava vermelho e inchado.
- Jesus. O que aconteceu, Miguel? – Ela entrou no seu modo autoritário e um ponta de raiva surgiu em Miguel, mas ele a repreendeu. Não podia ficar irritado com ela. Ele devia explicação levando em conta o modo como chegara ali.
- Eu quebrei o nariz no Thomas. Soquei ele e meu polegar estava dentro da mão. - Ele disse lembrando de como aquilo pareceu doer mais nele do que no amigo, ou ex amigo. Não saberia o que seria deles dali em diante.
- Você bateu no Thomas. - Lilian repetiu, como se aquelas palavras não fizessem o menor sentido.
- E terminei com o Julian. – Disse Miguel sentindo as lágrimas descerem pelo seu rosto. Masem vez de chorar ele sorria. Um sorriso de puro desespero. – Na verdade ele terminou comigo, mas dá no mesmo. – Completou jogando a cabeça para trás e fechando os olhos.
- Como assim? Quando? – Perguntou Lilian um tanto desesperada. – Por quê? Miguel, me explica isso agora! –
Miguel olhou para a amiga. Ele estava tremendo, com frio e não queria lembrar do que havia acabado de acontecer, mas devia contar a ela. Além de ter o ajudado agora, quando o que ele menos queria era ver o rosto da pessoa que ele mais amava e quando aquele que provavelmente mais o amava não queria ver o seu rosto.
Estranho.
Confuso.
Respirando fundo e ignorando o frio e a dor, ele se pôs a contar tudo. Desde o início.
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