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História E se...? - Capítulo Único


Escrita por: ahgase

Notas do Autor


Olá :) aqui está minha primeira one-shot terminada, espero que gostem! 'E se...?' era pra ser postada para o aniversário do YoungJae, mas eu sou péssima com prazos, então...
Duas coisinhas: os trechos em negrito são da canção Fourth Of July, do FOB ~ peguei o nome 'Miffy' emprestado do Markus Zusak (<3) no livro Bom de Briga.

Uma observação importante: Eu nunca passei pelo que conto na fic... nunca acompanhei de perto alguém nas mesmas condições em que retrato o JaeBum, e por isso posso não ter escrito/descrito as coisas fielmente ou como elas são, de verdade. Desde já, e se isso puder ser prejudicial de alguma forma, peço desculpas. A minha intenção nunca foi - e nunca será - ofender ninguém. Obrigada :)

[se alguém lê 'outra vez', não abandonei, mas não sei quando volto também...]
[não foi revisada, então por favor, me avisem se encontrarem algum erro?]

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction E se...? - Capítulo Único

Você e eu fomos fogos de artifício que explodiram cedo demais.

~

- JaeBum-hyung? – JaeBum acordou imediatamente ao sentir a mão de YoungJae em seu ombro. Ele se sentou na cama com certo esforço, não sem a ajuda de seu enfermeiro. – Como você está hoje? – YoungJae lhe ofereceu um sorriso e começou a transitar pelo quarto, pegando alguns aparelhos e cumprindo a já habitual rotina de checar a pressão arterial e os batimentos cardíacos de JaeBum.

Quando YoungJae sentou-se a sua frente, JaeBum automaticamente estendeu o braço. O enfermeiro rapidamente posicionou o aparelho, olhando para o mais velho com seu sorriso carinhoso.

- Bem! – JaeBum respondeu também sorrindo, mentalmente censurando sua falta de criatividade. Era o que ele dizia, todos os dias, mesmo que seu estômago parecesse querer sair pela boca em tosses que machucavam sua garganta, já desgastada pelos constantes vômitos.

Logo o estetoscópio gelado lhe tocava o peito. JaeBum de repente se lembrou do tempo em que YoungJae ainda pedia licença para isso.

No primeiro daqueles seis meses, YoungJae pedia licença para tudo. Para entrar em seu quarto, para tirar o casaco, para ir ao banheiro, para usar o fogão, para examinar JaeBum, para abrir seu guarda-roupa. JaeBum tentou se lembrar de como eram as coisas antes de YoungJae, mas muito pouco importava agora.

Seu estômago estragado grunhiu em sua barriga, recebendo um olhar surpreso de YoungJae.

- Lutando em seus momentos finais. – JaeBum riu com desdém.

- Cale a boca! – YoungJae disse em um olhar enviesado, e se aproximando da barriga de JaeBum, sussurrou. – Não sei como você aguenta esse cara 24 horas por dia. – como se falasse com um bebê, e não com um estômago consumido pelo câncer, YoungJae continuou. – Vamos te alimentar em um minutinho, seja paciente, por favor!

O enfermeiro espetou o dedo de JaeBum e usou a gotinha de sangue que surgiu para medir sua taxa de glicemia.

- Você comeu muito pouco ontem. – ele não precisou fazer a pergunta para que JB entendesse a deixa:

- Estava cansado.

- Hyung...

- Mas estou morrendo de fome agora, satisfeito?

- Você sabe que sua fome me deixa feliz! – YoungJae deu uma gargalhada, e JaeBum fechou os olhos como se assim pudesse aprecia-la mais intensamente. Quando abriu os olhos, YoungJae já havia saído do quarto. JaeBum podia escuta-lo se movimentando na cozinha.

Estar habituado a tudo aquilo era uma sensação ambígua para JaeBum. Ao mesmo tempo em que a doença o destruía por dentro, era ela que justificava YoungJae em sua vida. E no fundo, YoungJae era a razão pela qual ele ainda agradecia por estar vivo.

~

Quando fora diagnosticado com câncer de estômago, há 6 meses, JaeBum sentiu seu mundo desabar. Não que fosse uma surpresa de fato. Sua bisavó, seus dois avós e sua mãe faleceram por conta do câncer. E o pai de JaeBum, sendo o ótimo médico que era, sabia que era uma questão de anos até que a preocupação com seu filho fosse latente. O que ninguém esperava, no entanto, é que a doença se manifestasse no jovem rapaz de 26 anos. JaeBum ficou devastado. Mas nada se comparava a seu pai.

Ele perdera os sogros e a esposa, e em meses perderia o filho.

JaeBum se viu apoiando o pai quando ele próprio era o enfermo. E quando o pai lhe comunicou que havia contratado um enfermeiro para cuidar dele, pois sua rotina não o permitiria estar sempre com o filho, JaeBum não questionou.

JaeBum sabia que a rotina era o menor dos empecilhos. Ele não obrigaria o pai a ficar ao seu lado. JaeBum havia cuidado da mãe alguns anos antes, se recusando a deixa-la, prestando-lhe os socorros até o ultimo minuto. Era agonizante e desesperador, ele sabia muito bem, e por isso entendia seu pai. E não queria que o já tão abalado homem acompanhasse de perto mais uma tragédia. Ele não aguentaria.

Foi quando YoungJae apareceu.

O recém-formado enfermeiro de cabelos loiros. Tímido, mas dono de um poderoso sorriso. E JaeBum tinha uma hipótese sobre aquele sorriso. Uma hipótese bizarra e tão constrangedora que ele nunca a verbalizou, mas que continuava ali, cada vez menos hipótese e mais fato: aquele sorriso o curava.

Não curar de verdade, JaeBum não era idiota. E ainda que fosse, as crises cada vez mais frequentes e a expressão cada vez mais preocupada de seu médico não o deixariam acreditar nisso. Mas JaeBum queria acreditar no segredo que mantinha para si mesmo. Algo dentro dele mudava quando YoungJae o encarava com aquele sorriso, que iluminava todo o seu rosto. Ele brilhava, e um reflexozinho de toda aquela luz sempre acabava encostando no rosto de JaeBum, e lá estava ele, sorrindo quando nem sabia por quê.

E com o passar dos meses, poucas horas se tornaram quase dias inteiros. Dias se tornaram noites onde YoungJae dormia na sala. O sofá da sala foi trocado por um colchão aos pés da cama de JaeBum. Até JaeBum criar coragem e dizer que seu quarto era grande o suficiente para duas camas e dois de tudo mais que fosse necessário.  E para sua surpresa, YoungJae sorriu. Sorriu e disse que já estava passando da hora.

Por um momento, Jaebum, atordoado como estava, se questionou se YoungJae estava querendo dizer que já estava passando da hora de ele morrer. Mas o sorriso de YoungJae fez mais um de seus truques mágicos e JaeBum se sentiu estúpido por cogitar um absurdo daqueles. E se sentiu mais confuso ainda, porque achou que sabia o que YoungJae quis dizer, mas não acreditou muito, não queria se encher de falsa esperança. A questão é que, no dia seguinte, YoungJae trouxera suas coisas e até deixara JaeBum comer pizza (se seu médico descobre eu nunca mais poderei trabalhar na vida!) para comemorarem.

Desde então, JaeBum e YoungJae tinham suas camas uma ao lado da outra. JaeBum prometeu a si mesmo que, se não morresse até o fim do ano, iria tomar coragem e propor uma cama de casal. Só precisava de uma boa desculpa. E não morrer, claro. Mas JaeBum acreditava que essa última parte estaria segura se YoungJae estivesse com ele até lá.

~

YoungJae voltou com uma bandeja em mãos, e JaeBum, ainda que encantado com a visão de seu enfermeiro de olhos sonolentos e cabelos agora negros, bagunçados e apontando para todos os lados, se xingou baixinho.

- Sabe, eu ainda não sou um inútil total. Eu posso andar até a cozinha e tomar meu café da manhã como qualquer pessoa.

- Me deixe, estou sendo romântico! – YoungJae deixou a bandeja na cama de JaeBum, antes tirando dela sua tigela de cereais e sentando-se em sua cama, encostando-se na cabeceira e puxando os lençóis para perto. – Além do mais, está um puta frio. Queria voltar para as minhas cobertas. – ele respondeu antes de encher a boca.

- Eu devia te denunciar para qualquer que seja o órgão que regulamenta os enfermeiros por você colocar suas preferências antes das minhas.

- Vá em frente, me denuncie! – YoungJae disse, rindo. – Eu quero ver se vai encontrar outro enfermeiro que aguente esse seu humor de velho.

- Idiota!

- Eu também te amo, hyung. – YoungJae retrucou, meneando a cabeça e sorrindo para seu paciente.

E não importava que seu estômago estivesse em ruínas e não oferecesse nada de bom, as borboletas insistiam em continuar ali e voar ensandecidas ao som das palavras de YoungJae.

JaeBum afundou o rosto corado em sua tigela, cessando a conversa entre os dois. Ele comia devagar, como sempre, pensando em todas as coisas que YoungJae dizia e que parecia não fazer ideia de como o afetava.

YoungJae sempre soltava uma frase ou outra que fazia os pensamentos de JaeBum correrem soltos por sua cabeça. Alguns chegavam até seus lábios, mas nunca tinham coragem de sair.

~

- Merda. – JaeBum conseguiu sussurrar antes que o vômito subisse pela garganta e ele fosse obrigado se debruçar sobre o vaso novamente. Quando ele tossiu uma última vez, ouviu YoungJae novamente.

- JaeBum, me deixa entrar, por favor!

A voz estava abafada por conta da grossa porta de madeira entre eles, mas JaeBum podia ouvir o desespero no pedido de YoungJae. Era assim toda vez que JaeBum tinha uma crise. Cada vez, com mais frequência, o estômago de JaeBum rejeitava o que quer que ele comesse, e inevitavelmente, ele colocaria tudo o que comeu para fora. Antes mesmo de YoungJae, já era seu costume trancar a porta do banheiro. Ele não gostaria que outros o vissem daquele jeito.

Muito menos YoungJae.

Na primeira vez, YoungJae apenas o deixou.

Depois de alguns episódios, YoungJae esmurrava a porta com tanta força que JaeBum pensou que ela pudesse cair a qualquer momento.

Embora a atenção extra que recebia de YoungJae nesses momentos acalmasse seu coração, JaeBum sabia que o queimar de seu estômago não deixava dúvidas. Seria em breve, muito em breve. E a ideia lhe parecia mais odiosa a cada dia. Porque justo agora era que ele e YoungJae estava mais ligados. Mas JaeBum sempre soube que a proximidade era proporcional a piora no seu quadro.

Quando JaeBum sentiu que não vomitaria mais – porque não havia mais nada em seu estômago – ele se esticou e destrancou a porta, mas continuou sentado no chão.

YoungJae entrou no banheiro em um movimento rápido, mas não ousou se aproximar muito. Ele sabia o quanto JaeBum odiava ser visto naquele estado. Mas ele não conseguia simplesmente ficar de fora, olhando JaeBum sofrer.

Quando a respiração de JaeBum se acalmou, ele se levantou do chão indo até a pia, ignorando YoungJae. Abriu a torneira e lavou a boca por alguns segundos. E então a fechou, e ficou parado, as mãos apoiadas na pia, sem saber o que fazer.

- Me desculpe.

- Não faça isso comigo novamente, por favor. – YoungJae sussurrou, a voz mais rouca por conta dos gritos de antes.

- Eu não irei.

- Vai passar.

JaeBum concordou francamente com a cabeça.

JaeBum congelou quando sentiu as mãos de YoungJae em sua cintura. O enfermeiro o virou lentamente, e puxou JaeBum para um abraço quando eles estavam frente a frente. Ele não viu o rosto de YoungJae, mas sentiu seu pescoço se molhar quando YoungJae escondeu seu rosto ali.

Ele tentou abraçar YoungJae com a mesma força que o mais novo o abraçava.

E então, JaeBum se perguntou quem consolava quem.

~

- Banho.

Mais uma das palavras que traziam à JaeBum sentimentos opostos. Seu estômago se contraiu enquanto ele se levantava, e ele sabia que, dessa vez, não era por causa da doença.

Ele revirou os olhos, sentindo o rubor se espalhar por seu rosto.

- JaeBum, pode parecer uma coisa estúpida, mas aconselho que reduza as suas atividades de rotina. Não se esforce nem mesmo em coisas banais do dia-a-dia. Cuidado ao se levantar, não pegue coisas que caíram no chão. Tome cuidado até mesmo ao tomar banho, quando se curvar ou algo parecido. Tudo isso vai evitar dores desnecessárias.

JaeBum não planejava contar a YoungJae essa parte de sua consulta. O que não foi preciso, já que o próprio médico foi quem chamou o enfermeiro para instrui-lo. JaeBum queria morrer (não de verdade).

- Vem hyung.

YoungJae veio e passou um dos braços de JaeBum por seus ombros, o carregando até o banheiro, como sempre fazia nos dias em que JaeBum passava mal. Ele não protestou.

Eles não tomavam banho juntos, de fato. Era sempre YoungJae ajudando JaeBum, e depois tomando seu próprio banho sozinho (JaeBum achava injusto. Um dia, ele até disse, com a expressão mais neutra que conseguiu fazer, que não se importava se YoungJae quisesse aproveitar e tomar banho também. YoungJae o encarou tão intensamente que JaeBum se obrigou a desviar o olhar. Nunca mais tocou no assunto).

Naquele quarto mês, quando JaeBum tinha certeza que seus sentimentos estavam mais do que bagunçados, ele tivera a pior crise da qual se lembrava. Acordara vomitando. Foi a primeira vez que YoungJae de fato lhe ajudara no banho.

No início, era só secar as costas. Até que as coisas foram mudando. Um dia, YoungJae secaria seu cabelo. No outro, pentearia os fios, brincando de fazer penteados esquisitos. Na semana seguinte, abotoaria sua camisa. Até o dia que JaeBum se pegou sendo – literalmente – banhado por YoungJae; o chuveiro ligado, enquanto YoungJae fazia todo o resto... O que significava, mesmo com muitas reclamações de sua parte, ter YoungJae esfregando cada parte (Jesus, toda e qualquer parte) de si. Não era algo de que ele se orgulhava muito, mas também não queria reclamar (só preferia que tivesse sido bem no início, quando ele ainda tinha o corpo definido na academia, e não magro como estava agora).

JaeBum se lembrava de um dia particularmente constrangedor. Em um acesso de carência, JaeBum não reclamou quando YoungJae entrou no banho com ele. E bem, ele não podia controlar o próprio corpo, não quando o sangue corria tão rápido em suas veias.

Eles passaram meia hora com a água correndo enquanto YoungJae esfregava suavemente a pele de JaeBum. O enfermeiro viu, com certeza, mas agiu como se nada estivesse acontecido. Como se JaeBum não estivesse ridiculamente excitado com apenas um toque.

JaeBum tinha tido – e ainda tinha – ereções em outras ocasiões... Inúmeras, mais do que se orgulhava. Mas ele achava que YoungJae também não era imune. Vez ou outra, JaeBum tinha certeza de ver um rubor nas bochechas de seu enfermeiro. Ou uma mordida no lábio. Ou os olhos vagando distraídos. Ou quando ele deixava de lado a esponja e simplesmente esfregava a pele de JaeBum com as próprias mãos. De vez em quando, ele tiraria as mãos de JaeBum para arrumar o cabelo ou puxar a roupa – escura, sempre escura, Jaebum se queixava internamente – que havia colado em seu corpo por conta da água (de fato, as camisetas de YoungJae eram sempre compridas demais).

Mas podia ser só impressão.

Ainda assim, era nessas horas que JaeBum se controlava ao máximo – para não ficar excitado como um colegial – para não puxar YoungJae e beijá-lo. Porque era nessas horas que ele tinha certeza – bem, quase certeza – de que YoungJae corresponderia.

E ele tinha medo disso.

De saber qual a razão para ser correspondido.

(Ele queria acreditar que não era por pena.)

~

YoungJae massageava distraidamente os ombros de JaeBum enquanto eles assistiam a um drama, quando seu celular tocou. JaeBum reprimiu um suspiro quando o contato cessou.

- Alô! Oi hyung! Espera! – YoungJae afastou o celular do ouvidos por alguns instantes e apertou alguns botões. – Pronto, viva-voz! – disse, colocando o aparelho na mesinha de centro.

- Oi JaeBum! – uma voz grave ecoou na sala.

- Oi Mark!

- Tenho um convite para vocês dois. Jogo de basquete, da liga, sábado à noite. Já convenci todo mundo, só faltam vocês. O JinYoung vai também JaeBum, eu já liguei para ele. Você não tem desculpa.

Mais uma das milhares de coisas boas de se ter YoungJae por perto eram seus amigos. Mark, Jackson, BamBam e YuGyeom haviam o adotado para o círculo dos 5. E JaeBum arrastara JinYoung, seu melhor amigo desde que se lembrava.

Nos dias em que JaeBum estava bem, eles se reuniam no apartamento para fazer qualquer coisa. Ou não fazer nada. Só comer e ficar junto, e jogar conversa fora.

Invariavelmente, eles combinavam de sair. E quase sempre, YoungJae e JaeBum não iam, e JaeBum se odiava por tirar YoungJae do convívio de seus amigos, embora YoungJae nunca reclamasse.

Eles se encararam e JaeBum negou com a cabeça. Ele tinha medo de passar mal na frente de todos. YoungJae respondeu, ainda o encarando:

- JaeBum adorou a ideia, nós estaremos lá.

JaeBum ia se levantar para pegar o celular, mas YoungJae foi mais rápido e saiu correndo para a cozinha com o aparelho. Voltou minutos depois, se sentando no mesmo lugar e voltando a massagear JaeBum.

- E se eu começar a cuspir os órgãos para fora na frente de todo mundo?

- Vou estar do seu lado te ajudando quando se engasgar com o coração.

E era assim que JaeBum se sentia, com o coração preso na garganta.

~

- Ei, você disse que ia comprar esse jogo para mim. – JaeBum jogou a cabeça para trás, descansando-a na coxa de YoungJae para fita-lo.

O enfermeiro passou a mão pelos cabelos de seu paciente, olhando da propaganda na televisão para JaeBum.

- Eu comprei. Não te entreguei?

- Não! – JaeBum respondeu rindo, se segurando para não erguer a mão e passar os dedos para desfazer a ruguinha que se formou entre os olhos de YoungJae.

- Ué, será que deixei no carro?

- Depois você busca. – JaeBum pediu quando percebeu que YoungJae ia se levantar.

- Eu corro lá rapidinho e a gente já joga hoje.

YoungJae vestiu seu casaco e pegou as chaves do carro, fechando a porta atrás de si. JaeBum o ouviu conversar do lado de fora.

- Olá senhora Lee! – ele cumprimentou, animado.

E então Miffy começou seu show. A senhora Lee era a vizinha da frente de JaeBum. Os dois eram os únicos moradores do andar, e se davam muito bem. Miffy era o chihuahua da senhora Lee. Incrivelmente, a mulher conseguia manter o mascote quieto no prédio. Mas o cachorro não podia ver YoungJae. Ele era a única criatura do planeta a simplesmente odiar o enfermeiro. Era ouvir a voz de YoungJae que Miffy se tornava o típico chihuahua: 50 % raiva e 50 % tremedeira, latindo seu ódio a quem quisesse ouvir. YoungJae até tentara se aproximar do bichinho, mas terminara com a mão marcada pelos dentes de Miffy. A amizade acabara ali.

- Boa noite querido!

- Me deixe ajudar a senhora com essas sacolas!

As vozes – e os latidos estridentes de Miffy – foram sumindo no corredor, conforme eles se afastavam.

JaeBum pegou o controle e começou a zapear pelos canais, procurando algum filme bom. Seu estômago ardia um pouco, mas tentou não pensar na dor. YoungJae logo voltaria e eles se espremeriam atrás da mesinha, os joelhos se tocando por conta da proximidade. JaeBum sorriu. Ele não se importava com o jogo.

Um grito da senhora Lee interrompeu seus pensamentos.

JaeBum estranhou. Pelo tempo que se passara, eles já deviam ter chegado ao saguão. Ela gritara bem alto, já que ele podia ouvi-la do terceiro andar.

E então, o latido fino de doer.

Miffy, JaeBum pensou, revirando os olhos. Por que será que o espírito maligno em forma de cão latia tanto?

JaeBum se lembrou de uma vez que a senhora Lee deixou Miffy cair de seu colo depois de um tropeção. O grito foi parecido. Os latidos e o choro de Miffy também. Era o destino punindo o cachorro por nutrir um ódio injustificado por YoungJae.

Um estrondo enorme. O que acontecia naquele saguão?

JaeBum se concentrou, tentando ouvir com mais atenção. A curiosidade falou mais alto: levantou-se para ir até o telefone, mas YoungJae deixara o celular na mesinha.

Mais gritos. Não só da senhora Lee agora. Alguma coisa estava errada.

Respirou fundo, pegou seu casaco e saiu porta afora, correndo até o elevador.

Não era uma escolha muito sensata ir de encontro com o que quer que estivesse acontecendo, mas JaeBum queria ter certeza de que YoungJae estava bem.

Antes do elevador se abrir, mais um estrondo. E JaeBum então percebeu: eram tiros.

Os três segundos até que a porta se abrisse pareceram eternos.

Mais gente já havia descido de seus apartamentos. JaeBum reconheceu um ou outro morador, todos parecendo um pouco perdidos também. O burburinho das vozes sussurradas preenchia cada canto do local.

No meio do saguão, três guardas imobilizavam um rapaz que se debatia numa tentativa de escapar. A arma jazia ao lado, fora de seu alcance. A sua direita, algumas pessoas procuravam acalmar a senhora Lee, que respirava com dificuldade. Miffy estava aninhado no colo da dona, tremendo de medo.

JaeBum olhou o amplo espaço, procurando YoungJae. O coração batia rápido à medida que os passos se aceleravam. Desviou de inúmeros moradores, todos eles comentando algo em que não conseguia prestar atenção. Só queria achar YoungJae. Só queria o ver voltar da garagem com a expressão mais avoada do mundo, sem saber o que tinha acontecido.

Claro, a garagem!

Se virou para onde ficava a saída do saguão, e o coração pulou no peito.

YoungJae.

As lágrimas surgiram, involuntárias.

Sem que percebesse, os passos o levavam até onde o enfermeiro estava. Imóvel.

Não. Não. Não.

Alguém o parou no meio do caminho. JaeBum não se importou em ver quem era. Ele se desvencilhou de alguma forma, com uma força que não tinha há meses, mas mais braços o envolveram, o impedindo de continuar.

Não. Não. Não.

O rosto de YoungJae estava virado para o outro lado, os cabelos negros caindo-lhe sobre os olhos. De um furo quase imperceptível em sua camiseta preta, escorria o sangue que se espalhava pelo piso branco.

Médicos passaram por JaeBum e foram até YoungJae, mas tudo se transformou em um borrão. Estava errado. Tudo estava errado.

De todas as pessoas, por que YoungJae?

Por que não ele, que já estava morrendo? Por que justo YoungJae? Justo ele, sempre tão... tão cheio de vida!

Um homem pegou em seu braço. Um policial.

- Você tem que se afastar.

Atrás dele, os médicos trocaram um olhar. JaeBum sabia o que aquilo significava. Um mantra de ‘nãos’ invadiu sua mente, os olhos cheios de lágrimas, de um choro que significava tanto que nem mesmo JaeBum entendia. Os joelhos fraquejaram, e o policial a sua frente o segurou, solidário.

- Ele está morto. Eu sinto muito.

~

Você é o meu 'e se...?' favorito, você é o meu melhor 'eu nunca vou saber'.


Notas Finais


comentários e opiniões são bem-vindos ;)
[tumblr: http://ahgasefics.tumblr.com/]


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