História E Se...? - Capítulo XIX

Capítulo XIX

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Sakura
 

  Boutique da Yoko, 15 de abril de 2015

— Kakashi fez bem em avisá-las sobre o armamento — Yoko nos guiava pelos corredores em tons vermelhos da boutique. Gemidos ecoavam de dentro dos quartos, enquanto mulheres mais velhas citavam ordens para as garotas em treinamento sexual. — Eu apenas posso concedê-los até às três da tarde. Depois disso eles são recolhidos pelos ninjas próximos do Hokage.

— Vamos ter algum treinamento de bruxaria ou você ainda vai continuar dizendo que não estamos prontas? — questionei ousadamente, um tanto irritada com a situação.

Desde que entramos para esse treinamento, recebemos dois avisos: éramos tecnicamente protegidas do treinamento sexual pela falta de menstruação temporariamente e não deveríamos tornar a roubar os livros de Yoko nunca mais.

Segundo ela, ainda éramos jovens demais para sermos submetidas ao conhecimento aprofundado das ceitas, e mesmo com tudo que havíamos lido nos livros que roubamos nada se comparava ao que realmente existia por trás de toda a história das bruxas.

Tudo que sabíamos era que as bruxas estavam prestes a dominar o mundo ninja, e iniciar uma guerra entre si. As ceitas dos Lobos, Corvos, Águias e Dragões entravam por um período de crise quando o decreto foi instalado e pouco a pouco as bruxas eram dizimadas tanto na fogueira quanto nas guilhotinas ou forcas. O massacre aparentemente tinha destruído todas as ceitas e colocado novamente os ninjas no topo.

Isso certamente me revoltou contra muitas partes do nosso sistema. Principalmente me revoltou contra Danzou. Mas quem era eu ou Kaya diante de centenas de homens liderados por um assassino de mulheres?

— Que tal falar mais alto, Sakura? Terá sorte de ser apenas decapitada caso descubram o que vocês duas são...

— Como consegue? Estar ao lado do Hokage? Ele quem deu a ordem principal para dizimar sua ceita e as outras! — Kaya falou duramente.

Yoko se virou para nós, seu vestido azul escuro longo rodopiando no ar e seus cabelos ruivos trançados movimentando-se furiosamente.

— Eu fiz uma promessa de protegê-las! Vou conceder um treinamento a vocês e vou ensiná-las tudo que devem saber! Mas por hora, devem apenas se concentrar em suas habilidades ninjas! Se não passarem no teste, voltam para a Academia.

— Mas... O que tem voltar para a Academia? Reprovar e depois fazer novamente? — Kaya questionou estupidamente, e a encarei com certa indignação pelo nível de sua pergunta. Ela meramente deu de ombros.

Yoko colocou a mão na testa suspirando antes de nos fitar novamente.

— Apenas os garotos reprovam e podem fazer o teste novamente. As garotas são diretamente mandadas para o manicômio onde são pagas para satisfazer os guardas de lá.

— O quê?! — gritamos Kaya e eu ao mesmo tempo, nossas vozes sobrepondo a série de gemidos que percorria todo o corredor.

Fumiko surgiu da sala de sua mãe, trajando roupas quase idênticas às de Kaya, uma saia xadrez e uma camiseta rosa clara.

— Não deveria contar a elas tão abruptamente, mãe. — repreendeu a garota de maneira singela, sorrindo para nós. Seus cabelos pretos herdados de Danzou davam um ar angelical à garota, embora os traços em seu rosto contivessem o espírito rígido de sua mãe. — Vocês vão conseguir passar pelo teste do Kakashi. Precisam apenas de armamento e o resto da tarde livre para treinarem. Tudo que aprenderam até agora desde os primeiros passos de dança, como manejar um leque e caminhar de modo elegante serão úteis a partir de agora.

— Como? — ironizei, dando uma risada que não condizia nem um pouco com meu espírito de medo. — Vamos abanar um leque florido na frente do Kakashi enquanto dançamos e em seguida o rodeamos elegantemente?

— Haha — Fumiko fez sinal para que a seguíssemos. — Eu cuido delas a partir de agora mãe. Vá até o quarto onde a Yamanaka está. Ela aparentemente não está sabendo utilizar bem a boca dela.

Seguimos Fumiko por uma série de curvas, escadas e corredores. A boutique era imensa embora do lado de fora parecesse tão simples e sutil. Chegamos até uma porta solitária com adornos em vermelho e uma maçaneta dourada. Fumiko destrancou a porta com uma chave e acendeu as luzes.

Armas de todos os tipos preenchiam as paredes. Lanças, machados, porretes, diversos tipos de adagas, espadas e kunais, além de imensas shurikens.

— Uma dama deve sempre ter uma carta dentro da manga. A dança, a elegância e o manejar de um leque são úteis para nós mulheres. — Fumiko prostrou-se à nossa frente depois de fechar a porta, e levou as mãos à cintura. — Os homens são brutos em uma luta, são vorazes e sanguinários. Embora pareçam calmos, possuem um fulgor e ansiedade dentro de si. Nós mulheres somos delicadas, mas precisas. Sorridentes, mas perigosas. A luta para nós segue como uma dança — Fumiko realizou um passo que já havíamos aprendido alguns dias atrás. — A arma é como o leque — Ela manejou a kunai delicadamente, enquanto se movia continuamente e suavemente. — E a elegância é nossa chave para nos mantermos ocultas — suas passadas seguiam silenciosas embora ágeis. — Vocês duas podem parecer fracas para todos. Mas possuem mais cartas que qualquer um deles. Sasuke e Naruto a essa altura estão golpeando árvores com suas armas. Vocês duas devem ser a chave do time sem a brutalidade.

Passei a entender finalmente a finalidade de todo aquele treinamento com leques. Abrir um leque e manejá-lo suavemente como se ocultasse um grande mistério, para depois fechá-lo abruptamente apenas para deixar no ar qualquer expectativa de algo a mais.

— Minha mãe observou vocês desde o manicômio. Foi assim que mandou uma amiga para arrancar o útero de vocês duas, e foi assim que descobriu os talentos de vocês. Devem ignorar seus poderes a partir de agora. Concentrem-se no que seu corpo pode fazer. — Fumiko tirou da parede duas kunais com formatos de tridente, possuindo uma pedra azul-escura no cabo dourado delas. — Estes são sais. Armas utilizadas por bruxas da ceita dos Lobos há muitos anos atrás. — Me entregou ambas, e as peguei medindo seu peso em minhas mãos. Fumiko fez uma breve reverência. — Estas armas foram roubadas da ceita assim que os ninjas a destruíram. Passaram a utilizá-las como troféu, e agora estão em suas mãos.

— Ninguém vai desconfiar se eu tiver algo desse porte de importância? — questionei, embora minhas mãos houvessem se acostumado tanto àquelas belas armas que pareciam fazer parte de mim de alguma maneira.

— Não se preocupe. Os ninjas diminuíram muito o valor delas. Não passam de armas em formato de tridente para eles que podem quebrar lâminas de katana se você souber envolvê-las entre os dentes. — Fumiko tocou minhas mãos e fitou meus olhos. — Elas estão no nível mais baixo da patente dos Lobos. Foram utilizadas por bruxas novatas, que mal sabiam usar seus poderes. Em suas mãos são apenas armas, mas logo que for treinada de verdade, vai entender o que elas podem fazer.

Franzi o cenho, confusa, fitando os sais em minhas mãos. Meneei a cabeça positivamente.

— Sua vez — Fumiko indicou Kaya, e seguiu até outro canto da parede. — As bruxas dos Corvos tinham um gosto bem mais elegante e mortal. Elas costumavam utilizar isso — mostrou um leque para Kaya.

— Um leque? Sério? Sakura ganha sais e eu ganho um leque?

— Talvez você possa desenhar nele — brinquei, e Kaya revirou os olhos para mim.

Fumiko abriu os leques, e neles havia lâminas ocultas em cada dobra.

— É um tessen. Fechado forma um punhal. — ela o fechou abruptamente, e em seguida abriu-o. — É delicado, mas feroz. É ótimo para arrancar cabeças e cortar membros. Além disso, as bruxas dos Corvos costumavam utilizá-lo para captar energia humana. Mas como você ainda não tem esse treinamento utilize-o apenas como uma arma física.

Kaya me encarou vitoriosa, e bufei.  Meus sais eram incríveis de qualquer maneira.

— Hora de ensinar vocês como devem manejar suas armas. Por aqui — Fumiko nos guiou para uma área de treinamento ao fundo da espaçosa sala. 

Delicadeza, elegância, rapidez, quietude. Demoramos horas para conseguir aprimorar metade disso, mas ao final do treinamento tínhamos conseguido alguma coisa.

Saímos da Boutique de Yoko com os melhores votos de sorte, enquanto seguíamos para casa nem tão seguras de nosso sucesso no dia seguinte.
 

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— Essas armas são incríveis! Caramba. Por que não podemos receber coisas assim?

Naruto brincava com os sais e o tessen, e não sei por que permitimos isso, mas à noite estávamos tão esgotadas que nem ao menos nos movimentamos do sofá para impedi-lo de sair rodopiando pela sala com nossas armas.

— Porque você não é uma menina — Kaya disse com certa raiva. — E porque você não tem um castigo tão grande caso não passe no teste.

— O que acontece com vocês caso não passem? — perguntou Sasuke, tirando os olhos do jornal por um segundo e arqueando uma das sobrancelhas para nós.

— Somos mandadas de volta para o manicômio como objetos sexuais dos guardas, sr.Arrogante — ironizei, pegando das mãos de Naruto meus sais.

— Não pode ser! Mas vocês acabaram de sair! — Naruto exclamou furioso.

Kaya continuou desenhando em silêncio. Apenas vi meu reflexo nos sais, igualmente quieta.

— Isso não é justo! Vou falar com o Hokage! Talvez ele nos ouça!

— Não seja burro, Naruto — Sasuke o repreendeu severamente, fechando o jornal. Parecia um adulto com toda aquela seriedade. Um grande merda querendo feder mais que todos. — Você não pode mudar o sistema! Vai acabar preso no manicômio também.

— Prefiro ir preso novamente do que deixar minha irmã e minha amiga voltarem para lá como objetos! Isso é tão... Nojento — Naruto fez uma careta de desgosto.

Kaya se levantou do sofá e abraçou o irmão ainda em silêncio. Suspirei. Eu não aguentaria todo aquele drama por mais tempo.

— Não sei vocês, mas vou tomar um banho. Amanhã temos que estar de pé às cinco da manhã — disse e segui para fora da sala.

Assim que adentrei o banheiro, pude finalmente escorregar pela porta até o chão e fechar minhas mãos ao redor das lâminas dos sais, a fim de controlar a dor dentro de mim com alguma dor externa.