História E se eu te pedir para segurar minha mão... - Palavras certas em lugar e hora errada

- Eu sinto muito... - o médico falou e se retirou da sala 

- Não, não, não, eu não posso, eu não tenho isso, o exame falhou, foi falsificado, não, eu não quero morrer, eu não quero ter um fim igual ao da minha mãe, não, não, Lucas eu não posso morrer, eu tenho sonhos, eu quero uma família, eu quero um marido, 15 anos é muito pouco tempo, não, Lu eu não quero morrer - ele falou andando de lá pra cá no quarto de hospital e a única coisa que eu sabia fazer era pensar, mais e mais, sobre contar ou não a ele o que eu sentia e que agora a pessoa que eu mais amava tinha por volta de 15 anos de vida

Tudo estava bem ontem, como tudo podia ter mudado tão de repente, como tudo podia ter desmoronado se não havia nenhuma chuva, como poderíamos termos visto tudo cair se estávamos com os olhos fechados

Vi ele se aproximar e ficar a minha frente e ouvi soluços e algumas lágrimas molharem o chão do quarto, levantei o olhar e vi ele chorando e tendo leves espasmos no corpo devidos aos soluços

- Lu - engoliu em seco - eu não quero morrer - falou me olhando e logo em seguida esfregando as mãos nos olhos e fungando o nariz, eu me levantei e o abracei forte sem dizer nada e senti suas lágrimas molharem o meu ombro e deixei algumas escorrerem

Mas chorei em silêncio dentro do abraço, já que ele não precisava saber, ele não precisa se preocupar comigo, não precisava me ver sofrer, ele só precisava se privar da realidade por alguns instantes

- Eu não sei o que dizer... - revelei e senti o loiro apertar mais o abraço e o som dos seus soluços aumentarem

 Prensei meus lábios fortemente e deixei as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas molhando aquela típica roupa de hospital que o mesmo vestia, o que eu podia fazer, pensar positivo, pensar que quinze anos era o suficiente para descobrirem a cura, ou um tratamento mais eficaz que o atual, ele tinha razão 15 anos era pouco tempo, não era o suficiente para eu o fazer feliz, eu tenho que contar pra ele o que sinto e tenho que saber o que ele sente, eu tinha que conforta-lo aquela doença já o tinha afetado bastante a vida, sua mãe havia morrido disso, eu era a única pessoa que ele tinha pois seu pai cometeu suicídio anos após a morte da mãe

Talvez saber de algo bom o faça sair da realidade por instantes, talvez o faça esquecer por instantes coisas que ele não devia sentir, talvez o fizesse feliz por uma última vez em alguns meses 

- Eu... Eu te amo, eu sei que não é hora nem lugar mas eu preciso falar, eu te amo Lucas, te amo desde que nos aproximamos, eu te amo desde sempre, eu sei que vai ser difícil passar por tudo isso sozinho então deixa eu te ajudar vai? Deixa eu te ajudar a fazer esses quinze anos os mais felizes possíveis, deixa eu te dar uma rosa azul todo dia, para todo dia eu mostrar que te amo, deixa eu te dar forças para viver, deixa eu te ajudar a realizar seus sonhos... Me deixa te amar - falei sem pensar próximo ao seu ouvido entre pausas e soluços devido ao choro 

- Não - ele falou depois de muito tempo pensando - eu não posso te prender a mim, eu também te amo mas você não sabe em que está se metendo eu não posso te deixar desperdiçar 15 anos da sua vida, você não entendeu que eu tenho uma sentença de morte? Lu eu não vou te deixar fazer isso com a sua vida, você não mereçe... Eu não quero que você sofra o que eu sofri, eu não quero esteja ao meu lado quando eu não saber mais quem você é ou até mesmo que eu sou... Eu não quero que sofra por mim, não que me veja tendo surtos, ou que me veja com dificuldades, Lu eu amo você, mas eu não vou deixar você se prender a um destino que não é seu - ele pausava a todo instante pois era interrompido pelos soluções e pelo choro que insistia em continuar

- Eu quero estar ao seu lado eu sei o que você passou eu estava lá também, eu quero te ajudar nos seus surtos, eu quero te ver até o seu último dia mesmo que não se lembre quem eu sou, quero sentir o sabor do seu beijo todo dia de manhã, eu quero dividir a minha vida com você, por favor pequeno - me afastei um pouco passando as costas da mão em sua bochecha limpando as lágrimas de suas bochechas e aproximando nossos lábios, desci as mãos para sua cintura e aproximei mais meu rosto do seu  vendo você fechar os olhos e roçando nossos lábios, sentindo você abrir minimamente a boca e fechando em seguida, afasto milímetros nossas bocas pensando em isso ser um erro mas logo volto a me aproximar encostando nossos lábios novamente mas dessa vez de olhos fechados, sinto o leve toque de seus lábios nos meus logo sentindo o contado sendo desfeito segundos depois pelo seu afastamento, então tento aproximar mais sem abrir os olhos e logo sinto novamente sua boca se encontrar com a minha, e eu tendo iniciar um beijo que logo é correspondido 

"Coloque seus lábios abertos nos meus e lentamente deixe-os fechar
Pois eles foram feitos para estarem juntos, oh
Com seu corpo perto do meu, nossos corações vão bater como um só
E nós estamos iluminados, nós estamos em chamas de amor"

Era um beijo calmo e sincronizado, como se fosse ensaiado todo dia.

Sinto sua língua encostar em meus lábios pedindo a passagem e eu cedo aprofundando mais aquele beijo sentindo a suas mãos subirem pelo meu peito e pararem uma em eu ombro e a outra na nuca, onde pude sentir ele puxar os pequenos fios existentes ali 

Me afastei um pouco sem abrir os olhos, mas logo meus lábios foram tomados novamente pelo loiro que parecia ter quase que uma necessidade dos mesmos, sem hesitar retribui o beijo sem ousar pronunciar uma palavra sequer

Minutos se passaram e nossos lábios se separaram assim que o ar se fez preciso, mas aparentemente ele não queria acabar aquilo já que ao sentir nossas bocas se distanciando o mesmo mordeu o meu lábio e não o soltou, novamente não ousei falar ou fazer nada e continuei com os olhos fechados até sentir meu lábio escorregar por entre seus dentes 

Abri os olhos e vi o loiro a minha frente ainda de olhos fechados e com um esboço de sorriso no rosto 

Ele abriu os olhos depois de longos minutos como se estivesse processando informações

Ele sorriu de canto e desviou o olhar corando e descendo das pontas dos pés que se encontrava para igualar nossas alturas e tirou as mãos de me corpo passando  na lateral do cabelo bagunçado 

Senti que ele estava sorrindo de verdade, senti que ele tinha esquecido da sentença que a pouco o médico tinha dado a ele, senti que podia o fazer feliz 

Levei uma de minhas mãos ao seu queixo tocando o lugar levemente e o conduzindo a olhar para mim e dessa vez entortando levemente meu pescoço para baixo devida a diferença de poucos centímetros de nossas alturas tomei seus lábios rosados novamente para mim e sem hesitar em momento algum o loiro retribuiu 

Parei por um instante o beijo sem afastar nossos lábios e senti o seus ainda se movendo contra os meus tentando retomar ao beijo 

"Eu te amo" - falei baixo contra os seus lábios e o senti os mesmos formarem um sorriso que logo foi retribuído por mim antes de retomar ao beijo 

Era um beijo apaixonado do jeito certo na hora e lugar errados