Depois de ter deixado Camila no hospital, eu voltei pra casa correndo, com certeza levaria alguma multa por excesso de velocidade, sem paciência pra esperar o elevador subi as escadas o mais rápido que pude, cheguei no meu andar e tive dificuldade pra abrir a porta do meu apartamento, meu pulmão estava quase saltando pela minha boca, minha respiração ofegante, minhas pernas bambas e meu coração dava claros sinais que iria parar a qualquer momento tais fatos denunciavam o sedentarismo que era minha vida.
— CAMZ? CAMILA? — Gritei procurando por algum sinal da latina. — Você está em casa? — Uma tristeza apertou meu coração por não encontrar Camila. — Acho que não... — Me arrastei até a cozinha e peguei um pacote tamanho família de batata frita, estava prestes a abrir mas coloquei de novo em cima da mesa, dei uma olhada na geladeira e como sempre só tinha bebidas e porcarias, pegue dois ovos que provavelmente era a coisa mais saudável que eu tinha em casa, decidi fritar o ovo, hoje eu preferi abrir mão da cerveja e do whisky e peguei um copo de água, desde que me mudei pra casa de Camila essa é a primeira vez que sento na mesa pra comer, encarei o copo em cima da mesa e dei um sorriso triste, me levantei e peguei um descansa copos, não quero que a mesa fique manchada, me ajeitei na cadeira e degustei minha meu jantar, até que os ovos tinham ficado bons.
Antes que eu pudesse terminar de comer a campainha tocou, nem me dei ao trabalho de olhar pelo olho mágico pra ver quem era, abri a porta e me deparei com Katrina mascando chiclete de forma debochada e enrolando uma mecha do cabelo com o indicador.
— Eu sei que já é tarde, mais eu fiquei trancada pro lado de fora do meu apartamento. — Dei um fraco e estendi a mão em direção ao sofá autorizando sua entrada, peguei o telefone e as duas listas telefônicas na cozinha e dei pra minha vizinha, fazia mais de meia hora que ela andava de lá pra cá discando no telefone mas não falava com ninguém. — Você não acha que a localização do nosso prédio torna Miami um lugar bom de se viver. — Falou sentando no sofá e tirando os sapatos. — Você é daqui? — Perguntou tirando a blusa de lã vermelha.
— Na... Não... Quer dizer... Mais ou menos — Falei negando com a cabeça. — Ela se levantou e vinha caminhando em minha direção, engoli seco ao perceber que mesmo por cima da sua regata rosa dava pra ver que estava sem sutiã. — O chaveiro sabe que tem que vir aqui?
— Acho que sim. — Respondeu sem interesse — Onde é o banheiro. — Apontei pro corredor.
— Ali na última porta. — Ela passou por mim rebolando e abrindo a calça, não pude evitar olhar pra ela dos pés a cabeça. Passei as mãos no rosto e neguei com a cabeça.
Olhei novamente em direção ao corredor e meu sorri quase não cabia no rosto. — Camila você voltou? — Ela fez cara de tédio.
— Sim sou eu. — Falou como se fosse óbvio.
— Eu pensei que não fosse voltar, achei que iria ficar com o seu corpo no hospital. — Falei animada até demais.
— Você não vai acreditar, estão tentando fazer minha mãe assinar documentos autorizando que os aparelhos sejam desligados. — Suspirou.
— O QUE? NÃO... Eles não pudem fazer isso. — Falei indignada.
— Foi o que eu falei, mas eles não podem me ouvir, por isso eu precisava falar com você.
— Lauren... — Eu e a Latinha olhamos pro final do corredor de onde vinha a voz.
— Só um minuto. — Falei sem graça.
— Nossa... Não perdeu tempo. — Camila falou parecendo estar magoada.
— Na... Nãoooo, ela é que foi entrando aqui em casa, ela ficou trancada pra do apartamento. — Tentei explicar o mais rápido que pude.
— Eu entendo, não precisa me explicar.
— Não você não tá entendendo, ela só está usando o banheiro.
— A voz parecia que vinha do quarto. — Franzi o cenho e olhei pra porta do meu quarto que estava a alguns passos de distância.
— Ela disse que só ia usar o banheiro.
— Lauren vem aqui? Eu quero te mostrar uma coisa. — Calça, camiseta, sutiã e calcinha foram jogados do meu quarto, a saliva quase nem desceu pela minha garganta.
— Eu juro que eu não sabia. — Falei baixo pra Camila e ela cruzou os braços e me olhou incrédula.
— Não sabia que ela estava nua sua cama?
— Não. — Olhei rápido pras ruas caídas no chão e voltou a olhar pra Camila.
— Tá imaginando como ela é sem roupa? — Perguntou desconfiada.
— Não é claro que não. — Respondi com a voz trêmula.
— Nem um pouco? — Ela fez um sinal com o indicador e o polegar.
— Não o suficiente pra ir lá olhar.
— Eu já sei, eu vou até lá e olho pra você.
— Por favor Camila não.
— Relaxa. — Deu as costas e foi andando em direção ao quarto.
— Camila volta aqui. — Falei baixo pra Katrina não escutar, a morena se encurvou e metade do corpo passou pela porta.
— Hum... Ela tem uma tatuagem na bunda. — Falou Camila divertida. — Diz "Todos à bordo"
— Sério?
— E em três idiomas. — Falou enquanto caminhava até mim e parou na minha frente.
— Engraçadinha.
— Ela é tão culta. — Camila falou irônica.
— E você tá com ciúmes. — Falei debochada.
— Fala sério né? — Tentou parecer indignada.
— Tá falando com alguém? — Katrina falou saindo do quarto enrolada na minha toalha, olhei pra suas pernas malhadas.
— Olha pra cima Lauren. — Camila falou apontando o dedo pro seus olhos.
— Olha me desculpa se eu estou forçando a barra, mas esse é o meu estilo. — Falou Katrina e eu e Camila ficamos encarando a mulher. — As vezes eu penso em você aqui tão sozinha, então eu pensei "talvez ela seja solitária" eu também sou, será que é errado eu querer alguém? — Ela Perguntou inocente, Camila virou e olhou pra mim.
— Lauren manda a ver.
— O que? — Perguntei confusa.
— Vai em frente e fica com ela, é o que vocês dois querem.
— Não, não é o que eu quero.
— Está tudo bem? — Katrina perguntou confusa. — Se quiser tomar alguma medicação primeiro por mim tudo bem.
— Vai lá... Ela é linda, solteira e tá bem aí na sua frente e eu atrapalhando. — Virou as costas e saiu andando.
— Não... Camila espera... Camila.
— Meu nome é Katrina. — Olhei novamente pra mulher e a toalha que cobria seu corpo estava no chão, arregalei os olhos e virei de costas, de forma educada e gentil pedi para Katrina se vestir e ir esperar o chaveiro no apartamento dela, ela pareceu frustrada, se enrolou na toalha no corpo e recolheu suas roupas do chão, a acompanhei até a porta e ela me deu um beijo na bochecha antes de sair.
Subi até o terraço com medo de que Camila tivesse ido embora, mas ela estava ali sentada no parapeito olhando a cidade pigarrei pra chamar sua atenção já que ela parecia estar em outro mundo.
— Já? Foi rápida. — Ela falou.
— Não aconteceu nada. — Me aproximei me encostando no parapeito ao lado de Camila, ficamos alguns segundos em silêncio. — Eu não fiquei com mais ninguém depois que ela morreu. — Meus olhos começaram a lacrimejar. — Ela estava chingando o sapato porque o salto tinha quebrado. — Ri lembrando da cena. — Ela sentou e colocou a mão na cabeça.
— Hemorragia Cerebral? — Camila perguntou e eu não respondi.
— Não pude fazer nada pra ajudar. — As lágrimas já estavam escorrendo pelo meu rosto. — Ela já tinha ido... Eu não pude nem me despedir... Ela se foi.
— Como ela era?
— Muito chata. — Ri secando as lágrimas. — Ela deixava o carro sem gasolina, implicava quando eu deixava a toalha molhada em cima da cama e as roupas espalhadas. — Ficamos em silêncio novamente até que ela o quebrou.
— Sinto muito Lauren.
— Sua mãe não assinaria os papéis assinaria?
— Eu não sei, mas espero que não... Isso também não vai importar se eu não acordar logo, minha atividade cerebral diminui a cada dia.
— Qual é... Você é a inteligente aqui, vai conseguir trazer você de volta.
— Você não é burra Lauren, só é um pouco lenta, bonita mas lenta. — Rimos.
— Eu nem sempre fui assim.
— E como você era?
— Vem comigo, quero te mostrar uma coisa.
Dirigi por algum tempo e estacionei em frente à uma enorme casa, peguei as chaves no porta luvas e entrei pelos fundos.
— Vc está invadindo? — Camila perguntou.
— Não se preocupe... Você disse que ama jardins. — Ela olhou em volta, parecia encantada com o enorme jardim florido que cobria grande parte.
— Que lugar é esse?
— Eu que fiz. — Disse orgulhosa e ela me olhou confusa. — Esse costumava ser o meu trabalho, era paisagista, trabalhava na empresa do meu pai.
— Lauren eu já estive aqui. — Falou enquanto eu a seguia pelo jardim.
— Como assim?
— Eu sei que pode parecer estranho, mas eu sonhei com esse lugar... Essas flores, tudo isso é lindo. Que alegria poder ter o dom de criar um lugar como esse. — Ela parou na minha frente e nossos olhares se encontraram.
— Era sim. — Suspirei
— E vai ser de novo?
— Claro...
— Promete. — Estendeu a mão para que eu apertasse, fiquei pensando um pouco e então estendi minha mãe, meu coração se aqueceu quando minha mão encostou na dela, ela olhou pra nossas mãos que estavam em um encaixe perfeito. Nós encaramos e nenhuma de nós conseguiu falar, aquele momento era apreciado por nós e apenas o silêncio como testemunha... Meu celular tocou nos tirando daquela conexão, ri visualmente nervosa ao me atrapalhar ao pegar o celular no bolso de trás da calça.
— Alô...
— Oi Lauren aqui é a Grace.
— Aconteceu alguma coisa?
— Só tô ligando pra te parabenizar, você é a garota mais sortudo de Miami.
— Obrigada mas porque? Do que está falando?
— Boas notícias... O apartamento é seu e querem fazer um longo contrato.
— Longo quanto?
—Muito muito longo, vou te mandar o contrato. — A corretora parecia bem animada.
— Espera... Porque querem fazer um contrato longo?
— É uma longa história, parece que a inquilina está em coma e vão desligar os aparelhos. Mas não precisa se preocupar que eles vão deixar o sofá que você tanto gostou. — Não esperei ela falar mais nada e encerrei a chamada.
— O que foi? — Camila perguntou curiosa.
— Temos que falar com a sua mãe. — Falei tentando parecer o mais calma possível.
— E o que vai dizer a ela?
— Sabe de algum podre dela, quem sabe eu não consigo chantagear ela. — Camila me olhou incrédula...
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