Agora eu sabia o porquê de eu não lembrar da Megan. Eu não queria lembrar.
Era uma loira metida que não precisava de carta pra se declarar para Draco, ela fazia isso se esfregando nele. Sim, como um cachorro no cio. E aquele batom vermelho deixava marcas no pescoço branco dele toda vez que ele entrava na aula atrasado. Eu queria matar aquela vadia.
Eu não tinha ciúmes dele. Nunca tive. Mas aquela garota me tirava do sério, e era só ela. Nem mesmo Pansy Parkinson conseguia o efeito que ela tinha e mim.
Por mais que tudo isso estivesse passando pela minha cabeça, entrei na balada como se nada tivesse acontecido.
Draco era meu amigo havia muito tempo. Eu não me recordava ao certo, mas fazia pelo menos uns cinco anos que nos conhecíamos. Acho que eu já disse isso, mas ele era orgulhoso, frio e egocêntrico.
E se tinha algo que Draco Malfoy adorava eram festas. Música alta, gente dançando, garotas se esfregando aos seus pés. Ele tinha essa necessidade de ter gente o venerando. Já eu, era arrastado para as baladas com ele só porque eu não tinha nada pra fazer. Normalmente eu me sentava com um copo de bebida na mão e observava as pessoas.
Na verdade, era exatamente o que eu estava fazendo no momento. A batida da música parecia interminável e eu estava sentado em um pequeno sofá ao lado do bar, enquanto todos estavam na pista de dança. Foquei em Draco, ele estava dançando com duas garotas, uma delas era Megan e ela estava, provavelmente, três vezes mais bêbada que ele.
Acho que o olhei por tempo demais por quê, em algum momento, ele saiu do meio das pessoas e agachou ao meu lado na poltrona.
- Você não vai vir dançar? - A voz dele vacilava.
- Eu estou bem aqui, obrigado - Respondi.
- Mas eu não gosto de te ver aqui, sentado. - Ele fez biquinho e eu sorri de lado.
- Você - Coloquei o dedo indicador em seu ombro. - Você parece muito feliz no meio daquela gente toda. - Olhei para as garotas que estavam dançando com ele alguns instantes atrás. - E elas parecem infelizes em te ver aqui, comigo.
- Eu não ligo pra elas. - Ele olhou para baixo e murmurou.
- Eu sei. Na verdade, não tem muita coisa que você ligue né, Draco? - Dei risada.
- Ainda assim, eu não gosto de te ver aqui. - Ele repetiu.
- Por que? - Perguntei, por fim.
- Eu tenho vontade de te beijar e você nunca está bêbado o suficiente ou dançando comigo.
Eu estava bêbado o suficiente, se eu não estivesse, não teria dito a seguir:
- Ah, é? Então beija.
Eu encarei aqueles olhos verdes esmeralda por alguns instantes antes de seus lábios tocarem os meus e uma de suas mãos tocar a minha nuca. Aquilo era inesperado.
A batida da música de fundo entrava em contraste com a calma com que Draco me beijava, suas mãos puxando levemente o meu cabelo, me fazendo arrepiar. Eu não sabia o que sentir, então só estava aproveitando o momento, enquanto ele me fazia delirar sem eu nem mesmo saber.
- Harry Potter, - Ele sussurrou com os lábios ainda tocando os meus - Quem diria, não é mesmo?
Draco sorriu, se levantou e voltou para o meio da pista de dança como se ele nunca tivesse ao menos falado comigo. Eu estava sonhando, não é?
.
.
.
Abri os olhos e encarei o teto, eu conhecia aquela tintura impecável. Era o quarto de Draco. Olhei para o lado e vi o chão um pouco longe demais. Eu sempre dormia no chão quando dormia na casa dele. Por que estava em sua cama agora? Olhei para o outro lado, vi cabelos platinados. Draco? Que merda havia acontecido.
Eu ainda estava de calça, isso era um bom sinal. Me sentei na cama. Parecia tudo normal, como sempre. A única diferença era uma dor de cabeça infernal. Eu nunca tinha tido isso. Eu nunca bebia a esse ponto.
Desci as escadas para a cozinha e coloquei a máquina de café para funcionar. Enquanto esperava olhei para cima e enquadrei o relógio, três da tarde. Tentei me lembrar do que havia acontecido na festa, mas minha cabeça doía.
Bebi o café silenciosamente e vi Draco descer as escadas. Ele puxou uma xícara do armário, colocou café para si, bebeu um gole e depois me olhou.
- Acho que a gente precisa conversar sobre ontem.
Com a ajuda do café, me concentrei.
Lembro de ter visto Megan e lembro de ver Draco dançando. Lembro dos seus lábios e de como tudo pareceu calmo quando ele me beijou. Estava esperando uma reação desesperada do meu ser, mas tudo o que eu encontrei foi meu coração batendo mais rápido.
Lembrei da escola toda estar dançando e eu só observava. No meio da madrugada, Draco me puxou para fora do lugar e nós fomos para a minha casa. Eu tinha duas garrafas de vinho e nós acabamos com as duas. Lembro da gente dando risada para o nada e dele me contando sobre o quanto ele esperava me ver bêbado para poder dar risada da minha cara e eu fiquei relembrando ele de todas as merdas que ele já havia feito só para cairmos na gargalhada igual dois retardados. Eu não me recordava de ter me divertido assim nunca na minha vida.
Em algum momento da nossa contação de histórias, eu segurei seu rosto e o beijei de novo. Continuamos assim por vários minutos.
"- Isso vai deixar uma marca." - Ele sussurrou no meu ouvido.
Passei a mão no meu pescoço e senti um ponto levemente dolorido. Um chupão.
Ele olhou no relógio do celular e comentou que o pai dele nos mataria se ele chegasse em casa e nós não estivéssemos lá, dormindo.
Então andamos até a sua casa e entramos de fininho no quarto. Ele se deitou na cama e eu, sem perceber, me joguei ao seu lado.
E então, era de manhã.
.
- Harry? - Draco chamou, sua voz rouca.
Saí do meu transe e o encarei.
- Conversar por que? - Eu fiz a pergunta mais estúpida de todas.
Coloquei minha xícara de lado e continuei o encarando. Sua pele era pálida demais, olhos verdes demais, cabelos loiros demais... Era demais para mim.
Ele se aproximou, o suficiente para eu sentir sua respiração. Ele era alguns sentimentos mais alto.
- Porque você precisa deixar... - Ele sussurrou.
- Deixar? - Repeti.
- Eu te marcar mais.
Foi tão convicto que me assustou. Mas eu me sentia corajoso como um leão, mesmo que não me parecesse, nem sequer um centímetro, como um.
Nossos olhos não se desgrudavam, mesmo assim virei o pescoço levemente para o lado, expondo minha pele sem camisa.
Ele começou beijando meu ombro e seguiu caminho para a base do meu pescoço. Meu coração batia rápido, me sentia uma pequena presa sendo envolta por uma cobra que estava prestes a dar o bote. Ele marcou a linha do meu pescoço e, subitamente, me chupou forte, marcando os dentes na minha pele.
- Isso vai deixar outra marca.
Voltei minha cabeça na sua direção e o puxei para um beijo.
Eu estava entrando em sua brincadeira. Minha vida era monótona demais, pacata demais, levada por cabelos loiros e olhos verde esmeralda. Eu queria que ela fosse marcada verdadeiramente, que fosse diferente daqueles últimos cinco anos. Queria me lembrar de quem era Harry Potter, mesmo que fosse somente com Draco Malfoy.
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