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História Eclipse Lunar - Único


Escrita por: shesdreamin e KgFanfics

Notas do Autor


To atrasada de novo, cadê a surpresa? q

Mais uma vez o meu muito obrigada para o @dongyoung que fez essa capa maravilhosa ♡

Capítulo 1 - Único


Yixing se lembrava perfeitamente da primeira vez em que acampou com o seu pai. Tinha seus 8 anos quando se enfiaram entre algumas árvores no que ele acreditava ser a selva – mais tarde descobriu que se tratava de uma área de camping – e desde então isso se tornou uma tradição.

Por anos tudo aconteceu assim: esperava ansioso pelas suas férias e assim que elas chegavam, jogava sua mochila nas costas – previamente preparada para aquela ocasião, um espaço sempre garantido para algumas barras de chocolate – e na companhia do pai, do tio e do primo Luhan, iam para o espaço já conhecido, onde passavam dois ou três dias dormindo em barracas, nadando em riachos e admirando o céu estrelado durante parte da noite.

Mas o tempo passou e as coisas mudaram muito mais do que ele gostaria. Aos 14 anos o menino viu seu pai adoecer, sendo tragado aos poucos pela enfermidade que enfraquecia o corpo magro e o impedia de fazer tudo e qualquer coisa. Não muito tempo depois, ele sucumbiu.

Naquela quarta-feira à tarde, ao receber a notícia, foi a vez de Yixing ceder. As lágrimas vieram em uma torrente, o corpo todo tremendo enquanto soluços sofridos escapavam por entre seus lábios, tentando se livrar de toda aquela dor que sentia.

Desde então o garoto não voltara a acampar, assim como não voltara a sorrir com a mesma frequência. Merda!, ele sequer vivia na China agora – a mãe tinha arranjado um bom trabalho na Coréia do Sul e uma oportunidade daquele nível não poderia ser descartada. Toda a sua vida tinha mudado de forma trágica e ele ainda não sabia muito bem como lidar com isso.

Felizmente tinha tido ajuda para se adaptar ao novo país. A língua era a sua principal barreira, mas Kim Jongin o ajudou muito naquilo. O rapaz tinha vivido na China por cerca de dois anos com a família, se tornaram grandes amigos naquele tempo e mesmo quando o Kim voltou para o seu país de origem, mantiveram contato.

Ali, na Coréia do Sul, moravam a três quadras de distância um do outro e estudavam juntos, o que apenas contribuiu para que tornassem ainda mais próximos.

Tinha seus 18 anos agora, em aproximadamente um mês começaria o seu último ano no ensino médio e tinha total domínio sobre aquele idioma que por meses tinha sido o seu pior pesadelo. Vez ou outra acaba se enrolando na pronúncia de algumas palavras, é claro, mas isso não tinha tanta importância.

Com o corpo jogado sobre o sofá e a mente sendo totalmente tomada por tais recordações, ele sequer se deu conta de que seu celular tocava não muito longe de si. Quando agarrou o aparelho ao despertar dos seus devaneios e viu o nome do primo piscando na tela, o chinês praguejou baixinho.

Se pôs de pé às pressas, saindo de casa aos tropeços enquanto passava os olhos pelas mensagens enviadas por Luhan, a maior parte delas contendo dezenas de xingamentos.

Tinha se comprometido a buscar o primo no aeroporto – que passaria alguns dias na Coréia do Sul, o que já tinha se tornado um hábito – e estando totalmente imerso em seus próprios pensamentos, não percebeu o seu atraso.

Poucos metros adiante da sua casa, ouviu quando seu vizinho irritante, Oh Sehun, chamou pelo seu nome. Tratou de ignorá-lo no mesmo instante, como geralmente fazia, não dando qualquer importância ao que ele dizia em seguida. Tinha algo mais importante para fazer, por que perderia seu tempo se estressando com o rapaz?

Simplesmente seguiu o seu caminho e depois de alguns minutos de corrida – o que já fazia o seu coração arder dentro do peito –, ele finalmente chegou no aeroporto.

Não foi muito difícil para ele encontrar o rosto do primo entre todas aquelas pessoas. Luhan tinha um bico emburrado nos lábios, provavelmente descontente por ter sido obrigado a esperar pelo outro. Não muito tempo depois a carranca se desfez e os dois se abraçaram.

O Zhang não morava muito longe do aeroporto, então optaram por ir caminhando. O clima era agradável, os dois conversavam sobre tudo e qualquer coisa, colocando o assunto em dia entre risadas e lembranças felizes. Já estavam quase na entrada da casa de Yixing quando foram interrompidos.

– Olha só quem apareceu! – Era Sehun quem dizia, parecendo se projetar na frente dos dois chineses do nada. – É bom te ver de novo, hyung.

– É bom te ver também, Oh. – Luhan sorriu ao dizer aquilo. – Senti a sua falta.

Enquanto os dois mergulhavam em uma conversa animada, Lay continuou o seu trajeto. Não se dava muito bem com Sehun e isso não era um grande segredo para ninguém, por tanto optou por simplesmente ignorar a sua presença ali.

– Você realmente é primo desse idiota? – Ele pôde ouvir o Oh dizendo, mesmo já estando na sala de estar da sua casa. – Sério, hyung, me recuso a acreditar que vocês são parentes.

Desejou voltar para lá apenas para que pudesse socar alguém – e esse alguém seria Luhan, que ria escandalosamente de alguma coisa dita pelo coreano, mas dessa vez Yixing não conseguiu entender.

Ótimo, pensou, agora além de dividir o meu melhor amigo com aquele idiota, vou ter que dividir o meu primo também.

[...]

– Você já preparou as coisas para o nosso acampamento? – Luhan perguntou ao entrar na cozinha, onde encontrou o primo com um sanduíche em mãos. Tinha acabado de desfazer suas malas e seu estômago roncava.

– Eu já disse que não vou, nós não vamos ter essa conversa mais uma vez – Yixing anunciou. Sua expressão era relaxada, quase desinteressada, mas o outro conseguia enxergar a dureza em seu olhar. – Prepare alguns sanduíches, você deve estar com fome.

O mais novo suspirou irritado. O primo vinha tirando a sua paciência com esse assunto há semanas. Tinha deixado sua decisão bem clara e esperava que o outro não fosse voltar a tocar no assunto... Ah, como ele queria um pouco de paz.

Luhan por sua vez limitou-se a concordar e passou a preparar seus sanduíches em silêncio, oferecendo mais um ao primo. Deu uma mordida grande e voltou a encará-lo, pronto para retomar o assunto.

– Você vai, já avisei sua mãe e ela concordou. – Curvou-se sobre o balcão, voltando a falar antes que Lay tivesse a chance de rebater. – Vamos lá, eu tenho certeza de que você sente falta. Você sempre amou acampar, Yixing.

– Eu não sei se é uma boa ideia, Luhan. É claro que eu sinto falta, mas eu não tenho certeza de como eu me sentiria acampando de novo – confessou. – A ideia de fazer isso sem o meu pai é meio assustadora, sabe?

– Eu entendo, Yixing, assim como entendo que deve ser difícil por conta de todas as memórias. Mas você não pode deixar de fazer algo que ama por não saber lidar com a sua dor... Você precisa superar.

Fez-se silencio por algum tempo. O Zhang estava pensativo, ponderando sobre aquilo. Talvez Luhan estivesse certo. Ele realmente sentia falta de se enfiar entre as árvores, passar a noite observando as estrelas e sentir o calor da fogueira aquecendo seu corpo.

– Tudo bem – ele disse por fim. – Mas se eu achar que não consigo mais fazer isso, eu vou voltar.

– Ótimo. – Luhan concordou empolgado, engolindo rapidamente um último pedaço do seu sanduíche apenas para que pudesse falar logo. – Além disso, não iremos sozinhos. Jongin e Minseok toparam, vai ser divertido. Ah, o Sehun também vai.

Yixing arregalou os olhos, desespero o consumindo ao engasgar com um pedaço do pão. Passou a tossir no mesmo instante, o corpo curvado para frente enquanto tentava se livrar daquele incomodo que o impedia de respirar devidamente. Sentiu as palmadas do primo nas suas costas como auxilio, se deparando também com um copo d’água. Tomou todo o líquido de uma vez, aliviado ao sentir a garganta livre mais uma vez.

– Você só pode estar brincando – resmungou, a respiração ainda ofegante. – Ele não vai, Luhan. Se ele for, eu não vou.

– Deixa de besteira, Lay. Essa implicância entre vocês já foi longe demais, não acha? Vocês são colegas, vizinhos, tem o mesmo círculo de amigos. Vocês são tão infantis!

– Não é infantilidade! Ele é um grande idiota e faz de tudo para me irritar, você sabe muito bem disso. Até meu melhor amigo ele tenta tirar de mim!

– O seu melhor amigo também é o melhor amigo dele, eles se conhecem desde a infância. Jongin não precisa ser disputado, ele pode dar atenção para os dois. – Luhan tinha um sorrisinho convencido nos lábios ao dizer aquilo, divertindo-se ao ver o primo bufar irritado. – E se vocês se dessem bem, as coisas seriam mais fáceis.

Yixing retrucou baixinho, palavras de baixo calão – tanto em chinês quanto coreano – sendo pronunciadas. Rindo da situação, o mais velho resolveu provoca-lo ainda mais.

– Eu já te disse antes e repito – ele começou. – O que realmente existe entre você e o Sehun é atração. Tesão reprimido, sabe? Nada que uns beijinhos não resolvam.

Lay sentiu o seu rosto queimar, só não sabia se pela vergonha que sentia depois de ouvir aquilo ou pela raiva. Não seria capaz de negar que sentia uma grande atração física pelo Oh, ele era lindo e tinha um corpo de dar inveja em qualquer um. Apenas a ideia de tocá-lo de uma forma mais íntima fazia com que todo o seu corpo se arrepiasse.

“Isso é um absurdo! Pare de refletir sobre besteiras como essa, Yixing.”, repreendeu-se mentalmente. Se ergueu da cadeira às pressas, tentando se livrar de todos aqueles pensamentos e pronto para dar uma pancada no primo que agora corria entre gargalhadas pela sua casa. Ah, ele definitivamente mataria aquele idiota.

 [...]

Yixing estava, sem sombra de dúvidas, bastante infeliz. Depois de três dias inteiros tendo que aturar as besteiras do seu primo, o chinês acabou por ceder e aceitar a presença do Oh no tal acampamento. Tentou lutar contra isso de todas as formas, é claro – acrescentando boas doses de drama e exagero –, mas Luhan era persistente e não voltou atrás. Agora estava ali, ao lado do seu vizinho irritante, uma mochila pesada nas costas e os pés doloridos por conta da caminhada que parecia não ter fim.

Tinham tido um dia relativamente agradável ali. Exploraram o lugar, correram entre as árvores e até mesmo se arriscaram a mergulhar na cachoeira que encontraram por ali – o local era seguro, tinham se certificado disso.

Obviamente o clima de paz não perdurou por muito tempo. O Oh acidentalmente derrubou as roupas e o tênis de Lay na água e assim a confusão começou. O chinês tinha certeza de que aquilo tinha sido proposital e não hesitou em partir para cima do outro.

– Quando é que você vai parar com essas brincadeiras idiotas, Sehun? – Disse com os dentes cerrados, o tom de voz deixando sua irritação evidente. Já vestia roupas secas agora, mas infelizmente não tinha nenhum par extra de tênis. – Você já passou dos 13 anos, por que não para de agir feito uma criança?

– O único agindo feito criança aqui é você. Uma criança birrenta e mal-educada. – O coreano retrucou. Tinha um sorrisinho cínico nos lábios, mas a verdade era que realmente se sentia muito mal. Já começava a esfriar e o calçado molhado certamente faria Yixing sentir ainda mais frio. – Eu já disse que foi sem querer, será que você pode me deixar em paz agora?

As coisas teriam saído do controle se os outros não se intrometessem. O Zhang já se preparava para partir para cima de Sehun quando sentiu os braços de Jongin em sua cintura, impedindo-o de fazer qualquer coisa.

– Você está exagerando, Yixing. Foi apenas um acidente, esqueça isso. – Minseok pediu com falsa tranquilidade. Não tinha paciência alguma para lidar com as briguinhas daqueles dois, tentando a todo custo manter sua compostura.

– Claro, um acidente. – Riu com desdém. Livrou-se dos braços do Kim mais novo e recolheu suas coisas, o tênis molhado lhe causando certo incômodo. – Eu te disse, Luhan, eu disse que ele estragaria tudo.

– Não fale assim, Xing – Jongin pediu com a voz chorosa. Sabia que palavras daquele tipo costumavam afetar e muito seu amigo de infância, definitivamente não queria ter que passar a noite secando as lágrimas do Oh. – Vocês dois são meus melhores amigos, é horrível ter que viver com esse clima pesado entre vocês.

Sehun fungou, o rosto queimando e os olhos ardendo. Mas ele se recusava a chorar, pelo menos na frente de todo mundo. Estava tão empolgado com aquele acampamento, tinha certeza de que se divertiria e ainda por cima teria a chance de se aproximar do seu vizinho. Mas ali estava ele, culpando-se por atrapalhar a diversão dos outros e desejando estar em casa, sozinho, chorando em baixo de suas cobertas e ignorando todos os xingamentos da sua mãe.

– Eu... Eu sinto muito. Eu realmente não queria atrapalhar vocês, eu juro que não. – Ele dizia baixinho, apertando com força as alças da sua mochila.

– Pare com isso, Hunnie, não foi sua culpa. – Luhan sorriu gentilmente, dando alguns tapinhas nas costas do mais novo. – Agora vamos parar com isso, certo? Já vai anoitecer e nós precisamos encontrar um bom lugar para montar nossas barracas. Vamos, pessoal!

[...]

– Você tem certeza de que nós não estamos perdidos, Luhan? – O Zhang perguntou pela quarta vez na última hora. A barriga já começava a roncar e as pernas fraquejavam em uma indicação de que precisava comer, mas tudo que viam ao redor eram árvores. – Eu estou cansado e morrendo de fome.

– É claro que eu tenho certeza! Eu sei seguir as instruções de um mapa idiota, ok? – O rapaz retrucou irritando, balançando o pedaço de papel no ar furiosamente. Talvez tivesse se enrolado um pouquinho no começo, mas culpava o cansaço por isso. – Está tudo sob controle, nós já estamos chegando no lugar onde vamos passar a noite.

O grupo todo se limitou a concordar sem empolgação alguma, todos exaustos demais para iniciar uma nova discussão.

Cerca de 10 minutos bastaram para que finalmente chegassem ao seu destino. O terreno naquela área era plano, com bastante espaço entre a copa das árvores para que pudessem observar o céu se assim desejassem e havia madeira por perto, possibilitando que fizessem uma fogueira quando a noite caísse – era uma área própria para acampamento, pontos principais indicados no mapa e nenhum animal selvagem por perto.

Depois de algum descanso e meia dúzia de palavras trocadas, concluíram que seria melhor se dividirem para cumprir algumas tarefas: Sehun e Luhan buscariam lenha para a fogueira enquanto os outros três montariam as barracas.

Fizeram tudo sem grandes dificuldades e o mais rápido possível. A noite já se aproximava e seria mais complicado realizar essas tarefas sem a luz do sol como auxílio.

Mesmo mais tarde, quando se sentaram juntos ao redor da fogueira e compartilharam parte da comida que tinham, o clima tenso daquela tarde ainda pairava no ar. Nem mesmo a conversa e as risadas foram capaz de tornar as coisas mais leves.

– Eu vou me deitar, rapazes, estou cansado. – Luhan anunciou. Ergueu-se do chão e limpou a calça, esticando todo o corpo logo em seguida. – Nós só temos duas barracas, então temos que nos dividir.

– Aquela ali é um pouco menor – Minseok observou, também se pondo de pé. Estava tão exausto quanto o outro, tudo o que queria era dormir um pouco. – Então duas pessoas ali e os outros três ficam com a maior.

– Nós três ficamos na maior. – Foi a vez se Jongin se pronunciar, se levantando rapidamente enquanto passava um dos braços em torno do ombro do irmão. – Yixing e Sehun ficam na outra.

O Zhang pensou em protestar, mas sabia que seria inútil, por isso se limitou a suspirar irritado e se aproximar um pouquinho mais das chamas, aproveitando-se do calor para aquecer seu corpo.

– Não se matem, por favor. – O Kim mais velho tinha um sorrisinho irônico nos lábios ao dizer aquilo. Estava bastante receoso com aquela situação, é verdade, mas sabia que aqueles dois precisavam de algum tempo a sós, caso contrário nunca se resolveriam. – Vocês deveriam aproveitar esse tempinho juntos, sabia? Conversem, se conheçam um pouco mais... Eu tenho certeza de que vocês passarão a se dar bem se tentarem pelo menos um pouquinho.

Antes mesmo de receber qualquer resposta, afastou-se na companhia do irmão e do amigo, deixando os dois para trás em um silêncio um tanto desconfortável.

Sehun se levantou pouco tempo depois, fazendo o chinês pensar que teria algum tempo de paz, sozinho, mas foi surpreendido quando, alguns minutos depois, o rapaz retornou com copos descartáveis e uma garrafa de vinho em mãos.

Se sentou ao lado do chinês em silêncio, acomodando-se na toalha que estava estendida ali. Abriu a garrafa com facilidade e encheu os dois copos com o líquido rubi, deixando a garrafa a alguns centímetros de si. Estendeu um dos copos para o Zhang, que aceitou sem qualquer receio ou hesitação.

Ele era fraco para bebidas, é verdade, mas naquele momento não se importava. Precisava relaxar e o vinho certamente lhe ajudaria com isso.

Tomaram aquele primeiro copo em silêncio total, o crepitar da fogueira e os roncos de Luhan como trilha sonora.

– Olha. – Yixing sussurrou enquanto o coreano os servia mais uma vez. Ergueu um dos braços e apontou para o alto, para o céu, um sorrisinho surgindo em seus lábios. – Parece que nós escolhemos um bom dia para acampar.

O Oh deixou a garrafa de lado mais uma vez e ergueu os olhos, os arregalando em espanto enquanto ria baixinho. Havia um eclipse lunar acontecendo e dali, de onde estavam, tinham uma vista privilegiada daquele fenômeno.

– É lindo! – Disse baixinho. A lua ainda estava parcialmente coberta, mas ele acreditava que em breve seria totalmente encoberta pela sombra.

O mais velho concordou com uma risadinha abafada, tomando mais um gole do seu vinho. Naquele instante, com o calor das chamas aquecendo seu corpo e um eclipse acontecendo bem acima da sua cabeça, a companhia de Sehun era agradável – e isso era assustador!

– Yixing... – O Oh chamou baixinho. Sentia seu rosto queimar, mas não sabia ao certo se por estar próximo demais da fogueira, pelo efeito do álcool ou pela vergonha que sentia. Independentemente disso, ele era capaz de apostar que suas bochechas estavam vermelhas naquele momento. – S-sinto muito por hoje, eu realmente sinto. Eu juro que foi um acidente.

O outro se limitou a concordar, não querendo tocar naquele assunto novamente ou acabaria se irritando. Mas o mais novo parecia disposto a falar, ele precisava falar.

– Eu fiquei tão animado quando o Luhan me convidou para acampar com vocês – ele continuou. – É a minha primeira vez acampando, sabe? Eu estava contente, tinha certeza de que tudo seria incrível e, com sorte, nós ainda nos aproximaríamos. Mas eu acabei estragando tudo! – Tomou um gole grande de vinho, sua risada sem humor ecoando pelo local. – Você estava certo, eu estraguei tudo, atrapalhei todos vocês. É o que eu sempre faço.

Yixing engoliu em seco, só agora se dando conta do peso que suas palavras tiveram para o outro. Droga, estava irritado, só isso, não queria que ele se sentisse mal. Não queria machucar ninguém.

– Não fale assim, Sehun – pediu, ainda se recusando a olhá-lo nos olhos. – Eu é quem devo me desculpar por ter sido tão duro com você mais cedo.

– Está tudo bem. Você me odeia como todo mundo, não há nada de mal nisso.

O Zhang o encarou pela primeira vez naquela noite. Conseguia sentir toda a dor nas palavras do seu vizinho, na voz falha pelo choro que ele tentava conter a todo custo. Desejou o abraçar e gritar que ele era um grande idiota, que nunca o odiou. Merda, ele jamais seria capaz de odiá-lo, até tinha certo carinho por ele.

– Eu não te odeio, Hunnie. – Conseguiu dizer depois de algum tempo, não se importando em chama-lo pelo apelido. Sentiu uma pontada no peito quando viu o outro negar com a cabeça rapidamente, secando com brutalidade as primeiras lágrimas que molhavam o seu rosto. – Ninguém te odeia. Você tem vários amigos, sua família e...

O Oh teve que conter uma risada, quase cuspindo todo o vinho que tinha na boca.

– Meu pai me abandonou, Yixing, você sabia disso? – Perguntou, vendo o outro negar com os olhos arregalados. – Eu fui um acidente, ele tentou se livrar de mim. Quando a minha mãe se negou a tirar o bebê ele simplesmente fez as malas e foi embora.

Yixing estava perplexo. A verdade é que não sabia muito sobre a vida do seu vizinho, mas jamais imaginaria algo daquele tipo. Sabia que ele vivia com a mãe e ninguém mais, é claro, mas nunca entendeu aquela situação. Sabia também que a situação do rapaz com a mulher não era das melhores, da sua casa conseguia ouvir os gritos e as discussões com certa frequência.

– Ela também não ficou muito feliz com o meu nascimento e faz questão de me dizer isso sempre que possível. – Ele continuou, a visão um tanto embaçada por conta das lágrimas. – Eu ouço isso há tantos anos, Xing, já faz tanto tempo que me dizem que eu sempre estrago tudo, então só pode ser verdade, não é?

– Não, não é! – O chinês disse um pouco alto demais, tomando o resto de vinho que tinha no seu copo em uma tentativa falha de conter seus nervos. Estava sendo doloroso ver o Oh naquela situação, obrigando-o a conter as próprias lágrimas.

– A única pessoa que eu tenho é o Jongin. Ele é como um irmão para mim, foi com ele que aprendi o realmente é uma família. – Sehun sorria agora, a tristeza sendo substituída por todas as lembranças boas que tinha com o seu melhor amigo. – Você pode imaginar como foi difícil para mim quando ele se mudou para a China? É por isso que eu sempre impliquei com você, que sempre tentei afastar vocês dois. Eu tive medo de que você o tirasse de mim, de que ele te escolhesse e me deixasse de lado. Eu ficaria sozinho se isso acontecesse.

O rapaz encolheu suas pernas, fungando enquanto tentava conter as lágrimas mais uma vez.

O Zhang por sua vez suspirou e, deixando todos os seus temores de lado, tomou a iniciativa de se aproximar um pouquinho mais do coreano, passando a acariciar suas costas em uma tentativa de reconforta-lo.

– Você nunca vai estar sozinho, Sehun. Como você mesmo disse, você e o Jongin são como irmãos e ele nunca vai te deixar. Você sabe disso, não é? – Perguntou baixinho, sorrindo satisfeito ao vê-lo concordar. – Além disso, você tem também o Minseok e até mesmo o meu primo, ele te adora!

O Oh riu baixinho, aproveitando a carícia do outro. Nunca tinha se imaginado em uma situação como aquela, onde se abria com Yixing e era reconfortado pelo mesmo. Todas as suas diferenças e discussões pareciam ter sido esquecidas naquele momento e ele realmente gostava disso.

– E sabe, você também tem a mim. – O chinês continuou, um sorrisinho discreto surgindo em seus lábios. Era estranho dizer algo assim para o mais novo, mas era bom. – Já está mais do que na hora de esquecermos todas as nossas desavenças, você não acha? Acho que podemos ser ótimos amigos.

Quando o mais novo concordou animado e sorriu, Yixing sentiu algo dentro de si se agitar. Ora, nunca negou a beleza do seu vizinho, mas o vendo daquela forma, tão vulnerável e sensível, com a ponta do nariz vermelho por conta do choro e os olhinhos apertados pelo sorriso grande que tinha nos lábios, teve a certeza de que Sehun era a pessoa mais bonita que já viu em toda a sua vida.

– Eu tentei te odiar por muito tempo, mas eu nunca consegui. – Era Sehun quem falava mais uma vez. Baixou os olhos e encarou as próprias mãos, sentindo seu estômago revirar. – Eu te vi cantando uma vez, sabe? Você estava com o Jongin na sua casa e eu fui até lá, então eu encontrei vocês dois juntos, cantando. Já faz mais de um ano agora, mas eu me lembro perfeitamente desse dia e até mesmo de como eu me senti. Desde então eu passei a te admirar secretamente. – Ele gargalhou, sentindo-se ridículo por confessar aquilo. Mas já que tinha começado, teria que ir até o fim. – Eu parei de prestar atenção nos seus defeitos e passei a enxergar todas as suas qualidades. A sua voz se tornou a minha preferida, a sua risada, o seu sorriso...

– O que você está dizendo, Sehun? – O Zhang perguntou com os olhos arregalados, surpreso com tudo que ouvia. Mas, de alguma forma, sentia-se bem com tudo aquilo, o que o assustava ainda mais.

– Eu estou dizendo que você se tornou uma das minhas pessoas favoritas no mundo, Yixing, mesmo que eu nunca tenha demonstrado. – Suspirou frustrado, só então se dando conta de que poderia destruir aquela amizade que mal tinha começado com tudo aquilo que dizia. – Eu só... O que eu quero dizer, é que estou muito feliz por nos darmos bem.

O Zhang concordou, se esforçando para conter um sorrisinho. Se esticou de modo que alcançasse seu copo mais uma vez e bebeu todo o conteúdo que havia ali, sentindo o seu corpo se aquecer por conta do álcool.

– Sabe o que o Luhan me disse um dia desses? Que toda a implicância entre a gente é resultado de tesão reprimido. – O chinês riu alto ao dizer aquilo, não se preocupando com o fato de que poderia acordar os outros. Se sentia tímido por dizer aquilo em voz alta, é claro, mas a bebida já ingerida começava a afetar sua mente, deixando-o mais solto. – Eu me pergunto se isso é verdade. O que você acha, Sehun?

– É um ponto válido. O que nós deveríamos fazer sobre isso?

Encarando toda aquela conversa como um sinal verde, o Oh tomou a liberdade de se aproximar um pouco mais do outro, encaixando suas pernas de modo que os rostos estivessem bem próximos, nenhum dos dois se permitindo desviar o olhar.

– Ele disse que alguns beijinhos resolveriam tudo. – Yixing sorriu, dessa vez encarando os lábios bonitos do mais novo. Umedeceu os próprios com a pontinha da língua e suspirou. – Eu posso te beijar, Sehun?

O Zhang esperou que o coreano concordasse e curvou-se superficialmente para a frente, até que suas bocas se encontrassem. O selar inicialmente sutil avançava aos poucos, até que as línguas se encontraram e o beijo se tornou mais necessitado, mais faminto, o gosto do vinho parecendo deixar tudo ainda mais gostoso.

Agarrou os fios negros do cabelo de Sehun e puxou-os sem muita força, colando os corpos da melhor maneira que pôde. O Oh por sua vez levou as mãos grandes até a cintura do chinês, descontando tudo aquilo que sentia naquela região, o que só tornava o ósculo ainda mais desesperado.

Só se afastaram quando o ar se fez necessário e depois de se encararem por um longo tempo, gargalharam escandalosamente. Aquela era uma situação, no mínimo, inusitada. Tinham passado anos brigando e agora estavam ali, trocando beijos e carícias perto da fogueira.

Depois de mais alguma conversa enquanto assistiam o eclipse, com muito carinho e beijinhos, eles finalmente resolveram ir dormir. Na manhã seguinte teriam que encarar uma enxurrada de perguntas sobre a proximidade criada do nada entre os dois, mas realmente não se importavam. Tinham deixando todas as desavenças para trás, abrindo portas para que passassem a se conhecer melhor.

E mesmo que antes não se dessem conta de que realmente desejavam e precisavam daquilo, estavam felizes. Sentiam-se mais leves, incapazes de conter aquele sorrisinho que enfeitava seus rostos.

Ambos se sentiam ligeiramente confusos sobre tudo o que acontecera e a relação dos dois, mas deixariam aquilo para depois.

No fim das contas, Yixing decidiu que precisaria agradecer Luhan no outro dia, talvez até mesmo dividisse uma de suas barras de chocolate com ele. Passou o dia todo se lembrando do seu pai, é verdade, mas eram lembranças boas que faziam com que se sentisse feliz, então o acampamento realmente tinha sido uma ótima ideia. E convidar Sehun para acompanha-los? Ah, tinha sido um acerto ainda maior! Sim, definitivamente teria que agradecer o seu primo.


Notas Finais


E foi isso. Se não for pedir muito, deixa sua opinião aí nos comentários, vai me fazer muito feliz.

A intenção era que essa fic fosse só fluffy, mel e felicidade, mas eu preciso incluir umas lágrimas pra ser feliz, perdão q

Muito obrigada @Indelikaido pelo plot, realmente espero que você tenha gostado (e perdão desde já aoksaosk).


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