História Efeito Borboleta 《HIATUS 》 - Segredos - Lucas

Depois de sair de casa, chamo um taxi e sigo direto para o hospital onde a vovó se encontra.

Me sinto um pouco nervoso, pois seu estado de saúde é um pouco crítico. Vou sentir muito a falta da vovó, já que os medicos falaram assim que ela foi interneda, que seu tempo de vida não seria muito. Mas, por outro lado, penso mais em como o Nathan irá ficar... Ele sabe da doença mas ainda não sabe da situação em que a vovó se encontra, mas dependendo do que os medicos falarem, irei contar para ele.

Tudo que eu faço é para o bem dele, talvez ele não entenda, mas eu quero poupar o máximo possivel de fazer o Nathan sofrer.

Depois do acidente onde nossos pais faleceram, Nath ficou mais frágil e sinto cada vez mais que devo protege-lo.

                   (...)     

Chegando no hospital, vou até o quarto onde a vovó está, para poder faze-la uma visita. No turno da noite, o hospital se torna mais tranquilo, quase sem pessoas pelos corredores... Com certeza o que o médico tem a falar não é nada bom... Seja positivo Lucas, seja positivo.

Olho pela "janelinha" da porta, para confirmar se a vovó ainda está acordada, então bato na porta como um aviso de que estou entrando.

- Boa noite. - falo com um sorriso aparente.

- Boa noite Lucas. - me responde com um tom de voz baixo e um sorriso entre dentes. - O que faz aqui a uma hora dessas? - pergunta com uma expressão de duvida.

- Um medico ligou me chamando, Nathan queria vir então demorou um pouco para convence-lo de que nao seria uma boa ideia. - falo tomando uma expressão seria em meu rosto, me dirigindo até uma poltrona ao lado da cama, dou um beijo em sua testa e me sento logo em seguida - Mas me diga, como a senhora se sente?

- Como posso dizer... - fala voltando sua atenção para o teto, como se ali estivesse a resposta para todas as perguntas - Não é nada bom ter que passar o dia todo aqui Lucas, deitada, imóvel - suspira pesado - porem não sinto dores, graças as medicações diárias, injeções... Não sei por quanto tempo ainda aguentarei - não é nada bom ver a vovó nesta situação, mas tenho que me manter forte, por ela, por Nathan e até por eu mesmo... - E lá em casa, como vão as coisas? Como está o Nathan? - muda sua expressão seria e triste para um sorriso aparente voltando seu olhar para mim. Me ajeito na poltrona e respondo.

- Estou conseguindo manter a casa em ordem - dou uma risada em meio um suspiro - E Nathan continua como sempre... - sou interrompido ao ver a porta ser aberta pelo medico responsável pela vovó.

- Lucas? - pergunta olhando para os papéis que tem em mãos e em seguida me encarando.

- Sim, sou eu.

- Me acompanhe por favor.

- Sim - falo ja me levantando, dou um beijo na testa da vovó - Boa noite vovó, durma bem... - me viro rumo a porta para sair quando a vovó pega em meu braço, me fazendo parar e encara-la

- Meu filho, por favor, conte ao Nathan toda a verdade - a verdade?

Dou um suspiro e confirmo com a cabeça, logo em seguida saindo do quarto... O médico me leva até uma sala onde julgo ser sua sala de atendimento e logo me lança um olhar preocupado.

- Lucas, eu lhe chamei aqui, por que todos os exames da sua avó já foram concluídos...

- E então doutor? Já existe uma estimativa do tempo de vida dela? - pergunto aflito

- Sim... E este é de 3 meses... - a doença da vovó é um câncer, quando descoberto, já estava em um grau um tanto que avançado, o medico disse que ela poderia optar por um tratamento para prolongar sua vida por mais alguns meses ou voltar para casa e esperar até que sua hora chegue. Infelizmente esta não é uma decisão em que eu possa tomar e antes de eu ser informado o médico já havia conversado com a vovó (ele pediu desde o inicio que fosse sempre informada de sua condição de saúde, antes mesmo de qualquer outra pessoa), e ela decidiu que não quer fazer o tratamento...

- Mas por que? - pergunto indignado ja com lagrimas nos olhos

- Foi uma decisão dela Lucas, não há nada que possamos fazer... Na semana que vem ela ja será liberada - hoje é quinta feira, o médico disse que ela ainda precisa fazer alguns exames e ficar sob acompanhamento medico por pelo menos mais 5 dias, então ela será liberada na quarta pela manhã.

- Tudo bem então - falo limpando as lagrimas, parecendo conformado, mas no fundo não estou. Afinal, quem estaria?

Saio do hospital e chamo um taxi para voltar e no caminho vou me lembrando do que a vovó falou....

"Meu filho, por favor, conte ao Nathan toda a verdade"

Do que ela estava falando afinal? Será que... era sobre... aquilo? Não há nada além daquilo que o Nathan não saiba... Ele sabe que a vovó esta doente e sabe qual a sua doença tambem... Ele sabe também que o grau do câncer já está avançado e que ela pode falecer a qualquer momento... Então ela só pode está falando sobre aquilo...

Nós moramos atualmente em uma cidade do interior, próximo a Tóquio. Antes de nossos pais falecerem nós morávamos em Tóquio, nossa mãe trabalhava como produtora de eventos em uma grande empresa de cosméticos, ela é japonesa e morou por 5 anos no Brasil... Nosso pai é brasileiro, ele conheceu a mamãe em uma viagem que ela fez até o brasil para apresentar os novos produtos que estavam lançando. Nosso pai, que era militar, trabalhou na guarda deste mesmo evento... e foi assim que eles se conheceram...

Inicialmente eles se comunicavam através de emails, mensagens e telefonemas (até por que o evento durou apenas uma semana e dai então a mamãe voltou para o Japão), um ano depois, o papai conseguiu sua transferência e passou a trabalhar para o Japão, eles se casaram e um ano depois eu nasci...

Três anos depois, com a noticia de que a mãe de meu pai estava muito doente e com apenas algumas semanas de vida, seguimos para o Brasil, minha mãe conseguiu uma transferência temporária assim como o papai, ficamos por lá até que a vovó faleceu, depois disso iriamos voltar imediatamente, mas... foi ai que... o Nathan nasceu...

Nathan não é meu irmão de sangue, depois de sua primeira gravides minha mãe teve um problema no útero e não poderia mais ter filhos, então quando estavamos prestes a voltar para o Japão,  a mamãe teve uma queda de pressão e meu pai seguiu com ela até o hospital. Naquele mesmo dia, eles ficaram sabendo (a partir de uma conversa entre enfermeiras), que uma criança recém nascida havia sido abandonada ali. Assim que viu aquele pequeno bebê ruivo foi paixão a primeira vista, então eles entraram com um pedido de adoção, que durou por cinco anos...

- Senhor? Senhor tudo bem? - fui cortado de meus pensamentos pelo motorista do taxi, já havia chegado em casa...

- Me perdoe, quanto ficou a "corrida"? - paguei o taxi e segui para dentro de casa.

Quando entrei não vi Nathan então segui até seu quarto e lá estava ele... dormindo...

Chego até sua cama, sento-me ao seu lado e fico observando-o dormir... Involuntariamente minha mão segue até seu rosto para acariciar sua pele branca, macia e sensível.

- Lucas? É você? - ele pergunta tentando abrir os olhos - Como esta a vovó? Ela esta bem não é? - me pergunta já se virando fazendo jeito de que vai se levantar.

Impeço de que se levante me deitando ao seu lado - Volte a dormir, está tudo bem - acolho-o em meus braços, enquanto afago seus cabelos, ele afunda o rosto em meu peito segurando minha camisa - semana que vem ela está de volta, agora volte a dormir - ele assinte com a cabeça e rapidamente volta a dormir

- Dormirei aqui com você hoje Nath - e logo pego no sono também...