História Efeito Borboleta 《HIATUS 》 - O que eu ia fazer? - Nathan

Assim que o garçom chegou a nossa mesa, nos serviu com bastante requinte e logo em seguida se retirou. Encarei Lucas e notei que ele parecia bastante tranqüilo e satisfeito, estava bastante centrado em se deliciar com seu jantar.

Decidi então não incomoda-lo com perguntas, se ele disse que me falaria logo após comermos o que eu devo fazer é apenas esperar e jantar tranquilamente. Foi o que eu tentei... 

Tentei focar no meu prato e comer tranquilamente, tentei esquecer que Lucas queria conversar comigo sobre algo - que eu não sei o que é - mas sinceramente, não deu. 

A unica coisa que eu conseguia fazer era remexer a comida de um lado para o outro no prato e olhar frequentemente para Lucas - como se eu fosse descobrir algo assim.

 - Não vai comer? - perguntou Lucas com um sorriso meio debochado, provavelmente pelo meu "nervosismo", ele sabe que sou a pessoa mais curiosa do mundo. 

 - Quero saber o que você tem pra falar - ignorei sua pergunta e parti logo pro que eu queria saber. 

 - Como eu disse - levou o garfo com comida até a boca, pausando sua fala - só vou falar depois que comermos. E o seu prato ainda esta do mesmo jeito Nathan. - revirei os olho em reprovação enquanto ele ria do meu "desespero". 

 - Já que não há outra forma... - falei começando a finalmente comer. E Lucas mantinha o mesmo sorriso no rosto, acrescentado o gostinho da vitoria. 

 Depois desse "dialogo", comemos em silêncio. Assim que terminamos o garçom veio até nós para recolher os pratos. 

 - Os senhores desejam pedir algo para sobremesa? - perguntou simpático enquanto segura um bloquinho de anotações, que ficava guardado no bolso de sua blusa. 

 - Não/Sim - eu e Lucas respondemos ao mesmo tempo. Olhei pra ele incrédulo, sério mesmo que ele vai enrolar mais? 

 - Traga-nos um *coupe glacée* duplo de chocolate com morango - falou ainda encarando o cardápio - E duas colheres por favor - completou, olhando pra mim, sorrindo.

 - Como assim um coupe glacée e duas colheres? - perguntei quase sussurrando enquanto me aproximava mais de Lucas me apoiando sobre a mesa. 

 Lucas fez o mesmo, se apoiou sobre a mesa me encarando, ficando a poucos centímetros de distancia e logo em seguida falou - Pra relembrar os velhos tempos, em que tomávamos sorvete dividindo a mesma taça. 

Sinto que corei violentamente, não só com a proximidade em que Lucas se encontrava, mas tambem com a intensidade em que o mesmo o encarava e a forma que ele falou... não sabia se havia sido de propósito mas soou meio sexy e provocativo.

 Com uma ação involuntária abri um pouco os lábios, deixando-o entreabertos, minha respiração estava mais ofegante e eu podia sentir a respiração de Lucas bater em meu rosto. 

Não sabia o que era aquilo que estava sentindo, mas uma vontade de avançar aqueles poucos centimentros surgiu em minha mente. Já não sabia mais o que era certo ou errado. Não sabia o que se passava na cabeça de Lucas. Pois o mesmo apenas me encarava, sério, sem se mover nem um centímetro. 

Meu coração batia desesperado em meu peito, parecia capaz de saltar pela minha boca a qualquer momento. Engoli em seco enquanto os olhos de Lucas encaravam meus olhos e boca. 

 Com outro movimento involuntário passei a avançar em direção a Lucas, já não sabia mais o que estava fazendo, já não respondia mais pelos meus atos. Eu nunca havia me sentido daquela forma antes, nem por uma garota nem por outro garoto. Enquanto eu avançava lentamente, Lucas se mantia parado, não parecia querer recuar, apenas me encarava, com um olhar que eu não conseguia decifrar. 

Faltavam poucos milímetros para que eu pudesse alcançar meu "alvo", inclinei um pouco o rosto decidido nos que estava fazendo até que... 

 - Com licença senhores - Eu e Lucas recuamos imediatamente pelo susto, sentando eretos sobre a cadeira. Eu estava completamente corado enquanto Lucas esboçava um sorriso - Desculpe atrapalhar, aqui esta o pedido dos senhores - falou colocando o pedido sobre a mesa se retirando logo em seguida. 

Baixei minha cabeça de tanta vergonha, não sabia o por que de ter feito aquilo. Eu estava prestes a beijar meu proprio irmao! Onde eu estava com a cabeça? Estou ficando louco ou o que?

- Nathan? - olhei para Lucas e ele ja havia começado a comer e nesse exato momento está com a colher direcionada a mim - Diga "aaah" - corei um pouco com a ação repentina de Lucas, parece que nada aconteceu, ele esta agindo normalmente, como se eu não tivesse quase o beijado segundos atrás - "aaah" - Lucas repetiu aproximando ainda mais a colher de minha boca, então fiz o que ele pediu. 

 Ficamos ali, saboreando a sobremesa em silêncio. Uma vez e outra Lucas colocava em minha boca, o que me fazia desviar o olhar em resposta e o fazia rir. Uma risada gostosa de se ouvir. Eu estava feliz e Lucas também parecia feliz. 

 - Parece que você esqueceu - Lucas quebrou o silêncio de forma repentina. Olhei pra ele com sinônimo de duvida e ele rio, levando mais uma colher em sua boca. - Parece que sua curiosidade passou - ele rir novamente e assim eu me lembro. Dou uma risada baixa e volto a encara-lo. 

 - Então... Já pode me falar o que quer conversar?

 - Sim - ele colocou sua mão sobre a minha olhando para elas e voltou seu olhar para o meu - Eu vou ter que fazer uma viagem Nathan... De tempo indeterminado. 

 Olhei para ele um pouco surpreso. Desde que o papai e a mamãe morreu, Lucas nunca ficou longe, a não ser quando ambos vamos pra escola, mas isso não é exatamente longe. 

 - M-mas... Assim? De repente? 

 Ele então soltou minha mão e se ajeitou na cadeira, para assim continuar a falar. - Eu acho que sei onde a Tia Marta está. - arregalei os olhos em resposta. Nunca imaginei que o motivo seria a tia Marta. Logo ela, que sempre nos odiou e que pelo o que eu saiba, ela não tem motivos para isso. 

 - E... você quer ir até... ela? - perguntei lentamente, meio recuo. 

 - Sim, preciso falar com ela Nathan. - ele suspirou fechando os olhos e então voltou a me encarar. - Você sabe Nathan... Mesmo que ela tenha fugido, mesmo que ela não venha visitar a vovó, ela ainda é da família. 

 - Sim. Eu sei. - baixei o olhar, não sei o que pensar, tão pouco o que dizer. - Mas e a faculdade? E a vovó? Ela esta voltando agora do hospital Lucas! E eu? - senti meus olhos marejados, não sei o por que, mas estou com um sentimento muito ruim quanto a isso. 

 - Eu sei que falei que é por tempo indeterminado. Mas isso nao quer dizer que vai demorar... - ele secou uma lagrima teimosa e escorregou o polegar até meu queixo, levando meu rosto e encarou meus olhos. - É só o tempo de eu conseguir encontra-la... Eu ja tenho algumas pistas de onde ele trabalha entao pode não ser tão dificil. Tudo bem? - confirmei com a cabeça tentando desviar o olhar, mas Lucas segurou meu rosto e se aproximou, deixando um selar em minha bochecha. 

 - E em que cidade ela está? - perguntei tentando focar meus pensamentos em outra coisa. Como pode com um simples gesto me deixar assim? Tão envergonhando. 

 - Então... - ele voltou a se sentar ereto na cadeira. - Ela esta em outro país. - O que? Novamente arregalei os olhos em surpresa. - Ela se casou com um Europeu e por conta disso, esta morando na Alemanha. Nathan... - ele voltou a segurar em minha mão - Eu só quero tentar convence-la de ao menos ligar pra vovó. E eu sei que se eu pedir ela vai me ouvir...

 - Como assim Lucas? Ela nos odeia! Ela foi embora sem falar nada! Ela mal liga pra vovó e quando liga é sempre pra brigar! Você acha que eu não via Lucas? Como a vovó ficava depois de um ligação dela? Eu ja vi a mamãe e o papai conversando sobre a tia Marta Lucas! - me exaltei e acabei falando de forma alterada com Lucas, estavamos em uma área mais afastada dos outros, talvez ele já previa essa minha reação. - Eu sei que ela não esta nem ai pra nenhum de nós. - terminei de falar quase em sussurro, separando nossas mãos, cobrindo meu rosto logo em seguida.

 - Você não pode falar assim Nathan. Eu sei que você deve está preocupado, afinal você nao teve a oportunidade de conviver com a tia Marta, mas você tem que me dar uma chance de tentar. Por favor Nathan. - Lucas veio até mim, me abraçou enquanto eu chorava, nao sei por que, mas eu não queria que ele fosse. Algo me diz que ele não deve ir. Mas eu tenho que apoia-lo. Pela vovó e por ele mesmo... Se é o que ele quer...

- Então... Vai me dar uma chance para tentar? Você é a unica pessoa que pode me fazer mudar de idéia. Se você não quiser eu prometo que não vou. Mas eu quero que você confie em mim Nath. Você pode pensar um pouco. Se eu for é só no inicio da outra semana, vou esperar a vovó se estabilizar em casa antes. Então você tem uma semana ok? - confirmei com a cabeça e ele me apertou ainda mais em seu abraço.

 - Quero ir pra casa. Podemos voltar? - perguntei em sussurro entre o abraço apertado de Lucas. 

 - Tudo bem. Vamos. - Lucas deixou o dinheiro em cima da mesa e chamou o garçom que entendeu o recado. Me abraçou pelos ombros e seguimos para o carro em silêncio.

 O caminho todo foi silencioso. Lucas dirigia com seu foco todo na estrada e eu olhava apenas para a rua, com a cabeça encostada no vidro da janela, abraçando meus proprios joelhos. 

Era uma noite fria e eu não gosto do frio.