História Efeito Colateral - F i v e

— Você vai?

Claire apareceu na frente de Audrey de repente, fazendo a loira se assustar.

— Deus! Porque você sempre aparece assim? – perguntou Audrey, enquanto voltava a andar, com Claire ao seu lado.

— Se eu começar a falar, não vou parar, então não importa. Voltando ao assunto, você vai?

— Aonde?

— A fraternidade do Andy vai dar uma festa essa noite. É sexta! Eles dão festas todas as sextas, isso já é tão comum que daqui uns dias vai parar no calendário nacional como feriado.

Audrey fez uma careta. Uma festa hoje não estava em seus planos. Andy a convidou umas três vezes, porém deixou bem claro que queria Claire lá. Audrey não sabia se ele estava querendo foder a amiga ou algo a mais. Andy era um cara legal, mas não é por isso que não deixa de ser um daqueles badboys que pegam uma por dia. As vezes até duas. Isso deixava Audrey levemente preocupada. Não fazia muito tempo que ela conhecia Claire, mas Audrey a considerava sua amiga.

Era incrível o quão rápido as suas viraram amigas. Em menos de um dia, parecia que elas se conheciam a vida toda. Audrey já teve várias amigas durante sua vida, mas nenhuma nunca foi como Claire. Ela nunca se apegou a alguém tão rápido. Chegava a ser assustador.

— Para ser sincera, não estou muito afim – confessou.

— Você não precisa ficar muito. A gente fica só um pouco, por favor. Você é a única amiga que eu tenho nessa droga e eu odeio andar sozinha. Qualquer lugar que eu vou só, fico desconfortável.

Audrey parou de andar e suspirou. Fez a cara mais séria que conseguia e apontou o dedo para Claire.

— Onze horas a gente volta.

— Onze e meia – Claire tentou negociar.

— Onze e quinze ou eu não vou.

— Você não vai se arrepender!

Audrey escolheu uma mesa na cafeteria e sentou. Estava cansada. Passou a tarde toda procurando um emprego, mas ninguém queria alguém para trabalhar apenas três dias na semana, e meio período. Se o horário de sua faculdade não fosse tão confuso, ela poderia ter conseguido um emprego. Audrey precisava de dinheiro. O dinheiro que seu pai mandava para ela se manter era o suficiente, mas não era justo com ele. Todas as economias de seu pai estavam indo para a mensalidade da faculdade, e quase metade do salário dele de vendedor de carros estava indo para a estadia dela em Harvard. Ela sabia que o pai estava passando por dificuldades.

Pegou o cardápio de cima da mesa e o folheou, tentando encontrar algo que a agradasse. Após se decidir, fechou o mesmo e esperou alguém atender ela. Enquanto esperava, observou a faculdade pela janela de vidro, que cobria quase a parede toda.

— Posso lhe ajudar?

Ela não sabia o porquê, mas assim que a voz do homem passou por seus ouvidos, se arrepiou.

— Eu quero um...

Audrey ficou sem fala.

Justin Bieber estava bem a sua frente.

Como um ser humano poderia ficar tão sexy vestindo uma roupa de atente e avental?

Ela sabia que estava olhando para ele igual uma idiota, mas não estava ligando para isso. Pelo menos, por enquanto. Ela estava cansada, com fome e se sentia no direito de apreciar algo. Apreciar Justin Bieber de avental estava ótimo.

Tinha algo nele que a intrigava, a deixava curiosa. Ela ainda não sabia o que, mas iria descobrir. Era estranho o modo como as pessoas da faculdade olhavam para ele. Era como se ele fosse algo ruim. Audrey costumava saber identificar pessoas ruins. Ela tinha certeza que Justin não era uma pessoa ruim. E era isso que a incomodava tanto.

— Você vai querer algo? – ele perguntou novamente.

— Sim, claro. Eu quero um – parou por um segundo.

Ela tinha esquecido o que queria. Pegou o cardápio novamente e o folhou. Audrey sentia seu rosto pegando fogo. Esse tipo de coisa só acontecia com ela.

— Eu quero um cappuccino com canela – sorriu.

— Ok.

Ele anotou seu pedido e saiu. Audrey ficou olhando para Justin até ele desaparecer.

— Droga! Eu odeio canela.

— Você já está pronta? – Claire perguntou.

— Quase, porquê?

— Andy está vindo pegar a gente.

Audrey franziu o cenho, completamente confusa.

— Você não me disse que nós iríamos com ele.

— Detalhes, detalhes – Claire saiu cantarolando.

— Você é impossível – Audrey gritou para Claire, que já estava fora do quarto.

Se abaixou e colocou seu salto. Estava pronta. Audrey não queria ir de salto, mas já estava de calça jeans e uma regata, se ela fosse de tênis seria a piada da festa. Pelo menos o salto valorizava a roupa.

Colocou seu celular no bolso traseiro e saiu.

Audrey passou o dia todo olhando o celular. Mesmo não sabendo o porquê, ela esperava alguma mensagem do admirador secreto. Isso era uma piada, quem se chama de admirador secreto? Isso é coisa de filmes. Porém, a tática funcionava, porque Audrey ficou a noite toda pensando nas mensagens.

Encontrou Andy e Claire se beijando, ela encostada no carro e ele quase subindo em cima dela. Revirou os olhos e fingiu tossir. Os dois se separaram rapidamente.

— Vocês não perdem tempo – disse já entrando dentro do carro.

A viagem até a fraternidade era curta, Audrey achava desnecessário eles irem de carro, mas agradecia.

A casa estava lotada de universitários e adolescentes fingindo serem adultos. Era apenas nove da noite e já tinha gente bêbada desmaiando. Audrey fez uma careta para um casal se agarrando explicitamente ao seu lado. O cara levantava tanto a saia da garota que era possível ver sua calcinha.

Olhou em volta e não encontrou Claire, e nem Andy. Foi para a cozinha e se serviu com um energético. Era a única coisa que ela estava a fim de tomar. Com o copo cheio, ela saiu de dentro da casa e foi para a área externa. Arqueou a sobrancelha, totalmente surpresa, ao encontrar três garotas nuas dentro na piscina.

Algumas pessoas precisam de limites.

Andou até um canto mais isolado, tomou o que restava de sua bebida, e deitou na grama. Audrey só queria estar deitada em sua cama lendo um bom livro. Tirou seu celular do bolso e verificou se tinha alguma mensagem nova.

Nada.

Se passou meia hora e Audrey ainda estava no mesmo lugar, na mesma posição. Andy estava do lado de fora quando viu a amiga e resolveu ir até ela. Ele não sabia se Audrey estava bêbada ou entediada, mas desconfiava da segunda opção. Andy sabia que Audrey não fazia o estilo das garotas com quem ele ficava, e agradecia por isso. Ela era a primeira garota que ele queria chamar de amiga. Apenas amiga.

Quando se aproximou o suficiente para ver seu rosto, deitou ao seu lado. Audrey abriu os olhos e olhou para ele.

— Entediada?

— Claro que não, a festa está muito boa.

Andy sorriu. Ele tirou um cordão do pescoço com uma chave pendurada e colocou na mão de Audrey.

— É a chave do meu quarto. Pode ir pra lá, tem uns filmes legais dentro da terceira gaveta do meu guarda-roupa. Eu sei que a tentação é muita, mas fique longe da minha gaveta de cuecas.

Audrey riu e olhou para a chave em sua mão.

— Tem certeza?

— Levanta essa bunda daí e anda logo.

Ele se levantou e estava voltando para dentro da casa quando ouviu Audrey gritar seu nome.

— Obrigada.

Ele apenas sorriu e foi procurar Claire.

Audrey entrou dentro do quarto e trancou a porta novamente. Não queria ser surpreendida por nenhum casal louco por uma cama.

Olhou em volta e sorriu. O quarto de Andy era totalmente diferente do que ela imaginava. Era todo em tons claros, a única coisa que se destacava era a cama escura encostada na janela. A TV média estava pendurada na parede, em frente à cama. Ela abriu o guarda-roupa dele e não conseguiu segurar a risada.

Andy Bieber, o comedor da faculdade, separava suas roupas por cores.

Sem se conter, ela pegou o celular e tirou uma foto.

Abriu a terceira gaveta e olhou os filmes que tinha dentro. Abriu um sorriso ao ver o box de Game of Thrones no fundo da gaveta. Pegou o CD da quinta temporada e colocou no DVD. Tirou os sapatos e pulou na cama.

Assim que o episódio começou, Audrey percebeu que a claridade da janela estava dando reflexo na TV. Foi até a janela e puxou a cortina. Antes de fechá-la totalmente, viu uma sombra do lado de fora. Era alguém de capuz. A janela do Andy ficava na lateral da casa, então não poderia ser ninguém da festa ali. Deixando a curiosidade falar mais alto, Audrey ficou olhando para a pessoa, até tirar o capuz.

Era Justin.

O garoto olhou para os lados, parecendo preocupado com algo.

Audrey calçou seus sapatos novamente e saiu do quarto. Trancou a porta e colocou a chave no bolso traseiro, junto com seu celular. Ela não sabia o que estava fazendo, mas não iria parar.

Ela precisava descobrir mais sobre ele.

Saiu da casa e foi até a lateral, procurando não fazer barulho. De longe ela viu Justin começar a andar pela rua mal iluminada. Audrey andou atrás, seguindo-o, andando devagar por causa dos saltos barulhentos.

Uma rajada de vento gelado a fez passar as mãos nos braços, e passou por sua cabeça se era realmente uma boa ideia segui-lo. Era noite, estava frio e a rua estava escura.

Fala sério, o que de ruim poderia acontecer?

Tudo.

Eles andaram por cerca de meia hora. Justin olhava para os lados o tempo todo, e Audrey estava começando a ficar realmente assustada. E se ele soubesse que ela estava o seguindo?

Justin parou de andar e se escondeu atrás de um muro. Colocou apenas a cabeça para o lado, olhando para algo mais à frente. Audrey não conseguia ver o que era, então se escondeu atrás de uma árvore. Ela não percebeu a hora que pisou em uma latinha de refrigerante vazia, fazendo um barulho alto.

— Droga, droga, droga! – praguejou baixo.

Olhou para frente e não encontrou Justin. Ele tinha desaparecido. Audrey olhou em volta, procurando por qualquer sinal dele.

Mãos fortes a viraram e prensaram-na com brutalidade na árvore. Ela se preparou para gritar, porém uma mão cobriu sua boca.

— O que diabos você está fazendo aqui?