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História Egoist- Sua vida cabe em minhas mãos. - Balança


Escrita por: T0ki

Capítulo 18 - Balança


Antes de sair de casa para ir ao trabalho, coloquei o cartão do Egoist no bolso de trás da calça. Não sei o que me levou fazer isso, porque não pretendia ligar para ele. Eu queria uma certa distância desses dois irmãos, mesmo desejando isso, o que aconteceu quando sair de casa foi o oposto. Yuri estava olhando a vista encostado na grade do portão da casa, seria impossível passar sem falar com ele. Reuni todas as minhas forças para manter-me calmo e desci as escadas esboçando a menor reação no rosto. Pedi licença a ele, queria abrir o portão, porém ele não saiu do lugar.  

— Gabriel, nós precisamos conversar. 

— Não, não precisamos conversar, não temos nada para falar um com o outro. Além do mais, estou indo para o meu trabalho agora. 

— Eu sei, mas gostaria de alguns minutos do seu tempo somente. O Ayato deve ter enchido sua cabeça de coisas contra mim, preciso explicar exatamente o que aconteceu. 

— Pra quê? Não somos nada, Yuri. Você teve todo tempo do mundo para esclarecer qualquer coisa, mas preferiu me fazer de idiota. Agora que alguém conta seus "podres", você acha que é o momento certo para conversar? — Novamente tentei passar por ele e abrir a porta, mas ele era insistente e não movia-se do lugar, chegou a segurar minha mão para evitar que novamente tentasse tocar no portão. Rapidamente puxei meu braço de volta evitando qualquer toque entre a gente. 

— Desculpe. Eu não quis mentir para você, só não havia contado sobre meu verdadeiro pai exatamente porque não queria que soubesse da parte "podre" da minha família. Descobri que não era filho do meu pai adotivo ainda adolescente, bem na época que saí da escola que você estudava. Minha mãe havia falecido fazia um ano e meu pai não estava conseguindo pagar as despesas sozinho, acabou contatando o pai do Ayato para ele responsabilizar-se pela minha criação. Nesse momento que me contou tudo que aconteceu, que inicialmente o meu verdadeiro pai mandava dinheiro para minha mãe que escondia tudo em uma poupança que somente minha avó possuía senha. Ele resolveu assumir sua paternidade e me trocou de escola, mudou-me de casa, e passei a morar sozinho em um apartamento. Mesmo ele agora, comportando-se gentilmente para comigo, não sinto nenhuma ligação entre nós. Quando ele me apresentou aos seus filhos, fui muito bem recepcionado pela minha irmã mais nova, porém o Ayato não gostou de saber que não era mais o filho único dele. Nunca nos demos bem. Quando percebi que você o conhecia tinha certeza que ele estava te usando para chegar até mim; para falar a verdade ainda creio nisso. Enfim, só queria explicar as coisas sem ele por perto.  

Eu escutei calado tudo que ele dizia, e mesmo assim não via motivos para ele ter evitado tocar nesse assunto comigo. Posso entender que quando mais novo, ele não soube lidar com a pressão de descobrir que seu pai não era seu pai biológico. Ao contrário, via como uma brecha para aproximar-se ainda mais de mim, seu amigo.  

— Entendo que tenha passado por problemas, mas não vi nada demais que não pudesse me contar. Você descobriu que era rico e que tinha dois pais, que sua mãe não era muito santa. Ok, pode ter sido um choque no início , mas eu vejo nisso tudo um motivo a mais para ter me procurado. Você dizia que eu era seu amigo na época da escola, e que se sentia bem conversando comigo. Porém, quando algo acontece com você, mesmo nos reencontrando, é pelo seu irmão que eu venho saber. Você sabia todo o tempo quem era o Egoist, e preferiu não me contar. Que desculpas você tem pra isso?  

Ele ficou calado e desviou seus olhos dos meus, passou as mãos pelos cabelos, comecei a notar que essa era uma mania compartilhada por genes, porque o Egoist fazia a mesma ação quando se via confrontado.  

— Eu não sou gay. Nunca me interessei por garotos, a não ser... Gabriel, eu evito manter a nossa amizade como antigamente, porque me sinto estranho quando estou perto de você. Naquela época na escola, sempre que me contava seus casos, eu não me sentia bem em escutá-los. 

— Isso é normal. Héteros não curtem ouvir sobre os romances gays... 

—Não, eu sentia ciúmes. Eu não queria que você ficasse saindo com outros garotos, eu ficava irritado em escutar você dizendo que havia acabado de ficar com fulano de tal sala.  

 Aquela sensação de prazer e medo que temos passeando em uma montanha russa, tomou conta do meu corpo. Isso era uma confissão do Yuri, algo que tanto sonhei mas nunca acreditei que pudesse acontecer um dia em minha humilde vida. Seus olhos que antes evitava os meus, encarava-me curioso por uma reação. Eu não faço ideia que cara estou fazendo agora, certamente a mais patética da Terra. Estava muito nervoso, eu não sabia o que responder, nem mesmo se o que tinha ouvido era real. Passei bruscamente por ele e abri o portão, saí correndo para o ponto de ônibus esperando que ele não tivesse me seguido. Preciso respirar normalmente, mas fica difícil com a força que meu coração bate. Todas as vezes que ele parecia entediado quando lhe contava meus casos, era por ele está morrendo de ciúmes de mim? O esboço de um sorriso no meu rosto foi inevitável. Estou feliz, mas não sei como reagir quando encontrá-lo novamente. Mal sei como irei olhá-lo sem ficar nervoso como estou agora, borboletas passeiam no meu estômago, e minhas pernas tremem demais.   

Quando finalmente cheguei em meu trabalho e realizava meu serviço atendendo as inúmeras mulheres que me caçavam sempre na loja, senti o peso do bolso de trás da minha calça. Egoist, ou melhor Ayato, ainda era alguém que eu não sei dizer o que sinto. Por um momento me senti traindo ele por estar feliz com a confissão de seu irmão menor. Oh, meu Deus! Irmão menor! Que tipo de situação maluca eu me enfiei dessa vez? Tenho realmente que escolher quem é o melhor para mim? Posso realmente levar à sério o que me dizem sobre seus sentimentos? Por que ainda tenho a sensação que sou uma mera peça no joguinho deles?  

— Meu queridinho, você está sentindo–se bem? — me perguntou a cliente que eu acabará de colocar o sapato que desejava em seu pé para experimentá-lo. 

— Ah, sim. Por que senhora? Estou com cara de doente? — Tentei me olhar no pequeno espelho que trazia para os clientes verem como estava o sapato em seus pés. Um pouco de olheiras, mas não parecia tão debilitado. 

— É que costumo ver seu rostinho pela loja, muito contente e hoje ele tem uma enorme interrogação em sua testa. Problemas com o amor? 

— Ah... Acho que sim. 

— Posso ajudá-lo, sabe sou senhora agora, mas já experimentei muita coisa nessa vida, acho que tenho qualificação para dar conselhos amorosos. 

Eu deveria estar no fundo do poço mesmo para buscar ajuda das clientes da loja, mas precisava de uma opinião de alguém de fora da minha situação.  

— Duas pessoas confessaram-se para mim, e ambas tem o mesmo parentesco. Agora eu não sei de quem eu gosto.  

— Isso é normal, acontece sempre. Vejamos, você deve analisar quem mais te faz sorrir. Aquela pessoa que a presença já muda tudo no seu dia. Esses mínimos detalhes que algumas vezes passam despercebidos pela gente, são as que fazem mais diferença em nossa vida. Experimente sair com as duas pessoas, aprenda mais sobre cada uma e faça um balanceamento. Tenho certeza que vai conseguir uma resposta razoável de seu coração de como se sente perto de alguma delas. 

— A senhora tem razão, farei isso. Muito obrigado pelo conselho! — Respondi sorrindo— E esse par de sapatos ficou maravilhoso em seus pés, posso embrulhá-lo, não é? 

— Oh, claro que sim! Também adorei! 

— Falarei com o gerente para garantir um grande desconto para senhora. Já volto! 

Aquele conselho me deu esperanças novamente, dessa vez sinto que posso controlar como será as coisas de agora em diante. Gostaria de analisar com calma, por quem meu coração sente-se mais ligado e feliz quando está perto.  É fato que ele dispara compulsivamente para ambos os irmãos, mas sinto que existe detalhes que não prestei atenção nessas batidas. Pode ser somente nervoso, estresse e não amor, não é? Estou pensando por quem eu deveria começar. O cartão do Egoist ainda pesa no meu bolso, mas acho melhor deixá-lo para depois, já que ele parecia muito zangado comigo quando saiu. Assim que voltar para casa irei conversar com Yuri, convidá-lo para passear na praça e tomar um sorvete. Espero ser capaz de fazer esse convite sem tremer. 

Quando me despedi dos colegas do trabalho, tive a sensação de ver uma figura familiar dentre as pessoas que circulavam os corredores do Shopping. Instintivamente me vi seguindo aquela pessoa que andava mais rápido. Apesar de usar um boné eu juro que vi de relance o rosto do Egoist, pensei que ele havia parado de me perseguir, mas pelo visto esse ainda era seu hobby. Perdi sua pessoa na praça de alimentação, não conseguia mais encontrá-lo, será que foi impressão minha? Decidi deixar isso pra lá e seguir para casa aproveitando que ainda estava de férias da faculdade. Na minha mente bolava várias formas de fazer o convite ao Yuri, sem parecer tão idiota quanto hoje pela manhã. Porém, assim que cheguei em casa ele estava na frente do seu carro com sua namorada conversando. Não consegui dar nenhum passo depois de ver tal cena, dei a volta sem ser notado e fui parar na praça que planejava convidá-lo. As lágrimas escorriam pelo meu rosto involuntariamente. Antes de sentar no banco, peguei aquele pedaço de papel preto do meu bolso e disquei os números que haviam nele. Se tudo isso é apenas uma brincadeira entre irmãos, acho que também posso me divertir nela.

 



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