História Egoist- Sua vida cabe em minhas mãos. - Promessa

Eu fiquei com uma sensação muito estranha quando lembrei do Egoist, me sentir como se acabasse de traí-lo com seu irmão, mesmo sabendo que não temos nada um com o outro. O fato dele ter me consolado horas atrás na praça deve ter me deixado assim, ele foi muito legal me distraindo com seu jeito maluco que criou essa afeição, nada mais que isso.  Não me arrependo de ter feito amor com Yuri, ele sempre foi o cara por quem estive apaixonado todo o tempo e o Ayato sabia disso, então o errado não seria ele por ter conquistar alguém que gosta do seu irmão? O que me preocupa nisso tudo é seu comportamento impulsivo e o fato dele não gostar do Yuri, fico inquieto só de imaginar algum tipo de represália da parte dele. Apesar de ser mais velho sua mente é muito imatura. 

— Aconteceu alguma coisa? Que caretas amedrontadoras são essas? — perguntou Yuri olhando para mim, passei a mão no rosto sem graça. 

— Não é nada... Apenas uma dor de cabeça. 

— Então é "alguma coisa", tem algum analgésico aqui? — perguntou olhando ao redor para ver se encontrava provavelmente alguma caixa de primeiros socorros.

— Não, esqueci de comprar. 

— Irei na casa da minha avó, com certeza ela tem algum. — disse levantando-se. 

— Espera! — segurei seu braço antes que saísse do quarto.

— O que foi? 

— Não seria estranho você descer essa hora dizendo que está em minha casa? 

— Qual problema? 

— Eu sou homem, não lembra disso? O que ela iria pensar? 

— Que eu estou dormindo na casa de um amigo, talvez? — sugeriu tranquilo.

— É, acho que essa desculpa serve.

— Volto logo. — disse depois de se vestir, saindo da casa.

Sabe quando um sonho se realiza e você não consegue acreditar que realmente tudo aconteceu?  É exatamente assim que estou me sentindo. Mesmo ouvindo ele dizer que gosta de mim, o fato dele sempre ter sido hétero e nunca ter ficado com um garoto antes, me deixa apreensivo. Devo confiar cegamente que seu sentimento por mim é real e que nunca irá me trair por sentir falta do corpo de uma garota? Yuri é lindo e tenho certeza que várias mulheres correm atrás dele, isso só me deixa mais preocupado com relação a isso. Eu não tenho como competir com uma garota, nos meus relacionamentos anteriores eu sempre perdia para elas. Por que sempre acabo me interessando por garotos héteros?  

Meu celular tocou me acordando dos pensamentos ruins, logo meu coração entrou em pânico quando vi na tela que era uma ligação sem identificação. Tenho certeza que é o Egoist, resolvi não atender porque estava com medo de falar com ele. Deixei o telefone tocando até parar, percebendo que eu não atenderia, ele recorreu para mensagem de texto. Quando ouvi o barulhinho do toque de mensagens, fiquei curioso sobre o que seria sua insistência e acabei lendo o que ele escreveu. 

" Bons sonhos comigo, não esqueça de trancar portas e janelas, nunca se sabe quando alguém poderá invadir seu quarto. 

                                                                                         Egoist." 

Essa mensagem me deixou mais nervoso do que antes, imaginei se ele não estava se referindo ao Yuri ou a ele mesmo, já que tem a tendência de invadir meu apartamento. Se minhas suspeitas forem reais, isso indica que ele mentiu para mim ao dizer que as câmeras no meu apartamento haviam sido retiradas. O que é motivo o suficiente para me deixar com raiva, porém, estava mais preocupado com que ele poderia ter visto. Egoist e Yuri não se dão bem, se eu entro no meio dessa briga, mesmo contra minha vontade, acho que as coisas entre eles ficarão piores. Se o Ayato fosse um cara normal, eu esperaria  que ele seguisse seu caminho e esquecesse de mim, mas ele não é esse tipo de cara que aceita perder.

— Eu disse que era certo encontrar o remédio na casa dela! — falou Yuri quando entrou — Minha avó é uma farmácia ambulante, em casa, ela tem um quite de primeiros socorros cheios de remédios para todo tipo de coisa, até gases.  

No impulso, escondi o celular embaixo do travesseiro e sorri para ele com sua história. Eu sou apaixonado por esse cara, e isso vem de muito tempo. Seu sorriso ilumina toda minha vida e sabendo que agora sou o motivo dele, não quero perdê-lo por conta de ninguém. Eu preciso falar com o Egoist de uma vez por todas e resolver esse problema.  

— Ela não falou nada sobre você está aqui? — perguntei ansioso.

—  Por que falaria? Sou maior de idade, ninguém me diz o que devo fazer. —  respondeu deitando novamente ao meu lado, tratei de agarrá-lo para nunca mais se soltar de mim. Minha vontade era de congelar esse momento para sempre, não quero correr o risco que ele se vá como uma ilusão. 

— Yuri, isso está realmente acontecendo, não é?

— O quê? 

—  Eu e você. Pergunto-me se não estou delirando.

Olhando-me de forma carinhosa, ele me apertou mais forte de encontro ao seu peito e bem baixinho disse em meu ouvido: 

— Sente isso? Achas mesmo que o calor do meu abraço e  as batidas aceleradas do meu coração não são reais?  

— É que eu sonhei tanto com esse momento, e você me tratava tão diferente antes...—  aninhei-me em seu peito encostando minha cabeça. 

— Desculpe, eu venho agindo mal nos últimos meses, mas quando te reencontrei eu fiquei muito feliz. Estava muito mais belo que antigamente, porém, fiquei irritado quando vi aquele cara com você. Pensei que continuava levando a vida como antes.  

—  Ah, aquele cara... Nem me lembre do idiota do Fernando. Ele estudou na mesma escola que a gente, naquela época tivemos um breve romance e depois ele me deu um pé na bunda. Nos reencontramos na faculdade e pensei que ele queria realmente manter uma amizade, mas do nada ele começou a me atacar aqui na sala. Naquela hora que você apareceu na porta, eu estava expulsando ele. 

—  Percebi que alguma coisa estranha estava acontecendo, mesmo assim estava furioso com você. Sempre acreditou muito facilmente em qualquer um que te elogiava, isso sempre me irritava. 

—  Você sempre vivia emburrado, mesmo quando eu não fazia nada! Aprenda me perguntar antes de tirar conclusões. Eu não sou mais como antigamente, não saio buscando prazeres sem nenhum comprometimento. Para falar a verdade, estava vivendo uma vida de trabalho, faculdade e chats online. Até a Janaína reclamava comigo por ter parado de socializar. 

— Verdade? Não consigo imaginar você tão quieto. —  ele deu risada, me fingi de ofendido e dei uns tapas bem fracos em seu ombro. 

— Claro que sou! Você não me vê passeando muito por aqui, vê?  

— Hum, sobre isso.... Vejo você demais com Ayato. Aliás, gostaria de saber como vocês se conheceram.  

Deveria contá-lo sobre isso? Dizer que o Egoist me vigia há meses e que ele foi o motivo de sair da casa da Janaína? Que ele poderia estar nos vigiando nesse exato momento? Tenho certeza que o Yuri não iria gostar de saber dessas coisas e acabaria indo tirar satisfações com ele, tudo que eu menos preciso nesse momento é ser mais lenha na fogueira da antipatia que eles sentem um pelo outro. 

—  É algo muito complicado que eu prefiro não comentar, por que não me fala como sua namorada reagiu quando terminaram? Ela ficou muito chateada? O que disse para ela como motivo do término? 

— "É algo muito complicado que eu prefiro não comentar" — respondeu obviamente me imitando. 

— Que bobo você! 

Mesmo que ele estivesse agindo da mesma forma que eu agi com sua pergunta, senti pelo seu semblante que ele não queria tocar no assunto. Espero que não esteja arrependido com sua escolha. Eu queria fazer um monte de perguntas sobre isso, mas percebi que ele não me responderia. Também, mesmo que ele estivesse disponível para respondê-las, sinto que talvez eu não fosse gostar de suas respostas. Não quero ouvir nada que seja contraditório ao nosso momento de agora. Se o que estamos vivendo agora for nosso último momento juntos, eu quero não quero estragá-lo com decisões precipitadas. Aprendi aproveitar os pequenos momentos.

— Ei, por que está chorando? —  Não havia percebido que as lágrimas escorriam no meu rosto, molhando seu peitoral.

— Não foi nada.—  respondi passando as mãos nos olhos. 

Ele me deitou com as costas na cama e se colocou em cima de mim. 

— Me diga, por que está chorando? Eu fui muito impaciente e te ferir?—  perguntou preocupado.

— Não! Não era como se fosse minha primeira vez, apesar que estou um tanto enferrujado, é porque sou bobo, estou muito feliz de ter esse momento com você, penso nisso desde a época da escola, nunca pensei que um dia seria real.

— Eu não quero ver você chorando, mesmo que seja de felicidade. —  disse beijando minha testa — Agora que criei coragem, eu não pretendo te deixar tão facilmente. 

— Você tem certeza disso? Essa é uma promessa que cobrarei de você o tempo todo. 

— Eu prometo, mas quero que me prometa uma coisa também. — ele ficou bem sério de repente.

—  O quê? — perguntei nervoso.

— Pare de falar com o Ayato. 

— Por que isso? — esse era um pedido difícil de cumprir. 

— Eu não confio nele, ainda acho que se aproxima de você somente para me atingir. Não quero você envolvido na nossa briga.

— Não é como se já não estivesse envolvido... 

— Então, iremos encerrar essa briga onde você está envolvido. Corte suas relações com ele. Seja somente meu, prometo te proteger de tudo que estiver ao meu alcance. Pode me prometer isso? 

— Sim!—  respondi o abraçando forte, mas sinto que essa promessa me trará muito dor de cabeça.