História EL Witch - Crush pelo humano da casa ao lado....

     Na sexta feira daquela mesma semana, eu estava no corredor do Colégio (correndo atrasada) quando Dárion esbarrou em mim e a mochila dele caiu, espalhando vários livros e cadernos pelo chão. Nós nos abaixamos e começamos a catar tudo. 

- Eu sinto muito. Eu tava distraída, não vi você... - Comecei.

- Não, não, foi minha culpa. Está sendo gentil de me ajudar. 

     Eu estava muito vermelha. Essa era a conversa mais longa que já havíamos tido. 

- Oi - ele diz parando um pouco de pegar as coisas e olhando pra mim. Como se fosse a primeira vez que tivesse me notado de verdade. - Você... Somos vizinhos, não é? Não sei se lembra... Nunca nos falamos antes. 

- É, verdade. Estranho. 

- Sim, porque moro ao lado da sua casa há...minha vida toda. - Diz rindo. Que sorriso lindo. - Bem, eu sempre achei o seu cabelo roxo muito maneiro.

- Ah - ruborisei mais ainda - obrigada - digo gagamente e tentando sorrir. 

- Suas tias devem ser bem liberais, né? Pra deixarem você pintar o cabelo desde tão pequena. Lembro que quando me mudei, seu cabelo já era roxo e nós éramos MUITO pequenos. 

- Ah... Tipo isso mesmo. - Eu estava tão nervosa que mal conseguia completar frases inteiras.  

     Acabamos de pegar as coisas do chão e guardá-las. Ele se despediu com um rápido "Até mais" e seguiu caminho. Continuo parada olhando ele de costas como uma idiota até ele virar à direita no final do corredor. 

     Essa minha paixonote pelo Dárion era coisa antiga. E pra piorar ele morava bem ao lado da minha casa. O que era bom e ruim ao mesmo tempo. 

*Lado bom: eu poderia vê-lo no quarto dele pela janela do meu quarto. Podia  observa-lo pegar a bicicleta azul marinho pra ir pra escola todos os dias. Ouvia as músicas dele as vezes. Fazia pequenas magias pra pegar coisas do quarto dele. Coisas que não fizessem falta, mas que me faziam sentir perto dele. Depois eu devolvia, lógico. 

*Lado ruim: toda vez que minhas tias faziam culto lunar (o que ocorria toda noite de lua cheia) ele podia ouvir as músicas estranhas, a fumaça e as iluminações coloridas. Certamente, ele achava que eram malucas. Todos na vizinhança achavam que minhas tias eram velhas solteironas estranhas que praticavam magia sombria. E ainda mais, todas vestidas de preto e com uns 4 gatos da mesma cor... Eu sabia que não gostavam de nós. E se já não suspeitavam que éramos bruxas, isso certamente iria acontecer no dia do meu aniversário. Quando eu fosse pra Valentia.

      Lembrando que Valentia... Valentia. Minha cidade natal. Meu antigo lar, que eu nem se quer me lembro. Acho que talvez fosse melhor do que aqui... Eu nunca havia me encaixado na escola, nem em lugar nenhum. Talvez lá, me sentisse mais como parte do todo. Claro que há muito a aprender sobre o reino das bruxas. A dimensão mágica não é um lugar pacato. Há muitos perigos escondidos. Mistérios e segredos que pertencem ao meu passado, mas que afligem o meu presente. Um dia ainda descobrirei a verdade sobre a morte dos meus pais. Sei que existe algo que querem esconder de mim, mas não conseguirão para sempre. Ainda mais agora que não sou mais uma criança.

     Bem, mesmo com todas essas ignorância, sentiria saudade do dia a dia dalí.Dos humanos. Sentiria saudade de Darion. Provavelmente, não o veria mais. Ele também mudaria de Colégio. Polaris o ouviu conversando isso com um amigo pelo Skype uma vez (ela costumava ir até o beiral /parapeito da janela dele e ouvir algumas conversas pra me contar depois).  

     Contando isso agora, me sinto bem idiota. Devo ser mesmo. Todos esses anos e nunca nem conversamos. Não sei o que eu via nele, mas... Ele não era como os outros garotos. Eu sei que isso é clichê, mas é verdade. Ele era o único humano que eu sentia algum tipo de compatibilidade. Eu só me sentia assim com minhas tias e Polaris (ou seja, outras criaturas como eu, mágicas). Darion era especial pra mim. Por essa razão principalmente.

     Ele também tinha um quarto muito legal. Cheio de bugigangas estelares e espaciais. Ele amava astronomia. Bastante. E eu amava isso nele. 

     Eu poderia passar o dia inteiro enumerando tudo que eu admirava no Darion; como o sorriso, os olhos castanhos, o cabelo cor ruivo-acastanhado e... “Ai, ai, já chega, Elina!! Eu não aguento mais você pensando nesse garoto! Eu, hein! O que ele tem demais? Vai dormir que faz melhor!” Polaris protesta, gritando em minha cabeça. Pouparei-a de mais detalhes, afinal, o grande dia está chegando e tenho coisas mais importantes para me preocupar.