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História Ela - Capítulo Único


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Olá! Estou me aventurando pela primeira vez num tema mais sombrio. Estava com essa ideia na minha mente há algum tempo e já tinha até escrito umas versões diferentes dessa história. Finalmente consegui algo que eu goste.
Espero que vocês gostem também :)

Aviso 1: Alguns personagens inocentes foram maltratados durante a produção dessa história. Então tem maldade nessa história. Estejam avisados.
Aviso 2: Essa história possui pequenas menções a cenas sexuais, nada explícito.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Sesshomaru inclinou a cabeça para cima, observando calmamente a janela do quarto andar. O prédio tinha cinco no total, era velho e pouco impressionante. Mas a luz incandescente do outro lado da janela estava acesa e, mesmo dali de fora, ele podia sentir o cheiro do ocupante do apartamento. Alguém que ele não via há uns bons séculos e nunca pretendera voltar a ver, pelo menos não propositalmente.

Aparentemente, Inuyasha também não esperava vê-lo. O hanyou colocou a cabeça para fora, observando o meio-irmão parado na calçada, parecendo completamente deslocado com aquelas roupas chiques no meio de um bairro de baixa renda. Olhos dourados encararam olhos dourados e, por um momento que se prolongou, ninguém disse nada. Até que:

- Mas que merda você está fazendo aqui, Sesshomaru?

O grito teria chamado a atenção de todos os pedestres na rua, se houvesse alguém ali àquela hora da noite. Além disso, era desnecessário, dado que ambos sabiam que suas audições dispensavam o uso daquele volume em uma conversa, não importando o quanto eles se assemelhassem a humanos comuns naquele momento.

- Não vai me convidar para entrar, Inuyasha?

xXx

O olhar de Sesshomaru era frio enquanto ele dirigia calmamente, ainda mais frio do que o olhar que costumava fazer seus inimigos tremerem de medo séculos atrás. Aquilo foi em outra época, quase outra vida. Depois dela, ele nunca mais fora o mesmo.

Era estranho como apenas pensar nela o fazia reviver memórias que ele devia ter enterrado há muito tempo, mas nunca parecera ser completamente capaz de fazê-lo. Ele ainda podia sentir o cheiro, tão real que ele podia jurar que ela estava bem ali por perto.

Sesshomaru freou o carro, os olhos se arregalando em surpresa. Atrás dele, buzinas e xingamentos raivosos soavam, protestando pela freada brusca que quase fez com que o carro de trás batesse em sua traseira.

Ele não poderia se importar menos.

Aquele cheiro não vinha de sua imaginação. Era real demais, ele quase podia tocá-lo no ar.

Ignorando tudo ao seu redor, ele abriu a porta do carro e saiu em um quase desespero, algo que ele não sentia há muito tempo. Ele não sentia há muito tempo. Mas, naquele instante em que seus olhos oscilavam freneticamente pela rua movimentada, procurando, procurando, ele podia sentir seu coração, há muito adormecido, bater incessantemente contra o peito.

Então ele a viu, andando casualmente pela calçada. Pernas longilíneas deixadas à mostra por uma pequena saia de uniforme do ensino médio. Longos cabelos negros dançando com o vento, acompanhando o movimento de seus passos despreocupados.

Ele não precisava de confirmação visual. O cheiro era o suficiente para forçá-lo a andar até ela, como um caçador perseguindo uma presa. Ela estava de costas para ele, totalmente alheia ao que se passava.

Impulsivamente, ele pousou uma mão sobre o ombro dela quando a alcançou, como se ela fosse a única coisa real, tangível, física naquele mundo. Sua mão a forçou a se virar para ele, para que ele pudesse finalmente olhar naqueles olhos de novo.

Ela se virou, assustada e, durante aquela pequena fatia da eternidade, os olhares deles se encontraram.

Sesshomaru caiu de joelhos, sem desviar o olhar. A boca entreaberta, a expressão em choque. A multidão de pessoas curiosas ao redor parecia invisível.

Era ela!

 

O júbilo do reencontro dos dois não demorou a se tornar um verdadeiro pesadelo para o daiyoukai.

Haruhi era seu nome, mas ele não se importava. Ela sempre teria apenas um nome para ele. E essa era a fonte de todo o problema.

Toda vez que ele olhava para ela, era como se nada tivesse mudado, como se ele nunca tivesse a perdido. Ele podia se deliciar com aquela vista novamente, como se aquela fosse apenas uma continuação da felicidade que tinha sido interrompida quando ela morreu, quinhentos anos atrás. Mas agora estava de volta e nada havia mudado.

Haruhi, como ela dizia se chamar, não parecia se importar com a forma estranha como eles se conheceram. Ela se sentia atraída por ele, fascinada, presa. Não demorou para que ela aceitasse acompanhá-lo para tomar um café, para que aceitasse acompanha-lo até em casa. Para que aceitasse acompanha-lo até sua cama.

Apesar daquela confiança inquebrável que ela depositara sobre ele, daquela devoção que ela apresentava, ele não parecia ter o suficiente.

Haruhi era idêntica à ela, com o corpo esguio, as curvas suaves, os seios modestos. Os profundos olhos castanhos, emoldurados por cabelos escuros com tendências levemente rebeldes que ele adorava. E, acima de tudo, o sorriso. Ele perdia o fôlego toda vez que ela sorria aquele sorriso que era especialmente dele. Que era especialmente dela.

Fechando os olhos e aspirando seu doce aroma enquanto ele se movia dentro dela à noite, ele podia sonhar tão vividamente que ele a tinha de volta finalmente. Mas, quando ela conversava com ele, toda aquela fantasia desmoronava e o lembrava de um fato:

Ele a detestava.

Porque ela não era ela. Nunca poderia ser.

E ele odiava que aquela estranha estivesse ali, no lugar que devia ser dela. Usando o corpo dela e exibindo-o por aí com aquelas roupas curtas que as meninas dos dias atuais usavam. Ele detestava a forma como ela o chamava de amor, porque soava completamente errado. Não teria se importado se fosse ela quem decidisse o chamar assim, tão intimamente, algum dia. O problema era que a verdadeira ela nunca faria aquilo, porque ela prezava o respeito por ele e a posição hierárquica dele sobre todas as coisas.

Haruhi não sabia sequer que havia uma posição hierárquica para ser respeitada. Ela não sabia quem ele era, ou costumava ser, eles não se conheciam. Eram completos estranhos imersos em uma repetição fantasiosa que os forçava a estarem juntos sem realmente desejarem estar.

Sesshomaru a teria matado, tamanho o desprezo que ele nutria por aquela humana. Ele desprezava todos os humanos, não era realmente nada de especial. Existia apenas uma a quem ele não apenas tolerava, mas amava acima de todas as coisas. Aquela que dera a luz aos seus filhotes, que o amara de volta apesar de todas as diferenças entre eles. Que dedicou uma vida inteira à tarefa de amá-lo, até o dia em que deu seu último suspiro nos braços do youkai, os cabelos sobre sua cabeça tão brancos quanto os dele.

Mas aquilo acontecera muito tempo atrás. E ele apenas vagou em sua solidão, afogado nas profundezas de seu pesar, sem ter uma saída, sem ter como esquecer. Forçado a viver às espreitas em um mundo governado pelas criaturas que ele mais detestava, sem um motivo para viver e sem um motivo para morrer. Pelas diferenças de raça, eles não poderiam ficar juntos, nem mesmo na pós vida. E, justamente quando ele pensou que aquele tormento havia chegado ao fim, que ele finalmente a tinha encontrado novamente, ele percebeu.

Que não era ela.

O único motivo para que Haruhi ainda estivesse viva era pelos instantes de ilusão que ela proporcionava a ele. Além do fato de que, se ele derramasse o sangue dela, teria o cheiro do sangue dela, e ele não podia suportar tal coisa.

xXx

Foram aqueles eventos que o levaram até onde ele estava, em Tóquio, onde ele localizara o meio-irmão mais novo que, àquela altura, parecia bem mais velho do que ele.

O dilema de Haruhi o levara a pensar na primeira experiência que ele teve de perto com casos de reencarnação. Aquilo também havia acontecido há uma eternidade, mas ele ainda se lembrava do drama da sacerdotisa reencarnada e da sacerdotisa revivida. As duas mulheres que Inuyasha amou.

Ele nunca havia se interessado por aquela história quando teve a chance. Apenas se lembrava do cheiro de terra e ossos que a primeira sacerdotisa exalava, deixando bem claro que ela não estava realmente viva. Não como ela estivera quando ele a revivera com a Tenseiga.

Mas, diante de toda a situação, diante de seu desespero, de sua obsessão incessante, ele estava disposto a ir tão longe. Se ele pudesse ao menos ter a consciência dela de volta... Agora ele sabia que um corpo que apenas parecia com o dela e cheirava como o dela jamais seria o suficiente para ele. Se ele pudesse ter a alma dela de volta... Seria infinitamente mais satisfatório.

Por todos aqueles séculos ele jamais havia pensado naquela possibilidade, apenas esperando pacientemente que o destino naturalmente reproduzisse a mulher que ele amava e a devolvesse para ele, como um prêmio por ter esperado tempo o suficiente. Ele não esperava que aquele presente se apresentaria como uma maldição quando finalmente chegasse e agora ele estava farto de esperar por nada. Ele a queria!

- Então, você veio até aqui depois de todos esses anos para me perguntar sobre a Kikyou? Francamente, Sesshomaru?

Os irmãos se sentavam de frente um para o outro, nos sofás surrados da sala de estar de Inuyasha. As paredes lisas eram pintadas de um bege pouco elegante, fazendo o cômodo parecer menor e mais velho do que realmente era.

- Apenas conte-me.

O rosto enrugado de Inuyasha se franziu, insatisfeito. Ainda era claramente desconfortável para ele entrar naquele assunto, mas ele atendeu ao pedido de qualquer maneira.

- Interessante. – Foi tudo que Sesshomaru disse ao fim do longo e detalhado conto, antes de levantar-se para se retirar.

- O que diabos você está pretendendo hein? – Inuyasha interrompeu antes que ele pudesse passar pela porta.

- Não é da sua conta.

Apesar da resposta que demonstrava pouca gratidão por toda a informação que o velho hanyou havia cedido, ele respondeu de volta. Dessa vez, sua voz era suave, as orelhas no topo de sua cabeça se abaixando.

- Escuta, não vale a pena. Confie em mim, eu já passei por isso. – Inuyasha aconselhou, a voz cuidadosa. – Se você está pensando na Ri-

- Adeus, Inuyasha. – Sesshomaru o cortou antes que ele pudesse completar a frase, antes que ele pudesse pronunciar o nome dela.

Um nome que ele não achava que podia dizer em voz alta ou ouvir, até mesmo na privacidade de sua mente, sem entrar em algum tipo de colapso emocional que ele tentava evitar, mas que estava ali sempre à espreita.

Ele saiu pela porta.

 

Sesshomaru passou longos dias enfiado em bibliotecas, tanto as oficiais quanto as secretas, mantidas por youkais sobreviventes, com registros de coisas que os humanos duvidavam serem possíveis. Seus olhos treinados varriam cada página de livros e pergaminhos antigos, em busca de palavras-chaves, como “bruxa” ou “Urasue”. Foi graças àquela longa pesquisa que ele encontrou um pequeno estabelecimento em um prédio acabado, caindo aos pedaços.

A placa na entrada anunciava serviços inúteis como leitura do futuro e revelações do verdadeiro amor, mas, para o mundo oculto dos youkais, havia muito mais escondido entre aquelas baboseiras.

Do lado de dentro, havia uma mulher perturbadoramente magra, com a pele enrugada pelo tempo e grandes olhos esbugalhados. Ela o recebeu, chamando-o com um sorriso desdentado e unhas grandes pintadas de um vermelho escandaloso. Sesshomaru se perguntou se a aparência óbvia de bruxa proporcionava mais credibilidade aos clientes. Não importava, pois ele sabia quem ela era.

Uma descendente da linhagem da velha Urasue, a bruxa responsável por reviver Kikyou no passado através do roubo de ossos e terra de seu túmulo. E ele não hesitou em levantar aquele assunto, deixando claro suas intenções desde o início.

- Ha, aquele feitiço velho? Aquilo é moleza.

- Então você sabe fazer.

A mulher o encarou com olhos pensativos, antes de sorrir novamente, apoiando o queixo sobre dedos esqueléticos.

- Você tem alguma coisa dela? Da humana na qual você está interessado?

Sesshomaru sabia que aquilo poderia ser necessário, então ele se precavera. Ele tirou do bolso de seu paletó um pente com fios de cabelo brancos ainda entrelaçados entre os dentes e o ofereceu à feiticeira. Aquele pente não era dele, nem os fios de cabelo.

Ela o agarrou ansiosamente, e ele reprimiu o impulso de mandá-la ser cuidadosa com o objeto. Ela apenas o tocou por um instante, antes de arregalar ainda mais os olhos.

- A sua humana já está reencarnada!

- Eu sei disso. – Ele respondeu em um tom monótono.

Não era o bastante. Não era ela!

Ela depositou o pente sobre a mesa entre eles e usou as mãos livres para bater palmas, parecendo animada.

- Por que diabos você não me disse antes?! – Ela perguntou, pondo-se de pé e mexendo freneticamente em suas prateleiras empoeiradas. – Você queria a magia de Urasue? Que piada!

- Ela conseguiu fazer, mesmo com a alma reencarnada. – Ele lembrou em um tom rígido, impaciente. Adoraria matá-la se ela não parecesse ser competente o bastante para ajudá-lo no que ele precisava.

- Infernos, claro que sim! Você a tem? A reencarnação?

Sesshomaru pensou vagamente na humana que devia estar dormindo em sua cama naquele momento, entediada por ele tê-la abandonado por tanto tempo em sua busca por informações do passado. Ele assentiu.

- Esse tempo todo você queria que eu fizesse um boneco de barro e enfiasse a alma da sua humana dentro dele, quando você tem o corpo dela de verdade, vivo, em sua posse? – Ela riu escandalosamente. – Você é burro?

Sesshomaru estalou as garras inconscientemente, tendo que se esforçar para lembrar que ele não podia matar aquela insolente. Ele precisava dela naquele momento. A mataria depois.

- Você vai fazer ou não?

- Tá brincando? Há quanto tempo eu não faço magia de verdade por aqui! Magia negra, ainda por cima, eu não perderia isso por nada!

Ele ficou em silêncio por um momento, ponderando sobre aquela súbita oportunidade que se apresentara. Ele a teria de volta, por completo...

- Diga-me, youkai, o quanto exatamente você quer sua humana de volta? – A mulher perguntou, interrompendo seus pensamentos.

Ele não vacilou ao responder, olhos dourados determinados e sérios:

- Mais do que qualquer coisa.

xXx

Ela lutava contra ele, os delicados punhos se chocando repetidamente contra o seu peito enquanto ele a carregava em seus braços, sem dar ouvidos aos gritos incessantes dela. De certa forma, era perturbador, porque era a voz dela, e havia algum instinto dentro dele que o impelia a parar aquilo, a colocá-la no chão e abraçá-la, para fazê-la parar de chorar. Ele nunca seria capaz de provocar sofrimento à ela, mas não era ela, então ele prosseguiu.

Abrindo a porta com o pé direito ao mesmo tempo que equilibrava a garota esperneando em seu colo, ele entrou no elegante banheiro de sua mansão. O piso de porcelanato era de um branco impecável, se estendendo pelo cômodo até a grande banheira de mármore na outra extremidade. Ao lado da banheira, a bruxa estava de pé, as mãos sobre os ouvidos em uma tentativa de abafar os gritos estridentes da humana.

- Me coloque no chão! O que você está fazendo?! Sesshomaru!

- Silêncio. – Ele disse, pela milésima vez, mas fez o que ela pediu, agora que já haviam alcançado seu destino.

Assim que ela pôs os pés descalços sobre o piso frio, Haruhi tentou correr de volta para a porta, mas ele a segurou pelos ombros, empurrando-a de volta para o centro do cômodo. Ela tentou se desvencilhar, mas ele a virou, pressionando ambas as mãos dela contra as costas, mantendo-a imobilizada.

- Pare! Por que está fazendo isso?! Quem é essa mulher?

- Nossa, que irritante. Eu espero que a garota que você esteja tentando trazer de volta seja mais tranquila. – Protestou a velha.

- Ela é. – Ele respondeu, sem se importar com os gritos que continuavam.

- Que bom. Vamos, amarre logo ela. – Conduziu a bruxa, colocando mais algumas ervas na água já esverdeada da banheira. - Eu não tenho a noite toda.

Sem mais uma palavra, o inuyoukai uniu os pulsos com uma corda, em um aperto firme. Haruhi gritou com a pressão da corda sobre sua pele, mas ele não se importou.

Ele a virou de volta de frente para ele, olhando por um momento no fundo daqueles belos olhos castanhos. Ao vê-los inundados por lágrimas, ele vacilou por um instante, seu instinto protetor clicando novamente no âmago de seu ser. Ele ignorou, guiando-a à força até a banheira.

Não era ela, ele lembrou, como um mantra.

Quando ele a levantou no colo mais uma vez para colocá-la na água, Haruhi tentou morder sua bochecha em desespero, parecendo extremamente surpresa por não ter sido capaz de provocar nenhum dano. Ela realmente tinha colocado toda a sua força naquela mordida.

- O que é você? - Ela questionou, apavorada.

Sesshomaru havia feito questão de usar sua aparência de youkai para aquela ocasião, ao invés do disfarce que ele vestira por tanto tempo para se misturar aos humanos. Ele queria que ela fosse capaz de reconhecê-lo facilmente quando se vissem de novo, em breve.

Sem uma pontada de dor, ele apenas a deitou na banheira, deixando que ela afundasse na água morna, apenas tomando o cuidado de manter sua cabeça do lado de fora. A última coisa que ele precisava naquele momento era deixá-la morrer afogada.

A anciã tomou a frente, pousando uma estranha folha sobre a testa da jovem humana que chorava em desespero, tentando desviar das mãos do homem que a prendia no lugar.

- Ótimo, vamos começar.

Sesshomaru observou sem uma expressão em seu rosto enquanto o ritual procedia, procurando se concentrar em qualquer coisa que não fosse o som daquela voz implorando para que ele a ajudasse, para que ele a salvasse. Os gritos dela oscilavam entre pedidos de socorro e acusações raivosas, e ele podia compreender que ela se sentisse traída, pois aquele era realmente o caso.

Por meses ele deixara que ela se iludisse com a ideia de que ele a amava, quando na verdade era justamente o contrário. Ele apenas amava a pessoa que ela representava e, se havia uma chance de fazer uma troca, ele estava disposto a fazê-la em um piscar de olhos.

Fechando os olhos, ele se permitiu pensar nela e no que ele diria quando a tivesse de volta. Seu coração palpitava em ansiedade, tentando prever o que ela diria, o que ela faria. Talvez ela sorrisse e o abraçasse, mas algo dizia que esse podia não ser o caso.

Ela poderia ficar brava, provavelmente ficaria, se soubesse o que ele estava fazendo. Sesshomaru não se lembrava do último humano inocente que ele havia matado, mas sabia que não havia feito uma única vítima do tipo desde o dia em que a conheceu. Ela ficaria decepcionada se soubesse que ele se deixara levar por sua natureza cruel, sacrificando a vida de uma adolescente inocente apenas para ter de volta seu amor falecido tanto tempo atrás.

Mas era só uma vida, um pequeno deslize depois de mais de quinhentos anos de disciplina. Ela certamente o perdoaria, principalmente levando em consideração o motivo.

De acordo com Inuyasha, seu reencontro com Kikyou não havia sido dos mais amigáveis. Ela estava furiosa por ter sido revivida, e estava furiosa com ele. Mas Sesshomaru sabia que seria diferente daquela vez, porque ele sabia que, se ela tivesse a oportunidade, ela iria querer voltar para ele sem pensar duas vezes. Quando eles se despediram aquela última vez, eles não queriam nada mais do que se encontrar novamente algum dia.

E aquele dia havia chegado.

Ele observou com um pouco de desconforto enquanto a velha acrescentava ingredientes essenciais em sua mistura: a terra e os ossos. Sesshomaru nunca achou que teria que fazer algo tão abominável quanto violar o túmulo dela, mas, novamente, era por um bom motivo. O túmulo servia apenas para memórias e ele não precisava de memórias se ele tivesse ela.

Com a adição do último ingrediente, os gritos se intensificaram, tornando aquilo tudo ainda mais difícil para o youkai. A humana berrava do fundo de seus pulmões, se debatendo com o que parecia ser o mais absoluto sofrimento. Ele apenas a segurou com mais firmeza, até que, finalmente, ela se acalmou.

E desmaiou.

- Acabou. – A bruxa disse, se afastando da banheira, tomando cuidado para não escorregar na água que havia espirrado pelo chão com toda aquela bagunça.

Ele olhou para ela por um único segundo, antes de olhar de volta para a garota desmaiada na banheira. O nariz dela sangrava. A respiração era rarefeita, incomum para alguém que havia gritado tanto e lutado por tanto tempo. Ela deveria estar ofegante. Ela deveria estar acordada.

Ela deveria.

- Rin. – Ele chamou, o nome soando estranho em sua boca, depois de tantos anos sem ser usado. – Rin!

Suas mãos a sacudiram brevemente e, quando não funcionou, ele a puxou para fora da banheira, sentando-se no chão molhado e deitando o corpo mole sobre o colo dele.

- Rin, por favor, acorde.

Silêncio. E o silêncio incluía até mesmo a ausência do som das batidas do coração dela.

Ele se voltou para a bruxa no canto do banheiro, seus olhos tingidos em vermelho por um momento.

- O que você fez?!

- Se acalme! – Ela respondeu em reprovação, como uma mãe dando uma bronca em um filho desobediente. – Essa garota já enganou a morte vezes demais. Não vão abrir mão dela tão fácil dessa vez.

Ele ignorou a voz irritante da velha, seus olhos, novamente dourados, voltando para o corpo em seu colo. Ela a puxou para mais perto, pressionando o rosto desacordado contra o peito, os braços a envolvendo como se, se ele pudesse mantê-la aquecida naquele abraço, ele pudesse impedir que o corpo dela esfriasse. Seria a quarta vez que ele teria aquela sensação e ele realmente não achava que poderia suportar.

Eu já te perdi vezes demais.

O tempo parecia se arrastar enquanto ele a segurava ali. Ele registrou apenas vagamente a saída da bruxa. Ela era sábia por fugir enquanto podia, mas não adiantaria. Quando ele se recuperasse, a encontraria e a mataria de qualquer maneira.

O som de tosse o tirou de seu estupor, chamando sua atenção de volta ao mundo real. De volta à Rin, que finalmente abria os olhos para encontrar os dele.

- Senhor...

A voz era frágil, quebrável, e Rin se calou no instante em que a ouviu. Ela não se lembrava de soar tão... jovial.

Sesshomaru nada disse por um longo momento, apenas apoiou suas costas, levantando-a para que ele pudesse abraçá-la mais intensamente. Ele enterrou o nariz nos cabelos úmidos dela, absorvendo aquele cheiro, o cheiro da vida.

- Rin. – Ele sussurrou com um demorado suspiro, como se fosse uma interjeição para indicar alívio, como se ele finalmente pudesse respirar novamente após tanto tempo sufocado em agonia.

Suas mãos energeticamente percorriam a extensão das costas dela, apalpando-a como que para se certificar de que ela real. Quando teve certeza, ele a afastou, pousando uma palma em cada lado da bochecha dela, forçando-a a olhar para ele diretamente.

Então, ele a beijou, derramando sem pudor todo o desespero que ele cultivara, se despindo de sua solidão e abandono, espalhando seus sentimentos de forma descuidada pelo chão enquanto ele se deitava sobre ela no piso frio e escorregadio.

- Senhor Sesshomaru... – Ela conseguiu dizer finalmente, por um breve momento de interrupção antes de ele tomar os lábios dela de volta mais uma vez.

Nas profundezas de seu coração negro e congelado, o youkai sorriu, um sorriso secreto que apenas a única dona daquele coração poderia sentir.

Era ela.


Notas Finais


Yay, final feliz! (Quase isso).
Eu já li muitas fanfics explorando a ideia de reencarnação, com o Sesshomaru se apaixonando pela reencarnação da Rin nos dias atuais, como aconteceu com o Inuyasha (mais ou menos). Particularmente, eu gosto desse plot porque ele pode se passar nos tempos modernos sem ter que sair do universo original do anime/mangá, o que é super legal.

Mas, minha história não é sobre encontrar o amor de novo. É sobre obsessão e não conseguir seguir em frente. Mesmo que a Haruhi fosse a melhor pessoa do mundo ele não poderia se apaixonar por ela porque ele está cego pela Rin, e é isso que eu queria explorar aqui. É pra mostrar mesmo como ele continua sendo sombrio e disposto a fazer umas coisas bem ruins pra conseguir o que ele quer.

Enfim, eu adorei escrever essa nova perspectiva para uma trama já tão utilizada por aí. :D
Até a próxima e não se esqueçam de deixar seus comentários lindos <3


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