História Ela Tem Olhos De Céu - You Wanna Know?

*** 

Fui para dentro de casa. Passei pela pia da cozinha e lavei a tinta que havia nos meus olhos. Minha mãe estava no quintal dos fundos esfregando roupas.

-Oi... Mãe... -Eu estava explodindo de dor de cabeça, não consegui dizer mais do que isso.

-Oi filha, chegou cedo.

-Quer ajuda? Precisa de algo? -Minha dor aparentemente estava explícita no meu rosto.

-Não, Mia... Você está bem? 

-Sim, sim... Só estou com um pouco de dor de cabeça. Se precisar de ajuda, estarei no meu quarto...-Minha mãe se levantou, deixou as coisas no chão e colocou a mão na minha testa.

-Mia você está com febre.

-Hã? Não, não, vou tomar banho e  me deitar... -Disse.

-Tudo bem, depois vou lá no seu quarto...-Dei um beijo na bochecha dela e subi. Passei pela porta do quarto de minha mãe, Gerda estava dormindo toda esparramada lá. Tomei um banho e joguei a água no meu rosto pra ver se a dor passava. Coloquei um vestido preto. Que dia foi esse?! Em um dia lutei com espadas, ganhei meu primeiro beijo e descobri uma coisa horrível... Pensar em tudo isso me fez dormir em certo ponto. Acordei com minha mãe chamando suavemente meu nome.

-Tome esse chá querida, vai melhorar.- Ela disse. Me sentei na cama.

-Obrigada mãe... Que horas são?

-Três e meia da tarde.-Ela disse. Tomei o chá, minha mãe era daquelas que tinha um chá para tudo, para cólica, dor de cabeça, dor de barriga... A dor não estava tão forte mais.

-Vou a feira comprar algumas coisas para amanhã.-Ela disse. Não queria que minha mãe fosse, ela aparentava estar cansada, e eu precisava me levantar, se ficasse parada a dor certamente voltaria.

-Não! Quer dizer... Posso ir para a senhora, preciso exercitar os músculos, me diga o que comprar e me de o dinheiro que eu vou.

-Tudo bem então...  Arrume o cabelo. Deixarei o dinheiro, a lista e a cesta em cima da mesa. -Disse e saiu. Me levantei em um pulo da cama. Escovei e prendi meu cabelo em uma trança lateral, bem bagunçada por sinal. Desci, e como combinado estava tudo em cima da mesa. Coloquei o dinheiro e o papel dentro da cesta.

"Meia dúzia de pêssego, 20 cachos de uva..."

Era mais ou menos o que estava escrito no papel.

 Minha mãe estava no sofá costurando um casaco laranja, muito bonito. Com certeza era alguma encomenda para o natal.

-Que lindo! -Endaguei.Minha mãe sorriu. -Tchau! -Dei um beijo na bochecha de minha mãe e ouvi um "tchau" da parte dela enquanto saia.

A feira não estava tão cheia quanto eu pensei. As pessoas certamente haviam passado por lá mais cedo. Cheguei a barraca de frutas. Mal pude olhar o vendedor pois estava tirando o papel de dentro da cesta. Quando ouvi uma voz familiar me chamar...

-Mia?

Levantei o rosto para ver quem me chamará. Era o Charlie. O menino que eu fui apaixonada a algum tempo. O menino que me fez chorar muito. O que eu estou pensando?! Ele está bem diferente.

-Charlie? 

-Mia! Como você está diferente! Tá bonita. -Ele disse com um sorriso estampado no rosto. Demorei um pouco para responder.

-Huum.. obrigada! Você também está bem diferente. Por que voltou? -Perguntei. Não queria parecer rude ao fazer esta pergunta. E não fui.

- As coisas sobre a guerra em Notille estavam ficando feias... Então meus pais acharam melhor voltarmos para cá e morarmos com minha prima.-Eles haviam se mudado pra Notille a um ano atrás.- Falando nela, olha ela aí. -Disse. Olhei para trás e vi Alice Fools vindo em nossa direção. Com o mesmo  ar de sempre. E o mesmo esmalte também. Eles não pareciam ser primos, nem de personalidade e nem de aparência. A não ser que os dois tinham olhos azuis. (Notas Da Autora//: Se não me engano disse que a Alice tinha olhos castanhos mas na verdade são azuis. Me desculpem pelo transtorno :p)

-Oi Charlie!...-Cumprimentou o primo. -Amélia...- Cuspiu o meu nome como forma do que ela considerava "cumprimento". Por um momento ri ao me lembrar do que Kan me disse. Sobre Alice ter bafo. Não ri o bastante para ser notada.

-(...) Então... Elionor disse que quando terminar aqui é pra ir direto pra casa para ajuda la.-Disse Alice debruçada no batente que dividia a parte de dentro da parte de fora da barraca. Ela se despediu do primo e com o seu nariz empinado passou por mim.

-Ela se acha muito. -Charlie disse rindo. -Acho isso ridículo.

-Pois é -Completei rindo também.

-Mas enfim... O que vai querer? - Me perguntou. Dei o papel a ele e pouco a pouco foi colocando tudo em sacos de papel dentro da minha cesta. Depois conferi tudo. Ele me disse o preço e eu o paguei.

-Como vão as coisas? Sua irmã, sua mãe?-Ele me perguntou.

-Vão bem. E vocês? -Perguntei me referindo ao pai e mãe de Charlie.

-Er.... Na verdade não. Minha mãe perdeu dois bebês recentemente... Ela está um pouco abalada ainda, assim como meu pai.-Charlie disse. Nossa. Eu sabia que Keith, mãe de Charlie tinha dificuldades para ter filhos. Antes do Charlie foram 5 gestações perdidas. Isso é muito triste. 

-Nossa.... Eu sinto muito. Muito mesmo.-Disse.

-Tudo bem... Eu meio que já estou "acostumado". Mas todas as vezes que ela perde algum é como se fosse a primeira vez. Para ela e meu pai. -Respondeu. -Mas mudando de assunto, onde vai passar as festas? Nos Keynes? -Perguntou.

-Na verdade eles vão vir na minha casa. E se você e sua família quiserem ir serão muito bem vindos. -Disse sorrindo. Charlie e sua família tinham o sobrenome "Fools" mas diferente da família da Alice não tinham nada contra ninguém. Não se achavam superiores a ninguém. Eles são "Gente boa" como minha mãe se refere a eles.

-Obrigado Mia pela hospitalidade, minha mãe disse a alguns dias que queria falar com a sua. Apareceremos por lá eu acho.-Ele sorriu e eu também.

-Ficarei muito feliz. -Disse.-Agora preciso ir, tchau! -Disse.

-Tchau, tenha uma boa tarde Mia.

-Para você também. -Completei e fui embora.

***

Cheguei em casa, minha mãe continuará costurando. Coloquei as compras sobre a mesa.

-Mãe, sabia que os Fools voltaram?-Perguntei.

-Sim! Fiquei sabendo, mas ainda não tive a oportunidade de falar com eles.

-Encontrei com Charlie agora. Ele está vendendo frutas na feira. Se não teve a oportunidade de falar com eles, não vai ficar zangada se souber que eu os chamei pra ceia, né?-Perguntei.

-Não estou zangada. Eles precisam se reacostumar a Camélia. Keith com certeza irá trazer algo, se vir. Você fez bem em chama los filha.-Minha mãe respondeu. A voz dela era tão doce que parecia mais a de um anjo. Se havia uma pessoa que eu amava no mundo era a minha mãe, meu paizinho que já não estava mais entre nós e minha irmã. Ah como eu amo eles. 

A noite caiu, e na minha janela me debrucei. Será que a lua chora muito? chora de amores quando se separa do sol? Acho que ela é forte. Não vemos muitas estrelas cadentes, ou melhor, lágrimas dela por aí no céu. Ela não chora desesperadamente, mas as vezes deixa respingar umas lágrimas brilhantes mais conhecidas como estrelas. Você que saber? A lua não é igual a mim...

... Que chora pra chover...