História Ela Tem Olhos De Céu - Extraordinary Girl

Melissa On:

Não acredito que fizeram isso comigo!

Hoje é o dia em que a Mia vai pro Reino, e para minha surpresa aqueles traidores já foram e me deixaram aqui!

Era de manhã bem cedo, lavei meu rosto, coloquei um shorts jeans, uma regata azul marinho, tênis e algumas pulseiras coloridas no pulso.

Arrumei minha mochila. Um estilete, (sim, eu levo isso pra onde for, seja na bainha ou na bota) roupas e alguns sapatos. Estava desesperada, a minha máquina de costura não estava lá, AI MEU DEUS, o que eu faria??? Foi quando notei que no lugar onde ela ficava havia um papelzinho.

"Mel... Não te levar conosco foi idéia do Jackson viu? Ele disse que não haveria dragão para você, Mas como eu sou uma ótima irmã levei a maior parte das suas roupas e sapatos, incluindo sua querida máquina de costura. Como combinado, estaremos no chalé. Te amo.

Alexia."

Aquilo me fez sorrir e ficar aliviada. Pontualidade não é comigo e só fui perceber que estava atrasada quando abri a janela e vi o sol. Sai correndo da minha casa, correndo mesmo. Acho que nunca havia corrido tanto na minha vida.

Quando estava perto do porto vi um ponto laranja de longe. Certeza de que era a Mia.

-Ai meu Deus, eu nunca corri tanto em minha vida!- Disse quando cheguei até eles. A minha única certeza que tinha aquele momento era que eu estava suada. -Não abraço vocês porque eu estou suada.-Disse. Eles riram e eu também.

-Tá fazendo o que aqui Mel?-Kan perguntou a mim.

-Aqueles traidores não me esperaram ,foram com Dragões e me deixaram aqui.-Revirei os olhos. -A esse momento devem estar no chalé comendo... e eu aqui morrendo de calor. - Eu parei de falar e percebi que um garoto estava vindo em nossa direção, QUE MENINO LINDO, MEU DEUS. Por algum motivo ele me encarou e eu encarei também, percebi que ele estava com as bochechas rosadas.

-Charlie, Melissa, Melissa, Charlie.- Amélia disse fazendo gestos com as mãos. Então o nome dele era Charlie? Que nome bonito, igual o dono.

-Muito prazer... Melissa.- Charlie disse a mim estendendo a mão. Ele estava com um sorriso e os seus olhos azuis estavam encarando os meus.

-O prazer é todo meu... Charlie..- Apertei a mão dele com um sorriso.

Acho que Mia queria ficar sozinha, pois eu Kan e Charlie estávamos conversando e ela parecia estar no mundo da lua.

- Então você é daqui mesmo? -Charlie me perguntou.

-Nossa que ótimo jeito de puxar assunto...- Ouvi Kan sussurar não tão baixo para Charlie que com um sorriso deu um soquinho nele. -É daqui Mel?- Kan perguntou com um sorriso irônico. Eu ri.

-Sim, sou daqui sim, mas de outra parte... -Respondi.

-Nossa, os seus olhos são muito verdes, muito bonitos-Charlie me disse olhando nos olhos.

-Ah obrigada!-Respondi e ele sorriu.

Estávamos quietos mas um som me chamou atenção. "Alguém me ajude, sou uma pobre alma cansada" era as súplicas que ouvia. Uma multidão se formou ao redor de um homem. Ele aparentemente era paraplégico, as pernas dele estavam machucadas e cortadas.

-Meu Deus...- Disse. Estava horrorizada. Como alguém conseguiria viver aquela situação? Reparei que ao lado dele havia um violino. Eu sei tocar violino, aprendi com uma senhora que morava conosco, que infelizmente faleceu. Decidi me aproximar, tive que pedir licença a algumas pessoas que estavam a minha frente.

-Com licença, sei que pode parecer ridículo da minha parte fazer uma pergunta dessas mais posso fazer algo pelo senhor? Lhe ajudar?- Perguntei me agachando ao lado dele. Vi rostos conhecidos como os de Kan, Mia e Charlie na multidão. As pessoas daquele navio eram horríveis, ouvi até xingamentos para mim só por dirigir a palavra aquele homem.

-O minha querida, não me chame de senhor, perdi a honra de ser chamado assim a muito tempo. -Ele disse aquilo abaixando a cabeça, e por algum motivo fiquei curiosa para saber o passado daquele homem, que não aparentava ter mais de 40 anos.

-Me perdoe mas o meu pai Stefan me ensinou a chamar os mais velhos de senhor.-Disse sorrindo. Ele levantou a cabeça e sorriu. Fiquei arrepiada. Aquele homem tinha os olhos igualzinho os meus. Verde escuro e com o formato idêntico, sem contar os outros traços. Eramos muito parecidos.

-Eu não consigo tocar, minhas mãos doem, o mundo é cruel, roubaram minhas esmolas e agora estou aqui, em um barco indo tentar a vida no Reino. -Disse ele fazendo cara de dor ao mostrar a suas mãos que estavam com marcas de corda, cortes e queimaduras graves.

-Senhor, perdoe me o intrometimento mas o que de tão grave fez para ter esses machucados?

-Digamos que perdi metade de mim, me arrependo de ter feito apenas uma coisa na minha vida, e paguei por isso, tanto o psicologicamente quanto fisicamente...- O jeito que aquele homem falava me deixava de certo modo... Triste... Resolvi não perguntar mais nada, seria falta de respeito. Peguei o violino dele que estava em ótimas condições. Era perfeito. Me coloquei na postura de tocar.

-O que vai fazer querida?- Ele perguntou olhando para mim.

-Tocar ué!-Respondi rindo.

Respirei fundo. Fazia tempo que não tocava, mas, não havia perdido a prática. Toquei minha música favorita, "fairytale"(Notas Da Autora//: Vou deixar o link nas notas finais. Já citei ela em outro capítulo, eu amo essa música, de verdade❤) aquela música me fazia chorar internamente de alguma maneira, a letra dela me abalava, e tocar ela para ajudar alguém... Era incrível. Percebi que ele sabia a letra e então começou a cantar, aquilo me deixou trêmula e feliz. E logo, todos ali já estavam cantando junto e jogando dinheiro na capa do violino.

Terminei. Todos bateram palmas. Fiquei vermelha. Vi que Charlie estava batendo palmas para mim também, ele mexeu a boca dizendo "Parabéns" com um sorriso, respondi "Obrigada" sorrindo também e depois ele disse algo a Kan. Fiz uma breve referência e agradeci a todos.

Pouco a pouco a multidão foi se afastando. Me virei ao homem, que olhava para mim com os olhos cheios de lágrimas.

-O que você fez por mim foi, foi extraordinário, muito, muito obrigado..-Ele disse já chorando, o que fez meus olhos manejarem também.

-Ó senhor não chore! Coisas extraordinárias acontecem a pessoas extraordinárias não é?

-Eu poderia te dar um abraço?- Disse ele.

-Claro!- Me abaixei e dei um abraço naquele homem. Muitas vezes somos hipócritas ao não perceber que a pessoa a o nosso lado só precisa de um abraço, de uma palavra de ânimo, de ajuda...

-Desejo que todos os seus sonhos se realizem.-Ele disse enquanto me afastava.

-Desejo o mesmo, Senhor...? -Perguntei. Já o considerava, mas não sabia o nome dele.

- Eliott, pode me chamar de Eliott -Ele disse. - E a Senhorita?

-Melissa... Melissa Allen...-Disse e sorri. Senti um cutuco nas costas, virei e me deparei com os olhos azuis de Charlie. Percebi que o navio estava parado.

-Vamos? Mia mandou lhe chamar.-Charlie me disse.

-Sim, sim, vamos...-Disse. -Tchau Eliott!

-Adeus Melissa...-Ouvi ele dizer.

Nos afastamos dele e pouco a pouco a multidão foi saindo do barco, nem dava para falar com Charlie de tanta gente que havia ali. Charlie desceu primeiro, eu iria cair mas, ele estendeu a mão.

-Senhorita...-Ele disse sorrindo.

-Obrigada.-Respondi segurando em sua mão e descendo do barco. -Preciso ir. -Disse. Kan e Mia estavam chegando perto de nós.

-Ir para onde?- Mia perguntou.

-Ué, para o chalé! Se precisarem de mim...

- Quando vamos nos ver novamente? -Charlie perguntou a mim.

-Eu não sei, espero que breve.-Disse.Ele sorriu.

-Tome cuidado.-Alertou Kan.

-Vou tomar sim, tchau! -Disse de forma geral, todos responderam juntos.

Pouco a pouco sumi na multidão.

***