História Ela Tem Olhos De Céu - A Notice

Dormi com Gerda e minha mãe fazendo cafuné em minha cabeça, o travesseiro ainda estava um pouco úmido. Acordei com um barulho estranho de "trac" "trac", decidi me levantar, até que olhei pela janela e vi Kan jogando pedrinhas nela.

-Oi. -Disse ao ver Kan parado, ele estava mais arrumado do que o normal.

-Oi, sua mãe mandou eu vir te acordar, príncipe Sebastian mandou uma carta, ela mandou você se arrumar e ir para a frente da igreja comigo. -Ele disse, Kan estava com uma cara de preocupação fora do normal, ele ficava ajeitando a gola do camiseta a cada palavra, quando Sebastian mandava cartas ou era o nome dos soldados que morreram, ou se feriram gravemente, ou pedindo uma nova remessa, Kan devia estar preocupado com o seu pai.

-Você quer vir aqui? -Perguntei, estava frio, nevando um pouco não queria que ele ficasse doente.

-Posso? -Ele perguntou.

-Pode, já vou aí. -Falei e já sai, abri a porta e Kan estava passando a mão nos braços, realmente, ele estava com muito frio.

-Obrigada. -Ele disse, e saiu fumaça de sua boca por conta do frio, eu estava com um vestido de seda que usava para dormir, quase congelei.

-Sem problema, vou me trocar rápido, já volto. -Disse enquanto entravamos, Kan sentou no sofá e eu fui direto para o meu quarto. Coloquei uma um vestido longo, que ia até o meu pé, botas pretas que eu usava pra andar na neve e uma capa verde que me fazia parecer um grande saco de batatas, ela  era até um pouco abaixo do meu joelho e era de pelo bem quentinho.

-Vamos? -Disse a Kan que estava de cabeça baixa batendo o pé muito forte contra o chão. -Ei, calma -Disse me sentando ao seu lado e colocando minha mão em seu ombro. -Não importa o que aconteça, eu vou estar com você. -Disse tentando acalma lo, ele levantou a cabeça e deu um sorriso.

Chegamos, a frente da igreja estava lotada, conseguia ver minha mãe e Gerda na frente, junto a Rose e Gustav. Um homem que aparentava ter seus 40 anos estava levantado com a carta na mão na escadaria da igreja.

-Acho que já esperei tempo de mais pelos moradores, vou dar a notícia. -Ele disse e depois limpou a garganta.-bom... Irei começar pelos soldados mortos. Ele deve ter falado uns 15 nomes, durante os nomes dos mortos várias pessoas saiam chorando...nada de Peter, a cada nome Kan soltava uma respiração.-Agora os soldados feridos, Guerad Depp levou uma flechada no braço, não corre risco de morrer mais voltará para cá amanhã, Peter Kynes teve a perna direita atingida por um gás, tivemos que amputar o membro, ele voltará amanhã... -Naquele momento me virei para Kan automaticamente, ele se virou e saiu empurrando todo mundo até sair da multidão, eu o segui.

-Kan! Espera! -Disse correndo atrás dele, que não parou, eu não aguentava mais correr então parei um pouco para respirar, fui surpreendida por uma mão em meu ombro... Era Gustav, ele estava chorando.

-Tudo bem Mia, não precisa ir atrás dele. -Ele me disse enquando fungava o nariz para engolir o choro.

-Eu sinto muito, muito mesmo. -Disse, meus olhos estavam marejados mas coloquei em minha cabeça que não ia chorar, e não chorei. -Mas...eu vou atrás dele.- Disse e sai em disparada até onde meus olhos viram Kan ir. Corri, corri muito até chegar em um lugar que eu não conhecia.

-Droga!- Exclamei, eu estava perdida, o lugar era uma floresta, mas não era tão cheia de árvores assim, porém, era o suficiente pra não saber onde estava. Caminhei de um lado para o outro, tentava me manter calma, pois se me desespera se ia piorar as coisas.

-Meu Deus Kan! onde você se enfiou???- Gritei o mais alto que podia. -Kan!!!!- Gritei novamente, eu estava decidida, ia tentar achar uma saída.

-Aqui em cima Mia. -Ouvi uma voz fraca me chamar, olhei para cima fiquei bem o lugad e vi Kan sentado em um galho de árvore, que não estava tão coberto de neve como os outros.

-Eu estava te procurando.- Disse e cheguei perto da árvore, prestes a subi la.

-Não precisa subir aqui, eu desço. -Kan disse e num estante ele estava em minha frente, estava com os olhos marejados, ele estava prestes a chorar quando corri e o abracei e aos poucos me aconheguei nos braços dele.

-Calma, está tudo bem, ele tá vivo, e aposto que quer te ver. -Respondi passando as mãos nos cabelos pretos de Kan ainda no abraço, e por mais que aquilo parecesse estranho, eu estava começando a aceitar a idéia de que não era.

-Ele não tem mais perna Mia...eu...eu não sei. -Ele completou.

-Kan...Ele está vivo, ele te ama, e aposto que não ia gostar de te ver assim. -Disse me separando lentamente do abraço, Kan secava os olhos com a manga da camiseta.

-É...mas... não vai ser a mesma coisa. -Ele disse.

-Vai sim! Você pode fazer ser a mesma coisa, ele ainda continua sendo seu pai e você filho dele não continua??- Disse com um meio sorriso no rosto.

-É... você tem razão...-Ele disse sorrindo para mim.

-Não acha que sua mãe deve estar preocupada com você? Vamos ver como ela está, você sabe o caminho de volta? -Perguntei olhando para os lados, ainda tentando achar uma saída.

-Você corre rápido? -Ele me perguntou com um olhar um pouco... estranho.

-Sim, eu acho, vim correndo até aqui depois de você e te achei! - Disse sorrindo para ele, que também sorriu.

-Então segura na minha mão.- Ele disse ainda sorrindo e me estendeu a sua mão, eu a segurei  e não sei porque, mas me arrepiei ao sentir a mão dele na minha.

-Vai fazer o que? -Perguntei.

-Você vai ver. -Então saímos correndo em disparada a um canto da floresta.