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História Ele Roubou O Meu Sorriso - Capítulo Um


Escrita por: RCooper

Notas do Autor


Então, Pedro, aproximando-se dEle, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim e eu lhe perdoarei? Até sete?
Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete.
(Mateus 16:21-22 )


(Para Débora e Samira)
Por sempre lerem os meus livros.
Amo vocês gatas.

Capítulo 1 - Capítulo Um


Fanfic / Fanfiction Ele Roubou O Meu Sorriso - Capítulo Um

I

    Sabia que eu era ingênua. Mas o que tem em achar que as pessoas são sempre sinceras?
    Sempre acreditei em amor verdadeiro e que tudo era como nas histórias de romance que via em filmes. Aos dezesseis anos e com pouco tempo pra fazer dezessete, eu estava em uma Corte. Um namoro baseado apenas em conversa. Meus pais fizeram isso antes de ter algo mais sério e eu quis experimentar.
    Havia conhecido Liam na escola. Um garoto responsável, gentil e simplesmente lindo; de olhos castanhos cor de mel, cabelo loiro bem arrumado pra trás e pele rosada que mais parecia que ele nunca havia pegado sol. Eu e Liam nos tornamos colegas de classe, depois nos aproximamos mais quando o professor nos colocou juntos para fazer um trabalho de Artes.
    Em certos momentos durante as aulas, pegava Liam olhando para mim. Eu ficava muito envergonhada e não sabia o que fazer. Desconfiava que ele gostasse de mim e tudo se confirmou quando ele se declarou. Desde então começamos a conversar bastante sobre o assunto. Estávamos começando a Corte.
    Eu tinha uma concepção em que afirmava que o amor verdadeiro e eterno que eu viveria, seria com o meu primeiro e único namorado, e falava isso a Liam. Ele me compreendia e até achava bom que parássemos mais para conversar sobre nossos sentimentos. A única coisa que complicava o nosso relacionamento era o beijo. Pra mim, isso só aconteceria quando eu tivesse muita certeza de que Liam seria meu para sempre.
    Às vezes, Liam até tentava me forçar a beijá-lo, mas eu ficava muito chateada e me afastava por alguns dias. Em alguns momentos parecia que Liam entendia minha concepção, em outras, parecia que ele ficava impaciente. Se realmente ele queria ficar comigo, por que não esperar? E mesmo com toda essa impaciência, eu continuava insistindo nele e até o entendia, pois esperar é realmente muito chato. Mas era o que eu desejava.
    Nossos amigos da escola nos admiravam muito pela forma como agíamos. Nunca discutíamos na frente de ninguém e sempre que estávamos brigados e queríamos pensar, dávamos tempo um ao outro. Eles achavam isso perfeito a não ser por Lola, uma das amigas de Liam. Sempre quando ele não estava por perto, ela me dizia para tomar cuidado, pois pelo fato de seus muitos anos de amizade com ele, sabia a pessoa que ele era por debaixo daquela capa de bom rapaz. Mas como eu poderia acreditar em Lola? Ela não falava comigo a não ser que fosse para me dar esses alertas estranhos. Lola parecia gentil e carismática. Não tinha cara de quem criava intrigas e mesmo assim eu não dava ouvidos a ela.
    Júlia, outra garota simpática da escola, nos enviou um convite de sua festa de dezessete anos.

“Uma festa é só um dia, mas os momentos vividos nela duram pra sempre”.
Vocês fazem parte da minha vida, por isso, não poderiam ficar de fora desse evento.
Venham participar junto comigo dos meus 17 anos.
Data: 07/ 08/ 2004

Para: Hellena e Liam.

 

    O convite chegou pelo correio e o carteiro o deixou na porta de casa. Minha mãe o recebeu e não gostou nada de saber que a festa seria na quinta, no mesmo dia do meu aniversário também de dezessete anos. Meus pais ficaram um pouco chateados pelo fato de eu não querer dar a minha festa pra ir para a festa dela, mas eu os convenci falando que eu poderia dar a minha festa no sábado e que não queria fazer desfeita para Júlia. Minha mãe aceitou, meio que não aceitando. Mas quem era minha mãe pra recusar uma festa?! Afinal, sempre que tinha uma comemoração na minha casa minha mãe corria pra fazer os preparativos. E dessa vez não foi diferente. Já que ela não iria fazer a minha festa, queria me ajudar no que fosse para a festa de Júlia. Eu confiava inteiramente nela e no seu bom gosto.
    No dia da festa, minha mãe comprou um vestido preto de pregas com acabamento vermelho e de alcinha. Ele era simplesmente lindo! Ela também penteou meu imenso cabelo castanho claro e fez uma trança de raiz deixando apenas alguns fios soltos no canto da minha testa ao lado da minha franja. Eu estava pronta.
    Às 18h00 de quinta-feira Liam me buscou de carro com seu pai Noah.
    – Boa noite minha querida – Noah me saudou. – Como estás?
    Ele parecia animado e, pelo visto, muito culto.
    – Estou ótima! Obrigado.
    – Soube que hoje é um dia especial pra você boa moça.
    Se ele estivesse falando sobre o que eu estava pensando... Depois de meus pais, o resto de minha família e Gabrielle, minha melhor amiga, só Liam sabia a data do meu aniversário. Eu tinha trauma de contar isso para uma pessoa que não fosse minha amiga. Da última vez que fiz isso foi na quarta série. Leonard, um garoto muito sapeca da escola, tinha me perguntado quando era meu aniversário, e eu, sem desconfiar de nada, contei. E no dia 7, quando cheguei à escola pela manhã, fui recebida com várias ovádas de quase todas as outras crianças que andavam com Leonard e que também eram da minha sala. Fiquei furiosa. Meu cabelo não chegava à metade da costa como hoje, mas deu muito trabalho pra lavar. Desde então, meu aniversário é um segredo pra muitos.  
    Entrei no carro.
    – Parabéns querida – Noah completou a frase.
    – Obrigada – Hesitei um pouco ao falar.
    Sentei do lado de Liam no banco de trás e me surpreendi com seu elogio.
    – Você está maravilhosa Hellena.
    Já era de costume receber esses elogios dele, mas eu sempre corava ao ouvir um novamente.
    – Obrigada.
    – Como hoje é um dia especial pra você, quero que tudo seja perfeito. Se eu errar em alguma coisa, peço desculpa desde agora.
    – Do que você está falando?
    – Só quero que tudo saia perfeito.
    Sorri.
    – E está.
    Levei minha mão até seu rosto e o acariciei.
    – Amo o seu sorriso, sabia?
    Novamente corei. Balancei a cabeça confirmando.
    Ele suspirou aliviado, depois, relaxou sua cabeça no banco. Pude sentir o cheiro do perfume que ele costumava usar pairando no ar. Em um dos momentos dentro daquele móvel, Liam deslizou sua mão e colocou-a sobre a minha. Fiquei com medo de seu pai estar vendo aquilo pelo retrovisor acima de sua cabeça e fiquei me perguntando se ele apoiava nossa Corte. Se ele via algum problema em seu filho estar em um relacionamento. Acho que não. Acho que é isso que todo pai quer pros seus filhos. Eu era muito complexa e isso me agoniava.
    – De acordo com o endereço no convite – Noah abordou, – chegamos!
    Saímos do carro. A sola de minha sapatilha roxa tocou o gramado fino e baixo da frente do imenso salão. Liam saiu pela porta do outro lado do carro, conversou um pouco com seu pai e logo em seguida, seu pai deu a partida e saiu. Liam se aproximou de mim e segurou minha mão.
    – Vamos? – Ele perguntou.
    Concordei com a cabeça. Então ele me guiou para dentro do salão. Ao entrarmos, fomos surpreendidos de cara com um casal quase se engolindo de tanto se beijar. Fiquei abismada com aquilo.
    – Que nojo!
    Liam estalou a língua.
    – Deixa os dois aproveitarem.
    Franzi minha sobrancelha. Eu e Liam estávamos na corte há um ano e meio, mas eu ainda não tinha me acostumado com o jeito que ele via as coisas. Em seguida, Júlia veio nos cumprimentar e ao seu lado estava Letícia, sua melhor amiga.
    – Oi Hellena!
    Seu ar carismático contagiava.
    – Oi Júlia!
    Sorri. Ela retribuiu com um sorriso gigantesco.
    Eu e Júlia não éramos tão próximas, mas nos dávamos muito bem.
    – E aí garotas! – Liam entrou na conversa.
    Letícia sorriu meio tímida.
    – Oi Liam – Júlia o cumprimentou e logo voltou à atenção pra mim – Bom Hellena, se vocês quiserem se acomodar em algum lugar, é só procurarem uma mesa. Ainda tem várias vazias.
    – Certo. Obrigada.
    Sorri. Fomos até uma mesa vazia e nos sentamos. Percebi que Liam tinha ficado calado e pensativo desde que falou com as garotas.
    – Ela é estranha. Parece Gótica. Não fala com ninguém – Liam declarou quebrando o silêncio.
    – De quem você está falando?
    – Da Júlia.
    Soltei uma gargalhada um pouco extravagante demais. Corei logo em seguida. Recuperei o fôlego e falei:
    – Corrigindo, ela não fala com você.
    Ele bufou.
    Liam era muito popular com as garotas e quando não tinha a atenção de uma, dizia que a garota era estranha. Às vezes eu achava que ele fazia isso só pra me pressionar ainda mais pra ter o que queria. Eu também sabia que ele não era nem um pouco santo. Aos sete anos ele teve sua primeira namorada, e a última foi antes de me conhecer. O motivo principal pelo qual as garotas terminavam com ele, era porque sempre descobriam uma traição. Ele sempre dizia que a vida é pura curtição e se não aproveitarmos a juventude, na velhice iriamos lamentar pelo tempo perdido. Essa era a resposta dele pra tudo. Quando eu entrei nesse relacionamento, decidi confiar em Liam e dar a ele uma chance para mudar. Nunca pensei como ele. Deve ser esse o motivo de eu ainda ter tantas dúvidas sobre nós dois. Esses pensamentos de Liam faziam com que nós nos afastássemos cada vez mais.
   Poucos minutos depois começaram a distribuir os salgados e o refrigerante como entrada. Mais um tempo depois, as músicas agitadas começaram a tocar. Algumas pessoas caminharam para o centro do salão, ao passo que outras pessoas as seguiam e também caminhavam para o centro do salão. Quando todas já estavam reunidas, formaram um circulo enorme e começaram a dançar bastante animadas. A festa estava ótima. Luzes piscando, cortinas coloridas estilo neon. Havia também um globo imenso no meio do teto, que reluzia às várias luzes que eram direcionadas para ele. Deixei os salgados de lado e o copo de refrigerante que nem toquei e também fui para o meio do salão dançar. Liam me seguiu. Começamos a dançar ao som das batidas eletrônicas que o DJ contratado tocava. Só parei quando vi Gabrielle se aproximando de mim.
    – Gabi! – Animei-me.
    Ela me abraçou também animada.
    – Pensei que você não viria.
    – E você acha que eu ia perder tudo isso gata? – Ela falou e deu uma abocanhada na pequena coxinha que estava em sua mão.
    – Liam está aí.
    – E eu com isso? Você sabe que eu não dou a mínima pra ele.
    Ela mexeu seus ombros e cintura de acordo com a batida da música.
    – Eu não entendo. O Liam nunca fez nada pra você. Não sei por que dessa sua implicação com ele.
    – Ele é um falso! – Ela falava ainda mexendo seu corpo na batida da música.
    – Não fala isso dele. Sabe que não gosto quando falam mal dos meus amigos.
    – É que você é minha amiga e eu só estou tentando te ajudar.
    – Eu sei me cuidar sozinha.
    – Só quero o seu melhor. Mas tudo bem. VAMOS CURTIR A FESTA!
    Ela começou a dançar como louca.
    Gabrielle era como Lola, sempre me alertando sobre Liam. Ela não gostava nada dele e não tinha vergonha de demonstrar.
    Havia um cantinho de bater fotos bem ao lado da mesa do bolo, o lugar nunca ficava vazio, pois sempre tinha alguém querendo registrar o momento com seus amigos. Gabi segurou minha mão e me puxou para que entrássemos na fila. Já que meus pais nunca tinham me dado um celular, não podia registrar nada. Mas Gabi podia e queria com toda certeza. Após um grupo de jovens saírem do espaço, entramos. Eram dois minutos contados para qualquer pessoa tirar as fotos que quisessem. Eu e Gabi tentamos aproveitar ao máximo nosso tempo. Batemos de um ângulo, de outro. Não nos cansávamos. No início, estava tudo muito sério, mas depois que um garoto caiu bem ao nosso lado, eu coloquei a mão na boca rindo que nem maluca e Gabrielle capturou. Desde então, as fotos começaram a mudar. Fazíamos cara de mal, caretas ridículas e muitas outras poses diferentes. Quando o nosso tempo acabou, ficamos rindo histericamente quando saíamos do lugar. Paramos para ver as fotos, mas eu sentia falta de alguém. Já fazia algum tempo que eu não via Liam. Queria saber onde ele estava.
    – Você viu o Liam, Gabi?
    – Eu não. Não era você quem deveria saber?!
    A ironia no tom de voz dela me incomodou.
    – Quer saber? Vou procura-lo.
    Ela fez que sim com o dedo e continuou vendo os milhões de alto-retratos que tiramos. Primeiro fui à mesa das bebidas, talvez Liam estivesse com sede e foi beber um copo de refrigerante. No caminho, esbarrei com Lola que parecia estar nervosa e impaciente.
    – Me desculpa. Eu estou tão descoordenada que nem vi você aí.
    – Tudo bem – Respondi meio confusa.
    Ela seguiu seu rumo e eu a segui com meus olhos. Lola caminhava com a cabeça baixa. Ela não parecia estar nada bem. Virei e avistei Liam caminhando em minha direção. Ele estava todo eufórico. Andei um pouco depressa até ele.
    – Onde você estava? Eu estava te procurando.
    – Eu que estava procurando por você. Você sumiu de repente depois que a gente foi para o meio do salão.
    – Eu estava com a Gabrielle. Desculpa não ter avisado.
    – Tudo bem.
    Sorri.
    – Já falei que amo o seu sorriso?
    – Tantas vezes que já perdi a conta. Mas esse só abre pra você.
    Ele sorriu.
    – Sabe, como hoje é um dia importante pra você, acho que seja perfeito pra eu falar o que quero.
    – Como assim?
    – Eu sempre quis te dizer isso, e vejo que hoje é o dia ideal.
    – Pode falar então.
    – Sei que isso é importante pra você Hellena, também é pra mim.
    – O que foi Liam? Você tá me deixando preocupada.
    – É que eu... – Ele hesitou e segurou minha mão apertando-a levemente como se isso o desce força –... Eu Te Amo muito.
    Meu coração bateu tão rápido que parecia que ele sairia pela boca. Minha língua ficou seca. Eu não sabia o que deveria falar, não sabia como reagir. Ele me deixou confusa. Ainda não queria amar Liam porque sabia o quanto essa decisão era mais séria e levaria muito tempo para que eu chegasse a essa conclusão.
    – Eu também gosto muito de você Liam, mas acho que está muito cedo pra falar em amor.
    – De novo esse papo Hellena? Isso já está me cansando – Ele alterou-se e soltou minha mão.
    – Se te cansa, então não gosta de mim – Soltei.
    – É claro que gosto de você, e você sabe muito bem disso. Só quero ter um namoro de verdade como todos os outros garotos.
    – E você acha que isso não é um namoro? Na verdade, isso é muito mais importante que um namoro, é uma Corte! – Alterei-me. – Quer saber, isso pode ser o que for, mas você nunca vai se importar.
    – Lehna, para.
    Ele se aproximou do meu rosto querendo me beijar.
    – NÃO ME BEIJA!
    Dei um passo pra trás me afastando daquilo.
    – Lehna – Ele insistiu.
    – Não me chama assim!
    Saí daquele lugar chateada pelo que tinha acontecido. Antes de chegar à festa, Liam me pediu desculpas por qualquer coisa que ele fizesse que estragasse minha noite. Não sei se isso valeria para o que estava acontecendo. Não sei se queria perdoar Liam pela sua impaciência. Não sei se eu fazia as pessoas se cansarem de mim. Não saberia o que fazer depois que a raiva passasse. Eu odiava ser tão complicada.
    Sentei em uma cadeira próxima a uma janela de vidro e olhei para o lado de fora onde tinha um longo jardim cheio de árvores, flores e aquele mesmo gramado fino e curto que eu tinha visto na entrada. Fiquei imaginando como tudo parecia perfeito olhando daquele jeito. Depois de um tempo, fiquei com bastante sede e fui até a mesa de bebidas. Enchi um copo com suco de limão e o tomei. Fiquei intrigada ao ouvir:
    – Já disse que não quero fazer isso aqui, ela veio! – Uma voz feminina exclamou.
    – Para com isso. Ela não vai nem se importar. Ela só se importa com aquela porcaria de Corte.
    A segunda voz parecia conhecida. Tentei ver o que era. Olhei para o lado, onde havia um pequeno corredor escuro, iluminado apenas com alguns focos de luzes que vinham do globo. A primeira silhueta era diferente. Mas a segunda, eu reconheceria até do outro lado do mundo. Era Liam.
    – Não importa! – A garota falou. – Não quero!
    – Para com isso Lola. Você sabe que não gosto de esperar, afinal, nós já estamos nesse rolo há dois anos.
    Meu coração gelou, parecia que ele conversava com Lola, porém, eu queria ouvir mais pra saber o rumo daquela conversa.
    – Estou em dúvida. Não quero ser pega.
    – E não vai – Ele a puxou para perto. – Aproveita.
    Ele a envolveu em seus braços e beijou-a constantemente. No início ela queria sair daquele abraço, mas logo se rendeu ao momento, pois era o que os dois queriam.
    Fiquei imóvel. Não acreditava no que estava vendo. Não podia acreditar. Liam estava terminando tudo o que um dia eu planejei para nós dois. Ele realmente se cansou de mim e agora eu tinha certeza. Agora eu sabia que não podia confiar em ninguém, pois até mesmo aquelas pessoas que conhecemos há anos podem nos trair. Agora eu entendo o motivo de Lola estar nervosa e impaciente quando esbarrei com ela. Ela estava com Liam e temia que eu descobrisse. E quando ela me alertava, era porque ela sabia o que estava acontecendo, porque ELA fazia acontecer. Liam e Lola. Por que eu nunca desconfiei? Todos me alertavam e eu nunca os ouvi. Eu também não era besta, sabia a pessoa que ele podia ser, mas eu sempre esperava o melhor dele, dava várias chances pra ele tentar mudar. Devia ser esse o meu erro. Meus sonhos foram destruídos por um garoto egoísta que só sabia pensar em si mesmo.
    Desmoronei.
    Saí correndo daquele lugar, e com a pressa, deixei o copo cair de minhas mãos. Sorte que ele não era de vidro senão teria feito um estrago e alguém poderia ter me visto. Não queria fazer nenhum alarde. Diferente do copo, meu coração ficou em cacos. Não parava de chorar. Estava tão decepcionada que nem me despedi de Júlia e de Gabrielle. Liam me destruiu por completo. Não acreditava que ele tinha feito tudo aquilo, e por dois anos! Isso queria dizer que ele estava com Lola antes mesmo de estar comigo. Ele poderia ter um pouco de compaixão e ter terminado tudo antes de me fazer descobrir dessa forma, ou nem devia ter começado. Abri a porta de casa cambaleando, nem cumprimentei meus pais, fui direto para o meu quarto, tranquei a porta e me joguei na cama. Meus olhos já estavam doendo de tanto chorar. Não conseguia parar. Meu peito doía demais e meu coração estava tão apertado. Tudo aquilo me deixava mal. Decidi então, me fechar para esse sentimento que a pouco me magoou. Decidi fechar meu sorriso, aquele que passava amor, paz e ternura. Nunca havia sofrido tanto quanto neste dia. Não queria mais sofrer. De agora em diante tudo seria diferente. Fiquei me rolando na cama tentando digerir o que havia acontecido e quase não consegui dormir. Anos da minha vida destruídos porque um alguém não soube esperar.
    De manhã bem cedo saí do quarto do jeito que estava. Desci a escada com muita preguiça até chegar à sala. Peguei o livro que eu costumava ler quando eu tinha tempo e já com ele em mãos, me sentei no sofá e comecei a paginá-lo. Fiquei calma e em paz por alguns instantes, até meu pai chegar do trabalho e me ver. Meu pai sempre tinha tempo pra mim quando eu era criança, mas quando completei dez anos ele começou a servir o País trabalhando como engenheiro naval. Desde então, nunca via meu pai como antes. Então, nas raras vezes que ele estava presente, perguntava como eu estava e sempre me ajudava no que fosse. Meu pai participou de toda minha infância e me ajudava até mais que minha mãe. Eu o amava.
    – Filha, você está melhor? – Ele perguntou perturbado.
    Quase não percebi que ontem quando cheguei meu pai estava em casa, mas eu não tinha falado com ele, o que me deixou triste. Sempre que eu ficava desse jeito eu me fechava e queria ficar só. Mas nunca rejeitei a ajuda de meu pai.
    Levantei do sofá e o abracei.
    – Não meu pai – Sussurrei com a voz embargada.
    – O que houve? Você quer contar?
    – Nada é como nas historinhas que o senhor contava antes de eu dormir. Lá parecia tão fácil de lidar com o sentimento. Mas na vida real é tão frustrante.
    Lágrimas começaram a rolar em meu rosto.
    – O que aconteceu filha?
    Soltei meu pai.
    – Eu não estou mais com o Liam.
    Meu pai franziu a sobrancelha.
    – Como assim? Minha mãe perguntou deixando de lavar sua louça para entrar na conversa.
    – Sabe o que aconteceu ontem na festa da Júlia? – Me alterei – Ele resolveu me trair. Ele me forçou tanto a ficar com ele, que resolveu ficar com outra porque não quis esperar.
    – Ele te traiu? – Minha mãe indagou. – Logo ele que eu pensei que fosse um bom garoto.
    – Já eu duvidava, mas quis dar uma chance a ele. Que bom que eu nunca o beijei. Se não eu estaria enojada de mim mesmo agora.
    – Filha, não fala isso – Meu pai optou. – Vem cá.
   Sentamos no sofá.
    – Coisas assim acontecem conosco. Você passou pela sua primeira experiência, mas ainda não é o fim do mundo. Você ainda é jovem, tem um caminho pela frente. Vai conhecer vários rapazes. Alguns legais, outros nem tanto. Mais é pra isso que a vida serve.
    “Lembra de quando você tinha sete anos e não gostava de brincar na rua com seus amiguinhos e eu sempre dizia que você tinha que ir pra ganhar anticorpos?”
    Sorri me lembrando dos fatos.
    – Então. Essas experiências são como os anticorpos. Você vai ter que pegar pra se prevenir das doenças da vida, entendeu?
    Balancei a cabeça afirmando.
    – Mas eu não sei se ainda acredito no amor.
    – Pensa assim: como eu e sua mãe estaríamos aqui até hoje?
    – Por um milagre?
    Ele sorriu.
    – Pode ser. Mas não. O amor nos sustentou até aqui. Se não fosse isso, acho que eu já teria desistido. Sua mãe consegue ser muito insuportável às vezes – Ele sussurrou.
    Sorri.
    Era verdade, minha mãe sempre queria que as coisas fossem do seu jeito e quando era contrariada, fazia o maior drama.
    Fiquei calma.
    – Posso ir à casa da Gabrielle, pai?
    – Claro amor. Mas quero que você guarde uma coisa. Se preocupe mais em estudar no momento e deixe que dessas coisas cuide o tempo, certo?
    – Certo. 
    Tomei um banho e me arrumei. Antes de sair, me despedi de meu pai, pois mais uma vez ele ia voltar para o batente. No caminho para casa de Gabrielle, não tirei da minha cabeça o que meu pai havia dito. Suas palavras ficaram pregadas em minha mente. Cheguei a casa dela e bati na porta. Sua mãe atendeu.
    – Hellena!
    Ela se surpreendeu. Eu quase não ia à casa de Gabi, era mais ela que ia a minha.
    – Oi tia Kass. A Gabi está?
    – Sim. Pode entrar.
    Entrei na linda casa de Gabi e logo me deparei com sua irmãzinha Laura de apenas dois anos de idade. Eu gostava muito dela. Sempre que eu vinha aqui, costumávamos brincar o tempo todo.
    – Henhêna! Sua voz meiga soou as palavras erradas.
    – Oi Laura.
    Ela me deu um forte abraço.
    – Como você está?
    – Vem bincar.
    Ela puxou minha mão.
    – Hoje não posso Laura. Eu só vim conversar com a Gabi.
    – Cheguei! – Gabi declarou. – Vamos pro meu quarto.
    Seguimos.
    Entramos em seu quarto. Ela sentou na cama, e eu, em um banco revestido por um tecido com almofadas que havia por lá.
    – Por que você saiu da festa sem se despedir da gente? A Júlia ficou triste e o Liam estava te procurando feito um louco.
    Sorri ironicamente.
    – Ele procurava por mim ou pela Lola?
    Ela franziu a sobrancelha em sinal de dúvida.
    – Eu descobri que eles andavam tendo um rolo há dois anos.
Gabi arregalou os olhos.
    – Dois anos?!
    – Então você não se espantou quando eu disse sobre ele ter me traído?
    – Amiga quem não sabia?!
    Suas palavras doeram, mas eu sabia que era verdade. Abaixei a cabeça. Ela percebeu.
    – Desculpa Hellena.
    – Tudo bem. Eu também desconfiava disso, mas eu e o meu jeito de ver bondade em tudo. Agora você pode jogar na minha cara e dizer: “eu te avisei”.
    – É eu posso – Ela levantou e sentou no chão para ficar ao meu lado. – Mas não vou. Hellena, eu sei o quanto isso pode doer e mesmo que eu nunca tenha tido um namorado, eu entendo como você deve estar se sentindo, e como sua amiga, eu estou aqui pra te ajudar.
    Suspirei. Nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo. Não que eu fosse especial e diferente de todo mundo, mas eu pensava que tudo estava dando certo entre eu e Liam. Conversei mais um pouco com Gabi, depois me despedi e fui embora. Fiquei imaginando como seria se nada tivesse acabado naquela noite, se não tivesse nem começado, se eu não tivesse conhecido Liam, se o professor nunca tivesse nos colocado juntos para fazer o trabalho. Na verdade, tudo havia acabado pra mim, mas Lian ainda não sabia de nada.
    – Hellena?!
    Assenti a cabeça e tomei um susto.
    – Liam?!
    Parei de caminhar.
    Ele franziu a sobrancelha.
    – Por que do susto?
    – Nunca mais quero te ver.
    Abaixei novamente minha cabeça e tentei andar mais rápido.
    – Amor, o que foi?
    Parei de caminhar. Estava furiosa.
    – Não me chama assim!
    – Anh? – Foi sua reação. – O que aconteceu? Ontem você foi embora da festa sem se despedir.
    – Você! Você foi o que aconteceu.
    Ele apertou os olhos tentando entender minhas palavras.
    – Soube que você é um idiota, um imbecil...
    – Hellena, para.
    – Falso...
    Já estava tão alterada que chegava a gritar.
    – Hellena – Ele insistia.
    – Traidor!
    – Hellena, PARA!
    Ele segurou firme em meu braço chegando a me machucar, mas eu nem liguei.
    – Por que você está falando tudo isso?
    Ele me largou.
    – Pensa que eu não sei o que você andava fazendo por trás de mim? Você é realmente um hipócrita. Como eu não pude desconfiar?! Você e a Lola. Estava tão óbvio.
    – O quê? Quem ficou enchendo sua cabeça? A Gabrielle? A Júlia? Quem foi?
    – FUI EU! Eu que vi vocês dois naquele corredor. Seu ímbecil!
    – Hellena, para de me ofender. Você não é de falar essas coisas. Se polpa disso.
    Eu estava bufando de ódio que nem ligava para o que eu falava. Mas eu não podia continuar dizendo aquelas coisas.
    Respirei fundo.
    – Você não gostava da Corte. Não aguentava esperar. Você não me amava de verdade. Você desperdiçou essa palavra tão sincera, tão verdadeira.
    – Você tem razão – ele assegurou. – Por que continuar fingindo? Realmente essa porcaria de Corte e concepção era insuportável.
    Vi em seus olhos o orgulho do que estava falando.
    – Você me deixava impaciente. Eu tinha que beijar alguém. Eu tinha que curtir. 
    – Seu ridículo.
    Ele sorriu ironicamente.
    – Eu tinha que aproveitar minha juventude, ao invés de ficar perdendo tempo com essa chatice de Corte. Eu só queria te dar uns beijos mesmo.
    Dei uma tapa em seu rosto. Desta vez, não consegui me segurar. Senti um aperto no coração e uma dor em minha mão.
    – Se você só queria se aproveitar, por que ficou comigo por tanto tempo? – Minha voz saiu embargada.
    Ele se recompôs.
    – Porque eu queria a fama de ficar com a garota mais gata da escola e por mais que eu nunca tivesse beijado você já tinha o que queria, pois eu estava com você.
    Fiquei calada vendo, depois de um ano e meio, o garoto que Liam era.
    Tomei fôlego.
    – Sabe o que eu defini na minha concepção?
    – O que você definiu dessa coisa insuportável e completamente ridícula?
    Mordi o lábio.
    – Que eu, por esperar tanto, acharei alguém que me ame de verdade. Já você, vai ficar com todo mundo e no final acabará sem ninguém.
    Dei de ombros e segui meu caminho. Sabia que ele ficaria pensando em tudo o que eu falei. Eu tinha decidido uma coisa: Não queria mais ver Liam, nunca mais queria me apaixonar por ninguém, nem mesmo chegar perto de um garoto na minha vida. Esse sentimento que havia me ferido nunca mais me ameaçaria. Meu coração nunca mais se abriria. Meu sorriso se fecharia e só seria para um amigo. Ninguém me mudaria
QUANTO A ISSO. 



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