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História Ele Roubou O Meu Sorriso - 2


Escrita por: RCooper

Capítulo 2 - 2


Fanfic / Fanfiction Ele Roubou O Meu Sorriso - 2

 

 

 

II

    Amanheci com a notícia: – Vamos nos mudar.
    Fiquei espantada. Eu tinha acabado de levantar da cama quando minha mãe informou. Certamente eu não estava preparada nem para respirar direito, quanto mais ouvir algo desse tipo.
    – Como assim?
    – Seu pai foi promovido. Vamos para Los Angeles.
    Arregalei os olhos.
    Morava em Nova Iorque a minha vida toda e eu nunca imaginei como seria sair daqui. Não poderíamos nos mudar assim de repente. A minha vida toda estava aqui. A minha única amiga estava aqui. Com quem eu conversaria em Los Angeles? Eu ficaria perdida. Mas também não queria pensar só no meu lado. Queria ser compreensiva.
    – Isso é necessário?
    – Sim minha filha – Meu pai falou tranquilo tentando não transparecer tanta alegria para não me constranger. – Vou começar um negócio novo por lá. Perdoe-nos por não poder fazer seu aniversário hoje, pois teremos que arrumar as coisas. Mas não se preocupe você receberá seu presente.
    O meu aniversário não era o maior problema agora e ser compreensiva não era tão compatível em um momento como esse. As informações não pareciam claras e convencíveis ainda. Por um lado estava meu pai com a maior oportunidade de sua vida, por outro, eu e Gabi, nunca mais nos veríamos. Mas também havia um lado positivo em tudo isso: eu nunca mais veria Lian e isso era o que eu mais queria no momento. Eu só tinha mais uma pergunta.
    – Então quer dizer que quando nós estivermos lá, se o seu comandante pedir para você se mudar novamente, nós teremos que fazer de acordo?
    – Sim minha querida, serão ordens e eu terei que obedecer, a não ser que eu queira ser demitido.              
    Não podia ser egoísta. Meu pai estava com uma oportunidade e tanto em mãos e se me perguntasse o que eu achava e eu falasse que não queria ir, ele iria recusar a transferência e eu não podia interferir assim no seu trabalho e no modo como ele nos sustentava só porque eu não queria ficar longe da minha única amiga de verdade. Era injusto pra ele.
    Então, foi lançada a pergunta:
    – O que você acha Hellena?
    Meu coração parou de bater por um milésimo de segundo. Suei frio. Eu não queria isso. Não queria me mudar. Talvez eu estivesse tão presa a minha vida aqui que não via o quanto seria bom se eu desse uma chance para novo. Mas pensar em recomeçar do zero… era bem radical.
    Olhei para meu pai. Seus olhos estavam com um brilho de esperança, mas também dava para notar o quanto ele temia minha reação. Meu pai será promovido. Isso significa que o seu salário aumentará e nossa situação melhorará.
    Acorda Hellena isso será melhor para todos nós.
    Suspirei inconformada e vencida.
    – Acho uma ótima ideia, pai – Fingi animação.
    Eu não costumava mentir, mas me mudar para outra cidade não era o que eu queria. Portanto, se mentir significava ver um sorriso no rosto do meu pai, eu o faria.
    – Tem certeza? Você não parece tão feliz assim.
    – Não vou mentir. Não estou feliz. – Suspirei – Mas você está, e eu fico feliz com a sua felicidade. Não importa o que eu ache, eu apoio o que é bom para todos nós e se essa é uma grande oportunidade, quero vivencia-la juntamente com vocês. Não foi assim que vocês me ensinaram?!
    Meu pai sorriu.
    – Tem certeza?
    – Não.
    Sorrimos.
    – Quando vamos? – Perguntei.
    – Amanhã à noite. Apronte logo suas coisas que vamos marcar o frete. Daqui a pouco vou comprar as nossas passagens.
    – Então vou me despedir da Gabi e conversar um pouco com ela.
    Acho que não era pra eu ter ido até lá. Foi uma tristeza só. Quando disse que ia me mudar, Gabi quase enlouqueceu de tristeza.
    – Não se preocupe, vou entrar em contato sempre.
    – Como, se você nem tem celular?
    – Pra isso existe telefone público. Eu prometo.
    Gabrielle me encarou com os olhos cheios de lágrimas.
    – Eu não acredito que você vai embora.
    – Não importa – a interrompi. – Nada vai mudar entre nós. Prometo nunca colocar outra pessoa à sua frente. Você e só você será minha única melhor amiga para todo o sempre. Lembra?
    Levantei meu braço e mostrei a ela nossa pulseira de amizade que havíamos trocado na quinta série. Ela também levantou o seu braço me mostrando a sua e confirmando o que eu havia acabado de perguntar.
    Eu a abracei e começamos a chorar novamente.
    – Eu vou ficar tão perdida sem você – Falei com a voz embargada e sorri fazendo com que Gabrielle sorrisse também.
    Misturamos sorrisos com choro e ficou nisso por mais alguns minutos. Aquela seria minha última lembrança de nós duas juntas.
    No dia seguinte às 20h00, estávamos prontos para ir para o aeroporto. Meus pais estavam colocando as malas dentro do táxi que já estava na porta de casa. Gabrielle também estava na porta de casa com os olhos inchados de tanto chorar. Abracei-a pela última vez antes de entrar no carro e quando a porta fechou, desmoronei. Minha mãe, que se sentou no banco de trás comigo, me envolveu em seus braços para me consolar. Dormi até chegar ao aeroporto e então, não demorou muito para que a voz no radinho chamasse o nosso voo e nós embarcássemos. Lá estava eu, sentada em uma das poltronas macias do avião e no meio das nuvens, só aguardando a chegada em Los Angeles. Bom, uma coisa era certa, o pedido que eu fiz se realizou. Eu nunca mais veria o Liam, e isso era ótimo. Claro que nos primeiros dias eu ainda não havia conseguido me acostumar com Los Angeles. A cidade é enorme. Parece um daqueles jogos de labirinto onde é quase impossível achar a saída. Apesar de ser tudo muito novo pra mim; o lugar, as pessoas... Em uma semana meu pai já havia feito minha transferência para outra escola. Valentine High. E nessa manhã eu estava preparando minhas coisas. Mochila, caderno… e pulseira. Não podia deixar de usar minha linda pulseira de amizade no meu primeiro dia de aula.
    Quando cheguei à escola, me senti como um peixe fora d’água. Todos eram estranhos. Até a escola parecia esquisita. Se eu tivesse o poder de me transportar direto para minha sala, eu o faria. Por onde eu passava era recebida com olhares espantados de pessoas que me faziam ficar ainda mais envergonhada. Eu só queria poder sair daqui correndo o mais rápido possível ou me tornar invisível.
    Primeiramente, fui até a secretaria pegar as informações que precisava para andar na escola, depois, corri para a sala de aula. Já havia alguns alunos dentro dela, que também me receberam com um olhar espantado. Acho que se perguntaram quem eu era e o que eu fazia ali bem no meio do ano. Sentei em uma cadeira vazia e fiquei na minha. Não queria conversar com ninguém, até porque eu não conhecia ninguém.
    O começo de tudo foi bem assustador, mas eu não queria resistir tão fácil. Talvez o resto do dia fosse ficar melhor, quem sabe.
    – Bom dia pessoal – Um homem de uns quarenta e seis anos, mais ou menos, havia acabado de entrar na sala e cumprimentar a turma.
    – Bom dia – Os alunos que estavam na sala responderam em coro.
    – Cadê o resto dos alunos? – Ele indagou.
    Ninguém respondeu.
    – Bom, vamos fazer a roda que sempre fazemos, depois, eles que se virem.
    Parece que o resto da turma havia acabado de chegar, pois vários meninos e meninas entraram na sala conversando como se estivessem em uma feira ao ar livre e os mesmos me receberam com um olhar duvidoso. Levantei e carreguei minha cadeira para algum lugar ao lado de uma cadeira vazia ao passo que os outros alunos também carregavam suas cadeiras para fazerem a roda. Tentei esconder minha timidez, mas logo que o professor começou a falar, não deu pra não demonstrar.
     – Como vocês já devem ter percebido há uma pessoa nova entre nós.
    Um dos garotos que entrou na sala a pouco, sentou-se ao meu lado. Ele era muito simpático. Seu cabelo preto estava com um corte baixo nos lados, porém em cima estava volumoso e penteado para o lado. O brilho do gel deixava claro o quanto ele queria que seu cabelo estivesse arrumado, mas seus fios rebeldes não colaboraram.
    – Oi. – Ele disse sorridente.
    Sorri para ser educada. Estava um pouco nervosa. A beleza desse desconhecido me deixou completamente fisgada, mas só de pensar em um garoto me lembro da minha nova concepção: ficar longe de todos eles. Desviei o olhar.
    – O nome dela é Hellena. Se vocês quiserem se apresentar, esperem o intervalo ou a saída, porque agora vamos iniciar a aula. Para a novata meu nome é Lúcio e eu sou o professor de Filosofia.
    Balancei a cabeça.
    – Vamos conversar sobre suas notas da segunda avaliação – ele se voltou para a turma. – Pra início de conversa, vocês se saíram muito bem. E em segundo lugar, quero que vocês façam um trabalho para a terceira avaliação. Para não encher alguns de vocês logo de primeira – O professor me encarou, depois se voltou para a turma, – vou marcar esse trabalho só para o dia nove de setembro, mas falaremos sobre isso outro dia.
    Fiquei um tanto aliviada. Não queria chegar em uma nova escola e já ter que fazer um trabalho.
    Depois da aula do professor Lúcio, tivemos mais duas aulas e o sinal para o intervalo tocou. Como o professor informou, os alunos vieram falar comigo, ou alguns deles.
    – Oiê. Meu nome é Marina. É um prazer conhecê-la! Que bom ter gente nova aqui!
    – É um prazer também.
    Sorri um pouco tímida.
    Marina era uma menina muito bonita. Os cabelos dela foram o que me deixou de queixo caído. Ele continha os fios loiros com a cor tão clara que chegava ao branco. Seus cachos eram bem feitos e o seu comprimento parava no ombro.
    – Oi. Eu sou a Rebecca.
    Outra garota me cumprimentou com um sorriso no rosto.
    Já Rebecca tinha o cabelo preto com os fios bem longos e lisos, mas ele estava preso com um rabo de cavalo bem no alto da cabeça e sua franja cobria toda sua testa.
    – Aquela ali é a Rosellih – Rebecca apontou para uma garota de pele morena com cabelo curto cor de mel que se aproximava. – Ela estava com vergonha de vir falar com você, mas eu insisti.
    – Oi Hellena. É seu nome, né?
    Rosellih aproximou-se junto com um garoto ao seu lado segurando em sua mão, ele, porém, muito bonito.
    – Sim. Esse é meu nome.
    Rosellih também era linda, mas pra mim ninguém ainda tinha superado a beleza de Marina.
    – Eu sou o Paul.
    Fiquei encarando com uma cara de boba o garoto que havia acabado de se apresentar. Ele era o mesmo que segurava à mão de Rosellih.
    – Paul?
    – Como eu disse.
    Acho que suas palavras saíram mais rudes do que deveriam. Parecia que ele não queria conversar. Então tínhamos uma coisa em comum, pois eu não queria nem olhar para um garoto, quanto mais trocar palavras com algum deles.
    Logo atrás de Rosellih e Paul, vinha o garoto que sentou ao meu lado durante a aula de Filosofia.
    – Eu você já conhece.
    – Mas não sei seu nome.
    Ele sorriu.
    – É Willian.
    – Hum – Foi minha reação.
    Willian estava estranho, parecia tenso e sua boca tremia levemente. Mas por que eu olhava para sua boca? Por que eu falava com ele se tudo o que eu queria era ficar longe de confusão que tem por sinônimo a palavra garotos?
    – Você quer se sentar comigo agora no intervalo? – Ele convidou.
    Eu não costumava deixar as pessoas no vácuo para que elas não se sentissem constrangidas. Foi uma das coisas que meu pai ensinou. Mas eu fiquei tentada a dizer não.
    – Pode ser – Falei um pouco hesitante.
   Seguimos para o refeitório. Depois de pegarmos o nosso lanche, Willian me conduziu até uma mesa cheia de garotos. Parei de caminhar. Talvez estivéssemos no caminho errado.
    – Aonde vamos? – Perguntei.
    Willian sorriu. – Ah! Esses sãos meus amigos.
    Lembrei dos rostos de algum deles, pois os vi na sala de aula.
    – Pensei que eu ia sentar com você. SÓ com você.
    Ele sorriu um pouco desconsertado e sentou à mesa.
    Sentei, mesmo sem vontade, ao lado de um menino com o cabelo cacheado e loiro. Seus olhos eram de uma cor azul bem clara, sua pele um pouco bronzeada e havia algumas sardas douradas em sua bochecha.
    – Bom dia Hellena – O menino falou.
    – Tá mais ou menos pra mim, e pra você?
    A frase soou um pouco mais grossa do que deveria.
    – Tá ó-te-mo – Ele falou com ar brincalhão.
    Levantei a sobrancelha.
    Na verdade, eu não deveria descontar em ninguém minha raiva, pois ninguém tinha culpa do que havia acontecido comigo em Nova Iorque.
    – Desculpa por não ter falado antes, é que eu sempre sento com eles – Willian explicou.
    – Hum – Foi minha reação.
    Pouco tempo depois, estava arrependida de ter sentado nessa mesa. Os garotos não paravam de ficar conversando entre si e olhando para mim. Isso me deu nos nervos. Era como se eu fosse a nova manchete do jornal da escola. Minha vontade de comer já estava passando e eu não tinha comido nem metade da comida. Isso estava se tornando uma situação desconfortável.
    – Desculpa por fazer você passar por esse tipo de coisa. Os garotos daqui não são nem um pouco discretos com garotas novas – Willian falou.
    – É que não dá pra relaxar com tudo isso – Joguei a colher em cima do bacalhau.
    Willian ficou parado observando minha reação.
    – Desculpa. Eu não quis ser grossa.
    – E não foi.
    Ele se calou por um tempo. Percebi que ele ficou um pouco magoado. Eu também estava. Ainda não tinha me recuperado da dor de Nova Iorque e enquanto eu pensasse nisso, eu ficaria ainda mais magoada. Já havia se passado uma semana desde que me mudei. Se eu vim pra cá, foi para começar uma vida nova. Eu tenho que esquecer Nova Iorque, Lian, TUDO.
    – Soube que você se mudou – Willian iniciou um novo assunto – Você mora aqui na cidade há quanto tempo?
    – Hoje faz oito dias.
    – E onde você morava?
    – Nova Iorque.
    – Sério?! Eu sempre tive curiosidade de saber como é lá. Como é lá?
    Sorri.
    – Normal, como qualquer cidade.
    – Normal?! Você disse: Normal?! Essa cidade é tudo! Você já visitou a Estátua da Liberdade? E o Central Park? Você já andou pela Times Square?
    – Não. Eu não sou muito chegada a conhecer pontos turísticos só porque todo mundo fala sobre isso. Se eu fosse lá seria para sair um pouco da mesma rotina. E afinal, parece até que eu já fui lá de tanto que eu via pela televisão.
    – Não sei, mas eu daria tudo para morar no mesmo lugar que a mãe liberdade.
    Willian fechou os olhos e ficou com o pensamento longe e com um sorriso leve.  Não consegui desviar meus olhos dele. Ele estava tão fofo e engraçado. Parecia gente boa. Sorri, mas meu sorriso logo se fechou quando lembrei da minha nova concepção. Tudo o que eu queria era ficar longe de garotos, mas parece que eles só se aproximam cada vez mais. Virei o rosto e tentei concentrar meus olhos na comida. O rosto de Liam surgiu em minha cabeça e eu não conseguir evitar o mal estar. A conversa com Willian fez com que eu me sentisse bem por um tempo, mas eu não podia dar brechas para outro garoto novamente. Quanto mais distante deles, mais problemas eu evitaria e ainda seria um bom remédio para esquecer Liam.
    Liam. Liam. Esse nome não sai da minha mente. É como uma droga. O que eu faço para esquecer ele e como é que eu faço. Eu só quero gritar para tirar tudo isso de dentro de mim!
    Minha respiração começou a ficar pesada e eu lutava para tentar esconder minha angústia, porém a cada momento com ela guardada dentro de mim parecia uma facada no meu coração.
    Senti uma mão em meu ombro. Olhei para mão e me direcionei para o rosto da pessoa.
    – Hellena, você está bem? – Willian perguntou.
    – Por favor, não encoste em mim. Não quero falar com você.
    Ele franziu a sobrancelha.
    – O que eu fiz?
    – Nada. Eu só quero que me deixe em paz. Por favor.
    Ele tocou pela última vez em minha costa e finalmente tirou suas mãos de mim. Willian não tinha nada a ver com a minha dor, mas eu estava aflita demais pra falar com um garoto.
    Saí dali quase correndo e com a cabeça baixa. Não queria que ninguém percebesse que eu estava mal e ficassem comentando o que poderia estar acontecendo comigo.
    Fui direto à secretaria avisar que eu não podia ficar mais nem um minuto aqui. A moça que me atendeu não fez muitas perguntas, acho que ela percebeu as lágrimas que estavam prestes a cair no meu rosto. Ela me serviu um copo de água sem que eu pedisse, o que deu pra perceber que ela tinha notado que eu estava mal, e pediu para eu sentar um pouco e relaxar a mente. Foi um ótimo remédio. Depois de meia hora sentada com a cabeça baixa, resolvi que tinha que ir embdora. A moça me liberou e então eu saí da escola. Se não fosse pela água e o tempo em que eu fiquei sentada tentado me acalmar na secretaria, não adiantaria de nada eu ter saído esse horário da escola, pois foi o mesmo horário que liberaram a minha turma. E no momento em que eu estava indo para casa, senti que não estava andando sozinha. Sei que parece bobagem eu estar na rua e me sentir incomodada por parecer que mais alguém está lá, mas foi diferente. Senti como se eu estivesse sendo seguida.
    Olhei para trás pra ver se tinha alguém vindo, mas não tinha ninguém. Virei novamente para frente e me assustei ao me deparar com o garoto loiro que se sentou ao meu lado durante o almoço.
    – Oi Hellena! Eu sou o Joselito. Você já me viu no almoço. Quer companhia pra ir pra casa?
    Bufei discretamente.
    – Não querendo ser grossa, mas eu sei o caminho.
    – Tudo bem – Ele se posicionou ao meu lado e começou a caminhar comigo. – Fiquei muito lisonjeado quando você falou comigo durante o almoço. Muitas pessoas não me levam a sério.
    – É que eu não costumo deixar ninguém no vácuo.
    – Que bom. Você é uma graça.
    – Obrigada.
    Não parecia que ele queria incomodar, mas eu só queria ficar só e pensar no que eu faria nos próximos dias, já que eu continuaria rodeada por garotos. Tentei ser educada o suficiente para não falar nada rude.
    – O que achou do seu dia na escola hoje? – Ele perguntou.
    – Péssimo. Até porque eu não estava me sentindo muito bem.
    – O que houve?
    – Nada que mereça ser lembrado.
    – Hum – foi sua reação. – No que seus pais trabalham? – Ele mudou o assunto. Fui pega de surpresa.
    – Minha mãe trabalha com vendas de apartamentos e meu pai é engenheiro naval.
    – Então quer dizer que vocês são ricos?
    – Eu não diria "ricos". Diria que nós temos um bom dinheiro para viver bem.
    – Você gosta de ler livros?
    – Um pouco. Quando não tem nada pra fazer. Por quê?
    – Você sabe usar muito bem as palavras. Deve agradar muitos admiradores.
    – Não quero saber disso. Será que você pode entender? – Alterei-me um pouco.
    Eu queria deixar de lado conversas sobre romance e ele não ajudou nem um pouco. Queria expulsar Joselito do meu lado, mas isso seria muito feio da minha parte e eu tinha que ser agradável com as pessoas que eu conhecia se eu quisesse fazer novos amigos.
    – Minha casa é logo ali – Ele apontou. – Foi muito bom conversar com você.
    Sorri para ser agradável.
    Ele se despediu e seguiu seu caminho. Também segui o meu. Agora em paz e sozinha.
    O tempo em Los Angeles estava úmido e a brisa gelada arrepiava meus pelos. Nem o cobertor que estava sobre meu corpo diminuía o calafrio. Fiquei no sofá lendo meu livro por oras sem falar nada pra ninguém e nem com ninguém. Estava confusa e ainda assustada para saber como seria o próximo dia na escola. Quanto mais eu pensava, mais eu ficava nervosa e menos eu lia. Tentei organizar meus pensamentos, mas eu só conseguia ficar mais confusa. Comi pouco, falei pouco. Só fiquei lendo meu livro. Minha mãe estranhou, pois eu sou uma perfeita tagarela quando eu quero.
    – Aconteceu alguma coisa hoje na sua escola filha?
    – Não, por quê?
    – Você passou o dia isolada e em silêncio. Só fica aí nesse sofá com esse livro.
    – Eu não entendo. Quando eu falo demais você reclama. Quando eu fico na minha você também reclama.
    – Vai, fala logo. O que aconteceu?
    Suspirei.
    – Realmente eu não estou me sentindo muito bem. O rosto do Liam não saía da minha mente só porque eu vi vários garotos hoje. Eu fiquei com uma dor que eu não conseguia controlar. Depois do intervalo eu não assisti a mais nenhuma aula, pois uma moça da secretaria teve que ficar me acalmando por algumas horas. Eu quero saber como esquecer ele e tudo o que ele me fez urgentemente!
    – Nossa filha! Isso é ruim! Mas não se preocupa. Você vai consegui superar meu amor. Tente fazer amigos e sair um pouco de casa para distrair sua cabeça. E não se esqueça de que eu estou aqui para te dar o amor que for preciso pra você não ter que ficar buscando em outras pessoas, certo? Quanto a isso você pode ter certeza.
    Sorri. Minha mãe sempre sabia o que me falar. Por isso eu amava tê-la por perto.
    – Obrigado mãe. Amo você.
    – Também te amo meu bebê.
    Ela me abraçou.
    O dia seguinte foi uma correria. Perdi o papel com as informações da escola e fiquei toda perdida. Não sabia encontrar minha sala na escola. Estava em dúvida se era no quarto ou no terceiro andar, mas arrisquei em ir para o quarto e mesmo assim, me perdi dentre a multidão de alunos. Nunca vi tanta gente junta no mesmo lugar. Todas estavam andando no mesmo caminho que o meu e isso complicou ainda mais minha procura.
    Subi a escada para o segundo andar, depois para o terceiro e depois, finalmente, para o quarto andar. Olhei no meu relógio de pulso e vi que já eram 7h26 e a primeira aula começava às 7h15, eu estava morta de atrasada.
    Continuei seguindo um caminho que eu achava que daria na minha sala. Olhei mais uma vez para o meu relógio e já eram 7h28, mas não foi com isso que me assustei, foi com o barulho que ouvi como de algo se chocando.
    Senti uma forte dor em minha cabeça e cai no chão. Apoiei-me nos meus braços para que a queda não fosse mais constrangedora e dolorosa. Senti uma dor ainda mais tensa em uma de minhas mãos. Levantei minha cabeça e vi um garoto com a porta de seu armário aberta. Percebi que o barulho foi de minha cabeça batendo contra a porta do armário dele. Ele me viu no chão e me encarou por um momento.
    – Quer ajuda? – Ele estendeu o braço e abriu sua mão esperando que eu a pegasse para me reerguer novamente.
    Fechei minha cara.
    – Dispenso.
    Levantei e sai furiosa tentando voltar ao meu objetivo: achar minha sala. 
    – Ei garota!
    O menino chamava. Virei. Ele se abaixou e pegou algo pequeno e brilhoso no chão.
    – Isso deve ser seu. 
    Ele estendeu a mão, e dessa vez não era para que eu segurasse-a, mas sim para que eu pegasse minha pulseira de amizade que havia quebrado com a queda por cima de minha mão. Isso explica a dor perturbadora que senti.
    – Obrigada – Falei ainda chateada.
    Aproximei-me e peguei a pulseira. Seu rosto não fazia nenhuma expressão animada com o meu agradecimento, mas seus olhos me observavam como um laser.
    – Espera aí – Ele soltou.
    – O que foi?
    – Você que é a namorada do Joselito?!
    Enfim ele pareceu animado.
    – De quem?
    – Do Jose – Ele sorriu. – A Lehna, que ele teve o prazer de levar até em casa.
    A única pessoa que me chamava assim era o Liam e se antes eu não gostava desse apelido, agora eu odiava!
    – Meu nome é Hellena tá querido?!
    – Diz isso para o seu namoradinho.
    – Ei, ei, ei! Eu só estava conversando com o garoto. Parecia que ele não queria ficar só.
    – E aí você não perdeu tempo né?
    – Sai fora garoto estranho. Eu só não queria deixar ele no vácuo.
    – Sei, ele também falou sobre o tal vácuo.
    – Para garoto! Eu nem te conheço! Você não pode ficar falando essas besteiras.
    – Isso é uma desculpa pra você não culpar o Joselito?
    – Dá um tempo. Eu tenho que ir porque não tenho tempo pra ficar ouvindo essas besteiras.
    Dei de ombro e fui novamente procurar minha sala. Quando a achei, estava toda descabelada e suando muito em minha testa, isso fez com que minha franja colasse nela e me desse uma agonia maldita. Coloquei minha franja pra trás e entrei na sala.
    – Hellena! – O professor Lúcio saudou-me com um pouco de sarcasmo.
    – Desculpa pela demora professor. Eu perdi o papel com as informações daqui da escola e não consegui achar a sala a tempo.
    – Sorte sua que eu tenho duas aulas hoje, porque se fosse só uma, eu sinto muito, mas você ficaria pra fora.
    – Desculpa professor, isso não vai voltar a acontecer, prometo – Minha fala estava forçada. Eu estava muito cansada.
    – Espero que não. Mas vamos continuar falando sobre o trabalho – Ele se direcionou para a turma.
    As cadeiras estavam em duplas e eu não sabia o motivo e nem onde sentar. Fui até onde o professor estava.
    – Professor, onde eu devo sentar?
    Ele analisou a sala.
    – Ali – Ele apontou. – Foi a única cadeira que restou porque ninguém quis sentar ao lado do coitado. Sabe, ele não é tão popular aqui na sala de aula.
    Franzi a sobrancelha sem entender e fui até a cadeira. Arrumei minhas coisas. Estava pronta para estudar. Pelo menos ainda não tinha acontecido nada de tão ruim, tirando o fato de aquele garoto ter falado várias mentiras no corredor antes de eu ter chegado na sala. Estava tudo bem e eu esperava que continuasse assim. Sem garotos. Sem problema.
    – Alguém viu o Antônio? – O professor murmurou – Ele disse que ia pegar o seu caderno… mas até agora?!
    O menino que me irritou no corredor havia acabado de entrar. Ele estava todo eufórico e suado. Parecia que tinha corrido para chegar na sala a tempo. Não conseguiu querido.
    – Cheguei professor! – Ele disse. Suas palavras quase não saíram.
    – Qual foi à fábrica que você foi Antônio?
    – É que eu esbarrei com uma sem noção no caminho e me perdi no tempo.
    – Entre logo! – O professor mandou com ar cansado.
    Enquanto ele caminhava para o seu assento, Seus olhos verdes cruzaram com os meus. Nossos olhares ficaram fixos por alguns segundos. O meu um pouco chateado e o dele, confuso.
    – O que você faz aqui? – Ele perguntou ao sentar na cadeira ao meu lado.
    – O professor que mandou eu me sentar aqui.
    Olhei para frente desviando meu olhar do dele.
    – Só para a querida Hellena saber – O professor continuou falando, – nós iremos fazer um trabalho sobre a tecnologia atual e como ela pode interferir ou produzir na vida das pessoas. Vocês farão esse trabalho com a pessoa que está ao seu lado.
    Olhei para o garoto que estava ao meu lado, assustada, mas ele só olhava para frente.
    Liguei os fatos e percebi que eu ficaria perto de um garoto por um bom tempo. O professor falou que eu tinha que sentar do lado de alguém e a única pessoa que tinha restado era o Antônio. Um Garoto!
    Me dei conta disso só agora. Sei que eu não deveria ficar tão angustiada por isso, mas eu só queria ficar longe de meninos. Pelo visto, isso parecia impossível aqui nessa escola, mas eu não queria surtar novamente.
    – Tá surpresa? Eu não.
    Me assustei quando ele soou as palavras. Pensei que ele nem tinha percebido que eu estava o olhava.
    Ele abriu um sorriso com o canto da boca. Senti algo diferente quando isso aconteceu e reparei o quão lindo ele era. Seu cabelo era loiro com as pontas curvadas que iam até o ombro; sua pele era branca e algumas sardas cobriam seu rosto, poucas na verdade. Eu era simplesmente derretida por garotos loiros. Isso explica o Liam, que eu tento esquecer, porém, sempre tem algo que me faça lembrar ele. Antônio, o garoto ao lado, era loiro. Não me ajudava a esquecer de Liam. Joselito, o garoto que inventou mentiras sobre mim, era loiro. Não ajudava a esquecer de Liam. Havia vários garotos belos na escola. O que não me ajudava a esquecer nem um pouco de Liam. Meu lado positivo de vir para uma cidade nova, era de esquecer as dores que Liam havia me causado, porém, tudo me lembrava ele e eu queria muito mesmo esquecer que ele existiu algum dia.
    Nada me fez esquecer Liam. Estou perdida.
    O professor continuou.
    – Como eu já havia dito no dia anterior, o trabalho será para o dia nove de Setembro, e hoje ainda é dia dezenove de Agosto. Vocês terão tempo de sobra para fazê-lo. Espero que saia uma coisa bem caprichada. Não quero ver trabalho mal feito, a não ser que vocês queiram um zero bem gordo na nota final de vocês. Ah – O professor deu uma tapa em sua cabeça por ter se lembrado de algo, – quase que eu esqueço. O trabalho será oral. Vocês terão que se apresentar aqui na frente de todos os alunos e esse mesmo trabalho valerá a metade de suas provas, no entanto, valerá cinco pontos. Certo?
    Todos balançaram a cabeça. Eu abaixei o olhar.
    – O que foi? – Antônio perguntou.
    Suspirei. – Não gosto de público.
    – Anh? – Ele reagiu com uma expressão espantada. – Então quer dizer que eu fiquei com uma pateta e tímida?
    Bufei.
    – E você acha que eu estou saltando de alegrias por estar com você?
    – Olha aqui – Ele se aproximou do meu ouvido sussurrando, – eu gosto de trabalhos bem feitos, então, não vai estragar tudo com essa sua timidez falou?
    Fechei meu rosto. Ele achou que me deixaria intimidada? Não aguentaria mais nenhum capricho de qualquer garoto.
    – Nós vamos fazer o trabalho na minha casa. Espero que não seja problema pra você – Ele continuou.
    – Por que você quem tem que decidir? – Perguntei indignada.
    – Se você quiser fazer o trabalho, apareça hoje na minha casa às 15h00. – Ele escreveu algo em um pedaço de papel e me entregou. – Toma. É o endereço da minha casa.
    Peguei.
    – Tá papai.
    Que divertido isso. Agora havia um segundo Liam em minha vida e eu continuava sendo a besta sem noção. Ou era isso, ou eu ficaria sem nota. Talvez eu pudesse mudar o rumo da história e ir até o professor pedir para ele trocar meu par com outro alguém. Mas todos já estavam satisfeitos com quem estavam. Não queria dar esse trabalho para o
PROFESSOR. 



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