História Ele só queria atenção - A Decisão do Maior

Fogo. Havia fogo a sua volta e ele estava sozinho, tentou gritar, mas a sua voz não saia, tentou correr, mas os seus pés não obedeciam. Então ouviu a voz chorosa do Park, chamando-o, implorando que ficasse consigo.


Acordou no susto tragando uma boa quantidade de ar de uma vez, começou a tossir e todo o seu corpo doeu, gritou de dor quase perdendo a consciência. Tentou se acalmar enquanto girava a cabeça para o lado, arregalou os olhos ao ver o moreno na maca ao seu lado, tinha uma faixa branca na testa e alguns arranhões pela face esquerda, também havia a perna esquerda enfaixada e o braço direito cheio de curativos. Quis chorar ao ver um dos seus amados assim, então procurou pelo mais velho logo achando-o do seu outro lado, foi nesse momento que as lágrimas descerem pelo seu rosto. 

O outro ruivo podia parecer um anjo... um anjo muito machucado no momento, respirando com a ajuda de aparelhos, tendo vários curativos em sua face, também notou que tinha um corte nos lábios, mas achou estranho o mesmo não apresentar gessos ou outros ferimentos. Então a pontada de dor veio de novo, seu braço esquerdo ardeu como o inferno, e só quando a dor passou foi que teve coragem de ver o estrago, sua pele estava em carne viva. Engoliu em seco, lembrando-se do pesadelo, compreendeu que o fogo fora real, olhou para ambos os lados temendo que as suas "crianças" estivessem com queimaduras piores que as suas.

- Parece que alguém acordou. - a voz de uma mulher fez o maior a olhar assustado e a dor voltar. - Fique calmo... se ficar muito nervoso a dor piora.

Assentiu ainda com dor e respirou fundo, manteria-se forte pelos seus noivos.

- O que aconteceu? - indagou.

- Bom... as testemunhas disseram que um caminhão perdeu o controle e bateu no carro de vocês e aí o carro saiu rolando até que parou de cabeça para baixo. - a moça que era na verdade uma médica explicou. - Só que começou a pegar fogo, mas vocês tiveram sorte.

Taehyung quis rir e depois gritar perguntando se por acaso ele aparentava ser alguém com sorte no momento, mas manteve-se calado em respeito aos outros dois.

- Se não fosse pelo seu amigo...

- Noivo. - cortou-a sério e a viu sorrir, algo que não retribuiu.

- O seu noivo conseguiu se soltar do cinto e tirar vocês dois de dentro do carro. - comentou apontando na direção da maca do outro ruivo.

Novamente Taehyung quis gritar e chorar, e sabia que não deveria, mas se sentia culpado... culpado por ser o motorista.

- Como eles... estão? - perguntou com dificuldade sentindo a dor voltar.

- O moreninho quebrou a perna, teve um corte fundo no braço, bateu a cabeça e quebrou algumas costelas, mas nada muito grave. - afirmou devagar para que o ruivo conseguisse acompanhar, estava ciente de que a dor de uma queimadura fazia a pessoa ter um pensamento mais lento. - Só que ele ainda não acordou... na verdade, você foi o primeiro a abrir os olhos.

- Quanto tempo? - tossiu e gemeu de dor. - Quando tempo estamos aqui?

- 12 horas. - informou.

- E o Jimin? O que ele tem? - pela expressão da médica, não parecia ter uma notícia boa.

- Ele não teve muitos ferimentos, contudo houveram queimaduras nos seus dois braços e em boa parte do seu abdômen. - a médica encarou o ruivo antes de prosseguir. - Mas o agravante é que o coração dele provavelmente não tem forças o suficiente para mantê-lo vivo.

- C-Como assim? - seus olhos voltaram a se encher de lágrimas, jogou a cabeça para o lado encarando o mais velho enquanto ouvia a mulher.

- Para se recuperar e se manter vivo, o corpo precisa de muito oxigênio e bombeamento de sangue... só que devido a insuficiência cardíaca... - ela não preciso terminar.

- Ele não pode morrer! - gritou a pleno pulmões. - Você não pode deixa-lo morrer!

- Você precisa se acalmar, senhor Kim! - a mulher tentou acalma-lo, mas ele continuava gritando e chorando, pedindo a médica que salvasse os seus amados... as suas "crianças".

Logo algumas enfermeiras entraram correndo no quarto, sedando o ruivo antes que o mesmo se machucasse mais. E só quando o viram fechar os olhos e respirar mais calmamente, foi que saíram do quarto deixando os três sozinhos.

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Depois de mais ou menos duas horas, Taehyung voltou a recobrar os sentidos, acordou devagar, abrindo os olhos e se sentindo mole, foi aí que lembrou de onde estava e o que havia acontecido. Voltou a chorar, mas dessa vez baixinho, perguntando-se o motivo do destino ser tão cruel... depois de tantos anos lutando pelo amor do mais velho, ele iria perde-lo assim? A dor em seu braço não podia ser comparada a dor de perder o seu amado, por Deus que pelo menos Jungkook tinha chances de sobreviver. Estapeou-se  mentalmente, seu ChimChim não iria morrer, ele era forte, sobreviveria... e mesmo que passasse anos em coma, eles o esperariam.

- Kim Taehyung? - novamente a voz daquela pessoa que havia dito que o seu baixinho morreria.

Olhou-a com ódio mesmo sabendo que estava errado, de culpada ela não tinha nada... talvez o culpado fosse você mesmo, afinal quem dirigia? Sua mente já começava a lhe pregar peças.

- Precisa de alguma coisa? - a médica perguntou, tomando cuidado com o tom de voz.

Preciso, pensou, preciso de um coração para o meu amor de infância. Manteve-se calado, perdido em sua mente, buscando por respostas que não tinha, suspirou desanimado olhando para o moreno, depois para o menor e por fim encarou a mulher de jaleco branco.

- Preciso que me prometa uma coisa. - afirmou sério e com lágrimas nos olhos.

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A médica só saiu do quarto quando jurou fazer o que o ruivo pediu, e então Taehyung decidiu se levantar, o braço ardia enquanto seu corpo protestava pelos movimentos feitos. Mordeu o lábio inferior tentando se distrair da dor, respirou fundo ao sentir ambos os pés no chão e encarou a maca a sua frente, que era a do mais novo. Foi até a mesma bem devagar, prendendo os gritos na garganta, não se permitiria acordar as suas "crianças" desse modo brusco.

- Ei, Jungkookie. - chamou-o baixinho assim que conseguiu apoiar o braço bom ao lado do corpo do moreno. - Sabe no que eu estava pensando?

Sorriu enquanto acariciava o rosto do mais novo, tomando cuidado para ser o mais delicado possível, afinal os seus noivos eram as suas preciosidades. 

- Eu estava me lembrando do dia em que eu te beijei pela primeira vez. - comentou ainda baixinho. - Você estava tão emburrado que eu não resisti.


Era inverno e já fazia um ano que os três estavam naquele relacionamento, porém o ruivo e o mais novo não passavam dos abraços, e na hora do sexo apenas tocavam no menor. É claro que Jimin já havia tentado argumentar com eles, até mesmo já dissera que talvez o melhor fosse a separação, entretanto nenhum deles admitiria perder o mais velho. O Park ansiava em ver os dois interagindo e às vezes pegava uns olhares, umas frases soltas que o faziam querer bater palmas de tão feliz que ficava, porém ele nunca imaginou que o primeiro beijo deles seria ali... naquele parque cheio de neve.

O ruivo e o menor estavam fazendo bonecos de neve quando viram o mais novo com um bico enorme no rosto, murmurando sozinho e os olhando se divertirem, e por algum motivo aquele bico misturado com as roupas de inverno faziam o moreno parecer um coelhinho de tão fofo. Sem que antes se desse conta, o maior já havia levantado do chão frio e caminhado até o mais novo que lhe olhava confuso, achando que o mesmo brigaria consigo ou jogaria alguma verdade na sua cara, porém o que o ruivo fez foi abaixar o cachecol do moreno e lhe puxar a nuca para um beijo.

De início o mais novo manteve os lábios grudados e o cenho franzido enquanto fechava os olhos com força, mas ao sentir a boca do ruivo lhe chupar os lábios e as mãos do mesmo lhe acariciarem a nuca... cedeu. Abrindo a boca e permitindo que o simples selar se tornasse um beijo de verdade, e nenhum dos dois podia negar que a atração existia e que por mais que não quisessem admitir... estavam começando gostar da companhia um do outro.

- Até que você beija bem, Jungkookie. - o maior provocou assim que se separaram.

O mais novo estava pronto para responder algo a altura quando ouviram as palmas altas e rápidos do menor, que do nada os abraçou todo animado.


- Os nossos primeiros beijos eram meio atrapalhados, lembra, Kookie-ah? - o ruivo deixou algumas lágrimas escaparem.

Tinha tanto medo de que ficasse sozinho, não fazia ideia de como viveria, de como seguiria em frente... e a vida que eles iriam construir? Os filhos? Ficar velhinhos juntos como haviam falado naquela maldita roda-gigante.

- Eu te amo tanto, Jungkookie. - fungou tentando pelo menos não chorar em cima do mais novo. - E eu sei que você não é de dizer muito, mas me ama também, não é?

Em sua mente via o moreno sorrir como um coelho e depois fazer o bico que tanto amava, parecendo uma criança mimada... a sua "criança" mimada.

- Eu espero que você possa acordar logo para cuidar do Minnie. - comentou antes de dar um beijo na testa do mais novo. 

Afastou-se devagar da maca do moreno sem parar de olha-lo por um segundo, tossiu e a dor reverberou por todo o seu corpo, mordeu o lábio contendo o grito doloroso e fechou os olhos, ficando parado até que a ardência passasse. Abriu os olhos e observou a face do mais novo pela última vez antes de ir até o outro ruivo, que parecia tão sereno. 

Com passos pequenos e lentos, Taehyung se aproximou do menor, deixou seus olhos descerem por toda a extensão do corpo do outro ruivo e ergueu o lençol do mesmo, vendo a pele vermelha e viva nos lugares onde a médica havia comentado. Sentiu os olhos marejarem e se odiou por um instante, porém todos os seus pensamentos ruins sumiram ao ver o semblante tranquilo do seu amor de infância. 

Um sorriso se formou nos lábios ressecados do maior ao se lembrar de como o mais velho conseguia animar o seu dia... como um simples "Oi" saindo de sua boca podia fazer o ruivo sorrir, como um rápido roçar de dedos conseguia deixar o maior hipnotizado.

- Eu te amo tanto, ChimChim. - afirmou e as lágrimas escorreram pelo seu rosto. - Você não pode nos deixar.


O Kim encarava o teto do próprio quarto, deitado na cama durante a tarde, odiando-se por ter brigado com o melhor amigo por um motivo tão fútil. Tivera ciúmes do mesmo e simplesmente agira como um idiota, mordeu o lábio nervoso, por que tinha que justo gostar do seu melhor amigo? Seus pensamentos foram abruptamentes cortados no momento em que a sua porta fora rudemente aberta, sentou-se na cama no susto e encarou surpreso o dono dos seus pensamentos. Jimin o fitou ofegante e com os olhos cheios de lágrimas, o ruivo o viu cerrar os punhos e vir em sua direção, fechou os olhos com força temendo levar um soco.

- Nunca mais faça isso! - o menor gritou assim que abraçou o maior, que ficou em choque sem saber como reagir.

Ouviu o choro do mais velho, ficando ainda mais surpreso com o ato do melhor amigo.

- Por que está chorando? - a pergunta saiu antes que pudesse pensar melhor sobre ela.

- Porque você sumiu! - o Park respondeu ao se afastar, limpando desajeitadamente as próprias lágrimas. - E eu fiquei preocupado.

O maior sorriu percebendo que o seu melhor amigo continuava ingênuo e fofo como uma criança, o menor nem havia percebido que o ruivo se enciumara, porém notara que o mesmo saira de lá. Aquilo era o suficiente para deixar o Kim feliz.

- Eu sinto muito, ChimChim. - desculpou-se, levantando-se para ajudar o menor a enxugar as lágrimas. - Agora pare de chorar e sorria para mim, por favor.

O mais velho fungou parando com o choro e deu um soco de leve no braço do maior antes de sorrir, transformando os seus olhos em dois risquinhos.

- Eu te desculpo. - disse com o sorriso ainda em sua face.


- Eu queria tanto te ver sorrir mais uma vez, ChimChim. - pensou em limpar as lágrimas, porém seu corpo já se encontrava tão fraco que apenas se concentrou em permanecer apoiado na maca do menor. - Você e o Kookie são os meus maiores tesouros... e eu não sei como faria para continuar sem um de vocês.

Deu um último beijo no menor, roçando os lábios e sentindo a carne macia e doce do outro ruivo. Separou-se dos lábios de seu amado devagar, encarou o rosto do mais velho, queria gravar cada detalhe, cada particularidade... sorriu fraco antes de usar suas últimas forças para deitar de lado na maca, ao lado do seu amor de infância. 

- Eu sei que você nunca vai me perdooar. - voltou a chorar, mas agora sem controle algum. - Mas eu não posso deixar você morrer... eu não posso... me perdoa, Minnie.

Com cuidado o maior encaixou a própria cabeça em cima do ombro do mais velho, sempre amou a visão de onde estava, mas a diferença agora era que o seu amor de infância estava morrendo... e só havia uma solução, uma única resposta que o maior havia pensando.

- Eu te amo mais que a mim, ChimChim. - confessou começando a ficar cansado.

Seus olhos pesavam e logo permitiu que os mesmo se fechassem, abriu a boca tentando respirar melhor, porque parecia que sua energia estava sendo drenada. 

- E é por isso... que eu... farei qualquer coisa... por você. - falava em pausas, tossindo algumas vezes. - Para que... você viva... Minnie.

Se ele temia a morte? Com toda a certeza que sim, o Kim ainda desejava ter um futuro ao lados dos seus amados, porém ainda mais assustador do que morrer... seria viver sem o homem que habitou o seu coração por anos.

- Obrigado por... fazer parte... da minha vida. - sorriu, deixando as últimas lágrimas descerem pela sua bochecha. - Só nunca... me esqueça... por favor.

O ruivo sentiu o próprio coração bater mais devagar... permitiu-se ver a imagem dos seus dois amados sorrindo, também jurou que podia os ouvir dizendo como o amavam, um último sopro de ar escapou de seus lábios entreabertos na falha tentativa de rir. A última coisa que o Kim sentiu antes de finalmente descansar foi o cheiro doce do seu amor de infância.