1. Spirit Fanfics >
  2. Elementar >
  3. Capítulo 4 - A Study in Pink

História Elementar - Capítulo 4 - A Study in Pink


Escrita por: dingcsbel

Capítulo 4 - Capítulo 4 - A Study in Pink


Fanfic / Fanfiction Elementar - Capítulo 4 - A Study in Pink

As mãos delicadas e pequenas da Beladonna seguravam com força o guarda-corpo de madeira, ela estava na ponta dos pés e com o corpo levemente inclinado para frente, admirando o máximo que conseguia das escadarias do velho edifício. Piscou os olhos algumas vezes, tentando compreender a cena que acabara de presenciar e as informações lançadas pelo detetive Sherlock Holmes.

― Bela. ― John a chamou tocando seu cotovelo com ternura. ― Posso te chamar assim?

― Claro. ― Assentiu a mulher regressando a realidade e desencostando do guarda-corpo. ― É melhor que Beladonna.

― Creio que devemos ir andando. ― Ele gesticulou apontando para os degraus que conduziam de volta ao térreo.

― É, os dois devem estar nos esperando. ― Ela coçou a nuca e o acompanhou. ― Até mais, oficial Hudson Lestrade.

― Greg! Meu nome é Greg. ― Revelou o detetive inspetor acenando para Bela de dentro do quarto com o cadáver. ― Sherlock nunca acerta meu nome.

― Oh! Okay, desculpe. ― Pediu Bela mordendo o lábio inferior.

― Vamos, Bela. ― Chamou John sorrindo sem mostrar os dentes.

― Claro. Não queremos ver Sherlock Holmes e Dominique Hudson irritados com nosso atraso. ― Brincou Bela rindo baixo. ― Você quer, hum... Não sei. Ajuda?

Ao fazer a pergunta Beladonna não conseguiu olhar dentro dos olhos do John, gesticulava com uma das mãos enquanto com a outra coçava a nuca demonstrando nervosismo. Estava com medo de que aquele tipo de pergunta soasse como uma ofensa ao ex-soldado.

― Beladonna... ― John começou a dizer em tom irritadiço, mas ao notar a falta de jeito da mulher compreendeu que ela estava apenas tentando ajudar e amenizou seu tom de voz. ― É muito gentil da sua parte, mas não precisa se preocupar. Eu e minha perna estamos bem, aguentamos alguns lances de escadas.

― Oh! Então tudo bem. ― Ela sorriu bondosa e colocou as mãos no bolso.

Lentamente os dois desceram as escadas em silêncio. Vez ou outra John olhava para Bela e sorria gentilmente, estava preocupado com a saúde mental dela naquele momento. Era visível para qualquer tolo que Beladonna nunca havia ficado tão próxima de um cadáver, principalmente quando este era o cadáver de uma pessoa assassinada.

― Eu também estou bem, Dr. John Watson. ― Confessou Bela começando a se incomodar com os olhares pesarosos lançados pelo médico. ― Um pouco assustada, mas nada que não posso aguentar. Vi pessoas vivas em pior estado.

― Você é enfermeira? ― Perguntou John curioso.

― Não, sou professora do ensino fundamental. ― Ela riu baixo. ― Mas faço trabalho comunitário. Assim como você eu também já sai do país, a diferença é que fui salvar pessoas ao invés de mata-las.

― Eu era um médico militar então, tecnicamente falando, também ajudei a salvar pessoas. ― Ela semicerrou os olhos e sorriu fraco, Beladonna soltou uma risada bem-humorada. ― Para uma pessoa caridosa, seu humor é um pouco pesado.

― Desculpa! Costumo alfinetar as pessoas quando estou nervosa. ― Ao alcançarem o térreo, Beladonna começou a retirar o EPI.

― Fazer o que? Ninguém é perfeito. ― John deu com os ombros e fez o mesmo que Beladonna.

― São as nossas imperfeições que nos tornam humanos. ― Bela citou enquanto jogava o EPI no local destinado para eles.

Após se livrarem de todo o EPI e ajeitarem as vestes, o casal de amigos deixou o prédio abandonado. A movimentação dos policiais parecia ter diminuído bastante e a noite havia caído de vez. Quando alcançaram a frente do prédio, Bela e John olharam para todos os lados buscando por sinais da Dominique e do Sherlock, porém eles não estavam esperando os amigos em lugar algum.

― Onde estão eles? ― Perguntou Beladonna enquanto aproximavam da linha de proteção.

― Acabaram de sair. ― Respondeu a sargento Donavan assim que ouviu a pergunta da Bela.

― Desculpa, como? ― Perguntou John descrente. Nem ele e nem Bela conseguiam acreditar que haviam sido abandonados na cena do crime.

― Sherlock Holmes e a Oficial Hudson. Eles acabaram de sair na moto. ― Explicou Sally.

― Talvez eles voltem para nos buscar. Sua amiga estava de moto... ― Começou John, mas foi interrompido por Bela.

― Duvido. Conheço a minha amiga, ela não é de fazer isso. ― Beladonna curvou o lábio e piscou os olhos com força. Sentia que algo estava acontecendo, Dominique nunca a abandonaria sozinha longe de casa, principalmente em uma cidade que não conhecia nada.

― Certo. ― Resmungou John levemente irritado. ― Onde estamos?

― Em Brixton, pelo que sei. ― Murmurou Bela relembrando das coordenadas dadas por Lestrade quando Sherlock perguntou o local do crime. Educadamente ela aproximou da sargento e tocou com sutileza seu ombro. ― Me desculpe, sargento Donavan. Mas sabe onde poderíamos pegar um táxi? É que, bem... Não conheço nada em Londres e meu amigo Dr. Watson. Bem, ele tem problema na perna.

― Ah! Claro. ― Donavan deu um meio sorriso, aproximou da faixa de proteção e ergueu para eles poderem atravessar. ― Tentem na rua principal.

― Obrigada, tenha uma boa noite. ― Agradeceu Bela com seu melhor sorriso simpático e atravessou a faixa, sendo logo seguida por John.

― Vocês não são amigos dele. O Sherlock não tem amigos. ― Donavan começou a falar assim que eles atravessaram a faixa de segurança. ― É visível que a oficial Hudson está com Sherlock para conseguir uma promoção no serviço. Mas e vocês? Principalmente você, senhorita Sherwood.

― Acabei de conhece-lo. ― Revelou John nervoso.

― O mesmo se aplica a mim. Preciso de inspiração e o Sherlock transborda histórias. ― Confessou Beladonna mordendo o canto do lábio.

― Aceitem um conselho, como amiga. Fiquem longe daquele cara. ― Falou Sally olhando do John para a Bela.

― Porque? ― Perguntou John.

― Sabem por que ele estava aqui? Ele não é pago, nem nada. Ele gosta disso, se afunda. Quanto mais bizarro o crime, mais ele cai de cabeça. E sabe o que eu acho? ― A sargento fez uma pausa breve para tomar folego. ― Um dia só descobrir não será o suficiente. Um dia estaremos ao lado de um corpo que ele colocou ali.

― Bobagem. ― Bela franziu o cenho. ― Porque ele faria isso?

― Porque ele é um psicopata. Psicopatas se entendiam. ― Donavan sorria sem mostrar os dentes e de maneira maldosa.

― Donavan! ― Gritou o detetive Lestrade chamando pela colega de serviço.

― Estou indo! ― Sally gritou de volta e começou a se afastar. Ao dar alguns passos em direção a cena do crime, ela virou para a dupla. ― Fiquem longe de Sherlock Holmes.

― Bobagem. ― Resmungou Beladonna revirando os olhos. Ela enganchou no braço do Dr. Watson, o pegando desprevenido com o ato. ― Venha, vamos andando Dr. Watson.

― Claro, seria uma péssima ideia desperdiçar uma caminhada pelas ruas de Londres quando se tem uma pessoa tão agradável ao lado. ― John sorriu e ajeitou o braço que Bela estava apoiada.

A companhia de John passava segurança para Beladonna. Ele era um ex-soldado e médico do exército britânico, mesmo estando com cicatrizes de batalha e manco, com certeza saberia se defender caso algum bandido engraçadinho resolvesse tirar proveito deles. Principalmente fosse o misterioso assassino em série que estava atacando as ruas de Londres.

Eles caminharam alguns metros em silêncio. Apenas aproveitando a companhia agradável que proporcionavam um ao outro. Assim que passaram na frente de uma das clássicas cabines telefônicas vermelhas, o telefone da mesma começou a soar como se fosse para eles.

― Será que devemos... ― Bela começou a perguntar, mas logo foi interrompida por John.

― Não, elas fazem isso o tempo todo. ― Ele franziu o cenho e balançou a cabeça em negação.

Em silêncio eles continuaram a caminhar. Ao alcançarem a rua principal, John desenganchou do braço da Beladonna e começou a gesticular para um táxi que estava passando naquele exato momento. Porém o mesmo não parou, mesmo com os gritos desesperados do médico.

― Droga! ― Resmungou John segurando na mão da Beladonna para não perde-la em meio à multidão que ocupava as ruas.

― Não se preocupe, pegaremos outro. ― Incentivou Bela com um sorriso esperançoso estampado na face. ― Pelo menos não estamos sozinhos.

― Verdade, vou tentar ser positivo como você. ― John sorriu encantado com o jeito da mulher.

Ao caminharem por mais alguns metros, outro telefone público começou a tocar. Porém este veio de dentro de uma lanchonete de frango no pote. John e Bela olharam em direção ao aparelho, começando a ficarem desconfiados. Um funcionário da lanchonete aproximou do telefone, porém assim que ele esticou a mão para atende-lo, o telefone parou de tocar. Ignorando o telefone, eles continuaram a caminhar e pela terceira vez um telefone público tocou.

― É melhor você atender. ― Falou Beladonna parando na frente da cabine vermelha. Como num estampido, ela havia acabado de recordar o que Dominique havia contado sobre o tal “arqui-inimigo” de Sherlock Holmes. ― Uma vez tudo bem, mas essa é a terceira. Não deve ser uma simples coincidência.

― Tudo bem. ― Assentiu John soltando a mão da Bela. ― Mas não saia de perto de mim. Não quero que se perca.

O médico entrou na cabine telefónica enquanto Bela ficou o esperando na porta, ela abraçava o próprio corpo enquanto olhava para todos os lados com preocupação. Sentia que aquilo era obra do tal homem misterioso com quem Dominique havia se encontrado no seu horário de almoço, mesmo que a amiga tivesse dito para não se preocupar, estava nervosa de como ele chegaria até ela e o que ele poderia pedir.

― Senhorita Sherwood! ― Chamou o motorista de um belo carro preto que havia acabado de estacionar próximo a cabine.

― Desculpa, mas como sabe meu nome? ― Perguntou Beladonna preocupada e cruzando os braços sobre o peito.

― É melhor entrarmos no carro. ― Falou John saindo da cabine telefônica. Ele colocou as mãos nas costas da Beladonna, a guiando até o carro estacionado.

Temerosa e mordendo o lábio inferior, Beladonna foi a primeira a entrar no carro. Ela sentou ao lado de uma bela mulher de vestido preto que mexia no celular. Ela digitava com uma precisão invejável e não olhou em nenhum momento para os novos colegas de carona.

― Hum. Boa noite! ― Cumprimentou Bela timidamente olhando da mulher para o assento, onde havia uma bela marca amarela, provando que a história da Dominique era real. O que a fez dar uma breve relaxada.

― Boa noite! ― Cumprimentou a mulher continuando a olhar para o celular e sorrindo simpática.

― Como se chama? ― Perguntou John.

― Anthea. ― Respondeu a mulher.

― É seu nome verdadeiro? ― Perguntou John desconfiado e segurando mão da Bela, tentando assim passar segurança para ela e mostrar presença.

― Não. ― Disse Anthea ainda mantendo o olhar no celular.

― Sou John e essa é a Beladonna. ― Apresentou John com uma tentativa falha de manter assunto.

― É, eu sei. ― Disse Anthea com desdém.

― Tem algum sentido perguntar onde estamos indo? ― Perguntou Beladonna serena.

― Nenhum, Beladonna. ― Revelou Anthea olhando para Bela por breves segundos.

― Certo. ― Assentiu Bela levando a mão livre até a boca, começando a roer as cutículas e a pele do canto dos dedos.

Mesmo Dominique tendo explicado que Beladonna não precisaria ficar com medo do tal encontro com Mycroft, ela não conseguia deixar o nervosismo de lado e formulava ideias de como as coisas poderiam acabar. A palavra “arqui-inimigo” a forçava a imaginar Mycroft como o típico personagem clichê dos filmes policiais, um homem alto, musculoso, bem vestido, armado e utilizando inutilmente óculos de sol anoite. Ela não conseguia fazer com que a perna direita parasse de balançar enquanto roía as unhas da mão. A cada dedo roído, esticava as mãos para frente e admirava o estado de suas cutículas arrancadas e esmalte descascados.

― Não faça isso. ― Anthea soltou uma das mãos do celular e abaixou a mão da Beladonna, impedindo que ela continuasse a roer. ― Faz mal para a saúde.

― Hum. Tudo bem. ― Murmurou Bela mordendo o canto do lábio e trocando olhares nervosos com John. Ela inclinou o corpo para o lado e sussurrou de um modo que apenas ele escutasse. ― Estou com medo, John.

― Não se preocupe, estou aqui com você. ― Respondeu John beijando a testa dela com ternura. ― Vai dar tudo certo.

Os minutos pareciam não passar dentro do carro, todos estavam em completo silêncio. Beladonna mantinha o olhar temeroso para fora da janela, tentando identificar alguns pontos turísticos da tão aclamada Londres, porém tudo o que conseguia ver era o breu e algumas luzes passando rápido. Ela não soltava da mão do John e arrependia ao máximo de ter emprestado o celular para Sherlock, o mesmo não havia entregue o aparelho de volta e nem mesmo o seu notebook. Caso estivesse com o aparelho, ela poderia ter avisado Dominique sobre o que estava acontecendo ou até mesmo acionado a polícia.

Após longos e incansáveis minutos, o carro entrou em um galpão aparentemente abandonado e parou mantendo os faróis acesos. John foi o primeiro a descer quando o motorista abriu a porta do automóvel, sendo logo seguido por Beladonna que continuava a apertar a mão do ex médico militar com ambas as suas, quase envolvendo o braço do mesmo em um abraço.

Havia um homem parado a poucos metros do carro e próximo a uma cadeira, ele estava apoiado no que parecia ser um guarda-chuva e com uma das mãos no bolso. Dos lábios brotava um sorriso simpático e que não mostrava os dentes. Beladonna logo soube que ele era o tal do Mycroft que havia conversado com Dominique mais cedo, porém ele não era nada parecido com aquilo que imaginou. Ele possuía elegância em seu jeito de vestir e em sua postura, estava mais para algum tipo de duque do que para um agente federal.

― Pode se sentar, John! ― Falou Mycroft apontando com a ponta do guarda-chuva para a cadeira de metal.

― Sabe, eu tenho um celular. ― Disse John aproximando do Mycroft, Bela o acompanhava e não segurava mais com tanta força nas mãos do médico. ― Foi intrigante o que fez, muito inteligente. Mas poderia ter me ligado. No meu celular.

― Quando se tenta evitar a atenção de Sherlock Holmes, aprende-se a ser discreto. Por isso esse lugar. Sua perna deve estar doendo, sente-se. ― Disse Mycroft educadamente e com voz serena. O que fez com que Bela risse pelo nariz e atraísse a atenção dele. ― Algum problema, senhorita Sherwood?

― Nenhum, desculpa. ― Ela franziu o cenho ficando levemente constrangida. ― É que você não é nada parecido com o que imaginei.

― E como imaginou? ― Perguntou Mycroft curioso.

― Alguém parecido com John Luther. Mas parece que estou em um episódio de Downton Abbey. ― Beladonna deu com os ombros. Tanto John quanto Mycroft olharam surpresos para ela, não haviam compreendido nenhuma de suas referências.

― Interessante. ― Mycroft falou com desdém. ― Vocês não parecem com medo. ― Ele olhou do John e regressou o olhar para Bela, dando um breve sorriso sarcástico. ― Pelo menos não mais.

― Você não parece intimidador. ― Falou John fazendo a atenção do homem regressar para ele.

― Sim, que bom. ― Mycroft riu divertido. ― A bravura de um soldado e de uma simples professora. Pensando bem, deve-se ter coragem para enfrentar uma sala de aula com trinta crianças.

― É, eu dou meu jeito. ― Bela deu com os ombros e sorriu sem mostrar os dentes.

― Bravura e coragem é o melhor jeito de dizer estupidez, não acham? ― Perguntou Mycroft deixando de sorrir. ― Qual a conexão de vocês com Sherlock Holmes?

― Ele é a minha inspiração, meu personagem. ― Respondeu Beladonna sem hesitar. ― Para ser honesta, o conheci ontem atarde. Dominique é mais próxima a ele do que eu.

― Eu também o conheci ontem atarde. ― Falou John mantendo a postura séria. ―  Não temos nenhuma conexão.

― E desde ontem vão juntos resolver crimes. ― Mycroft estava descrente e olhava fixamente para John. ― Devemos esperar o casamento de vocês no fim de semana?

Ao ouvir a última pergunta, Beladonna soltou um riso fraco e rapidamente cobriu a boca para disfarçar. Não tardou a imaginar o que Dominique falaria naquela situação, o que com certeza seria algo completamente inapropriado.

― Quem é você? ― Perguntou John começando a se irritar.

― Alguém interessado. ― Respondeu Mycroft.

― E porque esse interesse desesperador por Sherlock Holmes? ― Perguntou Beladonna cruzando o braço sobre o peito. ― Interesse amoroso, talvez? Ciúmes? ― Dessa vez foi a vez do John de rir disfarçadamente. O olhar do homem caiu sobre Beladonna, que mesmo pequena esticava o corpo para passar imponência. ― Afinal, não devem ser amigos.

― Já o conhece. ― Mycroft olhou levemente irritado para ela. ― Quantos amigos acha que ele tem?

― Bom, ele tem a mim. ― Respondeu Beladonna estufando o peito e erguendo os ombros.

― Não me faça rir, senhorita Sherwood. ― Mycroft riu pelo nariz ao ver a falha tentativa da Beladonna de impor autoridade a ele. ― Sou o mais próximo de um amigo que Sherlock poderia ter.

― O que seria isso? ―Perguntou John cerrando os punhos.

― Um inimigo. ― Respondeu Mycroft passando a ponta do guarda-chuva no chão.

― Um inimigo? ― John parecia descrente.

― Em sua mente brilhante, com certeza. ― Assentiu Mycroft. ― Se o perguntar, provavelmente diria que sou seu arqui-inimigo. Ele adora ser dramático.

― Vejo que não é o único. ― Resmungou Beladonna entre os dentes.

― Andou aprendendo a dar respostas com sua amiga, pelo que vejo. ― Retrucou Mycroft olhando diretamente para os olhos da Bela.

― Pelo menos alguma coisa boa ela tem que me ensinar. ― Bela arqueou uma das sobrancelhas, deu com os ombros e sorriu divertida. Para sua surpresa, acabou recebendo um breve sorriso como resposta.

Mycroft e Bela mantiveram os olhares por breves segundos, até o celular do John apitar com o aviso de nova mensagem. Fazendo com que ambos olhassem em sua direção, ao ler o que estava escrito, John mostrou o aparelho para Beladonna. Era uma mensagem de Sherlock Holmes.

“Baker Street.

Venham assim que for conveniente.

— SH”

O celular do John apitou pela segunda vez. Sendo dessa vez uma mensagem vinda do celular da Dominique, a qual com certeza estava na companhia do detetive consultor. O que surpreendia Bela de verdade, já que não era comum Dominique ficar por mais de cinco minutos sozinha no mesmo ambiente com quem vive a implicar.

“Não deixe a Tinker Bell sozinha.

E nem dê em cima dela

Caso contrário terá outra parte do corpo aleijada.

É sério, Dr. John Watson.

— Com amor, Dominique.”

― Meu Deus, Dominique só me faz passar vergonha. ― Reclamou Bela cobrindo o rosto com a mão assim que leu a mensagem da amiga. John apenas riu divertido e voltou a guardar o aparelho dentro do bolso.

― Espero não estar distraindo vocês. ― Falou Mycroft descontente com a interrupção.

― Não está distraindo nem um pouco. Nada me distrai. ― Respondeu John com sarcasmo em seu tom de voz.

― Planejam continuar a parceria com Sherlock Holmes? ― Perguntou Mycroft voltando com a sessão interrogativa.

― Posso estar errado, mas acho que isso não é da sua conta. ― Falou John grosseiramente.

― Mas pode ser. ― Insistiu Mycroft.

― Na verdade não pode. ― Retrucou John.

― Caso queira se mudar para o... ― Mycroft remexeu no bolso, retirando de dentro dele um tipo de bloco de anotação, ele abriu na página marcada e então leu. ― Apartamento 221B da rua Baker. Ficarei feliz em pagar uma quantia significativa em datas regulares, para facilitar as coisas.

― Por que? ― John insistiu em saber.

― Porquê não é um cara muito rico. E a Beladonna começa a trabalhar em Setembro, levando em conta que estamos em Janeiro, vai demorar para ela receber o primeiro salário. ― Respondeu Mycroft com desdém.

― Tudo isso em troca de que? ― Perguntou Beladonna, mesmo já sabendo da resposta.

― Informação. ― Respondeu Mycroft. ― Nada indiscreto, nada que o faça vocês se sentirem incomodados ou desconfortáveis. Apenas me digam o que ele faz.

― Por quê? ― John insistiu em saber.

― É que me preocupo com ele. Constantemente. ― Assumiu Mycroft.

― Que bonito, linda atitude. ― Elogiou Beladonna.

― Mas prefiro que não me mencione. ― Pediu Mycroft.

― Por quê? ― Perguntou Bela determinada a descobrir o interesse que Mycroft possuía por Sherlock Holmes.

― Por diversos motivos. O que nós temos pode ser chamado de relacionamento difícil. ― Respondeu Mycroft brincando com o guarda-chuva que carregava.

― Ex-namorado? ― Insistiu Beladonna voltando a cruzar os braços sobre o peito.

― Definitivamente não. ― Mycroft fez careta com a ideia absurda.

― Parente. ― Murmurou Bela mordendo o lábio inferior.

No exato momento que Bela murmurou a palavra, uma nova mensagem de Sherlock Holmes chegou no celular do John. Quando ele retirou o aparelho do bolso para ler, Mycroft assentiu discretamente para a mulher. A qual sorriu sem mostrar os dentes, compreendendo pelas expressões do homem que era para manter segredo.

― Holmes? ― Perguntou Bela olhando diretamente para Mycroft, que mais uma vez acenou discretamente com a cabeça.

― Sim. ― Confirmou John acreditando que a pergunta era sobre a mensagem. ― E para você... ― Ele olhou diretamente para Mycroft, o qual desmanchou o breve sorriso. ― A resposta é não.

― Mas eu nem mencionei a quantia. ― Retrucou Mycroft.

― E nem precisa. ― Rebateu John com desdém.

― Você fica fiel muito rápido. ― Mycroft riu sem humor. ― Muito rápido mesmo.

― Não, não me torno. Só não estou interessado. ― Falou John dando com os ombros.

― “Problemas de confiança” Pelo que eu li. ― Mycroft retirou outra vez o bloco de notas do bolso.

― O que é isso? ― Perguntou John surpreso por ele ter as anotações da sua terapeuta.

― Com tantas pessoas do mundo, você escolheu Sherlock Holmes para confiar? ― Perguntou Mycroft ignorando a pergunta do John e mantendo os olhos nas anotações.

― Quem disse que eu confio? ― Perguntou John sem tirar os olhos do bloco de notas.

― Não me parece ter muitos amigos e nem de fazer amizades rapidamente. Diferente da doce senhorita Sherwood. A qual aposto que faria amizade com um serial Killer e o convenceria de não a matar. ― Mycroft olhou do John para Bela. A qual não sabia se ficava agradecida com o que aparentemente era um elogio ou irritada com o mesmo.

― Já terminamos? ― Perguntou John frustrado.

― Diga-me você. ― Mycroft voltou a olhar para John.

Um silêncio incomodo de formou, John e Mycroft trocaram olhares desafiadores por alguns segundos antes do médico dar as costas e começar a andar de volta para o carro que os trouxera até aquele galpão abandonado, Bela ficou parada olhando fixamente para Mycroft, o qual não tirava os olhos do John.

― Acredito que as pessoas já disseram para ficar longe dele... ― Começou Mycroft.

― Vamos, Bela. ― Chamou John sem olhar para trás.

― Mas posso ver pela sua mão esquerda que não vai ouvir o que disseram. ― Mycroft ignorou a interrupção e prosseguiu com a frase enquanto guardava o bloco de anotações no bolso interno do blazer.

― Minha o que? ― Perguntou John irritado, dando meia volta e regressando com passos rápidos para perto do homem.

― Mostre-me. ― Pediu Mycroft quase como uma ordem.

Mesmo desconfiado e muito irritado com aquele jogo de perguntas. John ergueu a mão na altura do queixo, deixando-a visível para Mycroft. Bela franziu o cenho confusa e voltou o olhar para a mão do John sem compreender o que estava acontecendo. Lentamente, Mycroft aproximou do ex-soldado e tentou tocar em sua mão.

― Não. ― Resmungou John puxando a mão para trás com certo medo do que o homem poderia fazer.

― John, mostre por favor. ― Pediu Beladonna com carinho. Ela estava muito curiosa em como Mycroft sabia que John iria ignorar os conselhos da sargento Sally. ― Assim podemos voltar para casa mais rápido.

Sorrindo brincalhão e sem mostrar os dentes, Mycroft meneou com a cabeça para que John mostrasse a mão. Mesmo desconfiado, John voltou a esticar a mão esquerda. Rapidamente Mycroft a segurou entre as suas de maneira avaliativa.

― Notável. ― Elogiou Mycroft.

― O que? ― Perguntou John puxando a mão de volta.

― A maior parte das pessoas nessa cidade só veem ruas, lojas e carros. ― Mycroft afastou alguns passos dando as costas, deu meia volta e encarou John outra vez ― Quando você sai com Sherlock Holmes, você vê um campo de batalha. Você já reparou nisso, não reparou?

― Qual o problema da minha mão? ― Perguntou John tentando mudar o assunto.

― Tem um tremor intermitente na mão esquerda, sua terapeuta acha que é transtorno pós-traumático. Ela acha que você é atormentado por lembranças do exército. ― Revelou Mycroft.

― Quem diabos é você? ― Exigiu saber John irritado. ― Como sabe disso?

― Demita ela. Ela está errada. ― Disse Mycroft ignorando as perguntas do John. ― Está sobre stress agora e não está tremendo. Não está sendo assombrado pelos fantasmas da guerra, Dr. Watson. Você sente falta deles. Bem-vindo de volta. E você... ― Sorrindo simpático ele voltou o olhar para Bela e de maneira discreta lhe entregou um cartão, sussurrando as palavras para que apenas ela escutasse. ― Guarde, poderá precisar no futuro e não hesite em usá-lo, independente do horário.

― Obrigada. ― Agradeceu Beladonna guardando o cartão no bolso sem ao menos olha-lo e retribuiu o sorriso.

Dando as costas para o casal de amigos, Mycroft começou a se afastar com passos suaves e elegância, ele girava o guarda-chuva em uma das mãos enquanto mantinha a outra dentro do bolso da calça. O telefone do John tocou outra vez, revelando ser outra mensagem do Sherlock.

― Hora de escolherem um lado. ― Falou Mycroft ao ouvir o barulho do telefone do John.

― Eu levo vocês para a casa. ― Anthea aproximou assim que Mycoft se afastou. Ela nem ao menos tirou os olhos do telefone celular, digitando mensagens incansavelmente.

― Obrigada. ― Agradeceu Beladonna sorrindo sem mostrar os dentes e olhando para a mulher.

― Endereço? ― Perguntou Anthea.

― Baker Street. ― Respondeu John colocando a mão nas costas da Beladonna. ―  221B da rua Baker. Mas preciso passar em um lugar antes?

― Onde? ― Perguntou Bela curiosa enquanto voltavam para o carro.

― O quarto que estou hospedado. ― Respondeu John sorrindo sem mostrar os dentes. ― Preciso pegar uma coisa.

Em silêncio eles regressaram para o carro. Enquanto acomodava de volta no antigo lugar que havia ocupado, Beladonna não conseguia acreditar em como seu primeiro dia estava sendo cheio de emoções. Deixar a cidade pequena e ir para a capital fora a melhor coisa que fez até o momento, sua cabeça explodia de inspiração e algo dentro do peito dizia que os dias a partir desse teriam tudo para serem emocionantes.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...