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História Elementar - Capítulo 7 - A Study in Pink


Escrita por: dingcsbel

Capítulo 7 - Capítulo 7 - A Study in Pink


Algumas horas antes.

As feições da Dominique demonstravam exatamente o que sentia no momento, raiva. Estava furiosa por ter parado do outro lado da cidade e, mais furiosa ainda, por ter deixado aquilo acontecer enquanto cochilava no banco do táxi. Se tivesse recusado o pedido de sua tia avó, estaria limpa e dormindo confortavelmente em sua cama e não parada no meio fio, esperando ansiosamente por outro táxi que a levaria de volta para casa.

― Taxista filho da puta! ― Urrou Dominique batendo o pé enquanto colocava a sacola de remédios sobre a face para a abafar o grito. Alguns civis que passavam por perto, olharam desconfiados para a policial que ainda vestia o uniforme. ― Tão olhando o que?

Ao avistar um táxi descendo a rua, Dominique esticou o braço o máximo que pode, de modo que pudesse atrair a atenção do taxista. Dessa vez não permitiria que o cansaço a vencesse, ficaria acordada durante todo o percurso para casa e repararia muito bem no trajeto.

― 221B, da rua Baker. ― Ordenou a ruiva ao entrar no automóvel.

― 221B, da rua Baker? ―Perguntou o taxista a olhando pelo retrovisor.

― É, está surdo? ― Rebateu Dominique irritadiça.

O motorista abriu um sorriso breve e sem mostrar os dentes. Dando a seta, ele desencostou do meio fio e entrou na rua movimentada. Aos resmungos, Dominique retirou o celular do bolso e admirou a tela preta, o aparelho estava completamente desligado devido à falta de bateria e o pouco crédito que possuía havia sido utilizado na última ligação para a Sra. Hudson, a qual possivelmente estaria preocupada devido à demora da sobrinha neta. Como o Garfield, Dominique declarou a Segunda-Feira como o pior dia da semana.

― Está atrasada? ― Perguntou o taxista puxando assunto.

― Para o jantar, com certeza. ― Assentiu a mulher. ― Se o Sherlock não me deixou nada, juro que bato na cara dele. E o que te interessa?

― Perdão. É que a senhorita parece um pouco distante. ― Respondeu o homem curvando o lábio e baixando os ombros.

― Distante? Como assim? ― A ruiva fez careta e balançou a cabeça. Dando sinal, o táxi entrou em uma rua de pouco movimento e mal iluminada, gradativamente diminuiu a velocidade até parar no canto escuro. ― O que está fazendo? Você sabe com quem está lidando? Quer saber... ― Com os nervos à flor da pele, Dominique levantou do assento e desceu do carro. ― Não sei o que está dando em vocês taxistas. Mas juro que essa é a última vez que entro em um.

― Senhorita. ― O homem a chamou. ― Não irá pagar pela corrida.

― Que corrida? ― Dominique aproximou da janela do motorista, estando disposta a enfrenta-lo. ― Você andou comigo por aproximadamente cinco minutos. Não me trouxe no lugar certo e quer cobrar corrida? Ah! Va tomar no olho do seu cu.

― Usa drogas, senhorita? ― Pergunto o taxista a encarando friamente.

― Claro que não. Eu sou uma policial. ― Rebateu Dominique confusa.

― Respondeu rápido, não? ― O homem abriu um sorriso maldoso. ― A maioria já teria desmaiado nessa hora.

Antes que Dominique pudesse fazer qualquer outro tipo de pergunta ao senhor de idade, ele retirou do bolso das vestes uma seringa e injetou o conteúdo sobre o braço da ruiva que estava apoiado no teto do carro.

― Mas... O que... ― Com um único puxão Dominique retirou a seringa que havia ficado pendurada, mas era tarde demais. ― É você...

Mesmo que tentasse de todas as formas aguentar, o efeito da droga já começara a fazer efeito e espalhava rapidamente de acordo com que percorria a corrente sanguínea. Sua vista ficou turva e o corpo parecia pesado demais para as pernas aguentarem.

― Está tudo bem... ― Falou o taxista descendo do carro e a segurando antes de atingir o chão. ― Não vou matá-la, pelo menos não agora.

― Socorro! ― Dominique tentou gritar enquanto se debatia para livrar-se do homem. Mas a voz estava falha e sem força.

― Além do mais... ― Continuou o taxista ignorando os apelos da mulher. ― Preciso que seu namorado me acompanhe e, com toda certeza, ele virá assim que perceber que corre perigo.

― Sherlock... Não é... Meu... Namorado. ― Vociferou Dominique ao ser atirada no chão do táxi. Aquelas foram suas últimas palavras antes de apagar completamente.

♛♛♛♛♛♛

Agora.

Lentamente Dominique foi recobrando a consciência. A cabeça latejava como se estivesse acabado de acordar após uma terrível noite de bebedeira. Piscou os olhos com força, tentando enxergar algo dentro daquela escuridão. Aquele local definitivamente não era a sua casa.

― Mas que po... ― Ela arfou, estando sem forças para completar qualquer tipo de frase, pelo menos por hora.

Ao tentar levantar da cadeira, percebeu que estava amarrada na mesma. Por um momento entrou em desespero, mas aos poucos começou a recordar dos treinamentos na academia de polícia. Respirando fundo, contou até dez e acalmou os nervos. Ela precisaria de um plano para conseguir escapar com vida.

Passos foram ouvidos aproximando da sala, o assassino havia regressado e dessa vez não estava sozinho. Sem qualquer aviso prévio, as luzes foram acessas, cegando Dominique por algumas frações de segundos.

― Dominique! ― Chamou Sherlock correndo na direção da mulher.

― Sherlock! ― Respondeu Dominique com voz falha e respiração pesada. ― Desgraçado!

― Bem-vinda de volta! ― Comemorou o taxista ao entrar no que parecia uma sala de aula ou até mesmo escritório. ― Pensei que não acordaria. Está apagada por mais de uma hora.

― Ela é forte. ― Elogiou Sherlock analisando as pupilas da Dominique.

― É mesmo, a maioria já teria convulsionado. ― O homem sorriu maléfico.

― O que... O que você... ― Dominique começou a falar, mas sem êxito ao terminar a frase. ― Porra!

― Não faça força. A droga ainda está em seu sangue. ― Revelou o assassino. ― Sentirá fraca como uma criança por pelo menos mais uma hora. Poderia fazer o que quisesse com você, senhorita. Mas tenho negócios a tratar com o seu namorado.

― Ele não... ― Negou Dominique, sendo interrompida pelo assassino antes de terminar a frase.

― Mas então, Sr. Holmes. O que acha? ― O taxista andou lentamente para próximo do Sherlock. ― O senhor decide. É você e sua namoradinha que vão morrer aqui.

― Ele não...

― Não, não vamos. ― Respondeu Sherlock interrompendo Dominique e ficando em pé.

― É o que todos dizem. ― Disse o taxista. Ele apontou para uma cadeira vazia alguns metros da Dominique. ― Podemos conversar?

Com passos calmos, Sherlock aproximou do assassino e puxou uma cadeira, sentando de frente para ele. Os olhos da Dominique voltaram a fechar, mas não significava que voltaria a dormir. A dor de cabeça intensa a impedia de descansar o corpo por completo, assim como a tontura e as náuseas causadas pelo efeito da droga.

― Um pouco arriscado, não? Me levar com seis policiais assistindo. ― Falou Sherlock sereno e retirando as luvas. ― Eles não são tão idiotas. E a Sra. Hudson lembrará de você.

― Burro. ― Murmurou Dominique. Não havia ofendido o taxista, mas Sherlock por não ter entregado o serial killer aos policiais.

― Chama isso de risco? Não... ― Perguntou o taxista ignorando a garota amarrada. Em seguida retirou do bolso um pequeno frasco com o que pareciam pílula e colocou sobre a mesa. ― Isso é arriscado. Gosto muito disso. Pois não entendeu ainda, entendeu? Mas já vai entender. ― Lentamente ele retirou do bolso um segundo frasco e o colocou ao lado do primeiro. ― Só tenho de fazer isso. Por essa o senhor não esperava. Vai amar o que está por vir.

― Vou amar o que? ― Perguntou Sherlock com desdém, seus olhos estavam fixos no assassino em sua frente, reparando em cada detalhe. ― Sequestrou e drogou minha assistente.

― Assistente... ― Dominique repetiu a palavra e riu fraco.

― Sherlock Holmes! Olhe para o senhor! Em carne e osso. Seu site, um fã me contou sobre ele. ―Revelou o homem levemente empolgado. ― O que eu não esperava era que tivesse uma namorada.

― Um fã? ― Perguntou Sherlock interessado. ― A única pessoa que possui esse cargo no momento é a Beladonna, porém tenho certeza de que não falou com ela.

― O senhor é brilhante! ― Elogiou o taxista. ― É de fato um gênio. A ciência da dedução. Isso que é pensar direito. Cá entre nós, por que as pessoas não pensam? Isso não o chateia? Por que as pessoas não pensam?

― Ah! Eu entendi. Então você também é um gênio. ― Ironizou Sherlock frustrado.

― Não pareço, pareço? ― Perguntou o taxista.

― Definitivamente não. ― Respondeu Dominique sorrindo sarcástica. ― É apenas um homenzinho de chapéu engraçado que dirige um táxi.

― Cale a boca! ― Ordenou o homem olhando brevemente para a ruiva amarrada. ― Meu assunto é com o senhor Holmes. Não me obrigue a dopa-la novamente. E dessa vez duvido que irá acordar com vida.

― É, já que acordar morta não faz nenhum sentido. ― Balbuciou Dominique com desdém. Aos poucos recuperava a força, mas formular frases compridas ainda lhe custavam energia.

― Muito bem, dois frascos. ― Sherlock começou a falar ao perceber que o homem em sua frente estava prestes a levantar da cadeira. ― Explique.

― Há um frasco bom e há um frasco ruim. ― Ele voltou a olhar para Sherlock, ignorando a presença da policial no recinto. ― Se tomar a pílula do frasco bom fica vivo, se tomar a pílula do frasco mal, você morre.

― Bum, vai para o beleleu. ― Zombou Dominique.

― Eu juro, Dominique. Se abrir a boca mais uma vez, deixarei que ele te mate. ― Urrou Sherlock entre os dentes. Era óbvio que não deixaria a amiga ser morta, mas precisava de que alguma forma ela ficasse quieta e não ferrasse ainda mais as coisas para seu lado. ― Voltando ao assunto. Obviamente os dois frascos são iguais.

― Em todos os sentidos. ― Assentiu o taxista.

― E você sabe qual é qual. ― Prosseguiu Sherlock.

― Claro que sei. ― Retrucou o taxista como se aquele comentário fosse o mais estúpido que ouvira na vida.

― Mas eu não sei. ― Disse Sherlock.

― Não seria um jogo se soubesse, o senhor é quem escolhe. ― Falou o taxista.

― Por que deveria? Não tenho motivação para jogar. ― Rebateu Sherlock dando com os ombros. ― O que eu ganho com isso?

― Tem certeza? Ainda não contei a melhor parte. ― Prosseguiu o taxista sem desviar os olhos do detetive consultor. ― Seja lá qual frasco escolher, eu vou tomar a pílula do outro. Então juntos vamos tomar o remédio. Não vou trapacear, a escolha é sua. Eu tomo a pílula que o senhor não tomar. Não esperava por isso, não é senhor Holmes?

― Foi isso que fez com os outros? ― Perguntou Sherlock após avaliar os frascos por cima. ― Deu uma escolha a eles?

― E agora estou dando uma ao senhor. ― Assentiu o taxista. ― Fique à vontade, pense um pouco. Quero que se prepare para o seu melhor jogo.

― Não é jogo, é uma escolha. Pura sorte. ― Corrigiu o detetive.

― Joguei quatro vezes e estou vivo. ― Comemorou o taxista. ― Não é sorte, é xadrez. Um jogo de xadrez com apenas um movimento e um sobrevivente. E esse, esse, é o meu lance. ― Ele empurrou um dos frascos na direção do detetive. ― Acabei de lhe dar o frasco bom ou o frasco mau? Pode escolher qualquer um deles. Está pronto, senhor Holmes? Pronto para jogar?

― Sherlock, não seja estúpido. ― Pediu Dominique enquanto tentava se livrar das amarras, ainda estava fraca, mas já conseguia controlar seus movimentos.

― Pra jogar o que? É cinquenta por cento de chance. ― Começou Sherlock, mas logo foi interrompido pelo homem.

― Não está jogando com números, está jogando comigo. ― Insistiu o taxista. ― Eu lhe dei a pílula boa ou a pílula má? É um blefe, ou um blefe duplo? Ou triplo.

― É pura sorte. ― Vociferou Sherlock. ― Estatística.

― Quatro pessoas morreram. Não é estatística...

― Foi sorte...

― Realidade! ― Contrapôs o velho aumentando o tom de voz. ― Sei como as pessoas pensam. Sei como as pessoas acham que eu penso. Consigo ver tudo como um mapa na minha mente. São todos idiotas, inclusive você. Ou talvez, Deus me ame.

― Mesmo assim, você é um péssimo taxista. ― Disseram Sherlock e Dominique em uníssono. Ambos trocaram olhares desconfiados pelo timing perfeito. ― Sorte! Sorte dupla! Sorte tripla!

― Podem parar com isso! ― Ordenou o taxista quando os dois mudaram o rumo da conversa por breves segundos.

― Então... ― Sherlock aprumou na cadeira, colocando ambos os cotovelos sobre a mesa e entrelaçando os dedos das mãos. ― Arriscou sua vida quatro vezes para matar estranhos, por quê?

― Hora de jogar. ― Ordenou o homem impaciente.

― Ah! Mas eu estou jogando. ― Disse Sherlock. ― E é a minha vez. Há espuma de barbear atrás da sua orelha esquerda. Ninguém te falou isso. Sinal de que já aconteceu antes, então, você vive sozinho, não há ninguém para lhe dizer. Mas há foto de crianças no táxi e a mãe das crianças foi cortada. Se ela morreu ainda estaria lá. A foto é antiga, mas a impressão é nova. Pensa em seus filhos, mas não pode vê-los. Pai distante. Ela levou as crianças, mas ainda os ama e isso ainda machuca. Ah! Mas tem mais. Suas roupas. Recém lavadas, mas tudo o que está usando tem... Três anos? Mantendo as aparências, mas não planejando. E aqui está você como serial killer kamikaze. O que é isso? ― Ele fez uma pequena pausa e então prosseguiu. ― Ah! Três anos atrás, foi quando te contaram...

― Contaram o que? ― Perguntou Dominique curiosa, se havia algo que ela gostava em Sherlock era quando fazia suas deduções.

― Que é um homem morto andando. ― Respondeu Sherlock sem tirar os olhos do taxista irritado.

― O senhor também. ― Vociferou o taxista.

― Não tem muito tempo de vida. Estou certo? ― Perguntou Sherlock ignorando o comentário do assassino.

― Aneurisma. Bem aqui. ― Mostrou o taxista tocando a têmpora com o dedo indicador. ―Qualquer suspiro pode ser o meu último.

― Caralho, pesado! ― Suspirou Dominique com a cabeça encostada no assento da cadeira, havia desistido de lutar contra as amarras. ― Mas se está morrendo, porque assassinou quatro pessoas?

― Sobrevivi a quatro pessoas. ― Corrigiu o taxista olhando da jovem para Sherlock. ― É a melhor alegria que se pode ter com um aneurisma.

― Não... Não... Tem algo a mais. ― Falou Sherlock pensativo. ― Não matou quatro pessoas só por estar amargurado. A amargura é um paralítico. O amor é um motivador muito mais viciante. De alguma forma, isso tem a ver com seus filhos.

― Você é bom nisso, não é? ― Assentiu o homem.

― Ele é o melhor. ― Elogiou Dominique com a voz falha e respiração cansada.

― Mas como? ― Perguntou Sherlock mantendo o foco na vida miserável do taxista.

― Quando eu morrer, não vou deixar muito para os meus filhos. ― Respondeu o homem com pesar. ― Não se ganha muito dinheiro como taxista.

― Ou serial killer. ― Julgou Sherlock baixando as mãos.

― Ficaria surpreso. ― Disse o homem.

― Surpreenda-me. ― Ordenou Sherlock interessado.

― Tenho um patrocinador. ― Revelou o taxista empolgado.

― Patrocinador? ― Perguntou Dominique confusa. ― Caralho! Isso até parece coisa da Depp Web.

― Cada vida que eu tiro, dinheiro é enviado para os meus filhos. ― Explicou o taxista com desdém. ― Quanto mais eu mato, melhor eles estarão. Viram? É mais legal do que pensavam.

― Quem patrocinaria um serial Killer? ― Sherlock olhou com grande interesse ao homem em sua frente.

― Poderia ser um fã de Sherlock Holmes? ― Ele rebateu a pergunta do detetive com outra.

― Não. Beladonna jamais faria isso. ― Zombou Dominique.

― Sabe, vocês não são os únicos a gostarem de um bom assassinato. ― Disse o homem olhando da ruiva amarrada para Sherlock Holmes em sua frente. ― Existem muitos outros como vocês, exceto que o senhor é apenas um homem. E eles são muito mais que isso.

― O que quer dizer... Mais que um homem? ― Crispou Sherlock. ― Uma organização? Ou o que?

― Tem um nome que ninguém diz e eu também não direi. ― Falou o taxista com um sorriso divertido nos lábios.

― Lorde Voldemort. ― Dominique aproveitou a deixa para fazer outra de suas referências infelizes.

― Agora, chega de conversa. É hora de escolher. ― Disse o taxista cansado de tanta conversa mole.

― E se eu não escolher? É só eu levantar e ir embora. ― Falou Sherlock com desdém.

Sem hesitar, o taxista retirou a arma do bolso e apontou na direção da cabeça do detetive consultor. Os olhos da Dominique arregalaram, temendo que o mesmo atirasse entre os olhos do melhor amigo e em seguida nela.

― Tem cinquenta por cento de escolher. Ou eu posso atirar na sua cabeça. Curiosamente, ninguém fez essa opção. ― Zombou o taxista mantendo a arma apontada para o Sherlock.

― Escolherei a arma, por favor. ― Disse Sherlock sem ao menos mover-se para longe do objeto, mantinha as expressões impassíveis e nada temerosas.

― Tem certeza?

― Não, Sherlock. ― Choramingou Dominique voltando a tentar soltar-se das amarras.

― Definitivamente. ― Sherlock sorriu por breves segundos e logo voltou com as expressões sérias. ― A arma.

― Não quer ligar para um amigo? ― Perguntou o taxista.

― A arma. ― Insistiu Sherlock sorrindo.

Atendendo as ordens do detetive consultor, o assassino apertou o gatilho do objeto. Porém, para a surpresa da Dominique que assistia a cena a alguns metros de distância e amarrada na cadeira, não houve um tiro. A única coisa que saiu do cano da arma foi chamas, aquilo era sem dúvida um isqueiro de colecionador.

― Conheço uma arma de verdade quando vejo. ― Disse Sherlock sorrindo.

― Nenhum dos outros percebeu. ― Falou o taxista colocando o objeto sobre a mesa.

― Com certeza. Bem, isso tudo foi muito interessante. Espero te ver no tribunal e preciso levar a Domi para casa. ―  Sherlock levantou de onde estava sentado e caminhou até Dominique.

― Vamos comer algo antes. Será que o Angelo está aberto? ― Dominique sorriu gentilmente em agradecimento, ficando aliviada quando os nós foram frouxos e as cordas retiradas do corpo.

― Acho que não. ― Sherlock ergueu com sutileza um dos braços da policial e passou ao redor do pescoço, agarrando a mesma com força na cintura para lhe dar apoio. ― Consegue caminhar?

― Mais ou menos. ― Ela fez careta ao apoiar o pé esquerdo no chão. Não sabia dizer em qual momento do caminho havia torcido o mesmo, afinal esteve inconsciente por longo período de tempo. ― Argh! Meu tornozelo. E estou fraca. Não acha melhor um hospital?

― Para que? Temos um médico em casa, se esqueceu? ― Sherlock arqueou uma das sobrancelhas.

― Ah, é! O aleijado. ― Assentiu Dominique.

Com passos lentos para acompanhar o ritmo da companheira ao lado. O detetive caminhou em direção a saída junto com a ruiva. Porém, ao alcançarem a porta, o assassino voltou a chamar a atenção do Sherlock.

― Antes de ir, gostaria de saber se descobriu. ― Falou o taxista curioso. ― Qual é o frasco bom.

― É claro, brincadeira de criança. ― Respondeu Sherlock dando com os ombros.

― Então diga, qual é? ― Pediu o homem. ― Qual deles teria escolhido? Só assim eu saberia se venceria você.

― Sherlock, o que pensa em fazer? ― Perguntou Dominique ao perceber que Sherlock regressava para próximo do serial killer. ― É sério, Sherlock. Não seja estúpido.

― Vamos, lá. Jogue o jogo. ― Insistiu o taxista de modo desafiador.

― Willian Sherlock Scott Holmes. ― Dominique chamou o detetive pelo nome completo, o surpreendendo por saber tal informação particular.

― Como sabe meu nome completo? ― Perguntou Sherlock a colocando sentada em outra cadeira.

― Perguntei para o Mycroft. ― Ela deu com os ombros. ― É sério, não seja estúpido.

Ignorando o clamor da amiga, Sherlock reaproximou do taxista e pegou a pílula que estava mais próximo do mesmo. O homem levantou da cadeira, ficando surpreso por ele ter realmente aceitado participar do seu jogo de pura sorte.

― Escolha interessante. ― Assumiu o taxista abrindo o frasco e retirando o conteúdo de dentro. ― Então, o que me diz? Podemos? Sério. O que acha? Pode me derrotar? Está certo o suficiente, a ponto de apostar sua vida? Tenho certeza que se entediou, não foi? Sei que sim. Um homem como o senhor. Tão inteligente...

― Sherlock! Não. ― Dominique tentou levantar sozinha, mas devido ao tornozelo fraturado e ao efeito da droga no sangue. Acabou escorregando para frente e caindo como um saco de batatas no chão, abrindo um pequeno corte no queixo. ― Sherlock! Não seja estúpido.

― Qual o sentido de ser esperto, se não consegue provar? ― Continuou o taxista ignorando Dominique, assim como Sherlock estava fazendo. O detetive ergueu a pílula contra a luz, tentando ter certeza de que havia escolhido certo. ― Manter o vício. Mas nisso, é no que você realmente é viciado. Faria qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo para não ficar entediado. Não está entediado agora, está?

― Não me faça rastejar até aí. ― Resmungou Dominique olhando preocupada para o detetive, o qual lentamente levava a pílula até a boca.

Antes que o medicamento tocasse seus lábios e também os do taxista. Um tiro vindo do prédio localizado a frente desse, voou quebrando a janela de vidro e atingindo o serial killer no peito. Tanto Dominique quanto Sherlock arregalaram os olhos ao ouvir o estampido e ver o homem cair duro no chão.

― Eita, porra! ― Murmurou Dominique apoiando na bancada para tentar levantar. ― O que foi isso?

― Um tiro. ― Respondeu Sherlock correndo para próximo do assassino antes que o perdesse para a morte. ― Eu, estava certo? Estava certo, não estava? Eu peguei o certo? ― O taxista não disse nada, deixando o detetive ainda mais irritado. Sherlock atirou na cara do homem ao chão a pílula que segurava entre os dedos. ― Certo. Diga-me. Seu patrocinador. Quem é? Aquele que te contou sobre mim, o meu fã. Quero um nome.

― Não. ― Vociferou o taxista tentando manter-se vivo.

― Está morrendo, mas ainda posso te machucar. ― Sherlock pisou no ferimento alojado no peito do taxista. ― Me dê um nome. Um nome! Agora! O nome!

― Moriarty! ― Gritou o taxista em seu último suspiro de vida.

Um silêncio incomodo caiu no local. Dominique havia parado de tentar ficar em pé para poder prestar atenção no que acontecia a sua volta. Era visível nas expressões do Sherlock que estava preocupado com a ameaça eminente que aproximava com sutileza.

― Pode me dar uma mão? Talvez um braço e uma perna. ― Pediu Dominique ainda estirada no chão. ― Quem sabe uma Pizza.

― Venha! ― Sherlock correu até a garota e a pegou no colo. ― Você andou engordando ou é impressão minha?

― Vai se foder. ― Ordenou Dominique o estapeando de leve na orelha. ― Você é um idiota.

― Eu sou? ― Perguntou Sherlock semicerrando os olhos.

― O mais idiota de todos. ― Dominique lhe deu outro tapa. Porém o abraçou com força, envolvendo ambos os braços ao redor do pescoço do detetive e afundando o rosto em seu cangote. ― Nunca mais faça isso.

― Fazer o que? ― Perguntou Sherlock parando no meio do corredor, aquele abraço o pegou desprevenido.

― Colocar sua vida em risco apenas para se provar. ― Ela soltou o abraço e estapeou o rosto do detetive. ― Vai ser mais forte da próxima vez que fizer uma burrada.

― Por que você sempre faz isso? ― Perguntou Sherlock voltando a caminhar com ela no colo e fazendo careta pela dor.

― Porque você sempre faz merda. E é para não se acostumar com as minhas caricias. ― Respondeu Dominique voltando a envolver os braços ao redor do pescoço do detetive e apoiando a cabeça sobre o ombro do mesmo. ― Agora me carregue, escravo!

― Só por você estar dopada e com o tornozelo fraturado. ― Sherlock semicerrou os olhos e sorriu com o canto dos lábios. ― Nossa, você é pesada para uma mulher magra.

Os policiais já estavam posicionados ao lado de fora do cativeiro onde Dominique estava sendo feita como refém e Sherlock participando do que o assassino chamava de “jogo”. A ruiva levou as mãos até as orelhas e fechou os olhos com força, toda aquela barulheira fazia com que sua cabeça latejasse.

― Vocês estão bem? ― Perguntou o detetive inspetor Lestrade correndo na direção de ambos.

― Levando em conta que estou carregada, com o tornozelo fraturado, fui dopada, não tomei banho, não dormi e estou faminta. Definitivamente não estou bem. ― Respondeu Dominique com grosseria. ― E pelo amor de Darth Vader, Scotland Yard! Mandem desligarem essas sirenes.

― Seu assassino está lá dentro. ― Sherlock desviou do detetive.

― É, escutamos o tiro. ― Assentiu Lestrade passando as mãos pelos cabelos. Era visível em suas expressões que estava preocupado e queria encontrar o responsável pelo tiro.

A preocupação maior de Sherlock não era narrar os acontecimentos ao detetive inspetor Lestrade, mas levar Dominique até os paramédicos para iniciar a bateria de exames. Temia que o assassino tivesse feito algo terrível com a garota enquanto a mesma estava desacordada. Eles podem ter todas as diferenças do mundo e brigar como cão e gato, entretanto Dominique é o mais próximo que possuí de uma amiga, podendo ser considerada da família.

― Obrigada, Sherlock! Seu bosta. ― Agradeceu Dominique quando ele a passou para o colo de um dos paramédicos que correm até eles.

― Sabe que pode apenas agradecer, sem as ofensas. ― Sherlock sorriu sem mostrar os dentes.

― Não, você vai ficar todo orgulhoso! Não quero inflar o seu ego. ― Ela semicerrou os olhos e suspirou.

― Vamos! ― Falou o paramédico enquanto a afastava do amigo.

Para Dominique, aqueles minutos dentro da ambulância pareceram durar uma eternidade. Os paramédicos iniciaram todos os tipos de exames possíveis que estavam no alcance de suas mãos. A garota apenas obedecia às ordens, estando muito grata por permanecer deitada na maca durante todo o tempo da consulta. Vez ou outra ela olhava em direção a porta da ambulância, onde Sherlock estava sentado e tentava livrar-se do cobertor laranja que teimavam colocar ao redor do corpo.

― Olha! Não preciso ir para o hospital, tenho um médico em casa. ― Explicou Dominique antes que algum deles cogitasse a ideia de leva-la dentro da ambulância. ― Até já estou melhor, apenas com um pouco de ressaca devido as drogas.

― Acredito que no hospi...

― Não vou! Quero ir para casa, comer uma pizza, tomar um banho e dormir. ― Dominique interrompeu o paramédico e fez careta. ― Pode perguntar ao Sherlock e pode ver nos meus exames. Estou em perfeitas condições para ser liberada. Mas ainda aceito um atestado.

― Podem libera-la. ― Falou Sherlock ao ouvir as contestações da ruiva. ― Ela está bem.

O detetive levantou de onde estava sentado e entrou na ambulância. Gentilmente ele ajudou Dominique a ficar em pé e sair com classe da ambulância. Apoiando apenas um pé no chão, ela acompanhou Sherlock para fora e sorriu singela.

― Você está um charme com esse cobertorzinho. ― Zombou a ruiva ajeitado o dela.

― Até agora não compreendo para que esse cobertor? Eles insistem em colocar. ― Resmungou Sherlock parando com a policial do lado de fora da ambulância.

― É por causa do choque. ― Respondeu Dominique sorrindo divertida.

― Não estou em choque. ― Falou Sherlock franzindo o cenho.

― Você nunca está. Mas sabe como é, alguns dos caras querem tirar fotos. ― Dominique deu com os ombros e riu baixo. Ela olhou para Lestrade que vinha em sua direção. ― Estacionou o carro direito?

― Oficial Hudson, sinto lhe informar. Mas não poderá aplicar mais multas em mim. ― Disse Lestrade com ambas as mãos no bolso e a avaliando dos pés à cabeça.

― Ah, é? Espere o meu pé ficar bom para você ver só. ― Desafiou a ruiva semicerrando os olhos.

― Na verdade não vai poder aplicar multas em ninguém. ― Lestrade curvou os lábios dando com os ombros.

― Vai me demitir? Sério? ― Dominique fechou as expressões. ― Depois de toda essa merda? Eu peguei o assassino primeiro...

― Foi sequestrada. ― Corrigiu Sherlock aos múrmuros.

― Cala a boca! ― Ordenou Dominique sem tirar os olhos do Lestrade. ― Escuta, você não pode me demitir. Olha, sou assistente do Sherlock Holmes nas horas vagas.

― Exatamente por isso que estamos lhe promovendo. ― Lestrade sorriu, pegando Dominique de surpresa. ― Quando voltar para o serviço, não estará mais nas ruas. Estamos precisando de pessoas na área dos Cyber crimes.

― Sherlock... ― Dominique olhou desconfiada para o melhor amigo. ― Se isso tiver seu dedo, juro que fico aplicando multas o resto da minha vida.

― Não, isso não tem nada a ver com o Sherlock. ― Mentiu Lestrade com convicção. ― Bem, mais ou menos. Se ele a quer como assistente, porque não deveríamos tê-la também? Sherlock escolhe apenas os melhores.

― Uau! ― As expressões severas da face da Dominique deram lugar a um sorriso divertido. ― Então tudo bem. Hã... Pegaram o atirador? Não sei quem é, mas já amo aquele cara.

― Foi embora antes de chegarmos. ― Reclamou Lestrade balançando a cabeça descontente. ― Mas um cara daqueles tem inimigos. E um deles poderia estar atrás dele, seguindo, mas não temos pistas para continuar.

― Sherlock! ― Dominique olhou de canto para o amigo que servia de apoio. O conhecia bem para saber que não deixaria os detalhes escaparem. ― Sei que tem algo.

― A bala que tiraram da parede é de um revólver. Atirar a essa distância, coisa de profissional. Não um qualquer, alguém que já foi para a guerra. ― Sherlock começou a narrar tudo o que sabia através de suas observações. ― Suas mãos não tremeram, é acostumado com violência. Só atirou quando fiquei em perigo, possui grandes princípios morais. Está procurando um homem com história militar e nervos se aço....

― Sherlock! ― Dominique pisou no pé do companheiro, o interrompendo.

Enquanto ele narrava, os olhos bem treinados da policial passavam pela paisagem que os cercavam. Atrás da faixa de proteção da polícia, John e Beladonna estavam os esperando. O ex soldado aparentava calma, muito diferente do que acontecia com a professora, a qual segurava com força na mão do John e estava pálida como um papel. Parte pelo que havia acontecido com Dominique, parte pelo que possivelmente havia presenciado.

― Quer saber? Ignore-me. ― Pediu Sherlock compreendendo o que Dominique queria dizer com o pisão em seu pé. Assim como ela, o detetive percebeu os detalhes nas expressões tanto do John quanto da Bela.

― Como é? ― Perguntou Lestrade surpreso.

― Esqueça tudo o que eu disse. ― Pediu Sherlock gesticulando com a mão livre. ― Eu estou em estado de choque.  Vamos, Domi!

― Onde pensam que vão? ― Lestrade os seguiu assim que deram as costas.

― Eu tenho que conversar sobre o aluguel e levar a Dominique para jantar, ela fica insuportável quando está com fome. ― Respondeu Sherlock seguindo o caminho lentamente.

― Isso é verdade. ― Assentiu Domi.

― É, mas ainda tenho perguntas. ― Resmungou Lestrade ficando levemente irritado por estar sendo ignorado.

― Mas o que? Agora? Eu estou em choque. Veja, tenho um cobertor. ― Retrucou o detetive consultor. ― A Dominique também está em choque, não estamos em condições.

― Sherlock! ― Lestrade cruzou os braços sobre o peito, ficando surpreso com a súbita mudança de assunto. Não acreditava que era por isso que estavam mudando o rumo da conversa. Aquele era Sherlock Holmes, o melhor detetive do mundo.

― Ele acabou de capturar um serial killer. E vai deixa-lo ficar com os créditos, não é ótimo? ― Dominique deu dois tapinhas sutis sobre o ombro do Lestrade. Com delicadeza, ela passou os dedos pelas dobras das vestes do inspetor e ajeitou a gola de sua camisa. ― E além do mais, eu estou machucada, faminta, fui drogada. Preciso descansar.

― O que está fazendo? ― Perguntou Lestrade olhando dos dedos da garota para seus belos olhos esverdeados.

― Sei lá. ― Ela deu com os ombros e bateu levemente nas bochechas do policial. ― Tentei dar uma de Beladonna, mas sou a Dominique.

― Você é louca! ― Zombou Lestrade rindo pelo nariz.

― Hey, não é por ser meu chefe que pode ficar me xingando. ― Dominique semicerrou os olhos. ― Droga! Não posso nem mais lhe dar multas. Mas falando sério, pode ser amanhã? Eu terei de ir fazer corpo de delito com o Anderson mesmo. Os paramédicos estavam falando, eles até queriam me levar ao hospital, mas estou bem e posso ir para casa.

― Certo. Veremos isso pela manhã. ― Concordou Lestrade a contragosto. ― Mas só por você ser a Dominique.

― Você é um bom detetive, Lestrade. ― Dominique sorriu aliviada.

As expressões de preocupação na face da Beladonna deram lugar a um sorriso aliviado quando a melhor amiga e o homem que lhe servia de inspiração aproximaram. Sem hesitar, a morena soltou da mão do John e abraçou Dominique com força. Não sabia o que seria de sua vida se perdesse a ruiva, a qual chamava carinhosamente de alma-gêmea. Ela era mais que uma melhor amiga, Dominique era sua família.

― Graças a Deus está viva! ― Comemorou Beladonna.

― Você está com as minhas pantufas. ― Disse Dominique com a voz abafada devido ao abraço que retribuía com a mesma intensidade.

― É a única coisa que tem a me dizer? ― Perguntou Bela a olhando em represália. Esperava por uma explicação justa sobre todo o incidente.

― E veio com a minha moto. ― A ruiva franziu o cenho ao ver seu meio de transporte estacionado a alguns metros de distância. ― Espero que tenha dado a chave para algum policial.

― Dei para a Sargento Donavan, ela disse que levará de volta. Agora, Dominique... ― Exigiu Beladonna.

― Hum tudo bem. Estou orgulhosa de você, acabou de ser cumplice de um assassinato. ― Sussurrou Domi de modo que apenas a melhor amiga pudesse escutar, nos lábios jazia um sorriso orgulhoso.

― Shiu. Não fale isso aqui! Estamos cercados de policiais. ― Murmurou Bela ficando com as bochechas rubras e desfazendo o abraço.

― Relaxa! Ele nem era um homem bom, além de ser um péssimo taxista. ― Domi deu com os ombros e em seguida chamou por John. ― Hortelino! Me ajuda aqui!

― Claro, Pernalonga! ― Assentiu John indo até Dominique e lhe servindo como apoio. ― Belo torsão.

― Belo tiro. ― Rebateu Domi sorrindo enquanto passava o braço ao redor do pescoço do rapaz. Os olhos do médico ficaram arregalados, não esperava que outra pessoa além do Sherlock soubesse. ― Relaxa! Mas gostei do apelido. Pernalonga.

― Melhor que Pentelhos flamejantes. ― Disse Sherlock sorrindo com o canto dos lábios.

― Como você? Então foi você que pegou meu diário, seu Porra. ― Dominique tentou alcançar Sherlock para lhe socar, mas foi impedida por John que ria. ― Nossa, vou dar na sua cara com a bengalinha do Hortelino Troca-Letra.

― Você vai precisar de uma muleta, não de uma bengala. ― Corrigiu John dando sua visão de médico. ― E quando chegarmos em casa, irei te examinar. Você querendo ou não.

― Não quero! ― Retrucou Dominique fazendo beiço.

― Não tem de querer, é um pedido meu. ― Falou Beladonna com expressões sérias. ― Sabia que não iria querer ir ao hospital. E o Sherlock é tão irresponsável quanto você por ter lhe ajudado a fugir. John é médico, ele vai te examinar e ponto acabou.

― Adoro quando ela fica brava. ― Disse Sherlock sorrindo orgulhoso para a baixinha.

― Alias, você é um completo idiota. ― Beladonna parou a caminhada, ficando de frente para Sherlock. ― Ia tomar a droga da pílula, não ia?

― Claro que não, estava esperando o momento que vocês iriam aparecer. ― Disse Sherlock dando com os ombros.

― Não, está blefando. Sei quando mentem para mim. ― Beladonna revirou os olhos e estapeou os braços do detetive com força. ― Babaca.

― Okay, retiro o que disse sobre gostar de você brava. ― Falou Sherlock encolhendo o corpo enquanto tentava desviar dos tabefes. John e Dominique riam enquanto assistiam a cena. ― Para uma mulher baixinha e delicada, você tem a mão bem pesada.

― Não viu o chute! ― Disse Dominique entre os risos. ― Agora vamos parar de bagunça, isso aqui é uma cena de crime.

― Quem vê pensa que é séria. ― Zombou John, o que fez com que Dominique jogasse todo o peso do corpo sobre ele. ― Caramba! Você é pesada.

― Tenho ossos largos. ― Ironizou Dominique. ― Agora me ajuda que não consigo voltar ao normal.

― Que tal se formos jantar antes de ir para a casa? ― Perguntou Sherlock olhando para cada um dos companheiros. ― Dominique está reclamando a horas.

― Ou poderíamos pedir pizza! ― Sugeriu Dominique.

― Você não pode comer queijo. ― Disseram John, Sherlock e Beladonna em uníssono.

― Afinal, o que é o código RDM? ― Perguntou John confuso.

― Risco da Dominique Morrer. ― Responderam Sherlock e Bela ao mesmo tempo.

― Ela costumava me mandar mensagens falando “estou com vontade de tomar ou comer qualquer coisa derivada de leite”, não com essas palavras. Mas normalmente era para livrar-se de encontros chatos, conversas insuportáveis, mas nunca esperei que um dia fosse usado para um RDM de verdade. ― Explicou Bela olhando para a amiga. ― Mas porque mandou mensagem ao Sherlock e não para mim?

― Ela não mandou, o assassino enviou uma foto da Domi apagada e amarrada na cadeira. ― Respondeu Sherlock antes que Dominique dissesse alguma coisa. ― E ela já usou o código comigo.

― No caso você era a pessoa de quem ela gostaria de se livrar. ― Ironizou John.

― Não, ele era meu cumplice. ― Riu Dominique. ― Que tal comida chinesa?

― Tem um restaurante no final da rua Baker que fica aberto até as duas. Da para saber se a comida é boa pela maçaneta... ― Sherlock começou a explicar sobre a comida, porém foi interrompido por John.

― Sherlock, é ele.  O homem que eu estava falando. ― Revelou John olhando para frente.

― Sei exatamente quem ele é. ― Disse Sherlock voltando as expressões sérias.

A poucos metros de distância, um carro preto havia sido estacionado e de dentro dele desceu Mycroft. Com toda classe e elegância, ele carregava o habitual guarda-chuva perdurado no braço e estava acompanhado pela assistente Anthea. Os olhos castanhos do homem foram em direção sobre Beladonna, a qual encolheu ficando com as bochechas rubras. Ela havia avisado sobre o que estava acontecendo através de mensagem de texto, menos sobre o tiro disparado por John. Afinal estava preocupada com a melhor amiga e também com Sherlock, qualquer tipo de ajuda era bem-vinda naquele momento.

― Não sei porque ele carrega aquela bosta, não tem nem sinal de chuva. ― Sussurrou Dominique franzindo o cenho.

 ― Então, outro caso solucionado! ― Disse Mycroft parando em frente ao quarteto. ― Que belo espirito social! Embora essa nunca tenha sido a sua motivação. Não é?

― O que está fazendo aqui? ― Perguntou Sherlock entre os dentes.

― O de sempre, estou preocupado com você. ― Respondeu Mycroft.

― Sim, fiquei sabendo da sua preocupação. ― Retrucou Sherlock.

― Que porra! Alguém vai dizer o que está acontecendo aqui? ―Perguntou Dominique intrometendo no assunto.

― Senhorita Hudson! Sempre tão agressiva. ― Ironizou Mycroft a avaliando dos pés à cabeça. ― Estou aqui pois fui informado pela sua amiga. Ela estava preocupada com você e entende minha preocupação com o Sherlock.

― Caralho, Bela! Você é bem burra as vezes. ― Vociferou Dominique irritada com a intromissão do Mycroft. ― O que deu na cabeça de avisar esse daí? O cara retardado que anda o tempo inteiro com esse guarda-chuva. Velho, não vai chover!

― Nunca percebeu que estamos do mesmo lado? ― Perguntou Mycroft olhando para Dominique. Ele mantinha o tom de voz calmo, a deixando ainda mais furiosa.

― Por incrível que pareça não. ― Domi sorriu sarcástica. ― Afinal, porque é tão interessado no Sherlock? É um caso romântico mal resolvido?

― Longe disso. Mas por incrível que pareça, temos mais em comum do que pode imaginar. ― Respondeu Mycroft voltando o olhar para Sherlock. ― Essa insignificante rixa entre nós é infantil. Pessoas sofrerão e você sabe que chateia a mamãe.

― NÃO! ― Gritou Dominique surpresa, deixando John quase surdo e atraindo muitos olhares na direção do pequeno grupo. ― CARALHO!

― Okay! Dominique, dá para falar mais baixo? ― Perguntou Beladonna em tom de ordem. ― Sim, eles são irmãos.

―A quanto tempo sabe? ― Perguntou Dominique arregalando os olhos.

― Desde o momento que ele “sequestrou” eu e o John. ― Respondeu Bela fazendo aspas com os dedos quando disse a palavra sequestrou. ― Não foi muito difícil de descobrir.

― Sua coisinha pequenina. Nem para me contar, cachorra. ― Domi fez careta, lançando olhar frustrado a melhor amiga. ― Nossa. E eu conto tudo para você.

― Espera, ele é seu irmão? ― Perguntou John tentando raciocinar tudo o que escutava, estava tão surpreso quanto Dominique. Ele olhou do Sherlock para Mycroft algumas vezes.

― Claro que é meu irmão. ― Sherlock fez careta com a pergunta estúpida.

― Então ele não é... ― Começou John, porém foi interrompido por Sherlock.

― Não é o que? ― Interrompeu Sherlock.

― Não sei. Um gênio do crime? ― Perguntou John dando com os ombros.

― Quase isso. ― Respondeu Sherlock avaliando o irmão.

― Pelo amor de Deus. Eu ocupo um pequeno cargo no governo britânico. ― Retrucou Mycroft irritado.

― Na verdade ele é o governo britânico. Isso quando não está ocupado servindo a CIA ou sendo do serviço secreto.― Disse Dominique apontando com o indicador para o homem. ― Mas não sabia que era parente do Sherlock. Esse porra quase me prendeu uma vez.

― Duas, quase lhe prendi duas vezes. ― Corrigiu Mycroft olhando para Dominique. ― Sorte sua que é talentosa e sempre me ajuda quando peço.

― Pagando bem que mal tem? ― A ruiva sorriu e inclinou a cabeça para o lado.

― Espera, como assim? ― Dessa vez foi o momento de Beladonna ficar confusa. ― Me conta tudo? Sério?

― Foi só por que invadi o site do governo, nada demais. ― Domi deu com os ombros. ― Estava testando meus limites.

― Infelizmente o seu sempre foi o céu. ― Beladonna colocou a mão sobre a testa e balançou a cabeça em negação. ― Não acredito nisso, você é... ― Ela parou alguns segundos para pensar a palavra. ― Uma louca irresponsável.

― Puxa vida, pensei que ia vir uma Vadia, uma puta. Algum palavrão. ― Dominique deu com os ombros. ― Enfim, vamos?

― Boa noite, Mycroft. ― Desejou Sherlock com sarcasmo. ― Não comece uma guerra antes de chegarmos em casa, sabe como é o trânsito.

O detetive foi o primeiro a tomar a dianteira, sendo seguido por John e Dominique. A morena esperou que os amigos estivessem alguns passos adiantados, para poder conversar por breves segundos com Mycroft Holmes.

― Obrigada! Por ter vindo. ― Agradeceu Beladonna aproximando alguns passos do homem. ― E me desculpe por ter de ouvir essas coisas.

― Não tem problemas. Está com meu telefone, pode pedir ajuda sempre que precisar. ― Disse Mycroft sorrido singelo.

― Você realmente se preocupa com ele? De verdade? ― Perguntou Beladonna desconfiada.

― Sim, é claro. ― Assentiu Mycroft.

― É mesmo. Não é uma rixa infantil? ― Rebateu Beladonna cruzando os braços sobre o peito. ― Pois eu me preocupo com ele, de verdade. Não apenas por ser minha inspiração. Mas ele é um bom homem.

― Acredite em mim. É que ele foi sempre tão ressentido. ― Disse Mycroft com desdém. ― Imagine como era a ceia de Natal.

― Tudo bem, então. ― Beladonna afirmou com a cabeça e depositou um beijo tenro sobre a bochecha dele. ― Obrigada pelo o que fez.

― VAMOS BELADONNA! ― Gritou Dominique sem ao menos olhar para trás.

― É melhor eu ir. Boa noite, Mycroft. ― Ela acenou e deu as costas a ele.

― Boa noite, senhorita Sherwood. ― Desejou Mycroft a observando partir.

Devido à distância de alguns metros que havia formado entre ela e o grupo. Beladonna correu de maneira graciosa e levemente infantil para alcança-los. Sorrindo, ela enganchou no braço esquerdo do John. O médico não estava mais servindo de apoio para Dominique, a qual havia começado a reclamar de dor nas costas por ficar muito tempo abaixada, afinal a diferença de altura entre eles era enorme.

― Gente, que tal o Dim Sum? ― Sugeriu John segurando na mão da Beladonna assim que ela encaixou em seu braço.

― Não. Sempre adivinho os biscoitos da sorte. ― Rejeitou Sherlock a mais uma sugestão.

― Não consegue não. ― Falou John descrente.

― Ah! Ele consegue. É um porre. ― Reclamou Dominique revirando os olhos. ― Sempre tenho esperança de que um dia ele erre o biscoito. Mas Yoda, você foi mesmo baleado?

― Como que é, Chewbacca? ― Perguntou John, fazendo Beladonna soltar uma gostosa gargalhada com o novo apelido da amiga.

― No Afeganistão. O ferimento. ― Disse Dominique também rindo.

― Ah! Tive, foi no ombro. ― Assentiu John fazendo careta.

― Porra, para um médico você é péssimo em anatomia. ― Zombou Dominique avaliando John dos pés à cabeça. Ela parou o olhar sobre a mão dele e da amiga, mas não disse nada.

― Ombro! Como eu pensava! ― Disse Sherlock.

― Não, você nem sonhava. ― Rebateu Dominique fazendo careta.

― Foi no esquerdo! ― Revelou Sherlock.

― Golpe de sorte. ― Disse John. ― Arriscou um palpite.

― Não arrisco palpites. ― Falou Sherlock enquanto atravessavam a rua sorrindo animado.

― Porque está tão feliz? ― Perguntou Beladonna ao reparar no sorriso que o detetive esbanjava.

― Moriarty. ― Respondeu Sherlock.

― O que é Moriarty? ― Bela franziu o cenho confusa.

― Não faço a menor ideia. ― Assumiu Sherlock dando com os ombros. ― Então, onde vamos?

― Ao Dim Sum. ― Falou Dominique decidida. ― A comida é boa e quero ver se você vai adivinhar os biscoitos de todos.

― Essa eu também quero ver. ― Assentiu Beladonna sorrindo animada com a ideia.

Os quatro trocaram sorrisos animados e continuaram a conversar sobre futilidades enquanto desciam para rua principal. Por mais que o primeiro dia de trabalho não tivesse sido o melhor para Dominique, de uma coisa ela possuía certeza, não há nada melhor para unir amigos verdadeiros do que enfrentar os perigos de uma série de assassinatos. Afinal, em meio ao caos você consegue saber exatamente em quem pode confiar.



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