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História Ella - Ella cresceu!


Escrita por: Believe8

Notas do Autor


Eu sei que disse que ia dividir a história em três partes, mas decidi fazer em quatro! No final explico direito o porquê, apenas curtam o capítulo!

Capítulo 3 - Ella cresceu!


“Ansiosa para o seu primeiro dia de aula?” Perguntou Jorge enquanto tomavam café da manhã.

“Papai, eu já vou para a escolinha desde os três anos.” Riu Ella, bebendo seu suco de laranja.

“Sim, mas é o seu primeiro dia no primeiro ano. Agora você vai estudar em uma escola nova.” Lembrou Margarida, sorrindo para a filha.

“Sim, na escola que você e o papai se conheceram.” A pequena soltou um sorriso de janelinha. “Escola Mundial.”

“Exatamente. E você vai ser uma boa aluna, como eu e a mamãe erámos. Nada de seguir o exemplo errado dos seus padrinhos.” Recomendou o pai.

“Hey, fala na cara, engomadinho.” Alicia e Paulo apareceram, fazendo Ella pular da cadeira e correr até eles.

“Não bate mais na porta, é?” Riu a dona da casa.

“Ninguém mandou nos darem uma cópia da chave.” Avisou Paulo, sentando na mesa e pegando uma torrada. “Viemos tomar café com a Ella.”

“Eba.” A criança riu animada, sentando no colo da madrinha e voltando a tomar café da manhã.

“Confessa que a Alicia esqueceu de ir no mercado e vocês estavam sem nada para comer.” Aporrinhou Jorge.

“Sim, eu esqueci de ir no mercado ontem, mas foi por um motivo importante.” Confessou a morena, trocando um olhar cúmplice com o agora marido. Os dois tinham se casado seis meses antes, pouco depois de Jorge e Margarida.

“Hum, estou vendo olhinhos brilhando. É o que eu estou pensando?” Perguntou Margarida, animada.

“O que você está pensando?” Perguntaram os dois loiros juntos, fazendo-a revirar os olhos.

“Lerdice é hereditária.” Ela avisou e os amigos riram. “A Alicia está grávida.”

“Aaah.” Jorge murmurou, afinal entendendo.

“É sério, dinda?” Ella virou no colo da mulher, sorrindo. “Eu vou ganhar um priminho?”

“Vai sim, pinguinho. A madrinha e o padrinho vão ter um neném.” Concordou Alicia, logo sendo abraçada pelo pescoço. “Só cuidado para não matar nós dois sufocados, mocinha.”

“Opa, desculpa.” Riu a loirinha, logo tendo o rosto cheio de beijos.

“Não perdeu tempo mesmo, hein?” Brincou Jorge, enquanto cumprimentava Paulo.

“Quer mesmo me sacanear por isso, cara?”

“Tenho nem moral para isso, cara. Parabéns, de verdade.” Os dois se abraçaram.

“Valeu, engomadinho. Você não imagina o quanto eu to feliz.”

“Dá para ver. No rosto de vocês dois, aliás.” Jorge indicou a grávida, que era abraçada por Margarida e Ella.

“Acho que já está na hora de vocês providenciarem um irmãozinho para a minha afilhada, hã?”

“Calma, cara. A Margarida está terminando o segundo ano da faculdade, ainda tem mais três pela frente.” Explicou o loiro.

“E daí? A Alicia está no meio da pós-graduação. Vocês não são mais dois adolescentes, Jorge, já são adultos e responsáveis. Se vocês quiserem e acharem que é a hora, vão conseguir passar por isso com maestria e muito mais facilmente do que passaram da primeira vez, tenho certeza.”

~*~

“Marga?”

“Hum?”

“Você pensa em termos outros filhos?”

“Quando?”

“Não sei.”

Os dois estavam deitados na cama, prontos para dormir. Depois de muito esforço tinham colocado Ella na cama, já que a criança estava em polvorosa com todas as novidades da escola nova, além, é claro, do bebê que a madrinha esperava.

A mulher se virou, apoiando o rosto no peito dele e o encarando.

“Acho que nunca parei para pensar nisso, Jorge. Digo, a Ella foi um grande susto, e desde então nossa vida é uma montanha-russa, que agora começou a ganhar ritmo o bastante para podermos desfrutar do passeio. Eu estou estagiando, você está com a empresa se firmando, não surtamos mais tanto com as contas. Por mais que eu goste da ideia de aumentarmos a família, eu não sei se esse seria o melhor momento.”

“Mas você pensa em fazermos isso um dia?”

“Claro que sim. Eu sei que a Ella quer um irmão, ela vive falando dos irmãozinhos das amiguinhas. Só acho que, agora, não é hora ainda.” Margarida sorriu para ele. “Acho que, se não tivéssemos a Ella, eu ainda nos acharia muito novos para ter um filho. O Paulo e a Alicia planejaram, mas porque eles estavam ansiosos para ser pais. Querendo ou não, essa realidade padrinhos preparou eles de uma forma diferente, e eles se sentiram prontos para ter o deles. Mas eu não sinto isso ainda.”

“Quando você se sentir, você me dirá?” Pediu o loiro. “É diferente, para mim e para você. Nós já vimos que, apesar de a minha vida mudar, quem acaba tendo que abrir mão de muita coisa é você, amor, e eu não quero que você abra mão de mais nada contra a sua vontade.”

“Pode deixar, loirinho... Quando eu sentir que estou pronta, eu vou te dizer.” A morena se inclinou sobre ele, lhe dando um selinho. “Mas não temos pressa, Jorge... A Ella só tem seis anos, temos muito o que curtir nossa princesa ainda.”

~*~

O bebê de Paulo e Alicia nasceu no final de agosto, poucas semanas antes do aniversário de sete anos de Ella, mas a garota considerou aquele o seu melhor presente. O menino, batizado de Danilo, era o xodó da priminha, que praticamente acampava na casa da madrinha quando não estava na escola.

Deixavam que ela ajudasse a dar banho, segurasse no colo, distraísse enquanto ele estava acordado. Ella se denominava “tata” de Danilo, que era como suas amigas chamavam as irmãs mais velhas ou eram chamadas pelas mais novas. A menina realizava suas vontades com o filho dos padrinhos, e mal coube em si de alegria quando seus pais foram escolhidos como padrinhos do novo bebê.

Porém, algum tempo depois, sua atitude começou a mudar. Ela não mais descia para ver o priminho, estava sempre desanimada e não queria conversar muito com ninguém. Ninguém entendeu a súbita mudança de atitude, nem mesmo os pais, e ela se recusava a falar no assunto.

Logo isso se refletia no seu desempenho na escolinha, e a professora chamou Margarida e Jorge para conversar. Disse que ninguém entender a mudança de Ella, sempre tão animada e participativa, que agora era calada e distraída.

Cogitaram levá-la a uma psicóloga, mas acabou não sendo preciso. Certa noite que Paulo e Alicia foram jantar no apartamento dos amigos, Ella se abriu. Mas não com algum dos adultos.

“Você tem sorte, Dani. Seus papais queriam você, sempre gostaram de você.” Ela dizia baixinho para o bebê, que a observava de seu colo. “Os meus não me queriam, sabia? Eles me odiavam... Mas tiveram que ficar comigo. Eu acho que eles nem vão ter outro filho, porque tem que ficar comigo.”

“De onde você tirou isso, filha?” Ella se virou, vendo que os pais e os padrinhos estavam parados próximo à ela, os olhos marejados.

“De lugar nenhum, mãe.” A menina baixou os olhos para o priminho, mas sabia que não ia adiantar. Os dois casais sentaram no chão, os ladeando.

Ella Garcia Cavalieri, não minta para nós.” Jorge era sério e doce ao mesmo tempo, preocupado como estava. “Quem te disse todas essas coisas? Eu e sua mãe não fomos. Paulo, Ali, vocês disseram algo assim para ela?”

“Claro que não. E tenho certeza que nenhum dos nossos amigos teria dito isso também.” A madrinha a encarava preocupada.

“E seus avós idem. Então foi alguma outra pessoa que nós não conhecemos.” Margarida acariciou o rosto da filha, que já chorava. “Pinguinho, pode falar para a gente.”

“Foi a minha professora de inglês.” Murmurou a menina, chocando os mais velhos.

“Sua professora?” Perguntou Paulo.

“É, dindo, minha professora.”

“E quando ela te falou essas coisas, Ella?” Jorge começou a sentir o estômago ferver, mas se conteve.

“Depois do meu aniversário. Eu mostrei para as minhas amigas aquela foto minha e do Danilo, que a dinda me deu de presente, e a minha professora viu. Ela perguntou se era meu irmãozinho, e eu falei que era meu tatinho e eu era a tatinha dele, e ela perguntou se ele era ou não. Eu falei que ele era filho dos meus padrinhos, e ela disse que então ele não era meu tatinho.” Foi contando a menina, triste.

“E você deu ouvidos para ela, meu amor?” Alicia acariciou o rosto dela, que deu de ombros.

“E quando ela falou essas outras coisas que você disse, filha?”

“Depois ela perguntou, durante a aula, quem tinha irmãos, mamãe. E eu sou a única da minha sala que não tem.” Continuou a menina, encarando os pezinhos. “E ela falou que eu não tinha irmãos porque vocês não queriam que eu tivesse nascido, e não iam querer outros filhos por causa disso.”

“Que absurdo.” Bradou Jorge, irritado.

“Depois da aula eu fui falar com ela, falar que o que ela disse era mentira. Que você e o papai me queriam sim, e que você tinha dito que um dia eu ia ter irmãozinhos, mamãe. Aí ela falou que vocês mentiam para mim, que eu não estava lá quando a mamãe ficou grávida, mas ela sim.”

“Como?”

“É, ela estudou com vocês. E ela me contou que, quando a mamãe ficou grávida, o papai falou que me odiava. Que ele saiu da sala que ele estudava porque não suportava ficar perto da mamãe, porque eu estava na barriga dela. E que a mamãe estava sempre chorando e brava, porque não me queria dentro dela. E que vocês só ficaram comigo quando eu nasci porque foram obrigados, porque vocês queriam me jogar na lata do lixo.” As lágrimas e soluços se mesclavam em Ella, que não conseguia mais se controlar.

“Vem aqui com a mamãe, meu amor.” Pediu Margarida.

Alicia pegou Danilo do colo da afilhada, enquanto a mãe da menina e puxava para seus braços. Jorge as envolveu, e Ella agarrou o braço dos dois, chorando de dar dó.

“Calma, pinguinho, respira.” Pediu o pai, tentando engolir o ódio. Trocou um olhar com o compadre e entendeu que Paulo estava tão puto quanto ele.

“É, princesa, você sabe que é mentira, não sabe?”

“Não é, mamãe.” Ella secou os olhinhos, magoada. “Eu perguntei para a vovó e ela não quis falar na minha frente. Mas depois eu ouvi ela conversando com o vovô e eles disseram que não queriam que eu soubesse. Que você e o papai se separaram quando você ficou grávida, que no começo vocês não me queriam, que você não foi para a faculdade por minha causa...”

“Acho que eu vou assassinar uma professora.” Rosnou Alicia, ninando o filho.

“Somos quatro, linda, fique tranquila.” Prometeu Paulo, sério.

Ella, você ainda é muito pequena para entender essas coisas.” Suspirou Margarida, coçando os olhos. “Como eu e o papai já te falamos várias vezes, eu fiquei grávida de você quando nós ainda estávamos na escola. E como você sabe, essa não é a idade de se ter filhos, nós ainda erámos muito novinhos.”

“E, por isso, nós tivemos algumas reações não legais no começo. Nós estávamos com medo, assustados, preocupados. Nós ainda erámos duas crianças, e tínhamos medo de não conseguir cuidar de você direito, de não saber o que fazer.” Jorge completou a esposa. “Eu tive atitudes erradas, e peço sempre desculpas por isso. Mas isso que sua professora falou, sobre nós não queremos ficar com você, da lata do lixo... É tudo mentira.”

“É?” Choramingou a menina, coçando os olhos úmidos.

“A maior das mentiras. Claro que a gente tinha medo, e isso fazia as coisas mais difíceis. Mas...” Margarida começou a se emocionar. “Lembra quando a barriga da tia Alicia começou a crescer, e nós conseguíamos sentir o Danilo mexendo?”

“Lembro, fazia cócegas na mão.” Um sorrisinho pequeno surgiu no rostinho da criança.

“Era a mesma coisa com você na barriga da sua mãe. Você gostava de chutar a mão de todo mundo.” Contou a madrinha, sorrindo.

“No comecinho, a gente só sentia medo. E então, você começou a crescer que nem o Danilo cresceu, começou a se mexer e conversar com a gente, como ele fazia. E então, todo aquele medo ruim virou um amor tão bom, tão bonito.” Completou Margarida, mexendo no cabelo dela. “Jorge, você pode pegar o notebook?”

“Claro.” Ele não entendeu, mas foi buscar o aparelho. Voltou com ele já ligado, entregando para a namorada. “O que você quer nele?”

“Um vídeo.” Margarida caçou rapidamente nas pastas, achando o que procurava. Começou a exibir o vídeo e Ella ficou surpresa.

“Olha a sua barriga, mamãe, que grande.”

“Enorme. Você estava dentro dela, quase nascendo.” Explicou a mulher.

“E esse barulho, o que é?”

“O seu coração.” Ela encarou o padrinho, surpresa. “Lembra que a gente conseguia ouvir o coração do Danilo na barriga da madrinha? Então, podíamos ouvir o seu também.”

“Você está chorando, papai. E sorrindo.” Observou a criança.

“Isso acontecia em todos os exames.” Confessou o loiro, sorrindo. “Eu sempre ficava emocionado quando ouvia o seu coração.”

“Você acha que ele ficaria desse jeito se não gostasse de você, Ella? Ou te odiasse?” Perguntou Alicia, recebendo um aceno negativo.

“Essa foto é do dia em que você nasceu.” Margarida mudou o arquivo de exibição. Era uma selfie que Jorge havia tirado dos três no alto da noite, a mulher bem agarradinha nele, Ella ressonando entre os dois. “Essa roupinha foi o primeiro presente que o seu pai te deu. Você consegue ler o que está escrito?”

“Princesinha do papai.” Ella disse sorrindo.

“Nós parecemos tristes? Ou com vontade de te jogar na lata do lixo?” Perguntou o pai, e a menina negou prontamente. “Porque era o que nós menos queríamos, princesa. Nós estávamos tão felizes que você tinha nascido, não queríamos te largar por nada no mundo.”

“Isso é verdade, porque eles não deixavam ninguém te segurar no colo por vários dias.” Concordou Alicia, e Ella riu baixinho. “E, amorzinho, não liga sobre o que ela falou do Danilo. Você é a tatinha dele sim, e ele o seu tatinho, do jeitinho que você sempre disse, está bem?”

“E quanto a faculdade, filha... Foi uma escolha minha.” Margarida acariciou o rostinho dela, limpando os últimos traços de lágrimas. “Suas avós me disseram que cuidariam de você para eu estudar, mas eu não queria. Para mim era mais importante ficar com você e aproveitar cada momento do seu crescimento, do que fazer faculdade. E quando eu senti que eu conseguia ficar longe de você sem sofrer, eu fui para a faculdade.”

“Você sofria de ficar longe de mim, mamãe?” Perguntou a criança.

“Ainda sofro, nós dois sofremos. Se nós pudéssemos, passaríamos o dia inteirinho assim, agarradinhos com você.” Garantiu a mais velha, a abraçando apertado.

“E por isso, você pode imaginar o quanto nos doeu te ver triste por todas essas semanas, filha.” Jorge segurou o rosto dela. “Você devia ter nos contado o que te incomodava, pinguinho.”

“Sempre que eu decidia contar, a professora contava mais uma história ruim e eu ficava chateada. Eu não queria conversar com vocês, estava triste. Me desculpa.” Ella deitou no ombro dos pais, amuada.

“Pinguinho, e como é o nome da sua professora?” Perguntou Paulo, vendo a menina se encolher.

“Ela não é legal, padrinho. Ela falou coisas feias sobre a mamãe e a dinda.”

“Sobre mim?” Perguntou Alicia, recebendo um aceno afirmativo.

“Ela falou que as duas tem bure... Buque...” A menina tentava repetir, mas se enrolava. “Buleta de ouro.”

“Buleta?” Estraram os adultos, até que algo ocorreu para Jorge.

“Não seria buceta, Ella?” Perguntou o homem, irritado.

“Isso, papai. Não sei o que é, mas ele sempre fala isso. Ela diz que a mamãe deu o golpe no papai, porque era uma caipira pobre e feia, e ele era bonito e rico. E que a tia Alicia tem buceta de ouro, porque só assim o tio Paulo, bonito como é, ficaria com uma maria-macho.” Contou a menina, triste. “Eu não gosto quando ela fala isso na frente dos meus amigos.”

“Ela fala isso na frente da sua sala?” Perguntou a madrinha, horrorizada.

Ella, como é o nome da sua professora?” Margarida exigiu saber, possessa.

“Karina Rodrigues.”

“Sabia.” Jorge levantou, explodindo. “Soube pelo apelido. Foi a primeira vez que eu ouvi alguém xingando a Margarida pela gravidez. Ela era da minha outra sala, começou a dar em cima de mim pouco tempo antes de eu voltar com a Margarida.”

“Eu lembro disso.” Concordou a mulher, irritada.

“E ela vivia dando em cima do Paulo quando nós começamos a namorar.” Relembrou Alicia, irritada. “Eu não acredito que ela está despejando veneno em cima de uma criança.”

“Deve ser cria da Susana.” Paulo estava espumando tanto quanto o amigo. “Jorge, eu sei que você vai na escola falar com a diretora. E já te aviso se antemão, nós vamos junto. E eu já estou vendo em quantos artigos posso enquadrar essa maldita, porque ela vai ser processada.”

“Vocês não vão machucar ela, não é?” Perguntou Ella, preocupada. “Porque ela não é legal, mas não é legal bater nos outros.”

“Claro que não, pinguinho.” Margarida sorriu para a filha, maravilhada com a doçura dela. “Mas a atitude dela foi errada, certo? E ela vai ter que arcar com as consequências disso. Afinal, ninguém mexe com a cria da leoa e sai disso impune.”

~*~

A agora diretora Helena estava horrorizada. Havia assumido a direção da Escola Mundial três anos antes, após a aposentadoria de Olívia. Sua alegria de ter Ella estudando ali havia sido imensa, e ela tinha sido uma das mais preocupadas com a mudança de comportamento da criança.

E depois de ouvir o relato dos ex-alunos, além do depoimento sofrido da criança, seu sangue fervia nas veias. Ligou no ramal de Graça, seu braço direito, e pediu que ela buscasse a professora Karina urgentemente.

A cara de medo da mulher ao cruzar a porta foi hilária, já que ela já tinha conhecimento da presença dos ex-colegas de escola ali.

“Algo errado, diretora Helena?” Perguntou, tentando não encarar os dois casais.

“Graça, acompanhe a Ella até a sala, por favor.” Pediu a mais velha, e a garotinha se preocupou.

“Pode ir, pinguinho. Qualquer coisa nós vamos te chamar.” Prometeu Margarida, beijando o rosto da filha. O pai e os padrinhos fizeram o mesmo, e a criança saiu acompanhada de Graça.

“Karina, chegou ao nosso conhecimento que você anda propagando mentiras e ofensas contra a aluna Ella Cavalieri.” Helena foi direta.

“Eu, diretora? Que absurdo.”

“Então, se eu perguntar para as crianças da sala, nenhuma delas vai ter ouvido você chamando a mãe e a madrinha da Ella de buceta de ouro?” Perguntou a diretora, séria.

“Claro que não.”

“E se eu puxar os arquivos de vídeo da sala?” Os olhos de Karina quase saltaram para fora do rosto. “Ah, sim, nós temos câmeras em todas as salas, achava que você sabia.”

“Isso é contra a lei.”

“Não, é uma precaução contra ela. Sabe, tivemos casos de bullying terríveis alguns anos atrás, por parte de alunos e professores. Na época, a então diretora Olívia instalou câmeras em todas as salas, para termos uma forma de descobrir a verdade e ajudar as pessoas que fossem maltratadas. E acho que esse seria o caso, não é?”

“Eu não falei nenhuma mentira para a ratinha, falei?” Vendo que estava sem saída, Karina deixou de lado a falsidade.

“Ora, sua...” Alicia e Margarida tentaram avançar sobre ela, mas foram seguradas pelos maridos.

“Você abusou do psicológico de uma criança de seis anos, Karina. Como pedagoga, você deveria saber o quão prejudicial isso é.” Helena se horrorizou. “As coisas que disse sobre os pais dela, sobre a gravidez...”

“Novamente, não disse nenhuma mentira. O Jorge abandonou a Margarida, não queria nem ver ela pintada de ouro. E todo mundo sabia que os dois tinham horror a criança que ela esperava, dariam tudo para se livrar dela.”

“Não fale sobre o que você não sabe, sua maldita.” Rosnou o loiro, o rosto escarlate de raiva.

“E eu disse naquela época e repito: você tem buceta de ouro, Margarida. Vocês duas têm. Porque só assim para dois caras como o Paulo e o Jorge se interessarem por uma Maria-Macho e uma caipira esquisita e sem sal.” Karina deu de ombros.

“Você está guardando ressentimento da época do colégio e despejando em uma criança, Karina. Você tem noção do quão doentio é isso?” Explodiu Alicia, puta da vida.

“Eu só quis que a fedelha se colocasse no devido lugar. A menina é irritante, principalmente depois que aquele molequinho nasceu. Só podiam ser filhos de vocês duas mesmo.” A loira falsificada revirou os olhos e novamente as duas amigas tentaram avançar nela.

“Basta.” Helena decretou, irritada. “Karina, você está demitida do colégio, e eu tomarei todas as providências para que seu nome não seja atrelado ao dessa instituição de forma alguma.”

“E você está fodida na nossa mão, sua piranha. Para o seu azar, a Maria-Macho e o marido dela são dois ótimos advogados... E você mexeu com a afilhada e o filho deles.” Jorge deu um sorriso gelado para a professora, que engoliu em seco.

“Nós não vamos descansar até ter acabado com a sua vida, Karina.” Garantiu Paulo, puxando a esposa pelo braço. “Nos vemos nos tribunais, sua doente.”

~*~

“Vocês não bateram nela mesmo, mamãe?” Perguntou Ella, enquanto Margarida traçava seu cabelo para dormir, a nova mania da criança.

“Nós prometemos que não bateríamos e cumprimos, meu amor, fique tranquila.” A mãe sorriu, lhe beijando com doçura. “Pinguinho, promete uma coisa para a mamãe.”

“O quê?”

“Quando alguém te falar coisas ruins de novo, você vai nos contar.”

“Mas achei que a professora Karina tinha ido embora.”

“Ela foi, filha, mas terão outras pessoas. Entenda que, infelizmente, o ser humano tem a horrível mania de querer ver o outro triste, para baixo. E para isso, busca palavras que machuquem o outro.” Explicou Margarida, tristonha. “Como nossa família é diferente, vão pegar no seu pé por isso.”

“Porque eu nasci quando você e o papai eram adolescentes?” Questionou a menina.

“É, por isso. Sabe, como isso não é normal, as pessoas vão fazer comentários maldosos, que vão te chatear. E quando isso acontecer, você deve vir e conversar comigo e o papai. E, se você estiver com vergonha, pode falar com os seus padrinhos, seus avós, ou algum dos seus tios. Qualquer um que você saiba que te ama e quer o seu bem, assim como eu e o seu pai queremos.”

“Tudo bem, mamãe.” Ella sorriu, se apoiando nos joelhos e a abraçando. “Obrigada, mamãe.”

“Pelo o que, meu amor?”

“Por você e o papai serem meus pais, me amarem tanto, cuidarem de mim... Mesmo tendo sido difícil.” A menina sorriu para Margarida, que ficou com os olhos cheios de água.

“Obrigada a você, meu amor, por ter escolhido nós dois como seus pais, e ter acreditado que nós conseguiríamos cuidar bem de você.” A mulher encheu o rosto da filha de beijos, sorrindo.

Algum tempo depois, já tendo feito a criança dormir e admirado por alguns minutos, Margarida seguiu para seu quarto. Encontrou Jorge deitado na cama apenas de cueca, lendo um livro qualquer.

“Ela dormiu?”

“Capotou no meio da história.” A morena deitou ao lado dele, o abraçando. O loiro riu, jogando o livro de lado e voltando a sua atenção para ela. “Jorge, eu to pronta.”

“Pronta?”

“Você pediu para eu te avisar quando eu estivesse pronta para termos outro filho. Eu to pronta.” Ela sentou direito, o encarando. “Tá, a injeção ainda dura cinco meses, então temos que esperar esse meio tempo. Mas, depois disso, eu quero que a gente comece a tentar.”

“Você tem certeza, Margarida?”

“Considerando que eu consiga engravidar rápido, Jorge, eu vou estar terminando o terceiro ano da faculdade quando isso acontecer. Até o bebê nascer, vou estar com mais um semestre concluído. E eu posso ir puxando matérias enquanto isso, para deixar os últimos mais leves.” Ela contou o que vinha pensando e analisando nos últimos meses. “E mesmo que eu não consiga, e precise trancar a faculdade por um tempo, eu não ligo. Eu sei que vamos ter que voltar a nos apertar um pouco com mais uma pessoa em casa, mas já faz tempo que eu quero isso e estava protelando por medo.”

“Você sabe que eu me desdobro em mil se for preciso, não é? Para sustentar você e os nossos filhos.” Jorge sorriu para ela.

“Eu sei, e por isso eu me sinto segura dessa decisão. Depois que o tempo do anticoncepcional expirar, eu não vou tomar a injeção de novo. E nós vamos tentar ter outro filho.”

~* ~

“Meu Deus, como assim você já está fazendo oito anos, pinguinho?” Perguntou Mário, pegando Ella do chão. “Parece que foi outro dia que era uma coisinha ensanguentada escorregando na minha mão.”

“Como assim, tio Mário?” Perguntou a criança, confusa.

“Podia ter ficado quieto, Ayala.” Rosnou Jorge.

“Você não nasceu no hospital, filha. Nós estávamos visitando a bisa e você resolveu que era hora de nascer. E como não tinha nenhum médico ali, o tio Mário ajudou você a nascer.” Explicou Margarida.

“Que nem ele ajuda os cachorrinhos?” Os olhos da menina brilharam, fazendo os adultos rirem.

“Quase isso, pequena.” Concordou o veterinário, beijando a bochecha dela. “Aliás, feliz aniversário.”

“Obrigada, tio.”

“A tia não pode te pegar no colo, princesa.” Se desculpou Marcelina.

“Não tem problema, tia, eu te abraço do chão.” Riu Ella, abraçando a baixinha e beijando a barriga dela.

“Feliz aniversário, gatinha. Meu e do André.” Desejou a mulher, um sorriso enorme no rosto. “Sentiu o chute?”

“Senti.” Os olhinhos azuis brilharam. “Obrigada, Andrezinho. Obrigada, tia.”

“A Ella está cheia de priminhos para cuidar, hein?” Paulo vinha segurando Danilo pelas mãos, o garotinho dando seus passos vacilantes. “Vai virar especialista em bebês.”

“Eu gosto deles, dindo.” Ela se aproximou e Danilo agarrou os dedos dela. “Vamos passear com a tata?”

“Tata.” Riu o garotinho de pouco mais de um ano, saindo com ela.

“Já sei quem vai ficar de bebê para o Dani muito em breve.” Garantiu Alicia, os adultos os observando. “Mas, caraca, nem eu acredito que a Ella está fazendo oito anos. Passou muito rápido.”

“Eu não vejo o tempo passar, cara. Parece que depois que a gente saiu da escola, o mundo entrou em uma espiral insana que a gente não controla o ritmo.” Confessou Jorge. “Eu nem vi o Danilo fazer um ano, como isso aconteceu.”

“Sei lá. Em um dia a Alicia estava me entregando um teste de gravidez, no outro eu tava com um pacotinho no colo e, de repente, ele está falando como uma matraca e andando para todos os lados.” Paulo abraçou a esposa, que gargalhava. “Nós estamos ficando velhos, meus caros.”

“Ai, Dedé, pode crescer bem devagar, viu? A mamãe deixa.” Marcelina abraçou a barriga com um biquinho.

“E vocês dois? Quando vão dar um irmãozinho para a baixinha? Que ela gosta de crianças nós não temos dúvida.” Valéria se aproximou com Davi, os dois atacando um prato de coxinhas.

“Na hora certa, Val.” Margarida piscou para a amiga, caçando a filha com os olhos. “Amor, vamos colocar a fantasia nela?”

“Vamos sim. Paulo, vem pegar teu filho, seu folgado.”

Já no andar de cima da mansão dos avôs paternos da aniversariante, os pais a ajudavam a colocar sua fantasia de Mulher Maravilha, o tema escolhido para aquele ano. Ainda tinha um tempo até os parabéns, mas queriam dar o presente da filha logo.

“Pinguinho, nós temos um presente para você.” Avisou o pai, vendo os olhos azuis brilharem.

“Toma, princesa. Feliz aniversário.” Margarida passou o embrulho para a filha, que o rasgou depressa.

“Uma camiseta?”

“Lê o que está escrito nela, Ella.” Mandou a mãe, rindo.

“Melhor irmã mais velha do mundo.” Os olhos azuis novamente brilharam, arregalados. “Eu vou ganhar um irmãozinho?”

“Ou irmãzinha, nós não sabemos ainda.” Explicou Jorge, mas ela não estava interessada. Simplesmente se jogou sobre os dois, os abraçando com força. “Podemos entender que você gostou do seu presente?”

“Era o que eu mais queria, papai, vocês sabem. Eu to pedindo um irmão desde antes do Danilo nascer.” Ella não conseguia parar de pular, animada como estava.

“Nós sabemos. Por isso guardamos a novidade para te contar hoje.” Margarida estava com os olhos brilhando de lágrimas, mas sorria. “Já faz quase um mês que nós sabemos.”

“Tudo isso?”

“Desde o aniversário do Danilo. Mas achamos que você ia gostar dessa surpresa hoje.”

“Gostei mesmo. Foi o melhor presente do mundo.” A menina os abraçou de novo, animada. “E eu posso contar para os meus amigos?”

“Se você quiser... Deixamos isso à sua escolha.” A mãe sorriu para ela.

“Então eu vou contar depois dos parabéns, tá bom?”

~*~

“E para a Ella nada!” Gritou o avô Sérgio, animado.

“Tudo!”

“Então como é que é?”

“É pique, é pique, é pique, é pique, é pique!”

A aniversariante pulava animada sobre a cadeira atrás da mesa, ladeada pelos pais, os avós e os padrinhos, todos batendo palmas animados. Os amiguinhos de escola e demais tios se espalhavam pela sala, e todo o amor era dirigido para a garotinha vestida de super-heroína.

“Agora corta o bolo e faz um pedido, pinguinho.” Mandou a avó Rosana, lhe entregando a espátula.

“Eu preciso trocar de roupa para isso, vovó.”

Ella, você não vai subir trocar de roupa só para cortar o bolo.” Avisou Andréia.

“Eu não preciso, vovó. A mamãe está com ela aqui.”

A menina se virou para Margarida, que a ajudou a vestir a camiseta por cima da fantasia que ela usava. Quando os presentes viram a estampa da mesma, a gritaria começou por todo o ambiente.

Ella apenas riu, cortando o bolo com a ajuda dos pais, que logo a abraçaram e encheram de beijos, os três; ou melhor, quatro, alheios a toda aquela confusão e bagunça.

~*~

“Oi, Ella, tudo bem?” Cumprimentou a doutora Ellen, surpreendendo a criança.

“Você me conhece?”

“Ela que cuidou de mim enquanto eu estava com você na barriga, filha. Agora ela vai cuidar de mim enquanto seu irmãozinho estiver aqui.” Explicou Margarida, sorrindo.

“Nossa, então você me conhece há um zilhão de anos.” A garotinha comentou, fazendo os pais e a médica rirem.

“Pode-se dizer que sim. E então, ansiosa para ver seu irmão ou irmã?”

“Siiim!”

Depois de conversarem e examinarem a mãe, passaram para a sala de ultrassonografia. A técnica não era a mesma da época da gravidez de Ella, mas era tão simpática quanto.

“De quanto tempo você disse que estava, Margarida?”

“Eu estou com onze semanas agora. Por quê?”

“Sua barriga está bem inchada.” Observou a médica, curiosa. “Bom, vamos ao exame.”

A criança, claro, se maravilhou ao ouvir o som do coração. Lembrou do vídeo que havia visto do pai, algum tempo antes, e se alegrou em constatar que a reação daquele momento era a mesma.

“Você está chorando, papai, assim como quando ouvia o meu coração na barriga da mamãe.”

“É porque eu estou tão feliz agora quanto estava naquela época. Eu amo seu irmãozinho, assim como eu amo você.” Ele beijou o rosto dela, vendo que Margarida estava emocionada. “Mantega derretida.”

“Cala a boca, mimadinho.”

“Doutora, você está ouvindo o mesmo que eu?” Perguntou a técnica, sorrindo.

“Creio que sim, Fernanda. Mas vamos para a ultra, e então podemos ter certeza.” Pediu a médica em voz baixa.

E as imagens, claro, mostraram o que elas suspeitavam. A técnica fez algumas demarcações e Ellen sorriu.

“Parabéns mamãe, papai, irmãzona... São gêmeos.”

“Oi?” Gritaram Jorge e Margarida juntos, surpresos.

“Dois irmãozinhos?” Ella pulou quase um metro na cadeira, sem se conter. “Meu pedido se realizou.”

“Você pediu para ser dois bebês, Ella?” Perguntou a mãe.

“Sim, dois irmãozinhos!” A menina mal se cabia de felicidade.

“Na verdade, pelo que posso ver aqui, você vai ter duas irmãzinhas, mocinha.” A técnica mexeu o aparelho algumas vezes, sorrindo. “Tenho quase certeza que são duas meninas, doutora.”

“Mas não é muito cedo?” Perguntou Jorge, ainda chocado.

“Sim, depois da 13ª semana podemos ter mais certeza, mas como são univitelinos, vocês podem fazer a sexagem fetal. Ele determina se há ou não o cromossomo Y, ou seja, vocês conseguirão saber se são meninas ou meninos.” Explicou a técnica.

“E então, papais... Animados com mais essa empreitada?” Perguntou Ellen para o casal.

“Nós não conseguimos ter uma gestação comum e tranquila, não é?” Margarida riu, encarando a barriga. “Não é? Agora são duas pessoinhas aqui.”

“Acho que sua barriga é mágica, amor.” Jorge se levantou e lhe deu um selinho, os dois sorrindo um para o outro enquanto Ella pulava sem parar.

~*~

“Muito bem, vamos abrir o resultado do exame.” Avisou Margarida, com o envelope em mãos.

“Só eu que ainda estou torcendo para serem dois meninos?” Perguntou Jorge. “Não sei se vou sobreviver com quatro mulheres em casa.”

“Deixa de ser reclamão, papai, claro que você vai sobreviver. Você ama muito a gente.” Ella estava abraçada no pescoço dele, ansiosa.

“Não detectada a presença de cromossomo Y.” A grávida leu com um sorriso. “Desculpa, loirinho... Mas as mulheres vão dominar essa casa.”

“Sempre soube que meu destino era servir as mulheres da minha vida.” Ele dramatizou, enchendo as duas de beijos.

“E o que elas são?”

“Como assim, filha?”

“É, vocês me chamam de pinguinho e princesa. E o que elas vão ser?”

“Elas vão ser nossas princesinhas também, meu amor, que nem você.” Explicou Jorge.

“Mas o pinguinho é só seu, tá bom?” Prometeu Margarida. “Até porque, foram os nossos amigos que te apelidaram assim quando você nasceu.”

“Então quando elas nascerem vão ganhar apelidos também?”

“Provavelmente, filha.” A mãe concordou.

“E os nomes, Ella... Você já escolheu?” Perguntou o pai.

Como a outra parte do presente de aniversário, tinham prometido que ela poderia escolher o nome do bebê. Agora, ela tinha que fazer duas escolhas, mas isso era apenas motivo de mais animação para a criança.

“Já sim, papai. Estão prontos?” Os dois assentiram e a criança sorriu. “Sabrina e Rebeca.”

“Sabrina e Rebeca?”

“E de onde você tirou esses nomes, filha?” Perguntou o pai, um pouco surpreso.

“A vovó me mostrou uma lista que vocês fizeram quando a mamãe estava grávida de mim, e eu gostei desses dois nomes.” Explicou a criança, animada.

“Rebeca? Tinha que ser Rebeca?” Resmungava Margarida. Jorge a olhou feio, vendo que Ella estava chateada.

“Se você não gostou, pode escolher outro.” Disse a menina, sem graça.

“Não, meu amor, claro que não. Eu adorei suas escolhas.” Margarida beijou as mãozinhas dela. “É só que... Rebeca era a vagabunda que dava em cima de você no trabalho, Jorge.”

“Margarida.” Se horrorizou o marido.

“O que é vagabunda, mamãe?” Perguntou a criança inocente.

“Uma pessoa ruim, filha.” Jorge se intrometeu. “Mas existem pessoas ruins com todos os nomes possíveis. Se quisermos que as bebês não tenham o nome de alguém ruim, precisaremos inventar nomes para as duas.”

“Tá bom, tá bom... Eu gosto de Rebeca, você sabe.” Margarida se deu por vencida, enquanto pai e filha comemoravam. “Muito bem, princesinhas... Agora vocês já têm nome. Rebeca e Sabrina Garcia Cavalieri.”

~*~

“Oi, pai. Mandou me chamar?” Jorge bateu na porta do escritório de Alberto, como fazia muito alguns anos antes.

“Mandei sim, filho. Entre, por favor.” Pediu o homem, deixando o trabalho de lado.

“Algum problema com os relatórios da empresa? Você sabe que eu sempre os confiro pessoalmente antes de deixar os funcionários repassarem para cá.” Perguntou o loiro, preocupado.

“Os relatórios estão perfeitos e impecáveis como sempre, filho. Você é um ótimo profissional, e tem uma excelente equipe no seu escritório.” Alberto sorriu para o filho, que corou um pouco. “É sobre outro assunto que eu gostaria de falar com você.”

“Pode falar.”

“Bom, sua mãe falou que você e a Margarida estão preocupados. Que vocês tinham feito um planejamento para a gravidez, considerando o trabalho dela, a faculdade, licença-maternidade e essas coisas. E agora, com as gêmeas, isso vai mudar bastante.”

“Totalmente, na verdade. Ela nem vai começar o próximo semestre, porque vai acabar largando na metade. A faculdade vai ficar trancada por tempo indeterminado, porque vão ser dois bebês e uma criança para cuidar.”

“E com isso, o dinheiro do estágio dela também some, correto?” Questionou o mais velho, vendo o filho assentir.

“Mas nós não queremos que vocês ajudem mais, pai... Já basta você e a mamãe pagarem a escola e o plano de saúde da Ella, porque é muito caro para a gente.”

“Mas quem disse que eu e sua mãe pagamos?” Alberto disse com um sorriso, pegando o filho de surpresa. “Jorge, você faz a contabilidade da empresa, correto? Então me diga: quantos sócios ela tem?”

“Três. Você, o Samuel e um outro que não conheço.”

“Conhece sim, porque esse outro é você.” A boca do loiro quase foi para o chão. “Assim que você fez 18 anos, Jorge, eu passei parte da empresa para o seu nome, como sócio. Você é meu filho único e vai herdar todo o meu patrimônio, mas como já trabalhava aqui, quis te dar parte disso com antecedência. Sua mãe, porém, se preocupou que com o dinheiro em mão você quisesse deixar o trabalho de lado e viver do rendimento da empresa.”

“E esse dinheiro está guardado? Todos esses anos?”

“Na verdade ele foi usado para comprar o apartamento de vocês. E pagar o plano de saúde da Ella, e a escolinha dela também.” Alberto sorriu para o filho. “Eu e sua mãe não demos um tostão para vocês, esses anos todos.”

“Eu podia ficar puto, pai, mas eu sei que não teria sabido controlar esse dinheiro.” Concordou Jorge. “Você é realmente um ótimo administrador, sabe?”

“Sei. Cheguei até onde cheguei por isso.” Alberto sorriu, lhe passando alguns papéis. “O apartamento foi quitado há alguns meses, então tem ficado um dinheiro guardado na conta poupança. Você e a Margarida terão grandes gastos nos próximos meses, com a chegada da Sabrina e da Rebeca. Saiba usar o dinheiro que você já tem, e o que você ainda vai ter.”

~*~

Rebeca e Sabrina nasceram no meio de março, através de uma cesárea. Foram apresentadas para a irmã pelo vidro do berçário, as duas adormecidas no braço do pai. Ella quicava no colo do padrinho, embaçando o vidro com sua respiração, achando graça na roupa azul que Jorge usava e como combinava com os panos azuis que envolviam as irmãzinhas.

Enquanto a mais velha era uma cópia física do pai, as duas caçulas saíram idênticas a mãe. Cabelos negros, olhos esverdeados, a pele tão branquinha que a irmã dizia que pareciam filhas da Branca de Neve.

Àquela altura já era expert em bebês, depois de ter ajudado tanto com Danilo e de ter acompanhado um pouco de André e Letícia, a filhinha Carmen e Daniel. Participou do primeiro banho das duas com a mãe e o pai, conseguia as segurar para arrotar e, com supervisão de um adulto, trocava quase toda uma fralda de xixi.

Todos os dias, após almoçar com a mãe e “ajudá-la” a colocar as duas para dormir, Ella sentava com seus deveres de casa entre os dois cestinhos e ali fazia sua lição, as velando. Após dois meses, as personalidades começaram a ficar mais evidentes e passou a ser muito mais divertido.

Rebeca era mais agitada, gostava de mais atenção, estava sempre tentando “conversar”. Já Sabrina era mais quietinha, mas tinha problemas de cólica e refluxo, o que exigia mais atenção da parte de Margarida. Então, enquanto a mãe cuidava da menorzinha, Ella se deliciava em distrair a irmã do meio, deixando-a brincar com sua mão, contando historinhas ou cantando musiquinhas que aprendia na escola.

E assim a vida foi seguindo. No início do ano seguinte, Danilo passou a frequentar a escolinha para que Alicia pudesse voltar a trabalhar. Com o Jardim recém-aberto na Escola Mundial, Ella, agora com nove anos e frequentando o quarto ano, ganhou a nobre missão de levar o priminho para a escola.

Seu pai ou Paulo os deixava na porta da escola e ela levava Danilo pela mão até sua sala. Na hora da saída ia buscá-lo no mesmo lugar, e Alicia estaria os esperando na saída. Algumas vezes Margarida ia com as gêmeas, ou então os avós de algum dos dois. Não importava quem fosse, era sempre alguém animado em ouvir as intermináveis histórias dos dois sobre seus dias.

Margarida acabou resolvendo não voltar para a faculdade até que as filhas estivesse maiores. Mesmo nessa época ela pensaria se era o que realmente queria. Também debateram muito vender o apartamento e mudar para outro maior, agora que eram uma família de cinco pessoas, mas resolveram ficar com aquele mesmo. Mais metros quadrados de área significava mais espaço para ficarem separados, e se tinha algo que ela e Jorge gostavam era de ficar bem juntinho com as filhas.

Os encontros com os amigos da época de escola, antigamente espaçados, se tornaram cada vez mais frequentes. Com todos se casando e começando a ter os próprios filhos, os encontros para as crianças brincarem eram marcados praticamente semana sim, semana não. Coube para Ella o papel de prima mais velha de toda a criançada, aquela que puxava as brincadeiras e apartava os primeiros indícios de briga.

E com isso, a menina já tinha seus onze anos.


Notas Finais


Agora vamos entrar na Ella adolescente, e eu quis fazer um capítulo separado da Ella doce e criança. Porque, meus amores... Ella vai sambar no "Y SOY REBELDE", então se preparem! HAHAHAAAHAH
Espero que estejam gostando dessa pequena aventura que esta sendo essa shortfic! Não sei se amo mais essa Ella ou a de FTLOMF. Tá um páreo beeem duro!
Um beijo e até a última parte da história!


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