Aquelas palavras foram o suficiente pra que eu sentisse meu coração aquecer definitivamente.
- Onde?
- Onde o quê?
- Onde mora esse babaca? – Dani estava com puro ódio nos olhos, tinha cruzados os braços e agora me olhava pensativa. – Espero que seja bem longe daqui, porque se não, eu sou capaz de ir na casa dele e lhe dar um soco na cara.
- Eu não sei onde ele mora, mas também não tem importância, já passou e já tá tudo bem comigo, não quero mais olhar na cara desse garoto, nunca mais. – Respondi decidida.
- O mais importante é que a gente tá juntas e principalmente, estamos aqui do seu lado, Bruna. E ninguém vai bater em ninguém. Pode parar de pensar nessa ideia, senhorita Daniela. – Marcela sempre paciente, me olhou nos olhos e depois se virou pra Dani, que bufou, derrotada.
Sr. Diego e Paula, que estavam parados perto da porta, vieram até nós. Paula estava com um sorriso contagiante e ansioso. Sr. Diego, para minha surpresa, tentava esconder um sorriso de canto, que também demonstrava ansiosidade, mas não conseguiu fazê-lo.
- Bruna. Eu estava conversando com o Sr. Diego sobre um projeto que vai acontecer lá no abrigo. Como existem ainda muitas crianças que precisam de cuidados e carinho, nós vamos abrir as portas para pessoas que queiram se voluntariar para ajudar com as crianças que ainda não foram adotadas. Eu conversei com o Conselho e eles concordaram com a minha ideia, além de acharem muito importante para que possamos conhecer famílias que querem ou que pensam em adotar uma criança. – A animação de Paula era tão evidente que qualquer um podia enxergar. – Você gostaria de se voluntariar?
Senti a pressão de todos os olhares em mim.
Animação,
euforia,
felicidade.
Tudo junto e misturado dentro de mim.
Olhei para o Sr. Diego e ele balançou a cabeça, deixando visível que concordava com a ideia.
- E-e-eu adoraria!
[...]
Levei Paula e as meninas até a porta e depois voltei para sala, ainda descrente do que aconteceu à alguns minutos.
Fiquei sentada no sofá observando o nada. Por um minuto o mundo pareceu parar. Olha o quanto a minha vida mudou, chega ser assustador!
- Bruna, vem. O almoço tá pronto. – Felipe chega e me tira do meu momento reflexivo.
Fui com ele para cozinha e no caminho ficamos conversando um pouquinho.
- Então, Bruna...
- O que? – Perguntei.
- Aquele dia lá na cantina... eu sei que já faz tempo e eu deveria te conversado contigo antes e te pedido desculpa....
- Me pedido desculpa? Pelo quê?
- Eu não te ajudei como deveria, fui embora e te deixei lá com aquela garota ridícula e metida. Desculpa mesmo. – Ele me olhou com os seus olhos castanhos e eu vi que ele realmente estava se desculpando.
- Não tem problema. Já passou e se não se incomoda, não queria mais falar sobre isso, já faz tempo então... deixa pra lá.
- Ok. – Ele balançou a cabeça concordando e pôs uma das mãos nos bolsos.
- Mas....
- O quê?
- E aquele garoto... Ele me ajudou também, lá na cantina, assim como você. Mas não sei quem era. Você conhece ele? – Quando acabei de falar, Felipe deu uma risada, exibindo seus branquíssimos dentes.
- Sim, eu conheço ele. É o Thiago.
- Seu amigo?
- Namorado, na verdade. – Disse Felipe enquanto me olhava e dava mais uma risada.
- Ah, entendi. – Respondi enquanto me lembrava do comentário de Fernando na aula, acabei dando uma risada, meio abafada, mas perceptível.
- O quê? Não me diz que pensava que eu era hétero, porque, querida... Não, definitivamente não! – Ele balançou a cabeça e mexeu negativamente com o dedo, voltou a rir, dessa vez junto a mim. – É só olhar pra mim e pro Fernando e se perguntar quem brilha mais.... e se você falar ele eu vou dar na sua cara.
- Ok, ok. Me convenceu, é você.
Gargalhando e ainda conversando, Felipe e eu chegamos na cozinha. Lá, Fernando já estava sentado e o Sr. Diego colocando o almoço.
Nos sentamos na mesa e começamos a almoçar, eu do lado de Felipe e Fernando do outro lado da mesa ao lado do Sr. Diego.
- O que estavam fazendo? Já tô morrendo de fome. Vamos, sentem logo. – Disse Fernando irritado enquanto colocava um pouco de comida no prato.
Felipe sussurrou um “invejoso” e depois fingiu uma tosse. Não me controlei e dei uma risada. Fernando nos olhou confuso e depois revirou os olhos, para depois voltar a comer desesperadamente o que estava em seu prato.
[...]
Uma maravilhosa noite de luar estava fazendo lá fora, a casa estava calma então fui para o quarto. Já eram quase 22:00, mas ainda não tava com sono.
Deitei na minha cama e fechei os olhos com a esperança de deixar o sono vir, mas em vez disso imagens de um quarto veio em minha mente.
Abri os olhos na mesma hora e tomei um susto.
Estava num lugar estranho, um tipo de praça, mas com neblina cobrindo tudo. Não conseguia enxergar quase nada, apenas um banco e um mulher, sentada.
A mulher era um pouco velha, aparentava ter uns 65 anos ou mais. Ela vestia um longo vestido branco, como de um hospital. Seus cabelos grisalhos e suas linhas faciais cansadas lhe envelheciam bastante. Estava com a cabeça baixa, mas ainda pude ver seu rosto por completo. Seus olhos eram castanho escuro e seu rosto era bem afinado.
- Você demorou, querida. – Disse ela.
- Demorei? Quem é você?
- Não se faça de tonta, meu amor. Venha, se sente aqui do meu lado, temos muito o que conversar...
Meu celular toca e me desperta totalmente. O relógio ao lado dizia que eram 16:00 da tarde. Coço os meus olhos e atendo o telefone.
- Alõ? – pergunto sonolenta.
- Bruna, finalmente. Onde você está? Te mandei mensagem a tarde inteira. Aliás, você tem esse celular pra que mesmo?
- Caio? É você? – Não estava entendendo nem um pouco daquilo, o que o Caio iria querer comigo numa quarta feira às 4 horas da tarde?
- Não, é a sua cabeleireira... claro que é o Caio, né!
- Eita, tá irritado por que já?
- Você não disse na aula pra mim que iria me ajudar à comprar um presente de aniversário pra Alline? Já to aqui no shopping à uma hora e meia praticamente. Ou se esqueceu disso?
- O que? Claro que não, já to indo, só mais 10 minutos e eu chego aí.
Nossa, tinha me esquecido completamente disso. Tinha tanta coisa na minha cabeça que eu não sabia o que fazer direito.
Me levantei e fui direto pro banheiro. Tomei um banho rápido e fui em disparada para o shopping.
Quando cheguei lá, encontrei um Caio irritado e muito nervoso com o que comprar.
-... E se ela não gostar do que eu vou comprar? Ai Bruna, to com medo. Não quero irritar a Alline, você já viu ela irritada e isso é algo que eu não quero provocar. – Caio ruía as unhas feito louco, um nervosismo que nem eu entendi.
- Calma, garoto. Você ta muito desesperado. Respira fundo, se não é capaz de tu desmaiar e eu não vou ficar perambulando com ninguém desmaiado no shopping.
- Não dá, é muita pressão. – Ele ficou andando de um lado para o outro enquanto coçava a cabeça. - Ela me disse que adoraria ganhar alguma coisa e eu só tenho hoje pra comprar, to tão ferrado...
- CALMA!!! Para de andar e olha pra mim. – Ele se virou pra mim e ficou ruindo as unhas. – Para com isso, seu nojento. Primeiro respira... – Ele revirou os olhos e pôs as mãos no bolso do seu casaco. – Agora me diz o que a Alline mais gosta.
- Bom... ela gosta de flores... e de maquiagem.... e de brilho, muito brilho.
- Viu? Já é um começo, agora vem, acho que sei onde procurar o presente certo....
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