"Grandes mudanças exigem sacrifícios ainda maiores."
3 semanas depois...
- Vamos, Bruna. Eles já colocaram suas malas no carro.
- Já estou indo.
O dia da minha adoção chegou e eu estou muito nervosa.
O medo de deixar aquele lugar, aquela rotina para adquirir uma totalmente diferente veio à tona, e eu quase desmaiei.
Dani, Marcela, Paula, pessoas que, mesmo com o tempo, eu nunca iria esquecer, outrora iria morrer de saudade das mesmas.
O frio que eu estava sentindo na minha barriga era tão grande que eu mal conseguia pensar ou falar algo. A única coisa que ecoava na minha cabeça era a saudade que iria sentir.
Cada parte desse abrigo faz parte da minha vida. A sala de estar onde eu dei meus primeiros passos; a sala de brinquedos onde Paula me apresentou Dani e Marcela; o sótão onde Dani e Marcela me deram o meu colar que, desde então, não sai mais do meu pescoço; o meu quarto que, de vez em quando, Paula ia até o mesmo e dormia comigo quando eu tinha pesadelos que faziam eu gritar e chorar.
Tudo isso era difícil de deixar pra trás. Mas a vida é assim, confusa e complicada.
Então, eu prometi pra mim que mesmo se essa família adotiva for rigorosa ou chata ou morar longe, eu faço de tudo pra voltar aqui e reencontrar Paula, Dani, Marcela e até as outras crianças que ainda moram aqui e eu tenho um certo apego.
Terminei de colocar dentro de uma mochila as coisas que eu achava especial e delicadas demais pra se misturarem na bagunça que era a minha mala.
Sai do meu quarto e fechei a porta, deixando as diversas lembranças daquele recinto pra trás.
Desci as escadas que levavam ao primeiro andar e fui até o carro que me esperava lá fora. Paula, que estava logo atrás, se apressou e me puxou, envolvendo-me num abraço de costas.
Ela me apertou mais nos seus braços e disse.
- Espero que esse não seja um abraço de despedida.
- Não, não é. Pode ter toda certeza. - Entrei no carro e antes de ir definitivamente embora, olhei para ela e acenei para a mesma.
Na noite anterior à esse dia...
Antes de arrumar minhas malas para poder dormir, fui até o escritório da Paula.
Vozes vinham de dentro da sala. Olhei pelo vidro da porta, estava meio embaçado e então era meio difícil de ter uma imagem nítida mas notei que ela estava conversando com duas pessoas estranhas.
Movida pela curiosidade, me encontro escorada na porta, à fim de ouvir a conversa.
A voz de um homem foi a primeira coisa que eu escutei ao encostar meu ouvido na porta. Era firme e forte, tão autoritária que eu senti um frio na espinha. Logo depois Paula e em seguida, escuto uma outra voz feminina. Calma e compreensiva.
- Então quanto tempo vai demorar pra ser liberado a papelada para finalizarmos a adoção? - disse o homem impaciente.
- Hum... Bom, sr. Ramos, eu acredito e espero que seja daqui à 3 dias.
- Então, quer dizer, que a garota não poderá ser levada por nós? - Dissera a mulher, não irritada mas curiosa.
- Ela poderá, mas só será oficializada como filha de vocês quando a papelada chegar, e tanto vocês como ela assinarem perante ao juiz.
- Entendo. - O homem novamente se pronunciou e, pelo o que pude deduzir e ouvir, ele se levantou, juntamente com a mulher. - Bom, qualquer coisa é só nos telefonar. Tenha um bom dia.
Passos estavam se aproximando tão rapidamente que eu mal tive tempo de me recompor.
A porta abriu e duas pessoas saíram.
Uma mulher de cabelos negros, longos e lisos saiu de dentro da sala. Os olhos um pouco puxados e a pele morena resplandecia a sua origem. Ela era indígena.
Uma linda mulher com descendência indígena.
Seu rosto era exuberante. Seus lábios carnudos estavam cobertos por um batom de cor vermelha, fato que ressaltava-os ainda mais. Sua postura era ereta e seu corpo era belíssimo, equilibrado em todos os lugares. Ela estava usando um vestido longo florido, ao mesmo tempo, formal e adequado.
Juntamente com a mulher, havia um homem. Um homem alto de postura também ereta, ombros largos e braços musculosos era então o portador daquela voz severa. Estava trajando um elegante e finíssimo terno e um calça social. Como um empresário se vestiria, pensei.
A moça me olhou e sorriu docemente. Já o homem, depois de se recuperar de um leve susto, me lançou um olhar... curioso.
Paula que estava dentro da sala sentada na sua cadeira, percebeu minha presença e se levantou, preocupada, veio até a direção da porta, onde eu, a mulher e o homem estávamos.
- Bruna, o que você está fazendo aqui? Já está tarde, por que ainda não foi para cama? - Perguntou Paula tentando disfarçar a desaprovação na voz.
- Eu estava apenas lhe procurando pra me ajudar a arrumar as malas. - Disse hesitando um pouco.
- Ah, então essa é a Bruna! - Disse o homem que, a pouco tempo, estava calado, apenas me analisando com os olhos de cima a baixo.
- É sim, sr. Ramos. - Paula falou.
- Prazer, meu nome é Diego.- Ele estendeu a mão para mim e apertei a mesma, mostrando educação.
- Muito prazer.
- E eu sou Catarina, é um prazer conhecê-la, Bruna.
- O prazer é todo meu, senhora.
Paula voltando do seu devaneio, veio até mim e disse.
- Ham... Bruna, por que você não volta para o seu quarto e depois eu apareço lá e lhe ajudo? Pode ser?
- Tudo bem. - Assenti e me retirei do recinto.
Eu pude ouvir apenas resquícios de conversas durante o caminho até o corredor que levava ao meu quarto.
Quando cheguei no mesmo, abri a porta e esperei Paula chegar.
Perguntas se formaram na minha mente aos montes. Quem eram aquelas pessoas? E como elas me conheciam? Será que eram o casal me adotou?
A mulher chamada Catarina até parecia ser muito simpática e tranquila. Já o sr. Diego não me apareceu muito receptivo. Eles aparentavam ser muito formais e chiques, de alta classe. Será se eles gostaram de mim e da minha aparência? Malditas perguntas.
A porta se abriu e Paula surgiu dali.
Ela veio e se sentou ao meu lado na cama.
- Bom, já decidiu o que vai levar?- Ela perguntou e olhou ao redor tentando achar alguma coisa que respondesse sua pergunta.
- Sim, só não consigo pegar a mala que está em cima do guarda-roupa.
- Deixa que eu pego. - Ela se levantou e foi até o guarda roupa.
- Paula... quem eram aquele casal?
Ainda tentando alcançar, Paula me olhou surpresa e depois de ter pego a mala, voltou a se sentar ao meu lado.
- Eles são o casal que vão adotar você, meu amor.
- Hum... E você conhece eles? Tipo, informações sobre a vida deles e tudo mais. - Perguntei.
- Sim, um pouco, por quê? Não gostou deles? - Ela disse, franzindo o cenho.
- Não sei. Eles parecem ser muito sérios.
- Só quando o assunto é confusão e demora. Tirando isso eles me parecem ser boas pessoas. O sr. Diego é dono de uma empresa bem famosa e respeitada, e a sra. Catarina é professora de artes. Dá aula numa boa universidade e também tem dois outros filhos com o sr. Diego.
- Dois outros filhos? Isso é sério? Acho que vou desmaiar de vez! - Disse levando minha mão à cabeça e me jogando pra trás na cama.
- Você vai gostar deles, não se preocupe. Agora vamos logo arrumar suas coisa porque está tarde e eu quero dormir, imagino que você também.
- Ok.
Passamos algumas horas arrumando a mala e depois Paula foi para o seu quarto.
Peguei no sono depois de tentar imaginar a minha nova vida a partir do momento que eu conhecer minha nova família, meus novos irmãos, minha nova casa... Enfim, pelo visto, tudo vai mudar.
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