1. Spirit Fanfics >
  2. Em Busca da Verdade >
  3. Márcia é uma idiota

História Em Busca da Verdade - Márcia é uma idiota


Escrita por: Bekah1201

Notas do Autor


Oiii, amores. Mais um cap.
Boa leitura!!! S2 S2 S2

Capítulo 6 - Márcia é uma idiota


Fanfic / Fanfiction Em Busca da Verdade - Márcia é uma idiota

"A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser."

 

Não consegui assimilar muito na hora. De repente estava andando em direção à uma mesa até que eu me esbarro em uma garota.

Foi tudo muito confuso e momentâneo.

A bandeja que até então estava em minha mão, foi parar direto no cabelo da tal garota.

Ela ficou me encarando com puro ódio nos olhos.

O refrigerante, que eu já tinha aberto e colocado num copo, manchou toda sua roupa, ela deu um passo em minha direção, e eu temendo o gesto que ela provavelmente iria fazer, dei um pra trás, cambaleando.

- Qual é o seu problema? - Disse ela. A raiva nos olhos da garota foi logo substituído por desdém, e ela involuntariamente avançou pra cima de mim e me empurrou.

O choque do meu corpo no chão frio e duro da cantina foi tão grande que eu podia jurar que eu tinha quebrado algum osso.

Meus cotovelos amorteceram o meu peso, mas não foram o suficiente para acobertar a dor insuportável que surgiu na região das minhas costas.

Minha visão ficou meio turva e eu, desequilibrada, tentei me levantar.

Estava tonta e confusa. O mais estranho foi que só tinha sido um empurrão e eu já estava passando mal, deve ser por causa do meu corpo magricelo que é muito frágil. Eu me odeio!

A menina que me derrubou, ficou parada na minha frente, imóvel. Seu rosto não demonstrava nenhuma expressão, estava neutro. Não havia mais raiva, nem desdém, nem surpresa, nem nada.

Era como um quadro branco, sem cor, sem estatura, sem ação ou reação.

Ela olhava para mim, mas seu olhar estava tão firme e tão fixo que pareciam olhar para o nada. Poderiam até mesmo olhar através de mim.

Me arrepiei quando, de repente, senti braços quentes, frágeis, mas ao mesmo tempo, firmes me envolverem com o maior cuidado.

Me vi sendo levantada e quando dei conta e consegui focar, havia várias pessoas ao redor, vendo a cena.

Virei de costas para ver quem havia me ajudado e me deparei com um garoto.

O mesmo garoto loiro e de olhos azuis da minha sala. Caio, lembrei.

Ele ficou me analisando de cima a baixo, tentando encontrar algum dano e certificar se eu estava bem.

- Você tá bem? Não se machucou? - Ele perguntou.

- Eu to bem, só um pouco tonta...

Ele desviou o olhar de mim e se voltou para a garota que estava nos encarando.

O olhar que Caio lhe mandou foi mais afiado que facas. Cortaram qualquer reação que menina quisesse fazer, então ela continuou parada no mesmo lugar onde estava.

- Você não tem coisa melhor pra fazer, não, Márcia? Por que não vai atrás das suas amiguinhas? - Perguntou ele. Ele olhou ao redor e sorriu. Um sorriso tão perturbador que eu me surpreendi na hora. Seus olhos azuis apresentaram um cor mais escura, mais sombria. Como um garoto tão gentil e calmo conseguia fazer uma coisa daquelas? - Aliás, cadê elas? Fugiram? Até porque quando aparece briga, elas fogem na hora.

- Cale a boca, sua aberração. Você não sabe o que tá falando. - A tal Márcia disse, olhando para Caio com um nojo evidente. - Elas não estão aqui porque não podem. Estão ocupadas. De vez em quando, elas têm coisas importantes pra fazer. Conseguem sobreviver sem mim, sabe? Mesmo eu achando isso um milagre. - Ela revirou os olhos e, desanimada, olhou para as unhas, em sinal de deboche.

- Se você não sair daqui é você que não vai sobreviver. - Uma voz surgiu no meio da multidão que apenas escutava com toda atenção ao redor de nós. Felipe. Ao lado, outro garoto surgiu. Esse tinha uma feição irreconhecível por mim. Era mais alto que Felipe e usava o uniforme da escola, como todos os outros. Tinha cabelos pretos e olhos mais pretos ainda, visíveis através dos enormes óculos. Sardas ocupavam quase toda a região da bochecha. Um rosto tão juvenil num corpo tão adulto e de certa forma, inadequado e desproporcional.

Márcia notou a presença dos dois e deu uma gargalhada.

- Tava faltando. Agora o circo de horrores tá completo! - Ela olhou para Felipe e o mesmo deu um passo e entrou na frente do outro garoto, como se para protege-lo.

- O único horror aqui é você, sua ridícula. Vai cuidar da sua vida que é melhor. - O garoto ao lado de Felipe finalmente se pronunciou, para a surpresa de todos, até de Felipe.

- Ora, ora, ora! O cachorrinho indefeso tá mostrando as garras, minha gente! Que fofura. Chega até ser patético. - Márcia deu mais uma gargalhada. Virou para Felipe e disse. - Você devia se orgulhar. Pelo jeito, você tá fazendo diferença nesse garoto. Que milagre!

- Se você não calar essa boca, eu... - Felipe estava avançando na direção de Márcia, mas logo foi parado pelo garoto que se adiantou e parou ao seu lado.

- Não adianta. Ela não vale a pena, Felipe. Deixe ela pra lá. - Ele suspirou e, pegando o pulso de Felipe, saiu lhe puxando para fora daquela confusão. Felipe indignado, me direcionou um olhar que eu consegui entender. Um olhar de desculpas.

- Ai, ai. Bom... pra mim, isso aqui já deu. Fui.  – Ela deu meia volta e depois se voltou para mim uma última vez. – Se você voltar a derrubar as coisas em mim, não vai ser só um empurrão que eu vou lhe dar. – E então, foi embora.

Ela abriu passagem pelo meio da multidão e sumiu de vista.

Caio veio em minha direção e me puxou para fora dali também. Me guiou até um corredor sem ninguém e se sentou num banco, logo atrás de mim.

Ele ficou me olhando com aqueles seus olhos azuis. Estavam tão escuros e profundos, que eu me senti caindo em um buraco negro.

- Obrigado por me ajudar. Sério mesmo. - Disse, arrancando um triste sorriso de canto dele.

- Não há de que. - Disse ele.

- Não, é sério. Você mal me conhece e já me ajudou quando eu precisei. Valeu. Aliás, é Caio, não? - Senti que ele ficou mais aliviado com o que eu disse então relaxou mais.

- É. E de novo, não precisa agradecer. Márcia é uma idiota e uma tremenda filha da puta, eu sei porque já passei quase 12 anos convivendo com aquela menina e sei como é ser humilhado por ela em público. - Ele abaixo a cabeça e ficou olhando na direção das suas mãos. - Não me assustei quando vi ela lhe empurrando. Ela é assim, barraqueira. Você vai perceber depois de um tempo...

- Por que ela lhe chamou de aberração? - A pergunta saiu da minha boca quase que em automático. Falei e me arrependi na hora quando notei a expressão de Caio. Ele fechou os olhos por um momento, depois os abriu e me olhou com uma certa... Admiração? Surpresa? Tristeza? Não consegui distinguir.

- Nós éramos da mesma sala na primeira série. Éramos muito amigos. Muito chegados. O pai dela conhecia o meu e eles também viraram amigos. Eu ia na sua casa e ela ia na minha. Brincávamos todo tempo. Anos se passaram e na sétima série eu me apaixonei por ela. Ela, de vez em quando, também demonstrava que sentia alguma coisa por mim. E então, em certo dia, eu tomei coragem e resolvi falar com todas as palavras o que eu sentia. - Ora ele olhava pra mim, ora olhava pras mãos, ora desviava o olhar. Eu já estava agoniada com isso. Pude perceber que contar e lembrar aquilo estava lhe fazendo muito mal, mas se eu lhe interrompesse, ele podia se sentir pior ainda, então deixei ele continuar, sua voz falhando em certas partes. - Lhe procurei e a levei num esconderijo que nós tínhamos. Falei tudo e ela também. Tudo o que escondíamos um do outro. Até que... - Sua voz parou e o silêncio preencheu o lugar. Vários minutos passaram e ele olhava pro chão. Franzia o cenho e depois balançava a cabeça. - Até que eu disse que eu era trans. Márcia me olhou com tanta surpresa que eu pensei na hora que ela tinha ficado muda ou tinha ficado paralisada. Com tudo o que passamos juntos, com todas as risadas, as brincadeiras e confissões, eu pensei que ela mal se importaria com isso. Mas eu estava errado. Ela surtou e saiu correndo de mim. Falou várias coisas horríveis. No outro dia na escola, já havia vários boatos de mim, fofocas e apelidos. Eu tentei procurar ela mas ela sempre se afastava de mim e me chamava de aberração. Desde então, nunca mais nos falamos. Era ela pra um lado e eu pro outro.

Ele terminou e ficou me encarando, esperando alguma reação minha.

Pude sentir minha voz indo embora aos poucos. Mal conseguia pensar em algo. Apenas ficava lhe encarando também.

- Você não vai falar nada? - Ele perguntou.

- Desculpa. É que eu... Sinto muito por você. - Ele envolveu os joelhos ao redor dos braços e encostou o queixo nos mesmos, ainda me olhando e me escutando. - Não sabia que você tinha passado por algo tão horrível assim. Você chegou a falar com mais alguém sobre isso? Tipo alguém especializado ou seus pais?

- Só com a psicóloga daqui do colégio. Meus pais não sabem nada disso, sobre Márcia e todo resto. Claro que eles sabem sobre mim, que eu sou trans, e eles até que lidam bem com isso, mas não sabem o que eu passei. E nem pretendo contar. Eles são muito protetores e paranoicos. Então achei melhor não. Até porque eles me tirariam daqui dessa escola, mesmo eu ter passado por aquilo, eu tenho amigos aqui e...

- Você conheceu outro alguém especial? - Perguntei hesitante.

- Sim. - Ele sorriu, contente. - Alline. Ela me ajudou bastante na época. Eu sofri muito, muito mesmo, e, graças à ela, consegui esquecer Márcia. Ela me faz tão feliz que você nem imagina. Estamos juntos à 2 anos e meio.

- Eu fico muito feliz por isso. Espero que você esteja também. - Sorri para o mesmo com a esperança de lhe arrancar um sorriso, e consegui.

- Obrigada.

Um barulho estridente surgiu e eu quase saltei do banco num pulo. Caio deu uma gargalhada quando percebeu isso e eu só pude agradecer aos céus por ele finalmente ter dado uma verdadeira gargalhada.

- É o sinal. Temos que voltar pra sala. - Ele disse se levantando e já dando uns passos. - Você vem? Já chega de tristeza por hoje. Quero ir embora daqui, então vamos logo para essa aula estúpida antes que eu mate alguém.

Sorri para ele, e o mesmo fez igual.

Continuei o caminho com Caio, enquanto ele contava momentos engraçados que teve com Alline.

Chegamos na sala e entramos. Nos sentamos e quando a professora chegou, focamos na aula.


Notas Finais


É isso. Comentem, por favor.
Bjsss


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...