— Dean — chamou Sam, quase em um sussurro. — Isso é mesmo necessário?
O mais velho dos Winchesters manteve-se indiferente ao questionamento feito pelo irmão. Seus olhos permaneceram fixos no casal asiático enquanto respondia à pergunta.
— Você viu a força desse tal de Samael. Castiel não é forte o bastante para segurá-lo, e com certeza você e eu também não. Se ele se soltar enquanto fazemos o exorcismo, estaremos ferrados.
Pigarreou ao final da frase, ao perceber que Taehyung terminava de cumprir a ordem que dera há alguns minutos.
— Assim é mais seguro — acrescentou, vendo pelo canto do olho Sam assentir em concordância.
À alguns metros da dupla de irmãos, Taehyung cumpria com êxito (e uma pitada de receio) a ordem dada por Dean.
Uma corda grossa lhe havia sido entregue, e sua tarefa era garantir que ela segurasse os pulsos de Jungkook presos à cama, para o caso de Samael resolver tentar algo.
O mais novo — dentre todos que estavam na casa, por sinal — observava o rosto notoriamente concentrado do noivo enquanto este se esforçava para deixar o nó o mais firme possível em torno de seus pulsos.
— Isso seria muito sexy se não fosse pelo motivo que estou te amarrando — disse Taehyung, dando-lhe um sorrisinho.
Jungkook riu. O corpo de Taehyung pendia sobre o seu conforme ele se inclinava para apertar o nó da corda.
— E ainda diz que eu sou o pervertido — replicou, sorrindo audacioso.
— Não é você que está amarrando um cara bonito na cama — respondeu, corando sutilmente.
O mais novo sorriu, relaxando um pouco. As circunstâncias que o cercavam haviam o deixado tenso e angustiado, mas Taehyung era capaz de distraí-lo até mesmo na atual situação em que se encontrava; algemado e amarrado à cabeceira da cama, aguardando por um ritual de exorcismo.
Não era lá muito animador.
Do outro lado do quarto, os Winchesters os observavam, desconcertados.
— Vou buscar mais sal grosso — ditou Sam, saindo às pressas do quarto antes que Dean pedisse para que ficasse.
O mais velho praguejou, resmungando baixinho.
— Isso não é nada educado.
Dean assustou-se ao ouvir a voz de Castiel, já que, supostamente, o anjo deixara o recinto havia alguns minutos.
No entanto, quando olhou para o lado, lá estava ele. Talvez resolvera voltar para ajudá-los.
— Castiel, você tem que parar de aparecer assim — murmurou, mas sua voz não demonstrava irritação.
Até porque, não queria ser o único a ficar na companhia do casal que agora trocava sorrisinhos cúmplices.
— Quando Taehyung acabar, vamos checar os nós da corda para ver se estão bem presos e então poderemos começar — explicou Dean.
Castiel assentiu em um menear.
Após mais um puxão firme, Taehyung terminou de firmar o último nó.
— Se eu sobreviver, talvez deixe você me amarrar — brincou Jungkook, com uma pitada de malícia.
Todavia, a diversão contida nos olhos redondinhos do mais novo pareceu ser barrada pelo olhar desgostoso do Kim mediante a frase.
— Você vai sobreviver — respondeu Taehyung, e sua voz soou firme aos próprios ouvidos. — Não diga mais coisas assim, ok? — pediu encarecidamente.
Jungkook assentiu, mesmo que a voz de sua consciência lhe sussurrasse a todo momento que sua vida estava em risco.
E que, inevitavelmente, estava pondo Taehyung em perigo por mantê-lo perto.
Taehyung afastou a franja de Jungkook para o lado e desferiu um selar carinhoso sobre a testa do rapaz.
Dean observara o gesto, junto dos olhares preocupados que os rapazes lançavam um ao outro.
Taehyung lhe aparentava ser alguém protetor, tentando a todo custo ajudar o noivo. Jungkook porém, lhe parecia ser mais aéreo (talvez por causa da atual situação), mas, por outro lado, possuía um charme natural inquestionável.
Talvez fosse pela personalidade — não tão maleável quanto a de Taehyung, o que causava uma impressão mais forte aos olhos de quem o via —, ou pela fisionomia combinada ao olhar de íris escuras e cabelo de mesmo tom.
De alguma forma — a qual desconhecia a origem de tal pensamento —, ele sentia já ter visto aquela cena. Entretanto, se negava a acreditar na ideia que reverberava em sua mente; a de que aquele casal lembrava-lhe dele e de Castiel.
Por certo estava ficando louco. Ele e Cass não eram e jamais seriam tão melosos. Com toda a certeza do mundo ele estava confundindo as coisas, trocando sua linha de raciocínio ímpeto e perspicaz por uma com falhas.
Lacunas em branco que ele julgava não saber como preencher.
Divagações que, entre um instante e outro, levavam-no a pensar em Castiel.
Em como a postura assumida por Taehyung lembrava-lhe de si mesmo perante Castiel.
O modo como Castiel lhe olhara perdido quando agachara-se para o socorrer, assim como Jungkook olhava para Taehyung.
Castiel, Castiel, e... Castiel.
Tinha que tirar o anjo da cabeça.
— É... Dean? Acabei — disse Taehyung, e o Winchester sentiu uma alegria contida pelo ato.
Se tivesse algo para fazer, decerto não teria tanto tempo para pensar no anjo que estava parado de pé ao seu lado.
— Ótimo. Vou chamar o...
— Estou aqui — replicou Sam, adentrando o cômodo.
Dean o encarou, incrédulo.
— Você estava ali o tempo todo e me deixou sozinho com... — interrompeu a si mesmo ao perceber que Taehyung lhe ouvia falar.
Apesar de frustrado, ainda tinha o bom senso. Não lhe parecia uma boa ideia dizer que Sam o havia deixado "sozinho com o casal gay que não para de se paparicar".
— Certo, vamos logo com isso — disse Dean por fim, aproximando-se de Jungkook.
Sam havia pintado no teto acima da cama — usando-se de uma lata de tinta spray que trouxeram com aquela finalidade — uma Chave de Salomão*, pouco antes do irmão dar a ordem a Taehyung para que amarrasse Jungkook sob o símbolo.
Dean tirou do bolso um caderno antigo — mais especificamente o diário de seu falecido pai, que pegara da mala no porta-malas do carro.
Folheou-o até encontrar a página onde havia um ritual de exorcismo — a qual estava amarrotada pelas tantas vezes que a usaram — e caminhou até estar próximo a Sam, para que pudessem ler juntos.
— Taehyung — chamou Sam. — Você precisa sair de perto do círculo — alertou, referindo-se ao círculo do símbolo que desenhara no teto.
Com o olhar pesando preocupado sobre o noivo, o Kim afastou-se.
Se posicionou ao lado de Castiel, sorrindo em cumprimento; só então se deu conta de que não haviam sido apresentados.
Os Winchesters entreolharam-se, e então puseram-se a ler os garranchos rascunhados na folha amarelada.
— Omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii...
Jungkook fechou os olhos.
— Omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica…
Taehyung cravou as unhas nas palmas das mãos, nervoso. Seus olhos mantinham-se vidrados em Jungkook, aguardando por qualquer movimentação.
— Ergo… Perditionis venenum propinare. Vade, satana,
inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis.
Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge.
As palavras em latim davam à casa um ar sombrio, com uma pitada de algo que Taehyung não sabia pôr em palavras nem mesmo em sua mente.
Algo ruim.
Algo que o deixava com uma sensação de aperto na boca do estômago e uma angústia alarmante em seu peito.
A dosagem de adrenalina aumentava sempre que a voz de sua consciência gritava para ele que era Jungkook a ser exorcizado.
— Invocato a nobis sancto et terribile nomine. Quem inferi tremunt…
Afinal, fora ele o responsável por chamar os Winchesters.
— Ab insidis diaboli, libera nos, domine.
Amarrara Jungkook à cama, tirando assim quaisquer chances do rapaz defender-se ou até mesmo de pedir ajuda.
— Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire...
Havia posto a vida de Jungkook nas mãos de estranhos.
— Te rogamus...
Se algo de ruim acontecesse, a culpa recairia sobre seus ombros, e ele sabia que não aguentaria carregar consigo tamanho fardo.
— Audi nos.
E então, silêncio.
As palavras e sentenças pararam de ecoar pelas paredes do cômodo e por sua cabeça.
Taehyung olhou para os Winchesters. Sentia o coração pulsando acelerado, como se quisesse sair pela garganta.
A dupla de irmãos observava Jungkook atentamente. Tinham os cenhos franzidos e as sobrancelhas curvadas, notoriamente desconfiados de algo.
Ao vê-los cochichando um para o outro, Taehyung se aproximou.
— O que acontece agora? — Perguntou, deixando-se levar pela curiosidade.
— Acabou — replicou Dean, com os olhos fixos em Jungkook.
Taehyung calou-se por instantes.
...Era só isso?
— Então agora Jeonggukie está bem? Quer dizer, sem esse tal de Samael e...
— Por que não vimos nada de ruim saindo dele? — Perguntou Sam, voltando-se para o irmão.
— Crowley disse que Samael vive trocando de casca sem que ninguém perceba. Talvez tenha fugido sem que pudéssemos ver.
— Impossível, a armadilha desenhada está intacta. Ele é forte, mas não o bastante para fugir dela.
Taehyung observava-os discutindo, alheios à sua presença.
— O exorcismo não funcionou — disse Castiel de repente, fazendo com que Taehyung se voltasse para ele.
Só então o Kim se deu conta de que o suposto anjo falava consigo.
— Sou Castiel — apresentou-se, estendendo a mão a Taehyung.
— Kim Taehyung — disse enquanto cumprimentavam-se. — Isso já deu errado outras vezes?
— Eu nunca vi dar errado — replicou Castiel, com a voz calma como de costume, porém expressando uma pitada de dúvida.
— É porque nunca falhou — interrompeu Dean. — A gente prende o demônio no círculo, faz o exorcismo e ele sai. É isso que deveria acontecer — disse, notoriamente estressado.
— Talvez tenhamos lido errado, podemos tentar de novo — argumentou o mais novo dos Winchesters, caminhando em torno da cama à procura de algo que justificasse o fracasso do ritual.
— Você e eu já lemos isso um milhão de vezes. Sabemos essas palavras quase de cor!
— E se... — sibilou Taehyung, hesitando ao ver todos aqueles pares de olhos lhe encarando. — E se não for um demônio? Vocês me disseram que era um cavaleiro do inferno.
— Ex-cavaleiro — acrescentou Castiel, objetivo.
— Talvez tenha razão — disse Dean, de repente mais motivado. — Sam, acho que vamos ter que pesquisar sobre isso.
— Mas nós já pesquisamos. Todos os sites e livros dizem que um exorcismo é o bastante.
— Então vamos ter que pesquisar mais sobre tipos de exorcismo e entidades que são imunes a eles — declarou, autoritário.
— Podem me soltar agora?
A voz de Jungkook se fez presente, relembrando a todos de que ele ainda estava preso firmemente pelas cordas.
Taehyung olhou para os Winchesters. Sam assentiu positivamente, enquanto Dean balançou a cabeça em negação.
— Dean — murmurou Sam, franzindo as sobrancelhas como se lhe perguntasse "como diabos você pretende deixá-lo amarrado por tanto tempo?"
O loiro suspirou, cedendo.
— Desamarre ele e solte uma das algemas, mas deixe uma delas presa em um dos braços — disse, direcionando um olhar de esguelha a Taehyung. — Ele não pode ficar sem usá-las.
Com um menear de cabeça cansado, Taehyung aproximou-se do Jeon.
Ao ver-se livre do aperto das cordas em seus pulsos — e de uma das algemas, permanecendo com apenas a que prendia seu braço esquerdo —, Jungkook sentou-se na beirada da cama, ao lado do noivo.
— E agora? — perguntou Jungkook, fitando Sam.
Dean parecia-lhe ter uma personalidade muito forte e mandona, algo que não o agradara.
— Agora, vamos ter que procurar outro jeito de capturar Samael — respondeu, sincero.
— Algo que não conte com a ajuda de Crowley, para sua segurança — ressaltou Dean, frisando os lábios.
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