A adolescente saíra de casa com um sorriso estampado em seu rosto jovial. Mas aquele não era um sorriso normal, como o de alguém alegre por sentir aquele sol sobre a face. Era um sorriso maligno, como o de alguém que planejava destruir uma vida.
Apertou a campainha e aguardou a resposta. Enquanto esperava algum retorno, ficou a admirar a beleza da residência. Um lugar amplo e decorado diversas plantas diferentes. Melody não teria uma casa dessas nem em seus sonhos. Quando pensou em apertar novamente aquele botão, percebeu alguém se aproximando.
Uma mulher baixa e de curtos cabelos castanhos, na casa dos quarenta, que vestia-se, no pensamento da representante, absurdamente mal.
- Bom dia. Que é que a senhorita deseja? - Disse, numa voz grossa e com toques de rouquidão.
- Oh, - ela estava um tanto atordoada, não era o tipo de recepção que esperava - eu estou procurando o Nathaniel. - Ao ver a leve confusão estampada no rosto da mulher, apressou-se em prosseguir a fala - Ele mora aqui, não?
Ela ficou em silêncio por um instante, logo abrindo um sorriso contornado por um batom rosa-choque que não aparentava ser da melhor qualidade.
- Ah, deve estar falando do garoto Nathaniel. A senhora Adelaide me falou dele. Parece que o menino saiu de casa e foi morar com outra pessoa por aí.
"Isso não é nada bom.", pensou, piscando os olhos azulados.
- Pode me falar mais sobre isso?
- Ah... - Ela olhou para trás, rapidamente. - A senhora Adelaide não entrou em maiores detalhes, não. Mas provavelmente deve ser coisa de adolescente rebelde.
Melody tentava segurar a irritação diante tal informação.
- Hm. - Segurou a alça da bolsa. - Bem, obrigada, de qualquer forma.
Saiu, a passos rápidos. Iria tirar satisfações com Nathaniel, sem dúvida alguma.
***
- Parece realmente estúpido, mas têm gente que leva a sério. - O ruivo explicou.
- Parece estúpido? É estúpido! - Respondeu Nathaniel. - Mas qual você prefere?
Castiel segurou o queixo pensativo.
- Hmm. Ozzy Osbourne. - O loiro arqueou uma sobrancelha. - Não me olha assim, não foi você que disse que essa discussão é estúpida?
- É estúpida justamente por isso! O vocal do Dio é mil vezes melhor! A voz do Ozzy é péssima.
- Você têm ideia da heresia que você tá dizendo? - Castiel ria alto com o que o representante ao seu lado falava. - Comparado com o vocal do Black Metal, como Dimmu Borgir, que você já conhecia, o vocal do Ozzy é como um cântico dos anjos. Sem falar que ele é muito mais original e sem ele uma das maiores bandas de Heavy Metal da história poderia simplesmente não existir! Vai por mim, você começou a escutar essas coisas ontem mesmo, não diga o que não sabe.
- Engraçado que quando o assunto é temas escolares, você não sabe de nada, mas quando é sobre música, você é como uma enciclopédia ambulante! - Nathaniel gargalhava com ironia enquanto caminhava com o ruivo pelos corredores.
- Eu tenho facilidade com o que me interessa. - Castiel deu um sorriso. Andaram em direção à porta do grêmio e pararam. Não queriam que a conversa parasse tão cedo. - É difícil acreditar que eu tô discutindo sobre Black Sabbath com o cara mais careta de toda a Sweet Amoris.
- Sério que ainda me acha careta? - Nathaniel tinha um sorriso largo. Olhou para os lados rapidamente e ao constatar que não havia ninguém pelos arredores, beijou o ruivo com vontade.
Encerrou o beijo após alguns segundos. Sentia o coração batendo rápido. Aproximou-se ainda mais de Castiel e sussurrou em seu ouvido:
- Ainda vou te mostrar quem é o careta.
As faces de Castiel estavam tão rubras quanto seus cabelos.
- Ansioso por isso, representante. - Ele respondeu, sorrindo de um jeito malicioso.
O presidente do grêmio girou a maçaneta redonda e abriu a porta, dando de cara com Melody. Ao enxergá-la, o sorriso que o ruivo mantinha se esvaiu como fumaça ao vento.
- Bom dia, Nath!
- Hã... - Ele estava um pouco perplexo. - O que você faz aqui tão cedo?
- Ora, é isso o que eu gostaria de perguntar ao seu amigo, aí. - Falou, se referindo a Castiel. - Não é ele que sempre chega atrasado?
- Escuta aqui, eu acho que isso não é da sua con...
- Castiel!! - Nathaniel disse, reprendendo-o como se fosse uma criança. Era o que parecia, às vezes.
- Beleza. - Havia asco na voz do adolescente. - Eu vou indo, tenham toda a liberdade do mundo, aí. - Saiu, batendo a porta. Melody juraria ter visto fumaça escapando da cabeça daquele delinquente.
- Nossa. - A garota cruzou os braços. - Quanta falta de educação, não é, Nath?
O loiro segurou-se para revirar os olhos ao escutar o apelido saindo dos lábios pintados de rosa da garota. O tom que usava ao se referir a ele era meloso e enjoativo.
- Não deveria falar dele assim. - Respondeu ele, baixo.
- Ora, mas por quê? Vocês viraram amigos agora? - Ela arqueou as sobrancelhas, em tom de sarcasmo.
- Isso é, por acaso, algum problema pra você?
- Ah, não, não, imagina. - Ela descruzou os braços. - Mas é que, você sabe, vocês são tão diferentes. Além do fato daquele moleque ser um completo ignorante...
- Ah, Melody, por favor, chega. - Havia um tom irritado na voz de Nathaniel.
"Droga", pensou a adolescente. Estava sendo muito precipitada e estava deixando seus sentimentos odiosos transparecerem facilmente. Apressou-se em trocar de máscara.
- Oh, desculpe, Nathy. Não quis ofendê-lo. - Chegou mais perto e passou a mão pelas costas do outro. - Mas você sabe como ele é. Nathizinho... Você não tem medo de se decepcionar com essa aproximação, às vezes?
- Não... Claro que não tenho. - Nathaniel sorriu fracamente, faltava confiança em suas palavras.
- Hmm... Ah, espera! - Ela pegou a bolsa jeans. Procurou algo lá dentro e retirou um livro. Havia o comprado há um bom tempo, e finalmente encontrara um bom uso àquele monte de papel que certamente não leria - Sei que ainda faltam uns 3 meses pro seu aniversário, mas um presente nunca é demais. Certa vez você me disse que ainda não tinha lido esse.
Nathaniel o pegou. "Hercule Poirot quitte la scène", era o título, em francês. Era um livro de Agatha Christie, uma dos escritores que mais admirava.
- Eu sei que você gosta daqueles onde a gente quebra a cabeça tentando solucionar o mistério, mas essa é a última aparição de Hercule Poirot então...
- Ah, Melody... Nossa, obrigado. - O loiro estava feliz com aquele presente inesperado. - Obrigado mesmo. - O par de olhos dourados brilhava, admirando a capa.
Melody sorriu. Seu plano estava só começando.
"Você vai ser só meu, Nathy..."
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