O garoto de cabelos platinados andava tranquilo pelos corredores quase vazios. Estava completamente desligado do mundo, enquanto lia e relia um poema que havia escrito.
"Por horas e horas, eu me perderia
Nesses olhos escuros como uma noite sem lua.
Todos os dias, eu morreria
Apenas para sentir a minha boca na sua.
Nem que fosse
Uma última vez."
Fechou o bloco de notas e o colocou-o no bolso do sobretudo.
- Ei, Lysandre. - A voz de Castiel chegou aos ouvidos do garoto.
Lysandre sentiu as batidas de seu coração aumentarem. Aquela voz irresistível. Lysandre nutria há muito tempo uma paixão secreta pelo melhor amigo e lidar com aquilo de forma natural era demasiado difícil. As coisas haviam piorado desde o dia em que beijara o ruivo, após um ensaio no porão da escola. Aparentemente, Castiel havia esquecido o ocorrido, já Lysandre, não.
- Olá, Cas. - Disfarçou seu nervosismo, e virou-se para o amigo, sorrindo.
- Você não vem pra aula? - Castiel estava com uma expressão fechada, que logo foi notada pelo garoto de cabelos prateados.
- Claro, claro. - Se aproximou. - Você está com uma cara péssima. Aconteceu alguma coisa?
- Vamos andando, falo disso depois.
Ambos caminhavam em silêncio. Castiel perguntava-se mentalmente se deveria falar o que ocorrera para Lysandre. Amaldiçoou-se. Claro que deveria falar. Ele era o seu melhor amigo, porém... O platinado era apaixonado por ele e certamente não seria nada simples explicar a história.
- Lys. - O ruivo começou a falar. - Eu e Nathaniel, nós... Aconteceram algumas coisas com ele então e passou a morar comigo.
Lysandre estranhou.
- Que tipos de coisas? - Uma pergunta feita por curiosidade e um toque de preocupação.
Castiel permaneceu sem responder. Não iria sair por aí falando sobre coisas íntimas a respeito de Nathaniel.
- Problemas de família. - Ele resolveu simplificar. - Um tanto graves.
Lysandre entendeu. Preferiu então não perguntar mais sobre aquilo. Permitiu que o amigo prosseguisse.
- Nós estamos morando juntos e por isso nós fomos ficando... próximos.
- Em que sentido? - O garoto de costumes vitorianos não estava ficando nem um pouco satisfeito com o rumo da conversa. - Próximos em que sentido, Castiel? - Repetiu a pergunta.
- Bem... Nós nos tornamos amigos, colocando as diferenças de lado, e com o tempo nós acabamos virando...
- Namorados. - Concluiu Lysandre, sério. Então era aquele o assunto dos bilhetinhos na aula de matemática.
- Não, não. - Castiel rapidamente respondeu. - Não somos namorados, nós só... nos beijamos de vez em quando, só iss...
- Já transaram?
O ruivo arregalou os olhos. Não era esse o Lysandre que conhecia, definitivamente. O adolescente que sempre se esforçava para parecer simpático e bem-educado tinha um tom raivoso e grosseiro na voz quando disse aquelas palavras. Castiel concluiu que não havia sido uma boa ideia falar sobre isso com ele, no final das contas.
- Não. E por que você se importa? - Mesmo sabendo da resposta, a pergunta foi feita pelo ruivo.
Naquele momento o platinado não soube o que dizer. Por que Castiel estava fazendo aquela pergunta? Sabia muito bem que Lysandre sentia uma forte atração por ele, mas mesmo assim perguntara, talvez simplesmente para humilhá-lo.
- Vá para a sala de aula sozinho. Eu vou ao banheiro. - Lysandre falou, simplesmente, saindo de perto de Castiel.
***
Jogou, mais uma vez, água fria sobre seu rosto. Olhou para a própria imagem no espelho e pensou no quanto era idiota. Lysandre pegou uma toalha de papel e enxugou as faces. Amassou-a e pôs na lixeira. Quando saiu do banheiro, se deparou com Melody.
- Olá, Lysandre. - Disse ela, sorrindo de uma forma estranha, aos olhos do platinado.
- Melody? O que faz aqui? - Perguntou, sem entender o motivo de estar, aparentemente, o esperando.
- Ora, não posso querer conversar com alguém de vez em quando?
- Hã... Claro que você pode. Sobre o que gostaria de conversar, exatamente?
- Hm. Não podemos falar nesse lugar cheio de gente, não é? - Ela pegou a mão de Lysandre. - Vamos para um local mais reservado.
Os dois foram até o pátio, onde não havia ninguém. Sentaram-se em um banco.
- Então? - Lysandre continuava confuso.
- Eu sei o que você sente pelo Castiel.
Aquilo deixou o platinado sem palavras. Melody, ao ver a reação de Lysandre, sentiu-se vitoriosa. Ela havia escutado sorrateira a conversa dos dois, e pôde enxergar os sentimentos do garoto de cabelos cor de prata perfeitamente. Naquele momento, soube como usar aquilo a seu favor.
- Ah, Lys. Não precisa ficar assustado. Eu sou uma amiga. - Ela sorriu, fingindo um tom de companheirismo na voz. - Eu posso te ajudar a ficar com ele.
Por um segundo, os olhos heterocromáticos do garoto brilharam. Entretanto, ele adquiriu um ar melancólico em seguida.
- Não sei se adiantaria. Ele ama Nathaniel, não a mim.
- Você não entende o que eu pretendo fazer? - Melody pôs a mão no ombro do outro. - Eu amo Nathaniel, Lysandre.
Aquilo não surpreendera-o. Já desconfiava dos sentimentos da representante pelo presidente do grêmio, todos da escola já suspeitavam.
Afinal, ele acabou entendendo o que a representante ao seu lado estava planejando.
- O seu plano é separá-los. Eu ficarei com Castiel, e você, com Nathaniel.
- Exatamente. Todos ficam felizes, não é? - Melody sorria como louca. - Você me ajuda, e eu te ajudo, que tal?
Lysandre pensou naquilo. Amava Castiel profundamente, mas sabia que aquilo que Melody estava propondo era absolutamente errado.
Suspirou, seus sentimentos eram fortes demais para controlar.
- Eu aceito a sua proposta. - Disse ele, por fim.
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