Ponto de Vista Alasca Mackenzie
— Bom dia, Mike. — senti o outro lado da cama se movimentar e me virei para ver meu marido se levantando.
— Bom dia, Alasca. — suas palavras eram frias e diretas. Mike acordava de mau humor todos os dias, mas eu nunca conseguia me acostumar com isso. Sinto falta do marido carinhoso e apaixonado com quem me casei. Só havia sobrado um homem ignorante e que chegava todos os dias bêbado em casa.
— Onde você vai? — perguntei.
— Me arrumar para fazer o que você não faz: trabalhar. — revirei os olhos.
— Eu não trabalho porque você não deixa, Michael. Você sabe muito bem disso. — e realmente era verdade. Ele tinha ciúmes até da minha sombra.
— Meu dinheiro sustenta nós três, não preciso que você trabalhe, muito menos que conheça outros homens e saia por ai me traindo na primeira oportunidade que tiver. — deu de ombros, entrando no banheiro.
As palavras dele me machucavam de uma forma inexplicável. Isso porque apesar de ser do jeito que ele é, eu ainda o amo e tenho esperanças de que um dia ele vá mudar, mas ouvir todos os dias que você é uma vagabunda que não é digna de confiança doía muito.
Levantei para ir até o quarto da minha pequena. Abri a porta de vagar e percebi que ela já estava de pé, com os cabelos enrolados na toalha e já vestida. Levantei uma de minhas sobrancelhas e me aproximei.
— Você tomou banho sozinha? — perguntei, surpresa.
— Sim, mamãe. — arregalei meus olhos, assustada.
— Você não pode fazer isso, Alice. Imagina se você se machuca? E se eu estiver longe e não conseguir te ajudar a tempo? — senti um aperto no peito só de pensar nisso. — Me prometa que não fará isso novamente.
— Num vô! — peguei Alice no colo e a abracei com força.
— Isso tudo é ânimo por ser seu primeiro dia na escola? — ela assentiu e eu sorri. — Então pega a escova que a mamãe vai fazer uma trança bem linda em seus cabelos.
Coloquei minha menina no chão, que correu para pegar o que pedi. Ela estava mais animada do que nunca e osso me deixava muito feliz.
Penteei seus fios cor de ouro, enquanto cantava uma pequena canção, fazendo com ela batesse palminhas. Fiz uma trança linda e amarrei o fim. Ali foi até seu espelho e sorriu assim que viu sua imagem. Não podia negar que ela era minha cara, não tinha quase nada do Mike.
Fui ao meu quarto e tomei um banho rápido. Meu marido já havia saído sem nem me avisar, mas eu já estava acostumada com isso. Coloquei uma roupa qualquer e peguei o carro na garagem. Ajeitei Alice na cadeirinha e nós partimos. A escolinha era perto de casa e em menos de quinze minutos eu já estava estacionando. Minha pequena estava muito animada e eu não continha o sorriso ao vê-la daquele jeito. Peguei-a de dentro do carro e dei sua bolsa de rodinhas para que carregasse. Segurei sua pequena mãozinha e caminhamos até chegar na secretaria.
— Bom dia, meu nome é Alasca Mackenzie e é o primeiro dia da minha filha, Alice Mackenzie. — ela revezava o olhar entre mim e Alice.
— Sejam bem vindas. — sorriu, simpática. — Meu nome é Emily Greene. Me desculpem por meus olhares, é que vocês são incrivelmente lindas.
— Muito obrigada. — lhe lancei meu melhor sorriso, mas eu estava preocupada de deixar minha filha. Eu não queria desgrudar dela.
— Ela pode me acompanhar e você pode vir busca-la às três. — era muito tempo longe dela, pela primeira vez em nossas vidas.
Abaixei para ficar a altura dela e a abracei. Dei alguns beijinhos em seu rostinho e ela sorriu.
— Se comporte, tá bom? — ela assentiu. — Eu amo você.
— Amu muuuuito mais!!! — ela abriu os bracinhos e eu acariciei seu rostinho. A moça se afastou e eu voltei para o carro.
Já eram oito horas da manhã e eu tinha que passar no hospital para pegar o resultado dos exames de Ali. Eu e Mike estávamos desconfiando que ela estivesse com alguma doença. Seus sintomas eram dores no corpo, falta de ar, tosse com um pouco de sangue e perda de apetite. Fizemos todos os exames a duas semanas mas o resultado só saía essa semana.
Dirigi por exatamente 45 minutos até chegar no hospital particular. O doutor Fields já estava me esperando. Sorri ao entrar na sala, mas ele não retribuiu. Senti o nervosismo presente no local e me sentei.
— Senhorita Mackenzie. — pegou em minha mão.
— Doutor Fields. — retribui o aperto.
— É... Bom... Nós analisamos os exames da Alice e... — ele estava enrolando para falar, me deixando mais nervosa ainda.
— Seja direto, Damian. — eu o conhecia a muito tempo para ficar com informalidades.
— Alice está com câncer pulmonar. — ele praticamente cuspiu as palavras em meu rosto. Naquele momento eu não sabia o que fazer, só sentia meu mundo caindo e o chão se abrindo sobre meus pés.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Percebi o olhar piedoso de Damian me encarando, mas não deixei que ele falasse mais nada. Peguei os papéis de cima da mesa e sai correndo da sala. Em poucos segundos já estava em meu carro.
Eu não queria ir para casa e ficar sozinha, então fui para um bar que meu marido frequentava. Pedi uma dose de Whisky e virei de uma vez só. As seguidas foram de tequila, cachaça, vodca pura e o que de mais forte tivesse ali. Acho que passei umas boas três horas dentro daquele bar, vendo pessoas saírem e entrarem, casais felizes, outros brigando, pessoa sozinhas... Mas era o melhor lugar para ficar no momento, onde eu sabia que ninguém iria me fazer perguntas. Assim que me levantei para sair, vi Michael entrar. Hoje era segunda-feira, o único dia da semana em que meu marido saía mais cedo, às duas horas. Ele me encarou, confuso. Eu sabia que ele iria a esse bar sempre e realmente quis vir para encontra-lo. Ele se aproximou e eu já estava esperando por suas perguntas, mas antes disso, eu falei:
— Só me siga, por favor. — tentei passar por ele, mas ele segurou meu braço.
— O que aconteceu? — perguntou.
— É importante, Michael. Vamos para casa, precisamos conversar.
— Eu vou beber algo e já te encontro, Alasca. — assenti e fui para meu carro.
Eu não estava muito bem, mas também não ficava bêbada facilmente. Peguei Alice na escola e fomos para casa. Não troquei muitas palavras com ela, não sabia o que falar. Dei banho, comida, brinquei um pouco com suas bonecas e ela adormeceu. Já eram oito horas da noite quando Mike chegou. Ele estava muito alterado.
— O que você quer? — ele estava quase caindo de bêbado.
— Acho melhor conversarmos outra hora. — eu realmente não queria falar com ele nesse estado, sei como ele fica agressivo quando está assim.
— Não seja uma vadia, Alasca. Desembucha! — sua voz me deu medo. Tentei me afastar mas ele não permitiu.
— Você está alterado, Mike. Amanhã conversamos. — ele me lançou um sorriso sarcástico enquanto me prensava na parede.
— Você vai me dizer e vai ser agora. — seu rosto estava próximo ao meu e eu senti seu bafo de cachaça.
— Tudo bem, mas me solte. — ele pensou por um tempo mas me soltou aos poucos. — Eu fui pegar os resultados dos exames da Alice.
— E o que deu? — ele passou as mãos nos cabelo.
— Ela está com câncer de pulmão, Mike. — soltei a bomba de uma vez e seu olhar perdeu completamente o brilho. Parecia estar perdido.
— Como assim? Câncer de pulmão não é pra quem fuma? — ele se sentou.
— Não apenas para o dependente, mas você fuma e isso pode ter causado... — ele não deixou que eu terminasse de falar.
Se levantou e veio pra cima de mim. Me empurrou com toda a força na parede e eu bati a cabeça.
— Você está dizendo que a culpa é minha?! — gritou.
Minha cabeça doía. Eu estava ficando tonta e minha última visão foi dele vindo novamente em minha direção com os punhos levantados. Depois disso eu desmaiei.
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