História Emissarium - O motivo da expiação - Capítulo I - Desconforto

O Desconforto

    Meggam Ibelin Lusignan  era uma garota normal de dezessete anos, comportada, ria com qualquer bobagem embora seja tímida, vivia alegremente. Meggam é inteligente e está prestes a terminar o ensino médio. Na reta das provas finais estava confiante de que iria passar vitoriosa.
    Em uma manhã qualquer de Setembro, Meggam foi para o trabalho, era garçonete de um Café que não ficava muito distante de sua casa, possibilitando-lhe ir andando todos os dias. Seu fardamento constituía-se de uma blusa branca de botões, de mangas longas que precisavam ser dobradas pois era inicio do verão, uma calça de cintura alta que ficava por cima da blusa com três botões grandes e enfeitados por pequenas pedras vermelhas brilhantes, sapatos pretos estilo boneca, meias brancas e um avental que chegava a um palmo e meio acima de seus joelhos. Sempre com seus cabelos presos Meggam atendia os clientes com um belo sorriso e um ''Sejam bem vindos!'' acolhedor. 
    A algum tempo atrás seus cabelos eram volumosos e longos, chegavam perto de suas coxas, eram de um tom indefinido de loiro pois tinha fios dourados, outros mais acinzentados e alguns tão loiros que pareciam ser brancos. Hávia dito a um mês atrás que achava que lhe davam muito trabalho e ''decidiu''  corta-los à altura dos ombros, não muito curto para que fosse possível prende-los. Suas amigas haviam ficado pasmas com sua coragem e tristes ao mesmo tempo por que pensavam que Meggam sofria de auto-estima baixa e devia estar se sentindo feia ou algo assim, mas Laila, sua melhor amiga, sabia que ela não lhes contaria o real motivo da súbita mudança. O real motivo até Meggam queria esquecer.
    Uma tarde que não tiveram as aulas como o de costume por uma reunião de professores desavisada previamente, Meggam saia da escola em direção a sua casa, ela decidiu ir andando mesmo, pois o clima estava bastante agradável não muito quente e com uma brisa fresca, quando um grupo de meninas a deteve. Eram no total três meninas e usavam o mesmo uniforme que Meggam, ou seja, estudavam na mesma escola. 
    Meggam nunca havia conversado com nenhuma das três embora já cruzou muitas vezes com elas nos corredores da escola. Uma delas era alta e esguia com cabelos castanhos presos  num rabo de cavalo e sorria deixando as borrachas verdes do aparelho nos dentes aparecer , a outra era rechonchuda e marrenta usava um cabelo channel de cor vermelho desbotado atenuando suas bochechas que mais pareciam as de um lutador de sumô  e a  terceira parecia liderar o grupo, era magra, de porte mediano e muito bonita, seus cabelos eram negros e muito lisos, longos e soltos até a cintura tinha olhos cor de mel ameaçadores e um tom de voz que convidava qualquer um para  confusão.
- Ora! Quem temos aqui? A preferida dos professores.- a garota disse rodeando Meggam. - Você não acha perigoso andar por aí sozinha querida? - As duas garotas de trás riram secamente ao ouvirem o tom de escárnio na pronuncia da ultima palavra.
-Olá meninas! - hesitou por um momento... - Não vejo mal. - fez forças para não gaguejar nem demontrar o desconforto que a situação lhe causava.       - Precisam de algo? - Meggam podia sentir que se havia algum perigo, acabara de encontrar com ele.
-Eu me chamo Diana e essas são Suzi e Ruth.- apontou para as duas garotas que estavam atrás - Vínhamos nos perguntando, como uma garota como você matem essa bela "crina" que ostenta por aí escola a fora?- Os olhos de Diana semicerraram com um ar ameaçador enquanto observava Meggam, rodeando-na.
-Meninas p-por favor,...- Meggam respirou fundo tentando encobrir o nervosismo. -Não busco confusão, muito me agrada que admirem os meus...- foi interrompida de súbito.
Diana em um gesto transbordando ira comandou o bote, as duas avançaram em Meggam segurando-lhe os braços. Embora Marta fosse fora de forma era bastante ágil para a triste surpresa de Meggam, Diana se aproximou com um sorriso maquiavélico e tirou de sua bolsa uma tesoura girando-a entre os dedos.
    Meggam encolheu os ombros e sabia exatamente o que aquilo significava e engoliu em seco, comprimiu o máximo que pode as suas pálpebras tentando sair dali mesmo que só em pensamento, não queria pensar no que estava acontecendo, se quer podia acreditar. 
    Em instantes seus cabelos estavam em pedaços no chão, paralisada, Meggam não conseguia se mover e duas cálidas gotas escorriam em sua face. As garotas gargalhavam conscientes de estarem com o total controle da situação. Largaram Meggam e se afastaram tranquilamente como se nada tivessem feito. A garota de aparelho Suzi e a rechonchuda Marta saíram disfarçando até que Meggam perdeu elas de vista quando dobraram a esquina da rua a sua frente. Diana a observava, parecia se deliciar com a visão de Meggam caída, abatida e desolada.
-Até mais cachinhos dourados ou digo ex-Rapunzel?! Hahahahaha- E Diana foi a ultima a se afastar.
    Meggam ficou olhando aquela que seria uma nova e primeira inimiga se afastar e sumir como um pontinho rua à frente. Olhou seus cabelos picotados no chão e os segurou secando suas lágrimas com eles. Quando Meggam deu por sí, já havia anoitecido e sua mãe deveria estar preocupada. Voltou para casa mas antes passou em um salão e amenizou o estrago feito, usou parte se suas economias para isso, fazendo que as pessoas ao seu redor não se chocassem tanto diante ao novo visual e nem se preocupassem com ela.
    Voltando à cafeteria atualmente.
    Terminou seu expediente e Meggam corria para casa, assim que chegou foi em direção ao banheiro tomar uma ducha rápida e colocar o uniforme da escola que era bastante comum, camisa branca de gola dobrada e mangas curtas com brasão da escola estampado por cima do bolso na altura do peito no lado direito, uma saia pregueada cintura alta azul marinho com um comprimento até os joelhos e sapatilhas pretas com meias finas sete oitavos brancas. Se encaminhou em direção a cozinha e pegou seu almoço que sempre deixava pronto de um dia para o outro na geladeira dentro de uma pequena vasilha de vidro, não dando trabalho algum para sua mãe que já tinha certa idade e não era de fácil convivência pois sempre estavam brigando ou discutindo. Meggam achava que sua mãe Wanda Ibelin Lusignan  fazia um grande esforço para discordar de tudo que Meggam apoiava ou investia como cursos, causas sociais e até no estilo musical ela reprovava-a, mas Meggam mesmo assim a amava, não pensaria em outra pessoa para ser sua mãe. Enquanto ao seu pai, ela nunca o conheceu, nem se quer sabe quem é. Sua mãe não tocava o assunto não adiantava o quanto Meggam insistisse. 
Esquentou seu almoço no Micro-ondas e comeu com um pouco de pressa, que nem a incomodava mais pois já estava acostumada com a sua rotina, lavou a vasilha e os talheres rapidamente e saiu.
Se encaminhou para a escola pegando sua mochila e deixando um bilhete dizendo para sua mãe que chegaria mais tarde, pois naquele dia,  depois da escola, sairia com Laila, sua melhor amiga desde o jardim de infância.
    Na escola Meggam não queria chamar a atenção nem ser popular, era o que menos queria, achava toda aquela atenção inconveniente e estressante, mas todos os professores a respeitavam por seu bom comportamento e suas excelentes notas e muitos outros colegas por sempre estar ajudando a todos explicando vários assuntos de diversas disciplinas. Isso atraía uma onda de inveja e ciúmes das garotas e até garotos populares do colégio. 
    Ela fingia não se incomodar mas a própria Laila vivia  constatando quanto eram incomôdos aqueles olhares. Meggam agradecia todos os dias por Laila e ela estudarem na mesma escola e na mesma sala,  afinal começaram os estudos juntas e desde então nunca mais se separaram, bom pelo menos de escola, pois no sexto ano estudaram em classes diferentes o que foi uma experiência nada divertida para Meggam que só podia ficar perto de Laila nos intervalos das aulas, e por Meggam ser muito tímida não fez um novo amigo se quer naquele ano letivo.
     Já estavam no terceiro ano do ensino médio e isso só seria um passo em suas vidas. Meggam não fazia a miníma ideia do que realmente queria ser. ''Médica?'' ,não suportava ver uma gota se quer de sangue, ''Professora?'', não, morria de medo de falar em público, com isso se descartam mais um tanto de opções como ''musicista'', ''politica'', entre outras. O fato é que Meggam estava perdida quando se tratava da sua carreira profissional.
    A primeira aula era de Biologia, matéria que não subia a cabeça de Meggam, mas ela se esforçava para tirar boas notas sempre independente da matéria. Laila tinha tanta sorte por amar biologia, ela dizia querer ser veterinária, amava animais e  quando eram crianças, Laila sempre aparecia com um bichinho: gato, cãozinho ou pássaro para curar-lhes as feridas e alimentar-lhes.
     Laila tinha olhos castanhos avermelhado, cabelos curtos  mas bonitos e brilhantes, ela sempre pintava de vermelho porque dizia que queria ter nascido ruiva, Meggam sempre ria dessa confissão. Ela tinha pele morena clara como oliva, era alta medindo 1,73m e seu corpo tinham curvas sinuosas, desde mais nova já chamava a atenção, seu olhos eram sensuais e era muito atrevida. Enquanto Meggam era como se julgava, média em tudo! Seus cabelos não eram lisos nem cacheados demais, eram repletos de ondas e cachos grandes nas pontas , quando compridos caíam como cascatas em suas costas, seus olhos eram verdes com tons de amarelo que transpareciam uma inocência e pureza surreal, amendoados não muito grandes e quando ria pareciam desaparecer de seu rosto formando apenas os risquinos enrugados de como Laila dizia ''-Quando você rí parece uma criança, rí fazendo careta! hahaha''. Era de estatura mediana, não era gorda e nem magra, porte mediano, não tinha seios grandes como os de Laila mas também não era totalmente reta e sua pele era clara  de um tom rosado por causa do constante contato com os raios solares, com uma pintinha ou outra no rosto, braços e pernas.
    A aula parecia não ter mais fim. A mesa de Meggam e a de Laila eram juntas, mas elas cuidavam pois era proíbido conversar em aula, e não queriam repetir o ocorrido do mês passado de ir parar na detenção por causa das crises de riso de Meggam que não conseguia ouvir uma piada e ficar quieta. Meggam estava especialmente dispersa aquela manhã, não conseguia se concentrar em nada, parecia que sua mente estava flutuando para fora daquela sala e por questões de milésimos de segundos ela sonhou acordada com o que pareciam chamas e uma sombra que delineava uma silhueta grande e imponente, não se via os olhos mas sabia estar olhando não para ela em sí, mas sim para sua alma. Despertou com um tapinha que Laila lhe deu percebendo o afastamento da amiga,logo se recompôs. Passaram as aulas e chegou a hora que as duas amigas mais esperavam, pois iriam ao Shopping da cidade.