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História Enchanted - Contos Fenomenais de Im Un


Escrita por: blackwidow123

Notas do Autor


~oláááá~
voltei tarde? antes tarde do que nunca, né? rsrsrsrsrsrsrs
irmãos e irmãs, nos vemos nas NOTAS FINAISSSSSS

Capítulo 13 - Contos Fenomenais de Im Un


Fanfic / Fanfiction Enchanted - Contos Fenomenais de Im Un

21:00

Hoseok

Ainda consigo sentir a ponta de seus dedos encobertos pelas luvas tocando meu rosto.

Ainda tá fresco na minha mente Jimin chegando bem na hora.

CACETAAAAA.

— Hoseok? — Wendy, uma Enchanted que apesar de eu ver eventualmente na escola, eu só vim conhecer, hoje me chama, me tirando dos meus pensamentos.

Wendy e HyungWon não apareceram na primeira reunião, apesar de Tzuyu ter citado seus nomes. Jin nos apresentou, e descobri que Wendy, que tem a pele muito clara e cabelos tingidos de loiro, possui o dom da Linguística, assim com Tzuyu. Mas tem uma diferença: Tzuyu praticamente controla a lingua humana, ou seja, pode falar todo o idioma do planeta que quiser, sem nunca sequer ter estudado pra isso. Wendy domina a lingua animal: entende tudo o que dizem, e se comunica facilmente com eles. Por isso ela se dá tão bem com Jimin!

Vai dizer que isso não DEMAIS?

Por outro lado, HyungWon, o menino alto de cabelos escuros e com expressões hilárias possui a capacidade se se teletransportar para onde quiser. Quero dizer, se ele quiser ir NESSE MOMENTO para a Arábia Saudita e voltar, ele pode! Até me contou que vai a Disney direto sem pagar, embora Yoongi e Namjoon tenham brigado com ele e dito que isso é contra as "Regras da comunidade Enchanted".

Ah, esse poder teria me ajudado tanto há uns anos atrás, quando minha avó disse que não tinhámos um puto no bolso pra viajarmos pra tão longe... Duvido que eu ia pensar em regras da comunidade.

— Fala. — Eu respondo, sorrindo.

— Que horas vocês vão cantar o parabéns...? Me desculpa mesmo, é que preciso ir embora cedo, meu pai é muito chato com essa história de me deixar sair... ainda que seja perto de casa. — Wendy bufa.

— Sem problema, a gente pode cortar agora! Vamos chamar o pessoal! — Digo, e ela sorri agradecida.

Encaro o relógio. Caramba, nove da noite, já??? A sorte é que minha avó já foi pra Busan, ou ela ficaria preocupada.

Depois que Jimin nos viu lá fora, corri pra dentro da Panela feito um babaca, e deixei Yoongi com Jimin lá fora. Ainda não consigo acreditar que aquilo aconteceu de verdade. Ele estava tão perto... 

Por que estou tão nervoso? Que isso, nada demais, é só porque estou terrivelmente atraído por um GAROTO!

Talvez eu seja bi...? Não que eu tenha sido um arrasador de corações de mulheres durante a minha vida, isso não! Mas sempre me vi como um heterossexual. Quer dizer, beijei UMA garota a minha vida toda, e até namorei um mês com ela, até me deixar alegando que queria dar um tempo, e que "o problema era com ela, não comigo." Uma semana depois, eu a vi aos beijos com o Kimchi. Kimchi era uma garoto que recebeu esse apelido porque comeu tanto Kimchi que teve diarreia durante a aula de matemática. Nenhuma menina queria chegar perto dele, claro.

Fui trocado pelo Kimchi.

Ehhhh, vida boa!

E Yoongi... como explicar que eu não paro de imagina-lo o tempo todo POR MAIS QUE EU ME ESFORCE PRA PARAR COM ISSO? Semana passada, passei a tarde toda de uma sexta-feira mergulhado em uma tristeza surreal depois de me pegar pensando como Yoongi não enlouqueceu completamente vivendo com aquela escrota. Minha avó inclusive quis me levar ao médico, pensou que eu estava passando mal ou algo do tipo. Toda e qualquer comida que a minha avó faz me lembra ele, já que Yoongi adorou o bolo da minha avó, que eu levo com frequência pra ele na escola! E só de pensar que Jin me disse que Hea às vezes o deixava com fome, quando ainda era mais novo.

Só de pensar que provavelmente por minha causa ele mudou tanto (pra melhor), eu começo a sorrir que nem um completo retardado! Mas aí aquele aperto no coração vem quando descubro que ele com certeza é heterossexual (assim como EU pensava ser há pouco tempo, né), já que parecia bem alegrinho em aceitar o convite daquela garota do segundo ano. Será que ele percebeu minha reação, que não foi das melhores? E o pior: que chance eu tenho contra aquela menina, que mais parecia uma boneca? Tô fodido, mesmo!

Mas ele segurou o meu rosto de uma maneira tão... esquisita.

Preciso contar isso pra alguém. Tem que ser...

— Ei, Hobi, vamos tirar a foto! — Jimin fala. Ele mesmo.

Eu tinha até me esquecido que ele foi lá fora nos interromper porque tinhámos que tirar foto.

Todos se juntam próximo a mesa de bolo, e Kookie-ah se encarrega de fazer a selfie.

— Todos digam "Yoongi"! —​ Ele fala, fazendo a gente rir. No final, a foto sai muito massa, porque estamos espontâneos.

— Ok, agora vamos tirar fotos individuais! Nam, vai lá com Yoongi pra detrás da mes ! — Jin fala, batendo palmas de felicidade.

 — Fotos individuais? Como assim? — Yoongi pergunta, cruzando os braços.

— Você vai tirar foto com TODOS os convidados, moço! Esse é um momento histórico, tá? — Jin responde, parecendo uma mãe dando um bronca no filhinho chatonildo. Isso explica o fato de Kookie, Tae e Jimin chamarem ele de Omma de vez em quando.

— Peraí, isso é só uma festa surpresa de 18 anos, não sou uma debutante, Hyung! — Yoongi reclama, mas Jin o ignora e puxa Yoongi a força. Jin acaba gemendo de dor porque se queimou, uma vez que Yoongi foi forçado a tirar o moletom pra tirar as fotos, e este dá uma risadinha em sinal de vitória.

Mas Yoongi perde a batalha e acaba tendo que tirar fotos com todos atrás da mesa.

— Ficou ótimo Jimin, agora deixa o Hobi ficar aí. — Jin fala.

— É claro que eu deixo, Yoongi vai adorar... — Jimin fala com um expressão sacana, e eu o olho feio.

— Oi de novo. — Yoongi fala, com um expressão que oscila entre sorrir e não sorrir. Eu apenas aceno com a cabeça, e agradeço por só Jin e Jimin notarem o quanto estamos constrangidos.

— Cheguem mais perto, vocês dois! Se queimar a gente dá um jeito, Hobi! — Jin brinca, posicionando a câmera.

Se ele soubesse que não é por causa do poder de Yoongi...

Eu me aproximo lentamente, e nossos braços de roçam de levem. Surpreendente, não me queimo.

Ele está relaxado, afinal. Sim, isso me deixa feliz. Muito feliz! Hoseok, se controla...

— Isso Hobi, sorrindo... — Jin fala, e percebo que sorri involuntariamente... — Um, dos três... Foi! Lindos!

A câmera Polaroid de Jin produz a foto instantaneamente, e ele me entrega.

Sou apenas uns dois centímetros mais alto que Yoongi. Ele sorri de um jeito tão bonito na foto...

— Ficou legal, né? — Ele fala, me assustando. — Pena pra você que eu sou mais bonito!

Eu rio de suas provocações já tão comuns pra mim, e ele pega a foto com a mão enluvada, analisando-a.

— Fica pra você. — Yoongi abre a minha mão e coloca a foto em cima dela. Depois, ele vai fechando-a, envolvendo delicadamente meus dedos nela. — Mas tem que cuidar direitinho, ein! É a nossa primeira.

Nossa primeira foto... eu nem tinha pensado nisso!

Depois disso, ele se afasta para dar atenção a Kookie e Tae. Eu simplesmente adoro o fato de, apesar de serem amigos, Yoongi os trata como se fosse um pai, sempre preocupado, dando broncas e rindo das piadas que eles contam ocasionalmente. Quando Taehyung fala uma das suas incontáveis besteiradas, Yoongi solta uma gargalha extremamente rara e me encara piscando um dos olhos de forma travessa, praticamente do outro lado da festa. Sinto um arrepio por todo o corpo e me esforço pra conversar com Jackson e Baek, que falam sobre a festa de formatura animadamente.

A maioria das pessoas foram embora e sobram apenas eu, Yoongi, Namjoon, Jin, Jimin, Kookie e Tae. Permanecemos um bom tempo olhando para noite de sexta-feira estrelada, na pequena área frontal da Panela... Minha avó diz que quando o céu está desse jeito, é porque o tempo no dia seguinte vai ser ensolarado, sem uma nuvem no céu! E é verdade.

— Minha avó diz que as estrelas contam histórias de Enchanteds que já se foram há muito tempo... — Tae murmura, deitado no chão do pequeno quintalzinho da Panela. — Já ouviram falar disso?

— Sim, minha mãe contava essa história pra mim! — Jungkook responde, sorridente. — E também cantava as musiquinhas clássicas, mas acho que a que mais marcou foi Brilho Celeste.

​Que música é essa? — Indago, curioso.

— É um canção Enchanted conhecida por basicamente todos nós, é como se fosse um Parabéns pra Você, ​que é conhecido internacionalmente. Só que no meio Enchanted, claro! — Namjoon responde, sorrindo.

E aí, pra minha surpresa, Jungkook começa a cantar de olhos fechados e sereno:

Olha só, meu amigo,

quem brilha no céu...

é mais um enchanted

de espada é chapéu

Jimin, para meu espanto, complementa:

que a todo momento

se mostrou tão forte

e lutou bravamente, ai

se encontrando com a morte

Agora é Jin quem completa:

   se eu não posso ser livre

quem mais poderá?

um dia um enchanted

a todos eles mostrará

Yoongi, que está sentando ao meu lado de pernas cruzados e olhar fixo nas estrelas, continua:

que nenhum de nós é diferente

somos apenas humanos

​E então, me pego completando a última frase junto com ele:

de alma brava e inteligente.

Todos se assustam, INCLUSIVE EU, como o fato de ter acabado de completar algo que eu nem mesmo sabia da existência! O QUE FOI ISSO? Acho que tá bem claro o quão assustadora essa cane foi, tá estampado na cara de todos eles.

— Você... conhece a canção do Brilho Celeste? — Jungkook indaga, intrigado.

— E-eu. Não sei, eu... — Me enrolo todo, assustado. Tento tirar a atenção de cima de mim — Acho que eu escutei... Tzuyu cantando? Sei lá, acho que foi! Uma vez, na sala de aula.

— Ahhhh, sim! Legal! Podemos te ensinar outras! — Tae fala, animado.

O negócio é que Jungkook, Taehyung e Jin acabaram não ligando pra isso e realmente caíram na história da Tzuyu.

Mas Namjoon, Jimin e Yoongi não. Jimin franziu a testa por alguns minutos, mas acabou deixando pra lá e se juntando ao namorado e aos amigos. Yoongi ficou quieto depois disso, me lançando olhares furtivos de vez em quando. Mas de todos eles, Namjoon pareceu o mais incomodado. Eu o vejo anotando algo em seu caderninho, que ele SEMPRE leva consigo, empurrando os óculos que escorregam pelo nariz.

Aí tem coisa.

Na hora de ir embora, eu ainda estava envergonhado pelo fato de Jimin ter visto aquela cena mais cedo, então não me despeço muito bem dele e de Yoongi, que parece ter percebido, mas não diz nada. Jungkook me leva rapidamente pra casa, me abraça e volta em uma rajada de vento. Antes que eu possa abrir a porta de casa, Ele volta, agora com Jin nas costas.

— Algum problema? — Pergunto, confuso.

— Na verdade, sim, É só que da última vez que vim aqui, suas plantas da frente precisavam de um... up! — Ele fala, sorrindo.  — Pedi a Kookie-Ah que me trouxessem aqui pra isso.

E passa a mão por cima das plantas da minha vó. Na mesma hora, elas ganham tons de verde maravilhosos, e se erguem, de uma forma tão bonita que eu abro a boca, admirado.

— Agora, tchau! — Ele ri, e vai embora com Jungkook., que corre em disparada.

Eu já disse que adoro meus amigos?

Entro em casa, sentindo-me um pouco sozinho. Minha avó vai demorar pra voltar, então já vou me acostumando com a cozinha sem cheiro de comida deliciosa. Pois é, a vida é uma merda, as vezes!

Quando me jogo na cama, preguiçosamente, recebo uma mensagem no celular.

Yoongi: Chegou bem?

Sorrio como um bobo ao ler a mensagem. Uma sensação gostosa me preenche por completo, algo que eu não sentia faz tempo!

Ou talvez que eu nunca nem tenha sentido.

Eu: O que é isso? Tá preocupado comigo?

Yoongi: Eu? Aish, lógico que não, é só que se você morrer, quem vai fazer o trabalho de geografia comigo?

Eu: Aigoo, que horrível! Você é péssimo!

Yoongi: É brincadeira... ou não.

Resolvo deixa-lo no vácuo, pra ver como vai reagir.

Yoongi: Ei

Yoongi: Ou

Yoongi: Cadê você...?

Yoongi: Eu ia perguntar se você quer uma camiseta do Harry Potter muito maneira que tem aqui na casa do Namjoon, mas você não...

Eu: QUÊ

Yoongi: Haha, era só pra ver se você respondia.

Eu: YOONGI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Yoongi: Fica frio aí.

Yoongi: Oi?

Yoongi: Tem alguém aí?

Yoongi: Afe.

Yoongi: Agora é sério... vem aqui pra casa do Namjoon Domingo, ele quer falar com você.

Yoongi: Não me deixa no vácuo, porra.

Yoongi: Merda

Yoongi: Caralho.

Eu: Eu vou! Desbocado! Avisa aí pra ele.

Yoongi: Tá.

Eu: Tá.​

Yoongi: Legal

Eu: Legal

Yoongi: Ok.

Eu: Ok.

Yoongi: Desliga esse celular.

Eu: Desliga você.

Yoongi: Tchau. Boa noite, Harry Potter.

Eu: TCHAU

14:00

Yoongi

—​ Namjoon, só me responde uma coisa: como raios você consegue deixar esse quarto sem uma poeira fora do lugar? —​ Pergunto ao meu amigo, ainda desacostumado com tanta organização.

—​ Eu tenho TOC, você sabe... se algo estiver fora do lugar, nem consigo dormir direito! —​ Ele ri em resposta.

—​ Você é esquisito, disso eu sei! —​ Falo, balançando a cabeça.

​ Eles estão no quarto, querido! Pode ir lá! —​ Ouço a voz da senhora Kim, provavelmente no final do corredor.

—​ Obrigado, senhora Kim! —​ Dessa vez, é Hobi quem fala.

—​ Que bom que você chegou, Hobi! Senta aí! —​ Namjoon o cumprimenta assim que ele entra pela porta.

Como ele tá cheiroso, puta merda... seu cheiro vem até aqui, e ele ainda está próximo da porta. Seus cabelos rosa estão desbotados, provavelmente por causa das lavagens, além de estar usando uma camiseta com a frase "Eu juro solenemente não fazer nada de bom!" ​Não sei o que significa e nem o contexto disso, mas acho até divertida. O casaco quadriculado amarrado na cintura e o sorriso tão natural me trazem aquela sensação de bem-estar, só a sua aproximação já me deixa...

—​ YOONGI! —​ Namjoon berra meu nome, me fazendo pular da cama dele, onde estou sentado. —​ Terra chamando Min Yoongi! Tava dormindo de olho aberto, Hyung?

Abro e fecho a boca várias vezes na intenção de responder algo, mas acabo ficando calado mesmo.

Hobi solta uma risadinha e se senta ao meu lado. Ele não sabe muito bem como me cumprimentar e apenas faz um aceno de cabeça e solta um "Oi". Já com relação a Namjoon, ele dá um abraço, que apesar de ser rápido, me deixa irritado. Ah, Namjoon ganha abraço??????

​Ele com certeza agiu assim por causa do meu aniversário na Panela. O babacão do Jimin passou a NOITE INTEIRA fazendo piadinhas NADA discretas. Ainda bem que nossos amigos são lerdos o suficiente pra não terem desconfiado de nada, ou talvez tenha sido difícil perceber algo assim. Hobi nem se despediu direito de mim, por causa do idiota!

—​ Então o assunto é poderes do Hobi, né? Acho que posso me retirar... —​ Começo, mas Namjoon me segura pelo braço.

—​ Nada disso. Você fica. —​ Ele diz, indicando a cama com a cabeça.

Eu o olho intrigado, me sentando novamente.

—​ Não é SÓ sobre o Hobi, mas sobre você também. —​ Namjoon diz, concentrado em seu caderninho que mais parece uma parte do seu corpo. Ele dirige o olhar para Hobi —​ Bom, eu venho estudando demais sobre o seu caso, além de revirar essa casa do avesso pra tentar achar qualquer página de livros antigos, que foram possivelmente arrancadas... e olha, acho que fui minimamente bem sucedido nessa aventura!

—​ Eita! Não acredito! —​ Hobi exclama, encarando um pedaço velho de papel nas mãos de Namjoon, que o balança com uma expressão de vitória no rosto. —​ E aí? As notícias são boas? Conseguiu achar o quarto motivo?

Quarto motivo? Do que eles estão falando?

—​ Errrr... sim e não! —​ Namjoon bufa, demonstrando uma leve frustação. —​ Quer dizer, achei METADE dele... mas não vamos desanimar, isso aqui só me deu mais forças! Olha só o que tá escrito: "'1.4: P..."

—​ "P"? O que pode ser P? —​ Hobi questiona, pensativo.

—​ Não faço nem ideia... mas é melhor uma letrinha do que nada, né? —​ Namjoon ri.

—​ Do que vocês estão falando? —​ Pergunto, e sinto que estou pegando o bonde andando.

—​ De forma resumida. Há quatro motivos pra um Enchanted não manifestar seus poderes, e nenhum dos três que nós conhecemos se encaixa no perfil do Hobi. Ou seja, só pode ser o quarto. Mas o livro que diz isso estava rasgado, chega senti uma dor no coração, um livro rasgado... e adivinha aonde? No motivo quatro. —​ Namjoon suspira.

—​ Que merda... —​ Murmuro, lentamente. Então Hobi... já tinha vindo aqui?

—​ Vamos lá. —​ Namjoon se ajeita na cadeira e empurra os óculos no nariz. —​ Preciso que vocês basicamente me respondam algumas perguntas. Faz parte dos meus estudos com relação aos seus problemas. No seu caso Hobi, a ausência de poderes, quando sabemos que é um de nós. E no seu caso Yoongi, a incapacidade de controla-los.

—​ Eu não tenho problema nenhum. Sou só um cara de azar e você sabe disso. —​ Sussurro, abaixando a cabeça. Odeio entrar no assunto "mãos amaldiçoadas" perto de alguém, principalmente de Hobi.

—​ Como eu estava dizendo —​ Ele me ignora, e continua falando. —​ Eu passei bastante tempo observando vocês dois, e tem uma coisa me incomodando profundamente: suas memórias.

Sinto Hobi engolir em seco ao meu lado. Eu me viro pra ele, com uma sobrancelha erguida.

—​ Percebi que vocês não se lembram de coisas que aconteceram quando eram crianças! Eu sei que não somos obrigados a lembrar de tudo, estamos envelhecendo, até aí tudo bem... Mas não vou mentir, fiquei assustado quando, em uma de nossas conversas durante o almoço na escola, Hobi não se lembrou do que costumava fazer com seus pais nos finais de semana! —​ Namjoon exclama.

—​ Peraí, deixa eu ver se entendi —​ Falo, surpreso. —​ Você também tem... lapsos de memória, Hobi?

Ele morde os lábios tão forte que noto um filete de sangue surgir em seu lábio inferior.

—​ Lapsos de memória? Então é isso? —​ Ele pergunta mais pra se próprio do que pra gente. —​ Quer dizer, eu sempre assumi pra mim mesmo que não me lembro de momentos com os meus pais porque eles trabalham demais, e apesar de nos amarmos, eles não tinham tanto tempo pra mim... pelo menos é o que minha avó diz.

—​ O que sua avó diz... —​ Namjoon murmura, baixinho. —​ Bom, não digo que ela ´tá errada, mas... ela nem mesmo sabe da sua natureza Enchanted! Assim como você, Yoongi sofre desse problema, já fomos a um médico Enchanted, amigo do meu pai, e ele disse que isso provavelmente é estresse por causa de Hea e só.

—​ Então você tá dizendo que minha avó e o doutor podem estar enganados e que esse... branco pode ser motivo dos nossos problemas? —​ Hoseok pergunta, arregalando os olhos.

—​ Pode ser que sim, pode ser que não... isso ainda é muito nebuloso pra mim! —​ Namjoon diz, emburrado. —​ Tzuyu está me ajudando, mas está difícil pra ela também. Vamos começar: Hobi, o que você se lembra da sua infância aqui, em Seul?

—​ Seul... Eu... —​ E aí, ele trava. Abre e fecha a boca várias vezes, mas não emite nenhum som. Hobi começa a morder os lábios novamente, o que me deixa nervoso também.

Seguro sua mão, como forma de acalma-lo, já que ele tá um pilha. Odeio fazer isso, ainda que elas estejam enluvadas, mas preciso reconfortar Hoseok de alguma forma. Em um primeiro momento, se surpreende com meu gesto, mas depois respira fundo e fala, finalmente.

—​ Eu me lembro vagamente de Jimin, minha avó... e só. —​ Hobi suspira.

Incrível.

Incrível como isso pode tá acontecendo. Exatamente como eu! Me lembro muito pouco do que fazia com meu pai e Hea, da minha antiga escola... nada, nada, nada. E nunca me atrevi a perguntar qualquer coisa pra Hea. Até parece.

—​ É pior do que pensava. —​ Namjoon franze a testa, anotando em um ritmo insano no seu caderninho. —​ Eu ia fazer mais perguntas, mas você só lembra LITERALMENTE da existência do Jimin e da sua avó. Hobi, não sei se você percebeu, mas não é SÓ dos seus pais que você não lembra. Posso dizer com todas as palavras:  você não lembra de QUASE NADA!

Hobi faz uma expressão que eu não consigo decifrar de jeito nenhum. E isso me assusta, já que ele é sempre tão transparente. Agora sei como as pessoas se sentem quando tentam me decifrar. Ele está inexpressivo.

—​ Você tá bem? —​ Sussurro, e ele assente, forçando um sorriso.

—​ Já terminei por aqui. Já fiz o mesmo teste com Yoongi e... é praticamente a mesma coisa com ele. —​ Namjoon fala, se levantando de sua cadeira giratória. —​ Hobi, fica mais um pouco, vou pegar algo lá embaixo pra comermos!

E sai do quarto, a passos firmes.

—​ Sabe... você fica bem engraçado quando tá concentrado. —​ Falo, tentando quebrar o gelo.

—​ Isso foi um elogio...? Acho que não, né. —​ Ele pergunta, abrindo aquele sorrindo tão bonito.

—​ Se você quiser que seja... sim. —​ Respondo, sorrindo também.

Ele cora, abaixando a cabeça e mordendo o lábio inferior em seguida, e eu fico pensando se não fui longe demais.

—​ Quero te mostrar uma coisa. —​ Murmuro, puxando-o pelo braço. —​ Vem comigo!

Eu o conduzo por entre as escadarias que levam até a sala gigantesca de Namjoon, e depois o levo até uma porta enorme e com algumas palavras em latim adornando a parte de cima que eu nem faço ideia do que significam, mas tudo bem. Eu a empurro com as duas mãos, e quase sinto uma luz sair de dentro dela. Chego inclusive a fechar os olhos pra sentir melhor o cheiro maravilhoso que esse lugar tem.

Estamos na enorme biblioteca da casa.

—​ Nossa... —​ Hobi fala baixinho, e eu sorrio ao escuta-lo. —​ Que sorte Namjoon tem!

—​ E eu também! Moro aqui, lembra? —​ Provoco e ele me mostra a língua.

— Bom dia! —​ Eu cumprimento as duas meninas que fazem a manutenção aqui. Uma delas está apenas lendo um livro, e a outra varre o chão. Elas se curvam, sorrindo.

—​ Você deve passar muito tempo por aqui... sei como gosta de ler! Fez até amizade com elas... —​ Ele aponta com a cabeça pras funcionários. Ele está... orgulhoso de mim?

—​ Pode apostar que sim.​ Elas costumavam fechar a biblioteca as 22:00, mas depois que eu cheguei, a senhora Kim deixou elas fecharem a meia noite, só pra eu poder ficar mais um tempinho lendo! —​ Digo, sem conseguir conter a animação. —​ Tem de tudo aqui, Hobi: autoajuda, culinária, medicina, política, livros para vestibulares, poesias, os maiores clássicos da literatura mundial... tem até uma seção completa de mangás! —

—​ O quê? —​ Ele fala, com os olhos arregalados. —​ Que delícia! E você deve tá amando isso, sei como adora ler!

Ele tem razão. Os livros sempre serviram como um válvula de escape. Quando queria dar um tempo da Hea e de toda a sua corja que ficava instalada lá em casa, lia até minhas pálpebras caírem e eu não aguentar mais. Ficava me imaginando dentro dos mundos criados pelos autores: talvez eu me desse bem como o quinto mosqueteiro francês em Os Três Mosqueteiros?  Ou como um grego vivendo a mitologia descrita na Ilíada, de Homero. Ou quem sabe como um cavalheiro medieval em Dom Quixote? De uma coisa eu tenho certeza: tudo é melhor do que ter mãos envenenadas.

—​ Já tô até pensando em ler Harry Potter... —​ Falo, e ele are um sorriso tão grande que chega a iluminar a biblioteca inteira.

—​ Faça isso, imploro!!!!!!!! —​ Hobi pede, e eu rio.

—​ Claro. Agora vem, não é só ESSA parte que eu quero mostrar! —​ Digo, o levando para uma parte afastada e escondido do lugar.

Uma das funcionárias nos segue, preocupada, e eu trato de explicar:

—​ Tudo bem, ele é um de nós!

Ela respira aliviada e vai uma das escadas que fazem o leitor ter acesso aos livros nas partes mais altas das prateleiras. Sim, elas gigantescas, chegando até cinco metros de altura.

—​ T-tem... escadas... QUE FODA! —​ Hobi exclama e não consigo evitar uma risadinha, o levando até uma pequena portinha de madeira discreta.

—​ O que tem aí dentro? —​ Ele indaga, sua curiosidade aflorada como sempre. —​ Espera... não tem maçaneta...

—​ Portas que escondem grandes segredos não devem ter maçanetas. —​ Dou um piscadinha e sussurro as palavras que Namjoon me ensinou: — "In perpetuum delectata".

​A porta se abre com um clique, sozinha. Quando entramos no lugar escuro, archotes espalhados por todo lugar o iluminam, sozinho.

—​ CARA —​  Ele exclama, agitado. —​ ISSO PARECE UM SALA SECRETA DE HOGWARTS!

—​ Deve parecer! —​ Respondo, me divertindo com sua reação. —​ Seja bem-vindo a uma biblioteca completamente Enchanted!

Ele parece analisar todo ponto existente dentro da pequena sala. E depois, me encara.

—​ Você tá falando latim agora, é? —​ Pergunta, cruzando os braços.

—​ Afe, é só um frase! Acho que significa "Para sempre Enchanted!" ou algo do tipo. Bonitinho, né? —​ Pergunto e ele ri.

Hobi caminha lentamente entre as prateleiras, e ri sozinho ao constatar que várias coisas estão flutuando. Apoio meu corpo em uma das paredes, sorrindo satisfeito ao vê-lo tão alegre e passando a mão pelas lombadas dos livros, caminhando em um lugar que também diz respeito a ele.

—​ Vai! —​ Falo, quando, depois de um tempo, ele me encara. —​  Pode ver o que você quiser!

—​ Vem comigo. —​ Ele faz um beicinho e eu rio com sua tentativa de ser fofo. Na verdade, ele conseguiu.​

Caminho em sua direção e, quando me aproximo da prateleira, alguns passarinhos de aproximam de mim.

—​ AHHHHHHHHHHH! —​ Hobi começa com a histeria, e eu reviro os olhos. Os bichinhos se assustam e se afastam rapidamente.

—​ Ei, se acalmem, ele não vai machucar vocês... —​ Falo com os pássaros, que parecem me entender se se aproximam vagarosamente. —​ Hobi, desestressa, são apenas alguns pássaros que nos ajudam a pegar os livros mais altos! —​ E me viro para um dos animaizinhos: —​ Os contos fenomenais Im Un​, por favor!

Em um piscas de olhos, eles se juntam para pegar o livro, que está a uns 3 metros de distância de mim.

—​ Obrigado! —​ Sorrio, e eles voltam a circular pelo lugar.

—​ O que é isso? —​ Hobi questiona, de boca aberta. Está se escondendo atrás de mim, com o seu medo natural de bichinhos pequenos. Ninguém merece. —​ Você... falou com esses pássaros??????

—​ Na verdade, o pai de Namjoon possui o mesmo dom da Wendy, ele fala com animais. Esse pássaros são aqui do bairro, e eles conhecem o senhor Kim desde que era pequeno. Aprenderam a fazer a leitura labial de humanos com ele, por isso me entenderam!

—​  Jesus amado... —​ Hobi diz, abismado. Um dos passarinhos brancos passa rente ao seu cabelo e ele agacha, morto de medo. —​  M-mas eles ficam presos aqui?

—​ Presos? Não, podem sair a hora que quiserem! Mas acredite, adoram ficar aqui o dia todo, e pela noite simplesmente vão embora e dormem nas árvores do quintal de Namjoon! Legal, né?

—​ É sim pô, muito! —​ Ele força um sorriso por causa do seu claro pavor. —​ E esse livro? É sobre o quê, ein?

—​ Ahhhh sim, o livro! —​ Exclamo animado. —​ É um clássico da literatura Enchanted, do autor coreano Park Chul! A história é sobre Im Un, um menino Enchanted que foi capturado pelo imperador da dinastia Yi, em 1450, acusado de bruxaria e atentado ao governo, por causa de seus poderes. Na verdade, ele era um telepata e podia ler pensamentos das pessoas e saber como se sentiam.

—​ Que legal! E aí? Ele consegui se safar? —​ Hobi questiona, curioso.

—​ Spoiler, não... —​ Brinco, e ele faz um biquinho de decepção. —​ Vamos descobrir agora! Vem!

Ele sorri grande, animado com a possiblidade de lermos juntos (acredito eu, pelo menos) e juntos, vamos em direção aos puffs imensos e flutuantes coloridos. Sim, eles estão a pelo menos um palma de distância do chão, pairando no ar. Hoseok aponta com a cabeça pra um deles, e eu o olho um pouco confuso, já que, apesar de os puffs serem grandes, provavelmente vamos ficar muito próximos. Ele ri do meu receio e me puxa em direção ao puffs, e sentamos lado a lado, nossas pernas roçando de leve.

—​ Ai! —​ Ele reclama, quando nossas pernas de encostam. Merda! Ele se queimou! —​ O que aconteceu, Yoongi?

Como dizer pra ele que estou nervoso ao cubo com toda essa proximidade descarada?

O que ele vai pensar de mim? Que sou um tarado? Não, DEIXA PRA LÁ.

Incrível como eu sou um otário. É, cum completo babaca iludido mesmo. Cheguei a pensar que Hobi ficou com ciúme da menininha que me chamou pra ser seu par na formatura. Há! A minha cara de cu quando ele disse que fez aquela cara só porque tava nos planos da festa surpresa... Foi degradante. Não sei quando os pensamentos nada castos ficaram comuns com relação a ele, sério, não sei quando isso começou. Mas preciso parar.

Preciso parar porque tenho quase certeza que gosta de meninas! Eu o ouvi uma vez conversando com Jimin algo sobre "ele ser muito cocô pra ser notado por uma idol aí da vida", além de estar falando da beleza da menina. Lá na Panela, inclusive, ele deve ter estranhado o fato de eu ter ousadamente encostado minhas mãos em seu rosto, em uma tentativa de aproximação. Preciso para4 porque, caso ele descubra uma merda dessas, pode se afastar de mim permanentemente, e eu assumo que NÃO ESTOU PREPARADO PRA ISSO.

—​ Nada não... só... pensei na demônia por um momento e acabei ficando assim! Desculpe. —​ Murmuro, tentando fingir que não estava a alguns poucos segundos especulando sobre sua sexualidade.

Ele não diz nada, CHEGA AINDA MAIS PERTO e abre o livro, posicionando-o em meu colo. Depois, como se eu tivesse em uma porra de um programa de tortura, ele encosta sua cabeça de leve em meu ombro.

Puta que pariu, eu tô fodido mesmo.

19:00

Hoseok

—​ E então, In Um leu a mente de todos os presentes​: descobriu que podiam até ser carrascos que o ameaçavam com palavras feias, mas que também era como ele: humanos. Alguns desses homens  possuíam filhos, e, como todo pai carinhoso, esperavam ávidos a volta para casa, pra que brincassem de guerreiros e dinastias antigas antes que suas esposas preparassem o jantar. Outros, estavam preocupados com algum parente adoentado, e por isso, sofriam as escondidas. Se utilizando disso, nosso herói passou a contar histórias claramente humanas, tocando o coração de cada um desses homens poderosos e cheios de receios e temores na vida.

Yoongi é um ótimo contador de histórias! Cacete, como eu adoro o jeito que ele lê, tão concentrado e com uma voz perfeita pra isso. É macia, um convite para se aventurar nas páginas do livro! Passamos a tarde inteira assim, sentados lado a lado, nossas pernas tão juntas que às vezes eu precisava me afastar um pouco, ou praticamente em poucos segundos eu estaria sentado no seu colo.

Que vergonha.

Descobri que o menino Im Un, o personagem que eu simplesmente adorei, recebeu um prazo de dez dias para convencer os japoneses de que era um homem "normal" e aceitável dentro da sociedade. O garoto de virou como pôde e, durante dez dias, contou histórias para eles, baseado em suas vidas reais, já que ele podia ler mentes. Por exemplo: tinha um homem que estava com um filha doente no hospital. Aí ele contou um história sobre esperança, amor paternal e o valor da família. Esse homem claramente se emocionou. E foi assim com todos os outros! Até que no final de dez dias, eles sentiram que, apesar de Im Un ser Enchanted (ele não teve escolha e assumiu ter poderes), era uma boa pessoa e que isso não tinha absolutamente nada a ver. Ele foi solto e pôde ver novamente sua família.

Yoongi não leu o livro todo, por ser grande, mas apenas as passagens que ele considera mais legais e importantes pro entendimento.

Ele leu o livro 10 VEZES.

—​ E aí? O que tá achando? —​ Ele indaga, me olhando. Estou com a cabeça encostada no ombro dele, e NÃO ME QUEIMEI! VIVA!

—​ Maravilhoso! Mas ainda faltam duas histórias pros homens da confiança do imperador liberarem ele! Conta, vai!

—​ Tá bom, só mas uma... —​ Mas Yoongi é interrompido pela porta da biblioteca mágica, que se abre

—​ Olha só pra vocês... me deram um bolo! —​ Namjoon fala, sua voz ecoando pelo local de forma assustadora.

Que porra, esquecemos COMPLETAMENTE do Namjoon. Ele disse que ia buscar alguma coisa pra gente comer, e deixamos o coitado lá em cima! É impressão minha ou ele tá... rindo da gente?

Da mesma forma que o JIMIN riu lá na Panela, daquela forma meio provocativa.

—​ Desculpa, cara. Eu nem vi a hora passar. Podia ter chamado a gente, né, caralho? —​ Yoongi reclama, nervoso.

—​ Eeeeu? Não, achei melhor deixar vocês aqui, e cho que estava certo... —​ Ele sorri, transferindo o olhar de Yoongi pra mim e vice-versa. —​ E aí, Hobi? Gostou dos contos fenomenais?

—​ Errrr... gostei! —​ Falo, procurando um buraco pela biblioteca pra enfiar minha cabeça.

Eu tava com a cabeça lá, toda apoiadinha nele. Assim não dá pra te defender, Hobi!

E o pior é que ele deixou.

Pior? Não, melhor. Isso me deixa aliviado, e as brincadeirinhas de Namjoon não afetam tanto.

Só sei que subimos constrangidos MAIS UMA VEZ, acho que estamos nos acostumando com isso. Eu, pelo menos. Comemos alguns biscoitos que Namjoon nos ofereceu, e fiquei sabendo que, nesse meio tempo, ele marcou um consulta em um médico Enchanted pra mim. A regra era clara: "Não conte o seu problema, apenas haja como se estivesse em uma consulta de rotina! Quando estiver mais próximo, eu te aconselho melhor!", Namjoon disse.

—​ Bom, vou indo, se não amanhã não levanto de jeito nenhum! —​ Brinco, e me despeço da mãe e do pai dele. Alguns daqueles pássaros assustadores da biblioteca vem pra sala e voam ao meu redor, e eu novamente me escondo atrás de Yoongi. Os pais de Namjoon e suas empregadas riem.

—​ Você é demais, Hoseok! Volte sempre que quiser, nossa biblioteca é sua! —​ O senhor Kim fala. Namjoon disse para os pais que eu tenho capacidade de voar, assim como Solar. Lembrando que o plano é não contar nada disso que estamos fazendo pra ninguém, já que pode chegar ao ouvido de pessoas indesejadas...

Fico pensando quem seriam essa pessoas. Um calafrio percorre meu corpo e me lembro na morte do menino francês, a história macabra que Namjoon e Tzuyu me contaram da última vez em que estive aqui com Jimin.

—​ Nam, leva o Hoseok até a entrada do condomínio, e aproveita e compra meu xampu de cabelo! —​ A senhora Kim pede.

Namjoon bufa, fazendo cara de cansado e Yoongi ri.

—​ Tudo bem, senhora Kim. Eu levo ele e compro seu xampu! Aproveito e vou conversando com Hobi sobre o livro que lemos agora pouco! —​ Yoongi diz, se aproximando de mim, e a senhora Kim agradece. Namjoon me olha agradecido, já que Yoongi que odeia sair na hora dos seus estudos (tipo, toda hora é hora de estudo, queria ser assim!) e apenas nos leva até a entrada do condomínio e volta.

Vamos andando pela rua, e começo a sentir uma sensação esquisita no peito. Lembrei da questão das minhas memórias.

—​ Tá tudo bem, vamos descobrir o motivo dos lapsos daqui a pouco. —​ Yoongi fala sem me olhar e eu o olho assustado, impressionado com o fato de ele aparentemente me conhecer bem. Ele percebe e solta uma gargalhada, daquelas que é difícil ouvir vinda dele. —​ Eu confio em Namjoon. É capaz de ele ser mais inteligente que todos esses autores de medicina Enchanted aí.

—​ Tem razão! —​ Concordo, rindo. —​ Só queria ser assim... esse ano a gente precisa se dedicar muito!

—​ Claro. E aliás... Jimin me falou que os amigos dele estão animados pra participarem do nosso trabalho de geografia! —​ Ele fala, e eu sorrio, pensando que vamos mandar muito bem.

Já chegando perto da minha rua, paramos em uma farmácia pra que ele compre o xampu da Senhora Kim.

—​ Sou um filhinho dedicado, né? —​ Ele pergunta e balanço a cabeça em negação.

A pequena farmácia está vazia, apenas a atendente de cabelos tingidos de azul escuro escuta um rap americano no caixa.

—​ Pode ser, mas você seria ainda melhor se gostasse de Harry Potter. Se fosse meu filho, tava fora de casa! —​ Eu faço um movimento com o dedo indicador, como quem diz "Rua!" e ele me empurra, e suas mãos cobertas encostam no meu pescoço.

—​ PARA! —​ Grito e ele recua. —​ Droga Yoongi, eu sinto cócegas!

Ele me lança um sorriso muito malicioso. Merda.

—​ ​Hmmmmmm.... sente, é? —​ Ele indaga, e começa a fazer cócegas em mim, e sinto minhas tripas revirarem.

A atendente diminui o som e nos olha, de longe. Em meio ao meu desespero, consigo nota-la sorrindo e balançando a cabeça.

—​ HAHAHAHAHAHHA, PARA, PARA! SOCORRO! —​ Grito, enquanto ele me agarra por trás fazendo cócegas por todo meu corpo.

—​ Olha só, que bonitinho. —​ Escuto a voz rouca e um cheiro de cigarros acompanhando. —​ Uma grande amizade, pelo visto.

Hea.

Sinto os músculos do corpo de Yoongi retesarem, e ele se levanta rapidamente, com sangue nos olhos. Não tô muito diferente.

—​ Olha só, que bonitinho. —​ Ele a imita, e ela sorri, debochada. —​ A vaca dos meus pesadelos.

O sorriso de Hea desaparece.

— Você é surdo ou é muito burro, mesmo. —​ Ela se dirige a mim, ignorando o enteado. —​ Eu disse para ficar longe desse moleque nojento, mas você insiste no erro. Completamente maluco

—​ NÃO FALA COM ELE ASSIM! —​ Yoongi berra, se colocando na minha frente, com a intenção de me proteger. A atendente assiste a tudo, muito curiosa. — Se você se dirigir a ele assim de novo, você vai ver só! Quem é maluca é você! Morre!

—​ Isso é jeito de tratar a sua madrasta querida, que você fez questão de abandonar pra morar em casa de bacana? — Ela debocha, fazendo um beicinho e voz manhosa. — Sabe, até que não foi uma má ideia o Hobi levar você embora lá de casa. Sua cara feia me assustava pelas manhãs.

Yoongi faz uma expressão de interrogação quando ela me chama de Hobi. E alterna o olhar de mim pra ela, confuso.

Sinto um soco na boa do estômago, ao lembrar que estou escondendo coisas dele. Coisas que aconteceram em sua antiga casa. Mas de certa forma, não posso explicar o motivo de ela conhecer meu apelido e o pior: o nome da minha mãe.

Graças ao Senhor, ela não faz menção do nome de qualquer familiar meu e nem percebe o espanto no rosto de Yoongi.

— Eu odeio você, odeio! Vamos embora, Hobi! — Ele me puxa, e acaba me queimando fortemente. Está muito estressado e nervoso.

— Tá vendo, eu não disse? — A bruxa ri, apontando pro vermelho forte no meu braço. — É isso que ele é. Uma maldita ameaça pra esse mundo! É isso que ele faz, destrói tudo o que vê pela frente, cretino! Meu maior arrependimento foi ter me juntado com seu pai! Eu o amava, mas não sei se valeu o esforço! Ele trouxe uma praga junto com ele, uma dor de cabeça das grandes! A tendência natural é que você MORRA SOZINHO, porque não pode conviver em sociedade!

Se meu coração está destroçado com as palavras cruéis de Hea, eu posso imaginar o dele. Yoongi evita me olhar e encara o chão, com os lábios trêmulos. Ela o humilhou na minha frente. E na frente da atendente, que ainda nos encara, com um expressão de raiva no rosto. Graças a Deus, ela parece não ter visto a parte que Yoongi me machucou apenas encostando em mim, e não deve estar entendendo o contexto da situação. Uma lágrima escorre pelas bochechas branquinhas, e ele nem tenta limpa-la, derrotado.

— Awnnnnnn, vai chorar, bebê? — Ela o provoca, maldosa até o talo. — É essa verdade! Seu imundo! VOCÊ deveria ter batido as botas, não ele! Sabe, uma vez eu escutei o seu amigo-cachorro falando da festa de formatura daquela sua escola horrorosa. Essa é uma daquelas festas que tem que levar PAR? Há! Você tá ferrado então, né garoto? Até parece que em algum momento da sua vida ALGUÉM VAI TE QUERER, você é um caso perdido!

Quando me dou conta, eu também estou chorando, e concluo que já não posso mais ficar aqui, servindo de telespectador.

— Acho que você tá muito enganada. — Falo, e ela se vira pra mim, confusa.

E então, apenas sigo meu coração, sem medo algum.

Posso me queimar? POSSO, mas agora tô cagando pra isso.

Puxo Yoongi pelos braço direito e me queimo sim. Mas não antes de selar nossas lábios.

Eu apoio minhas duas mãos em seus ombros, até sentir que sua pele está no estado inofensivo. Ele parece assustado, não sei como vai reagir, principalmente pelo fato de eu ser um garoto e ele gostar de meninas (aceitou o convite de Somi, certo?) Em um primeiro momento, ele aperece rígido, mas, para o meu espanto, ele retribui.

ELE RETRIBUI.

Yoongi segura meu rosto com as duas mãos, e sinto sua língua pedindo espaço para entrar. Eu permito, separando meus lábios e atendendo seu desejo (E O MEU, CLARO) e nos beijamos de forma rápida e um pouco desesperada, como se precisássemos do consolo um do outro, naquele momento. Agora, envolvo seu pescoço com meus braços, aproveitando cada segundo em que nossas línguas de enroscam, além de me derreter com seus lábios macios e quentes.

EU NEM ME RECONHEÇO MAIS! Mas não vou mentir, a sensação é maravilhosa.

Ele termina o beijo com um selinho carinhoso, e permanece olhando pra mim com um sorriso lindo, apesar das lágrimas.

QUEM É SOMI, MESMO?

— Eca, que nojo! — Hea fala, com uma expressão horrível no rosto. Tinha até me esquecido dela! E se vira pra mim: — Então é por isso que você quis ficar perto dele, né? Tinha um interesse MAIOR do que a amizade... Quero vomitar!

— Então vomita lá fora, sua vaca! — A atendente de cabelo azul responde, e nós três a encaramos. — Sai da minha farmácia AGORA, ou eu  chamo a polícia! Você tá judiando do seu filho e do namorado dele!

— Ele não é meu filho, sua imbecil! — Ela grita de volta, mas acaba recuando. Se vira pra Yoongi: — Tudo o que eu falei é verdade, e você SABE! Eu te odeio! — E depois, se vira pra mim: — Você vai se arrepender disso, assim como eu me arrependi.

E vai embora, chutando uma prateleira cheia de acetonas.

Ajudamos a atendente, que se disse filha do dono da farmácia e que parece ser apenas alguns anos mais velha que nós a levantar a prateleira e colocar tudo no lugar. Seu nome é Lee Eunbi.

— Me desculpa por isso. — Yoongi se curva pra ela, chateado.

— A culpa não é sua! Essa mulher é uma escrota, graças a Deus eu a enxotei! — Ela fala, irritada. — Maus-tratos a menores de idade, na minha farmácia, não! Homofobia na minha farmácia, não!

Eu não consigo reprimir uma risadinha, e Yoongi sorri de leve.

— Vocês são tão bonitinhos... Namoram há quanto tempo? — Ela questiona, enquanto ensaca o Xampu da mãe de Namjoon, que ainda lembramos de pegar.

— Não somos namorados... — Eu falo, sem graça e Yoongi ri.

— Ah, amizade colorida, né... entendi. — Ela faz uma expressão safadinha, e eu abaixo a cabeça morto de vergonha.

Yoongi paga o xampu e me puxa pela braço, não sem antes agradecer a garota.

— Obrigado por tira-la daqui. Você nem faz ideia de com quem estávamos lidando.

— Eu é que agradeço, baby! ​A vadia ainda derrubou minhas coisas e vocês me ajudaram! — Ela ri, e quando estamos indo embora ela nos chama. — Ei, se vocês de casarem, posso ir na cerimônia?

Yoongi ri ao meu lado e balança a cabeça. Ao chegarmos na porta da farmácia, ele me dá um beijinho estalado no rosto. Quando sinto eu vou desmaiar de alegria, e ouvimos a voz da atendente lá de dentro:

— Awnnnnnnnnn!


Notas Finais


EAEEEEEEEE
EMILY IN YOUR AREAAAAAA
Gente, preciso falar uma coisa: estou muito satisfeita com os leitores das minhas duas fics, principalmente os de Enchanted! Vim destacar o fato de que alguns de vocês vieram me procurar pra bater uma papinho maroto FORA da sessão de comentários, e é isso aí: vocês podem SEMPRE VIR FALAR COMIGO, não garanto que vou responder NA HORINHA rsrsrsrs, até por causa do meu dia corrido, mas deixar no vácuo é que não vou! Descobri várias coisas sobre alguns de vocês! Foi muito legal saber que eu tenho bastante criatividade (valeu Greta, amo seu nome), que eu EU NÃO SOU A ÚNICA YOONSEOK #1S STAN IN THE WORLD (valeu Junior, maior sobi stan que eu conheço), que eu não sofri sozinha por não ter ido a TWT ( valeu Angela, tamo junto irmã) e que eu pareço madura por causa da minha escrita ESSA FOI DEMAIS (Valeu Joyce, já te amo demais, parceira de sofrimento nos estudos rssssss)
Obrigada pelo carinho de vocês, amo todos de coração!
Bjocas e até a próxima, Enchanteds!


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