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História Encontrando o caminho. - O pergaminho.


Escrita por: ALBANIZ

Notas do Autor


Esta fanfiction de cinco capítulos foi feita apenas como mero entretenimento, não querendo ferir direitos autorais. As personagens, Xena, Cyrene, Autolycus, Salmoneus, Najara, Iolaus e Gabrielle, são marcas registradas da MCA/Universal e Renaissance Pictures, Studios USA. Elas são usadas aqui, sem intenção de infringir as leis de copyright.

Capítulo 1 - O pergaminho.


Um homem anda apressadamente altas horas da noite pelas ruas da próspera Amphípolis. Sua túnica preta confunde-se a pouca iluminação do lugar. Um som diferente de seus próprios passos o assusta. Para, olha em volta, escuta. Nada. Sua respiração está ofegante. Apressa o passo, leva nas mãos um precioso pergaminho que a todo custo deve ser evitado de cair nas mãos do Deus da Guerra. Um ruído agora mais próximo o deixa alarmado, ele para, suores frios escorrem pelo seu rosto, não há mais dúvida, são passos. Seria algum bêbado percorrendo aquelas ruelas? Vê um vulto, caminhando em sua direção. O homem de túnica preta acelera mais ainda o passo. O vulto continua na mesma passada cadenciada, não corre, simplesmente caminha firmemente. A cidade dorme o sono dos justos e dos injustos. Ele arrisca nova olhada para trás, não vê mais ninguém. Vira-se e olha para todos os lados procurando o vulto, mas nada encontra, desaparecera em pleno ar. O homem solta um suspiro de quase alívio, está quase correndo, sobe a larga escadaria do templo, estará seguro em segundos, pelo menos é o que acredita. A porta está aberta, quando faltam apenas dois degraus sente uma dor aguda que lhe percorre as costas e o peito. Sua carne estava sendo perfurada. Passa a mão no peito e sente a ponta da lâmina que transpassou suas costas. A túnica se tinge de vermelho sangue. A dor era de enlouquecer, a lâmina foi puxada violentamente de volta derrubando-o no chão. O ar começou a lhe faltar, mesmo gravemente ferido, procurou ver de onde viera o golpe inesperado. Viu a silhueta de um homem gigantesco que o ergue sem o menor esforço segurando-o pelo pescoço, causando gemidos de dor e fazendo-o babar muito sangue espumoso. A luz da lua cheia consegue transpassar as nuvens que pairavam no céu sombrio, iluminando o vulto.

- Ares... - o homem arfou.

O deus assumira a forma humana. Tinha cavanhaque e uma cheia cabeleira negra como a noite, seus olhos faiscavam perversidade. A roupa de couro preto realçava seu físico musculoso. Se fosse humano certamente andaria por entre as pessoas como se elas não existissem.

- Olá amigo. - Disse sarcasticamente o Deus da guerra sorrindo; seu timbre de voz era poderoso. - Você tem uma coisa que me pertence e eu a quero de volta!

Sem soltar o pescoço do moribundo, Ares o levanta lentamente do chão como uma simples pluma. - Roubar o pergaminho do meu templo não foi uma boa ideia, mas tenho que admitir que você é corajoso para um mísero mortal. Quer que eu dê algum recado para sua doce irmã?

- Não to...que nela, miserável! - O homem falou ofegando, sentia como se seu peito estivesse se partindo em dois.

Agora o ódio transparecia na fisionomia do deus da guerra, seus olhos faiscavam fúria, sua voz fazia tremer as bases do templo.- ACHA MESMO QUE PODE FALAR ASSIM COMIGO?! - Berrou.

O homem da túnica preta num derradeiro momento atira o pergaminho porta adentro do templo.

Era o templo de Zeus, nem mesmo Ares se atreveria a invadi-lo, pois sabia que o pai dos deuses não admitia a profanação de seus templos. Qualquer objeto que passasse por suas portas era considerada como oferenda, portanto não seria retirado sem sua permissão e Ares tinha certeza que Zeus não permitiria que esse pergaminho saísse de seus domínios.

Com um grito de ódio Ares enfia a espada na barriga do homem, rasgando seu ventre.

- ESTÁ SENTINDO ISSO?! - Berrou furioso.

Com as poucas forças que lhe restavam o homem,derramando as últimas lágrimas, pedia aos deuses que cuidassem da irmã que tanto amava.

Possuído por uma fúria bestial, Ares decepa a cabeça do homem. O deus bufava de ódio, mas ele era eterno, teria todo tempo do universo para recuperar aquele documento e Xena seria sua, agora ou nas próximas encarnações.

........... O retorno.

Para Gabrielle, nada se comparava a cidade metropolitana de Nova York que agora sobrevoava. O avião se lança sobre a pista em diversas manobras de pouso, mas para ela tudo aquilo era um prazer, depois de um ano e meio escavando nas montanhas gregas, acidentalmente encontrara as ruínas do templo de Zeus. A universidade de arqueologia e os outros patrocinadores ficarão satisfeitos com as suas descobertas. Gabrielle era uma renomada arqueóloga, suas descobertas anteriores tinham sido de grande relevância para o estudo da civilização grega.

O avião aterrissa suavemente, embora sempre aconteçam solavancos e sacudidelas. Após a liberação, todos se levantam para serem os primeiros a pegar as bagagens de mão e saírem do avião. Gabrielle pega seu notebook, a bolsa de mão e sai. Examina o celular, nenhuma mensagem. Entra na fila para apresentar o passaporte.

O funcionário que examina seu passaporte olha para a foto do documento e por alguns instantes fixa o olhar nela, carimba o passaporte e o devolve. Ela percorre o longo caminho até a área de desembarque das bagagens. Liga para o Dr. Iolaus, diretor do departamento de arqueologia da universidade.

- Olá minha querida, como vai minha arqueóloga favorita? - Diz o diretor num amigável tom de brincadeira. - Recebi seu e-mail, espero que sua descoberta realmente valha a pena, a reitoria e os outros patrocinadores estão querendo meu fígado.

- Iolaus, não adianta vir com esse jogo que não vou adiantar nada! Mas pode acreditar, tenho medo que você tenha um infarto quando souber de tudo. - Responde a mulher.

- Muito engraçado! Mas falando sério, o material é bom mesmo? - Pergunta Iolaus curioso.

- Meu amigo a sua curiosidade vai ter que esperar mais um pouco, estou morta de cansaço, vou chegar em casa, tomar um banho e dormir, nem adianta me ligar, vou desligar tudo, celular, notebook. Amanhã nos falamos, ok?!

Gabrielle desliga o celular e sinaliza para um táxi. O veículo segue normalmente pelas ruas do centro da cidade até que o motorista se vê obrigado a dar uma freada brusca. Um carro preto de vidros escuros dera-lhe uma “fechada”. O motorista murmura um xingamento e esmurra o volante, põe a cabeça para fora da janela sinalizando para o carro seguir, pois o sinal estava aberto, mas o carro permanecia parado, atrapalhando o trânsito.

A fila de carros fica cada vez maior. Ouvem-se buzinas e queixas dos motoristas apressados. O passageiro do carro preto observa pelo retrovisor o taxista e sua passageira. Após alguns minutos segue viagem, descongestionando a rua. O transito caótico das grandes cidades prolonga a viagem em vinte minutos.

Chegando ao prédio, na sua caixa de correio Gabrielle se depara com pilhas de correspondências. Entra no apartamento, deixa a mala no quarto e vai encher a banheira. Lembra-se que precisa de algumas coisas que estão na mala, é quando percebe o cadeado da mala aberto. Apesar das roupas estarem reviradas, não parece faltar nada. Olha o relógio, já passava de uma da madrugada, o voo atrasara bastante.

Alguns minutos depois estava mergulhada até o pescoço na banheira, desfrutando da espuma e relaxando o corpo na água quente. Mais tarde entre toda aquela correspondência vê um envelope diferente que chama sua atenção, não tem selo nem carimbo postal, apenas o endereçamento a ela, examina o remetente, nada escrito.

- Estranho..., deve ser brincadeira do Ted, isso é bem a cara dele. - Diz a si mesma. - Abre o envelope e lê o conteúdo, sua fisionomia demonstra a surpresa que o bilhete causara. Como alguém poderia saber disso? Olhou o relógio, eram quase três da manhã.

Deveria ligar para Iolaus? - Pensava, enquanto andava de um lado para outro no quarto.

- Ah que se dane! Ele não estava curioso? Então agora vai ter que me ouvir! - Diz em voz alta. Pegando o celular liga para o homem. Após alguns minutos a chamada é atendida.

- Iolaus? É Gabrielle.

Do outro lado da linha uma voz sonolenta: - Gabrielle?!..., o que houve, está tudo bem?

- Eu preciso falar com você, é muito importante! - Diz a mulher.

Após alguns segundos de silêncio, ela ouve a voz sonolenta responder: - Você sabe que horas são? - Ouve-se o som de um bocejo. - Eu estou muito cansado... e você disse que podíamos conversar amanhã, lembra?

- É, mas aconteceu um imprevisto... - Ela silencia procurando argumentos para convencê-lo a se encontrarem imediatamente.

- Gabrielle, eu... - Iolaus foi interrompido bruscamente pela mulher.

- Iolaus, o que quero te mostrar vai fazer você perder totalmente o sono! - Gabrielle insiste.

Sentindo que não tem mais argumento, Iolaus finalmente cede. - Duvido muito! Mas está bem, me dê uma hora que vou até aí ok?

- É isso aí amigo! Prometo que você não vai se arrepender! - Gabrielle termina a ligação.

......................................................

É sempre motivo de alegria voltar a terra natal, nem que seja por poucos dias, ela caminha pelas familiares ruas de Nova York, um dos corações econômicos do país. Sabia que uma importante missão lhe seria designada.

Era uma lenda na Guarda. Imbatível em vários tipos de lutas, com vários tipos de armas, conhecia estratégias de combate como nenhum outro agente. Era sinônimo de competência. Alta, forte, longos cabelos negros, olhos azuis de uma tonalidade raramente vista.

Olha o relógio. É quase meio-dia, se encaminha para o restaurante do outro lado da rua. Entra e observa o ambiente como se procurasse alguém. Vê um homem que aparenta sessenta e poucos anos, sentado numa mesa isolada bebendo calmamente um drink, dirige-se para ele e senta-se a mesa.

O homem a encara e pergunta num tom frio: - Como vai?

- Muito bem, senhor. - Responde a mulher.

- Fez um bom trabalho na sua última missão. - Disse o homem secamente.

- Obrigada. - Ela também responde secamente.

O garçom aproxima-se trazendo a refeição já previamente pedida. Depois de desejar bom apetite afasta-se discretamente.

Os dois iniciam o almoço sem pronunciar qualquer palavra. Depois de alguns minutos o homem diz: - Você foi designada para vigiar uma mulher, uma arqueóloga, que segundo nossas fontes descobriu um valioso artefato.

Anos de treinamento ajudaram a disfarçar a surpresa que a informação causara. Ela tinha sido designada para vigiar uma caçadora de antiguidades? Não acreditava que seus superiores estivessem desperdiçando suas habilidades para um trabalho banal como aquele. - Isso até um agente novato poderia fazer. - Pensava, enquanto o homem falava.

O homem tira um envelope do bolso do paletó e passa-o sem disfarçar. A mulher pega o envelope e o guarda no bolso do casaco.

- Não a perca de vista. O artefato tem grande valor arqueológico. - Sem terminar a refeição o homem paga a conta, despede-se e sai sem mais nenhuma palavra.

Zina não olha para trás, termina o almoço calmamente.

No carro abre o envelope, dentro tem um pendrive. Ela acessa os arquivos e observa a imagem que surge. É uma linda mulher loira, em close ela mostra o sorriso perfeito e os olhos de um profundo verde esmeralda. Lê atentamente as informações e olha novamente as imagens. Zina reconhece a loira.

Ela já tinha suas ordens, a mente treinada grava imediatamente todas as informações, destrói o pendrive, confere o relógio. - Tenho que ser rápida. - Pensa.

Zina se dirige até o endereço da loira, um prédio antigo em Queens, um bairro de Nova York; observa que não existem câmeras instaladas na entrada. Um táxi para na porta do prédio, uma mulher e duas crianças descem do carro e entram no edifício, Zina entra junto com eles, ninguém deu atenção a sua entrada. Em segundos está na escada a caminho do quinto andar. Alguns minutos depois ela entra no apartamento da arqueóloga. Com olhos de águia examina a disposição dos móveis e objetos, a decoração é sóbria, mobílias antigas, mas simples. Rapidamente esconde vários minúsculos aparelhos de escuta, espalhando-os por todos os ambientes da casa, inclusive no aparelho de interfone. Um contato com a central e o telefone e celular estarão “grampeados”. Olha pela janela e vê o incessante movimento na rua abaixo. Retira-se do local com o cuidado de não deixar vestígios. Ao passar pela portaria coloca um envelope na caixa de correio do alvo e saí calmamente. Agora é só aguardar no bar em frente ao prédio.

 ........... A descoberta.

Gabrielle acordou atordoada, a consciência voltou aos poucos empurrada pelos insistentes toques da campainha. Enquanto esperava por Iolaus, ela se recostara no sofá e apesar de toda excitação, o cansaço da viagem a venceu.

- Já vai, já vai. - Disse enquanto caminhava sonolenta para a porta.

Ela abre a porta e vê seu amigo desde o tempo da universidade e que cursaram o doutorado em arqueologia. Iolaus agora ocupava um cargo de destaque dentro da universidade. Era um homem de estatura média, olhos verdes, cabelos levemente ondulados cor de ouro velho que já se misturavam com fios grisalhos e usava óculos. Os dois se abraçaram com força, olhando para a loira ele diz sorrindo:

- Você está ótima, maravilhosa como sempre. - Demonstrando alegria por rever a amiga.

Gabrielle com um grande sorriso, apontando para a barriga de Iolaus disse em tom irônico: - Isso não estava aí da última vez que nos vimos.

Iolaus imediatamente encolheu a barriga tentando disfarçar as gordurinhas. - Engraçadinha! - Disse o homem.

- Entre, fique á vontade. - Disse apontando para o sofá, mas Iolaus prefere sentar-se a mesa num canto da sala, esperando ansioso pela “revelação” de que sua amiga fazia tanto mistério.

- Ok você venceu, o que tem aí afinal? - Perguntou Iolaus.

Gabrielle pega a inseparável e surrada bolsa de couro marrom e coloca em cima da mesa um pergaminho incrivelmente preservado, como se os milênios não tivessem afetado o material de sua composição. Iolaus ajeita os óculos, abre o pergaminho cuidadosamente e começa a lê-lo murmurando as palavras.

- E aí, o que lhe parece? - Pergunta a mulher.

Após um momento em silencio Iolaus se recostou pesadamente na cadeira, sentindo todo o corpo formigar, as mãos suavam.

Tentando manter o raciocínio científico sobre o caso ele responde: - Bem Gaby, eu não quero desapontá-la, e é lógico que não te daria um parecer sem analisar mais detalhadamente o documento, mas a princípio me parece um manuscrito grego..., um contrato de casamento. Espero que você não tenha me acordado às três da manhã e me fazer vir aqui para me mostrar isso! - Disse Iolaus.

Gabrielle fica eufórica ao ouvir as palavras do amigo. Ela não era especialista em línguas antigas como Iolaus, mas conhecia grego antigo o suficiente para decifrar parcialmente o conteúdo do pergaminho.

- Iolaus, esse pergaminho é um contrato de casamento de um dos deuses do Olimpo, mais especificamente Ares o deus da guerra, com uma tal de Xena, estou certa?  - Gabrielle falava rapidamente, quase sem tomar fôlego.

Iolaus olha intrigado para a amiga, era uma afirmação absurda demais, mas a credibilidade de Gabrielle no mundo científico era sólida e respeitável. Ela o convence de que ainda há muito a escutar sobre o assunto.

- Está bem, então comece logo a história! - Disse o homem.

Gabrielle toma fôlego e como uma criança excitada por finalmente poder contar um segredo guardado começa a falar: - Como você sabe, eu trabalhei mais de um ano em escavações na Grécia. As escavações começaram no lugar onde consta que existiu a antiga cidade de Amphípolis. Fomos escavando cuidadosamente e aí?!... - Gabrielle para de falar criando um clima de suspense.

- E aí? - Perguntou Iolaus ansioso.

- E aí, que encontramos as ruínas de um templo em homenagem a Zeus, o pai dos deuses gregos! - Respondeu a arqueóloga.

A cara de decepção de Iolaus foi visível. - Ora Gaby, faça-me o favor... A história está muito interessante, mas templos em homenagem aos deuses existem espalhados por toda Grécia e... - A mulher o interrompeu, continuando com a explicação.

- Fizemos um levantamento super minucioso do que restou da construção e dos artefatos. Encontrei esse pergaminho num salão do templo e observe, o mais estranho é o estado de conservação do documento.

A euforia de Gabrielle convence Iolaus a analisar melhor o documento. Suspira profundamente e tentando se acalmar tira os óculos, como era seu costume e continuou com a voz mais calma que lhe foi possível.

- Você compreende que se isso for realmente verdade, o que ainda não estou convencido, estamos à beira de uma importantíssima descoberta. A comprovação que os deuses gregos existiram e interagiam com humanos. - Disse o homem.

- Tem certeza que alguém não “plantou” isso lá? - Iolaus pergunta.

- Certeza absoluta! Primeiro, porque estamos sendo super rigorosos com a pesquisa, tudo está sendo registrado em vídeo e fotografias e os outros dois arqueólogos que trabalham junto nas escavações também assinam os relatórios que descrevem cada descoberta. - Responde a loira.

- Dois arqueólogos? - Pergunta Iolaus.

- É..., isso não teve jeito, o governo exigiu que dois arqueólogos gregos acompanhassem os trabalhos. - Informou a loira.

- Hum, era previsível. - Disse o homem.

Gabrielle pega o envelope que recebeu e o mostra a Iolaus. - E olhe isso, essa carta afirma que o pergaminho é verdadeiro e que o documento por ter sido concebido por um deus, só pode ser destruído pelo próprio e ainda...

Gabrielle foi interrompida bruscamente por Iolaus. - Gaby..., essa sua teoria é absurda, não existe comprovação nenhuma que esses seres mitológicos existiram.

- Agora existe. - Insistia a mulher.

- Gaby..., você não pode acreditar em uma carta anônima de algum..., sei lá, de algum maluco. Você não pode sair por aí falando que os deuses gregos existiram, vão te ridicularizar, te crucificar. Tenha juízo!

A discussão prossegue pela madrugada com ambos expondo os prós e contras sobre o assunto. O dia amanhece; do outro lado da rua sentada num bar enquanto tomava o café da manhã, Zina ouvia a conversa do casal no apartamento em frente, através do minúsculo fone de ouvido. A manhã vai passando e a vigília se resume em ficar ouvindo os dois numa discussão sem fim. A entediada agente se sente aliviada quando finalmente eles se despedem, com a promessa de voltarem a se encontrar para continuar a conversa.

A noite chega prometendo ser bem entediante, quando de repente um fato alerta os sentidos da agente. O telefone toca no apartamento da loira.

Gabrielle se assusta com o som do telefone e pula do sofá onde adormecera lendo suas anotações.

- Alô! - Silêncio do outro lado da linha, mas não é um daqueles silêncios sepulcrais. Ela ouve ruídos de carros passando, vozes. - Alô! - Repete e nada. - Só o Ted é capaz dessas brincadeiras idiotas. - Pensa.

 

- Ted é você? - Nada, nenhuma resposta. Ouve-se o som de uma sirene passando ruidosamente.

Já dentro do carro Zina acompanha atentamente o desenrolar da situação e simultaneamente faz contato com a central pedindo que identifique o local da chamada. Os segundos contam, a chamada ainda está no ar.  Zina observa o som de uma sirene passando ao mesmo tempo em que ouve o mesmo som pelo telefone do apartamento. - Muita coincidência! - Pensa. A ligação é interrompida abruptamente, somente um click súbito.

- E então? - Pergunta a agente. - A resposta da central é negativa, seriam necessários mais três segundos para localizar a ligação. - Diabos! - Ela pragueja.

Gabrielle desliga o telefone, caminha até o interruptor e apaga luz, o frenesi do dia anterior não a tinha deixado repor o sono, o cansaço começava a pesar em seu corpo. Vai até a janela fechar a cortina, quando um carro preto de vidros escuros parado do outro lado da rua em frente ao seu prédio lhe chama atenção.

- Que isso Gaby..., você não é tão importante para estar sendo vigiada, mas um carro preto de vidros escuros é sempre suspeito. Não é assim em todos os filmes? Veículos que não deixam ver os agentes em seu interior, cheios de aparelhos de última geração que esquadrinham todos os movimentos e conversas das pessoas? - Gabrielle ri de sua imaginação.

O carro preto de vidros escuros..., alguma coisa nele a incomoda. - Já vi esse carro. Agora me lembro, é o mesmo que deu a fechada no táxi ontem. - Fala em voz alta.

O toque do celular a assusta; ela se apressa em atender o telefone: - Alô?! - Diz Gabrielle.

- Se tocarem a campainha, não abra a porta! - Era voz de mulher, uma voz desconhecida, mas urgente.

- Quem está falando? - Pergunta a loira.

- Aconteça o que acontecer, não abra essa porta! - Alertava a mulher do outro lado da linha.

Gabrielle volta à janela a tempo de ver um homem sair do carro preto e atravessar a rua em direção ao seu prédio.

- Gabrielle! - Chama a mulher. - A loira está paralisada, sente um arrepio frio na nuca.

- GABRIELLE! - O berro da mulher a faz voltar do ataque de pânico que começava a aparecer.

Trrrrrriiiiiiimmmm. Trrrrrriiiiiiimmmm. - A campainha está tocando tenho que ir atender. - Gabrielle diz.

- NÃO ABRA A PORTA! - Berrou a mulher.

O toque na campainha é insistente. Seu coração dispara, Gabrielle pega a bolsa onde estão o pergaminho e a carta e corre para o quarto olhando para trás na direção da sala, ouve o ranger da porta sendo aberta e passos. O intruso não se importar em disfarçar sua presença. A loira está aterrorizada.

Vamos Gabrielle, coloca a cabeça para funcionar.  A janela, isso a janela..., ela dá na escada de ferro da saída de emergência. - Mas a falta de uso emperrou a janela de tal maneira que não conseguia movê-la um centímetro.

Gabrielle se aperta na parede como se quisesse entrar nos tijolos. No corredor o homem tira o revólver do coldre escondido sob o casaco. A loira pega uma banqueta para quebrar o vidro, exatamente na hora em que o homem entra no quarto com a arma em punho. Na penumbra ela não consegue ver o rosto do homem, apenas a silhueta que lhe aponta uma arma.

Três disparos. Gabrielle grita e cai escorregando pela parede. - Então é isso que se sente quando se leva uns tiros? Será que a morte foi tão rápida que nem senti? - Pensava a loira na fração de segundos após os disparos.

O barulho do homem caindo pesadamente de barriga para baixo a tira do delírio. Nem Gabrielle entendera de imediato, só segundos depois reparou em três furos nas costas do homem por onde o sangue brotava, ao mesmo tempo vê a silhueta de uma mulher alta parada na porta do quarto.

A mulher corre para o armário. - Vista-se rápido! - Disse jogando uma calça de moletom e um casaco com capuz no colo da loira, rapidamente pega um par de tênis e também o joga na direção de Gabrielle, que ainda está em choque com a visão do homem morto.

- VAMOS! - Berra a mulher, sacudindo-a pelo braço fazendo a loira voltar à realidade.

Gabrielle levanta-se e começa a se despir não se importando com a estranha que a observa atentamente. A penumbra do quarto realçava os contornos perfeitos do corpo da arqueóloga, os seios firmes, seu abdômen descia afinando numa cintura delgada que seguia se alargando suavemente nos quadris. Todo seu corpo exalava sensualidade.

Já vestida, a loira pega a surrada bolsa de couro, enfia a carteira dentro e sendo conduzida pela mulher sai apressada do apartamento, descem correndo pelas escadas, mas antes de chegarem à portaria diminuem a correria e saem como se fossem duas amigas conversando sobre banalidades.

Gabrielle olha para a mulher, que tinha salvado sua vida minutos atrás. - Quem é você? - Pergunta a loira.

A mulher passa o braço sobre seus ombros. Segurando-a fortemente: - Venha comigo. - Diz a mulher, sem se identificar.

- Ir com você para onde? - Pergunta a loira. - A mulher não responde e continua a conduzi-la.

Um vento desalinha ligeiramente os cabelos da agente, o suficiente para que Gabrielle veja um pequeno aparelho no ouvido da mulher escondido sob os longos cabelos negros. - Está tudo sob controle. - Diz a mulher.

Gabrielle tenta soltar-se, mas a agente a tem bem presa. Sua mão forte aperta o ombro da loira provocando-lhe dor. Ela olha para Gabrielle, encarando-a seriamente: - Não tente nada estúpido..., agora vamos para aquele carro na porta do bar, do outro lado da rua. - Diz a agente.

Atravessam a rua e entram no carro; Gabrielle desistiu de tentar fugir, agora a única coisa que passava pela sua cabeça é que estava sendo caçada como um animal e o que é pior, sem saber por que, nem por quem. O carro parte pela rua iluminada pelos postes e luzes coloridas das vitrines e outdoor.

Gabrielle olha a mulher de expressão fria. - Quem é você? - Ela arrisca novamente perguntar. Nenhuma resposta.

A outra olha para frente com atenção no trânsito que mesmo aquela hora continuava intenso. Nova York nunca dorme. Cerca de vinte minutos depois entram num bairro residencial elegante e o carro reduz a velocidade. O coração de Gabrielle se aperta de medo. A mulher pressiona um botão e o portão se abre automaticamente, o carro é estacionado na garagem.

A mulher desce, abre a porta para Gabrielle e ordena friamente: - Saia.

A loira sai do carro e num rompante de desespero grita: - Já chega! Não aguento mais, acabe comigo de uma vez! - Diz mostrando o lindo rosto e os olhos marejados de lágrimas.

A agente olha com atenção pela primeira vez aqueles amedrontados olhos verde esmeralda, suplicando pela vida.

- Acabar com você? Não tenho motivos, ainda mais com a preciosidade que você carrega. - A voz da mulher se tornou acolhedora.

- Quem é você? - Gabrielle não estava entendendo nada.

- Meu nome é Zina. Sou sua “anfitriã”. - A agente responde.

........... O velho.

Um toque de celular chama atenção do velho.

- Sim? Correu tudo bem? - Ouve a desagradável resposta.  - O QUÊ?... Quero aquele pergaminho em minhas mãos até amanhã ouviram? Se as coisas não acontecerem como estou ordenando, nem vale a pena dizer o que vai acontecer com vocês! - O velho esbraveja enfurecido e desliga o telefone visivelmente irritado.

- CAMBADA DE INÚTEIS, INCOMPETENTES! - Berra, sua voz se torna cavernosa, aterrorizante. Seu ódio é tamanho que num acesso de fúria arremessa o celular estilhaçando-o na parede. A cena é presenciada por seus quatro seguranças. Já tinham visto o “chefe” ter ataques de fúria antes, mas como um velho tão caquético quanto ele, que andava curvado apoiado na bengala, de repente tinha tamanha força?

Ele sempre soube escolher bem seus colaboradores, mas como aquele era raro. Obstinado, leal e experiente..., e agora estava morto.

Vou acabar tendo que tratar do assunto pessoalmente. - Pensava enquanto entrava em seu quarto e fechava a porta atrás de si.

......................................................

O prédio da biblioteca da universidade é uma edificação com colunas roliças que percorrem toda a fachada, sendo que quatro delas sustentam a arcada da entrada principal, com várias figuras em relevo no frontão triangular, uma gigantesca porta detalhadamente esculpida realça a entrada principal. A biblioteca é guardiã de grandes e importantes estudos publicados sobre a história e a cultura humana.

Numa sala cheia de estantes abarrotadas de livros e várias mesas enfileiradas, Iolaus coloca sobre a mesa a cópia do pergaminho que Gabrielle lhe entregara, se dirigindo para uma estante específica.

- Deixe ver..., hum..., Grécia..., grego antigo..., ah achei! - Exclama retornando para a mesa abraçado a três grossos volumes. Senta-se e acende o abajur, começando a  tarefa de decifrar o pergaminho. A noite já segue alta, Iolaus está totalmente absorto na tarefa, quando ouve a voz do segurança que fazia a ronda perguntando se estava tudo bem. Iolaus respondeu educadamente, mas queria se livrar do sujeito o mais rápido possível para continuar o trabalho.

As horas passam lentamente, quando ele ouve novamente o ruído da porta se abrindo, vê um velho curvado amparado por uma bengala parado na porta. Estranha aquele homem desconhecido, acompanhado de outros quatro homens bem mais jovens, vestidos com ternos pretos, estarem ali aquela hora. Por que o segurança tinha deixado eles entrarem?  O velho se dirige até ele com passos lentos e arrastados. Aproxima-se e para junto à mesa, apoiando as duas mãos na bengala.

- Dr. Iolaus? - Pergunta o velho com voz firme.

Iolaus tira os óculos encara o velho e responde: - Sim, sou eu.

......................................................

O celular toca, Gabrielle pega o aparelho e olha para Zina. Ela faz sinal que atenda ao mesmo tempo em que avisa a central para rastrearem a ligação.

- Alô? - A pessoa se identifica e Gabrielle abre um tímido sorriso. - A mulher a observa.

- Mesmo?..., que ótimo! Claro..., claro, vou sim, mas essa hora como vou entrar na biblioteca?

- Vou avisar o segurança. - Responde o homem do outro lado da linha.

- Você está bem? - Pergunta a loira. - Estou achando sua voz estranha.

Ouve a resposta, confirma sua ida ao encontro marcado e se despede. Zina recebe a informação da central que a ligação foi feita da biblioteca da universidade.

O carro se dirige para a universidade. Gabrielle está pensativa, olha para a estrada em silêncio. Como é possível isso? Ontem estava viajando de volta para casa, depois de um ano e meio fora trabalhando e agora sua vida virou de cabeça para baixo.

- Você trabalha para quem? - A loira pergunta depois de um longo silêncio entre elas.

Zina olha para a mulher durante alguns segundos e volta à atenção para a estrada. - Isso pede uma resposta complicada. - Responde a agente.

- Estou vendo que tudo está muito complicado, mas vou fazer o possível para entender. - Diz Gabrielle firmemente. - Você é da CIA? FBI? SCOTLAND YARD?

- Não pertenço a nenhuma dessas. - Zina responde secamente.

- Ah que ótimo, agora ficou melhor ainda! - Disse ironicamente a loira. - E o que vocês querem comigo?

- Você saberá na hora certa, mas posso dizer que você tem uma coisa que algumas pessoas querem e que farão qualquer coisa para ter, inclusive matar e nisso você está incluída. - Reponde friamente a agente.

Vendo que não adiantara continuar com perguntas. Gabrielle cala-se fixando o olhar na estrada.

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- Queremos falar com o Dr. Iolaus. - Informa a mulher ao segurança da cabine junto aos portões da universidade.

- Quem deseja falar com ele? - Pergunta o segurança.

- Diga que é Gabrielle. - Se identifica a arqueóloga. - Ele está nos esperando.

Após as verificações habituais o guarda abre o portão e o carro entra vagarosamente no campus da universidade. Zina para o carro no estacionamento atrás da biblioteca. Faz uma comunicação com a central, tira o pequeno aparelho do ouvido e desce do carro olhando em todas as direções, seus sentidos estão alerta. Zina acompanha Gabrielle para a sala onde está o Dr. Iolaus.

Abrindo a porta da sala veem uma cena que deixa Gabrielle aterrorizada. Seu amigo Iolaus com o rosto deformado pelos hematomas, o sangue escorre pela boca e por um corte profundo na sobrancelha esquerda, o olho esquerdo já não está mais visível.

- Olá meninas! - Diz o velho com sarcasmo, olhando as mulheres.

Dois homens imediatamente apontam pistolas automáticas para cabeça de Gabrielle e Zina. O medo toma conta da arqueóloga.

- Olá Xena, quanto tempo hein? - Diz o velho se dirigindo a agente, com um leve sorriso.

A mulher o encara calmamente sem nenhuma palavra.

- Xena? - Gabrielle fica confusa com a nova identificação da mulher e se assusta ao ver o homem que mirava a cabeça da agente dar-lhe uma forte coronhada.

Zina cai, mas não perde os sentidos. Coloca uma das mãos na nuca massageando o local atingido.

- IDIOTA! - Berra o velho, fuzilando o homem com o olhar.

O velho confortavelmente sentado, volta a atenção para a loira.- Então essa é a famosa arqueóloga Gabrielle!

Gabrielle olha para Zina, que se levanta com dificuldade. A loira faz menção de ajudá-la, mas o homem que mira sua cabeça, engatilha a arma. Ela fica imóvel, apenas observando a mulher se levantar.

- Vai ter que fazer mais que isso para acabar comigo seu bastardo. - Murmura a agente se dirigindo ao homem que lhe bateu.

O homem revista Zina, usa as mãos à vontade, sem nenhuma etiqueta, apalpando todas as partes de seu corpo, metendo as mãos por dentro da roupa; uma já está a caminho de seu sexo.

- JÁ CHEGA! - Grita o velho, olhando o homem com ódio.

Encontra uma arma com silenciador, dois pentes de recarga de balas e uma identificação, colocando tudo na mesa.

- Me entregue o pergaminho! - Ordena o velho, olhando para Gabrielle.

- Está num lugar seguro. - A loira responde, mas sua voz não soa com segurança.

- Não me faça perder tempo! - Avisa o velho se desencostando do encosto da cadeira.

- Acha mesmo que eu andaria com uma raridade daquela na bolsa? - Gabrielle responde sem saber se esse jogo teria algum resultado.

A resposta é recebida com irritação pelo velho que levanta-se e com surpreendentes passos firmes e rápidos, se dirige à loira e lhe dá uma violenta bofetada. - Não me faça perder a paciência! - Ele diz.

O impacto da pancada faz o rosto de Gabrielle virar para o lado, a dor é imediata, pouco depois um fio de sangue escorre pelo corte do lábio atingido. Seus olhos lacrimejam instantaneamente.

O velho encara Gabrielle pensativo, o olhar penetrante a deixa cada vez mais tensa. Faz todo esforço que lhe é possível para não deixar transparecer o medo que a consome. O velho ordena para o homem que mantém Gabrielle sob mira: - Reviste-a.

O homem não faz nenhuma cerimônia em apalpar o corpo da loira. O ato de revista é acompanhado atenciosamente pela agente. Os olhos de Zina faíscam.

Por fim ele olha o interior da bolsa surrada. - Nada. - informa o homem tornando a mirar na cabeça da loira.

Zina olha intrigada para Gabrielle - Nada? - Ela pensa.

O velho fala encarando Gabrielle com um olhar perverso, se deliciando com o terror que está causando nela: - Como podem ver tentei convencer o amigo de vocês a dizer onde o pergaminho está, mas ele não quis cooperar, mas já que você está aqui, ele não tem mais utilidade para mim. - Decreta assim a morte de Iolaus.

- O pergaminho só tem valor arqueológico, o que você quer com ele? - Gabrielle pergunta intrigada.

- Eu tenho interesse nele e agora chega! - O velho faz um gesto para o homem a sua direita. O homem arrasta Iolaus para o meio da sala e o força a ajoelhar-se. Iolaus está com as mãos amarradas atrás das costas.

Gabrielle nunca viu ninguém ser executado. Ao ver Iolaus ajoelhado no deplorável estado em que estava, suas lágrimas brotaram sem controle.

- NÃÃÃOOOO! - Ela grita desesperada entre soluços.

- Ora, ora..., nossa querida Gabrielle não quer ver o espetáculo? - O velho sinaliza para o homem que a ameaça com a arma. O homem agarra-a pelos cabelos da nuca. Ela chora descontroladamente. - Assista a beleza de ver a vida deixar um corpo. Não verá espetáculo mais belo! - O velho solta uma gargalhada aterrorizante.

Zina assiste toda a cena impassível. O homem encosta a arma na nuca do pobre Iolaus que olha para as mulheres uma última vez.

Zina observa que todos na sala estão com a atenção desviada para a execução de Iolaus. Sabe que Gabrielle não resistirá e entregará a localização do pergaminho e aí tudo estará perdido.  Chegou a hora!

Gabrielle fecha os olhos. Ouve um grito, um estampido e em seguida o barulho do corpo caindo no chão e já imagina Iolaus inerte numa poça de sangue. As lágrimas rolam descontroladas, não tem coragem de abrir os olhos. Seu corpo se sacode em soluços. Outros dois estampidos. A loira está a beira de um colapso nervoso.

Gabrielle não vê o que se passa na realidade. Zina com um potente chute parte o joelho do homem que a ameaçava com uma arma, fazendo-o gritar de dor e com a arma que lhe foi tomada num piscar de olhos foi morto com um tiro. Num ato contínuo ela acerta dois tiros no homem que executaria Iolaus. A partir desses segundos que se passaram já não existe mais o efeito surpresa. Enquanto isso o homem que segurava a cabeça de Gabrielle e tentava usá-la como escudo é surpreendido com uma violenta cabeçada no nariz. Gabrielle nunca pensou que seria capaz de agredir alguém, mas a realidade estava provando o contrário.

O desequilíbrio dele é suficiente para que Zina o atinja com um certeiro tiro na testa. Ao mesmo tempo ela grita para Iolaus e Gabrielle: - DEITEM NO CHÃO! 

Zina se joga no chão fazendo o cadáver do homem que a agredira de escudo. O homem a esquerda do velho abriga-se atrás de uma mesa, mas num descuido na tentativa de acertar Zina, é morto com um tiro na garganta. Com surpreendente vitalidade o velho pega a arma do homem que acabara de ser morto ao seu lado.

- SAIAM DAQUI! DEPRESSA! - Zina berra para Gabrielle e Iolaus enquanto atira várias vezes contra o velho.

Iolaus e Gabrielle, correm para a porta sem olhar para trás. O velho cambaleia e cai pesadamente no chão. Após alguns segundos a agente se aproxima cautelosamente da mesa, pega sua arma, guarda os pentes de recarga no bolso do casaco, sua identificação e sai correndo porta a fora.

- Vamos..., só mais um pouco! - Diz Gabrielle incentivando Iolaus, que cambaleando, arrasta os pés com dificuldade, as pernas quase não obedecem ao seu comando. A loira o sustenta pela cintura e pelo braço apoiado em seu ombro, o peso do homem parece aumentar a cada passada, mas já estão mais próximos de uma das entradas laterais.

- Por favor..., falta só um pouquinho. - Implorava Gabrielle arfando, o peso estava demasiado, mas ela não o largaria, nem que tivesse que arrastá-lo porta a fora, ela o tiraria dali.

A prioridade de Zina agora é encontrar Gabrielle e Iolaus. Corre para o carro, mas não os encontra. Olha aflita procurando sinal dos dois e nada. Concentra-se apurando seus sentidos, até que ouve um sufocado gemido, vindo da esquina do prédio. Corre para o local e encontra os dois fugitivos.

- Eu mandei vocês fugirem, porque você é tão teimosa? - Disse a agente irritada. Pela primeira vez Zina se descontrolava numa missão. A ideia de ver aquela mulher morta mexia com ela.

Gabrielle fica surpresa ao ver que finalmente aquele iceberg de olhos azuis estava demonstrado que existiam sentimentos debaixo daquela couraça.

Um gemido chama atenção das duas para a realidade. É Iolaus que mal se mantém de pé, está seriamente ferido e o esforço da corrida o deixou ainda mais debilitado. Está sem fôlego, quase desmaiando. Zina e Gabrielle amparam o homem tentando erguê-lo.

- Temos que levá-lo a um hospital, ele está muito ferido. - Diz Gabrielle.

- Nada de hospital, vamos embora. Temos que sair daqui rápido. - Responde a agente.

- Ele não vai aguentar ficar sem socorro, vai morrer! - Insistia a loira.

- Ele vai ser socorrido eu prometo, agora vamos. - Disse Zina enquanto erguia Iolaus, abraçando-o pela cintura e segurando seu braço por sobre o ombro. O homem solta um urro de dor. Gabrielle se aflige com a situação do amigo, mas sabe que é necessário saírem dali, o dia já vai amanhecer e vão encontrar a biblioteca com vários cadáveres fazendo parte do acervo.

Chegam no carro, acomodam Iolaus e partem a toda velocidade. Zina põe o minúsculo aparelho no ouvido, aperta um botão no painel do carro e diz em bom som: - Vermelho!

Numa guinada no volante Zina entra ruidosamente na estrada, quase batendo em outro carro que se aproximava e que buzina em protesto pela “fechada”. Dirige a grande velocidade, Iolaus urra de dor com as sacudidas do carro. Zina acelera sem se importar com os sinais controladores de velocidade.

Gabrielle está assustada com Zina, mas prefere não falar nada. Após dezessete minutos de corrida, ela vira a esquerda entrando numa via larga e segue até chegar numa casa de fachada verde. Quando entra na garagem, dois homens saem imediatamente e tiram Iolaus do carro, acomodando-o numa maca. Tomando os cuidados para seu socorro imediato, seguem para dentro da casa. Gabrielle tenta segui-los, mas é impedida por Zina.

- O que pensa que está fazendo? Eu quero ir com ele! - Diz a loira.

- Você vai ficar aqui, ele está em boas mãos, será bem cuidado, não se preocupe. - Diz Zina tentando acalmá-la.

- Me solta! - Gabrielle esbraveja, tentando se soltar da agente.

Zina tenta controlá-la, mas Gabrielle se debate com força. Zina não vê alternativa a não ser apelar para força bruta. Ela segura Gabrielle pelos ombros sacudindo-a violentamente.

- PARE COM ESSE HISTERISMO! CHEGA OUVIU BEM, JÁ CHEGA! CONTROLE-SE! - A agente berra.

Como se tivesse levado um potente choque Gabrielle para assustada, os olhos verdes da loira começaram a lacrimejar e as lágrimas foram escorrendo pelo seu rosto. Zina compreendeu que todos esses últimos acontecimentos tinham sido demais para ela. Estava emocionalmente abalada, perdida, cansada, apavorada e sozinha. Gabrielle num impulso de fragilidade se abraça a Zina, se aconchegando em seu peito. Zina fica surpresa com a atitude, mas acaba se deixando levar por aquele contato e responde ao abraço, aninhando ainda mais aquela criatura em seus braços. Acaricia seus longos cabelos loiros, quer transmitir para a mulher a sensação de que ela está segura, protegida, que não está sozinha, que aconteça o que acontecer ela estará ao seu lado.

Gabrielle soluçava. - Chore minha querida, chorar vai lhe fazer bem. - Zina murmurou.

Gabrielle sentia no aconchego daquele colo uma sensação de segurança inexplicável. Aos poucos vai se acalmando. Ouvindo o coração de Zina bater compassadamente, sua respiração e sua voz, agora num tom quase sussurrante. Quanto tempo elas estiveram assim abraçadas, não sabia dizer, sabia apenas que o calor do corpo daquela mulher lhe fazia bem.

Minha querida..., Santo Deus, Eu disse minha querida? - Pensava Zina.

Zina enxuga delicadamente o rosto de Gabrielle, examina a perfeição de seus lábios. Gabrielle não se esquiva desses carinhos, ao contrário se sente bem.

- Desculpe..., me descontrolei. - Disse Gabrielle, encarando a agente. Agora ela estava realmente notando o quanto aquela mulher era linda, seus olhos azuis realçavam com os longos cabelos negros, seus lábios e seu porte completavam o conjunto.

Não desviam os olhos uma da outra durante alguns instantes, até que começa a ser constrangedor, pelo menos para Gabrielle.

- O que foi? - Pergunta a loira, por fim.

- Nada. - Responde Zina finalmente desviando o olhar.

Ouvem uma porta se abrir e se afastam. Uma mulher negra, magra, de cabelos presos no alto da cabeça, caminha até elas.

Zina saúda a mulher e apresenta a Dra. Mayra a Gabrielle. A médica informa que Iolaus está em observação; um braço e duas costelas quebradas, alguns pontos no rosto, muitos hematomas espalhados pelo corpo, mas que felizmente não teve nenhuma hemorragia interna, nem órgão perfurado, mas como é um homem forte com bom repouso e tratamento, em trinta ou quarenta dias vai estar “novinho em folha”. - A médica se despede e retorna a casa.

........... Vidas passadas.

- Onde escondeu o pergaminho? - Pergunta Zina curiosa.

- Está num lugar seguro. - Gabrielle responde. - Você se arriscou muito lá na biblioteca.

- É o meu trabalho..., mas como você não tinha o documento estava temporariamente a salvo. - Diz a agente.

- Temporariamente? - Pergunta a loira.

- Depois de Iolaus, o próximo passo seria torturarem você e nisso eu lhe garanto que eles são especialistas. Você acabaria falando e de posse do documento, você não teria mais utilidade e aí..., “bang”. - Zina aponta a mão como se fosse uma arma, na direção de Gabrielle.

- Por que quando o velho lhe cumprimentou te chamou de Xena? - Gabrielle desconversa.

- Isso é difícil de explicar... Você acredita em terapia de regressão? Acredita que se possa saber quem você foi em vidas passadas? - Zina pergunta, observando a reação da mulher.

- Você quer dizer o que chamam de “terapia de vidas passadas”? Eu já li a respeito, mas confesso que não acredito. Vejo mais como um caso de hipnotismo em que a pessoa é induzida a acreditar que viveu em outra época..., que teve uma outra vida. Acho muito fantasioso, mas o que isso tem haver com a tal Xena..., o velho e Ares? - Questiona a loira.

- E seu eu lhe dissesse que a “tal” Xena e Ares, ainda andam por aí? - Pergunta Zina.

Gabrielle olha Zina incrédula. - Eu diria que a pancada na sua cabeça foi pior do que eu imaginava. - Responde a loira ironicamente.

Zina percebe que não adiantaria continuar com a conversa, que ainda não era hora, tudo seria mostrado no seu devido tempo. Suspira profundamente dando o assunto por encerrado e volta a perguntar sobre o paradeiro do pergaminho. Por alguns instantes Gabrielle a olha avaliando a insistência, mas sabe que não tem motivo para desconfiar da mulher. Dirige-se para o carro e tira debaixo do seu assento dois documentos e entrega para Zina. A mulher fica admirada com a ingenuidade de Gabrielle, esse seria um esconderijo óbvio demais.

Zina olha a carta que Gabrielle lhe entrega e a devolve em seguida. - Você leu? - Pergunta a loira.

- Fui eu que lhe enviei. - Zina responde secamente.

- Como..., como você sabia que eu estava com o pergaminho? - Pergunta a loira boquiaberta.

- Nós temos olhos e ouvidos por todos os lugares, trabalho para pessoas que são encarregadas de zelar pela guarda de tesouros históricos e esse pergaminho é a comprovação física da existência de deuses e que eles interagiam com os mortais e além disso eu tenho um interesse muito particular nesse documento, ele não pode cair nas mãos... - Zina percebe que estava falando além do necessário para o momento e cala-se repentinamente.

As informações deixavam Gabrielle cada vez mais confusa.

Zina olha o pergaminho durante alguns minutos e resolve ficar com ele sob sua guarda.- Vamos! - Sem mais nenhuma palavra ela segura Gabrielle pelo braço, levando-a para o carro.

Zina dirige calada. Seus pensamentos são interrompidos quando numa olhada pelo retrovisor, ela vê que estão sendo seguidas por um carro preto de vidros escuros.

- Aí está você seu desgraçado! Aperte o cinto Gabrielle! - Avisou.

Com uma virada brusca no volante Zina entra na primeira rua a esquerda, acelerando o máximo que o trânsito permite, desviando habilidosamente dos carros a sua frente, mas é seguida com a mesma habilidade pelo carro. A perseguição prossegue por toda Manhattan.

Entra na Sétima Avenida a toda velocidade, ultrapassando vários sinais vermelhos da via. Os carros freiam bruscamente tentando evitar colisões, mas nem todos são bem sucedidos nas manobras, ocorrem vários engavetamentos, o trânsito que já tinha retenções se tornou caótico, motoristas xingando irritados, carros atravessados nos cruzamentos. Minutos depois se ouviam sirenes gritando pelas ruas, tentando chegar aos locais dos acidentes.

Gabrielle apavorada olhava para Zina e para trás constantemente, mesmo com o cinto de segurança a loira era jogada de um lado para outro a cada curva ou desvio de outro veículo. Zina sabia que tinha que sair da cidade, na estrada livre teria mais chance de escapar. Consegue alcançar a ponte do Brooklyn e acelera mais ainda. Dentro de alguns minutos estarão fora da cidade. Zina ao sair da ponte pega o rumo para estrada estadual, mas o carro continua perseguindo-as. Ela percebe que uma carreta está se aproximando de um cruzamento após a divisa da cidade.

- SEGURE-SE! - Zina grita enquanto o carro vai se aproximando do cruzamento juntamente com a carreta que trafega em sentido transversal. A carreta não tem como frear a tempo, o motorista pressiona a buzina alertando, mas Zina ignora o aviso e pisa ao máximo no acelerador, a aproximação se dá a cada segundo, mais e mais. A carreta buzina estrondosamente, o choque será inevitável naquela velocidade.

Gabrielle está totalmente em pânico e grita a todo pulmão: - NÓS VAMOS MORRER!

Faltando trinta metros para a colisão fatal, Zina com um rapidíssimo golpe de direção desvia da carreta, dá uma derrapada no acostamento levantando fumaça dos pneus, retorna e estrada principal com outra derrapada, recupera o controle do volante enquanto observa pelo retrovisor a carreta se desgovernar e capotar bloqueando a estrada.

- QUAL FOI SUA IDEIA? NOS MATAR SUA LOUCA? - Pergunta Gabrielle aos berros.

- Mas escapamos não foi? - Zina responde friamente enquanto se distanciava velozmente do acidente.

Seguem viagem sem dizerem uma palavra. Tinham percorrido seiscentos quilômetros quando fizeram a primeira parada. Gabrielle está de péssimo humor, após horas de silêncio pergunta: - Para onde estamos indo?

- Vamos encontrar uma amiga. - Responde Zina secamente.

- Amiga? Você tem amiga? Está brincando não é? - Fala a loira ironicamente.

Zina pega o celular, vira-lhe as costas e se afasta para um telefonema. Gabrielle desiste, a mulher não vai falar mais do que isso, só dá informações em doses necessárias.

Após reabastecer o carro, elas seguem viagem. Mais alguns quilômetros além, encontram uma bifurcação, entram a direita e agora seguem numa via que se afasta cada vez mais da estrada principal. Ao longe Gabrielle já vê os contornos de uma cidade, embora não seja uma metrópole como Nova York, era grande o suficiente para abrigar mais de trezentos mil habitantes.

Zina entra na cidade e segue pelo labirinto de ruas sem vacilação. Passam pelo centro e continuam até um bairro onde as ruas são arborizadas, algumas crianças brincam com cachorros, enquanto outras gritam correndo pelas calçadas. Os carros trafegam calmamente pelas vias.

Zina para em frente a uma casa que parece ser uma modesta clínica. Se dirige a porta e toca a campainha. - Gabrielle observa do carro. - A mulher que atende a porta abre um largo sorriso e a abraça alegremente, Zina responde ao abraço com o mesmo entusiasmo, para surpresa de Gabrielle.

A mulher aparenta estar na faixa dos cinquenta anos, tem uma farta cabeleira ondulada castanha, usa óculos de aro redondo com lentes azuis e diversos colares coloridos, sendo um deles um enorme medalhão com símbolo Yin Yang; a mulher lembrava algum personagem saído do movimento hippie dos anos sessenta.

A expressão de espanto de Gabrielle era visível, a mulher não condizia com o tipo de gente com que Zina se relacionaria. Pelo menos assim ela acreditava.

- GABRIELLE! - Zina acena chamando-a.

Gabrielle apressa-se em sair do carro e se juntar as duas. São levadas pela mulher para um cômodo decorado de maneira simples, dois diplomas fixados nas paredes de cor clara, mostravam aos visitantes a especialização da mulher.

Uma suave música, incenso com aroma de flores e um grande aquário com peixinhos coloridos criavam um ambiente convidativo para um relaxamento. Gabrielle olhava tudo confusa, tentando entender o que estava acontecendo. - Porque ela estava ali? Isso não fazia sentido. Aliás..., nada andava fazendo sentido em sua vida ultimamente. - Pensava.

- Gabrielle..., lembra-se quando alguns dias atrás falamos sobre terapia de regressão? - A voz de Zina, interrompe seus pensamentos.

- Lembro. - Gabrielle responde.

- Está na hora de você conhecer um pouco mais sobre você, o velho e sobre mim. - Zina agora tinha um ar mais sério que o de costume. - Sei que você não acredita na teoria de vidas passadas, mas somente se você passar pela experiência é que irá entender o que está se passando... A Dra. Cyrene pode lhe ajudar a entender, mas você tem que permitir isso, compreende? - E continua. - Eu já fiz e lhe garanto que foi muito esclarecedor, me deu muitas respostas.

- Você fez?... Por quê? - Pergunta a loira.

- Quando eu era criança tinha sonhos assustadores e incompreensíveis. Conforme fui crescendo comecei a ter alucinações. Via cenas de massacres, guerras, destruição, coisas que não conseguia explicar de onde vinham e sempre me via participando desses acontecimentos. Pensei que estava ficando louca, foi quando na academia de polícia fui encaminhada para o psiquiatra e durante uma seção de terapia, ele sugeriu a regressão para tentar descobrir a origem do problema. - Explicou Zina.

Gabrielle olha para Cyrene com desconfiança. - Deve ser mais uma charlatã querendo tirar proveito da ingenuidade das pessoas. - Pensava. Não entendia onde Zina estava querendo chegar, aquilo era irracional, inaceitável para os padrões científicos.

- Zina, isso não vai dar certo..., eu não acredito nisso, não vai dar certo. - Observou Gabrielle.

Zina a encara por alguns minutos. - Você está com medo de quê? - Perguntou.

- Eu não estou com medo de nada, simplesmente não acredito nessa história de “regressão”. - Responde irritada.

Zina olha para Cyrene. Convencer Gabrielle não seria tão fácil quanto ela imaginava. Teria que usar as artimanhas psicológicas que ela sabia articular tão bem. O dia prometia ser longo..., muito longo.

............ O Deus da guerra.

O velho se levanta como se acordasse de um sono repousante, espreguiçando os braços; seu corpo crivado de balas não significava nada para ele, afinal ele era imortal, a forma humana era apenas uma “casca” que usava através dos tempos, cada época assumindo uma nova identidade, mas sempre presente desde que a raça humana passou a existir na face da terra. Já de pé, olha em volta os míseros mortais que jaziam na sala.

Ele tinha que admitir, ela continuava sendo a guerreira invencível dos tempos da Grécia antiga. Isso o excitava, ele a desejava mais do que nunca.

- Esses humanos me enobrecem a cada dia que passa. Estão cada vez mais destrutivos, as guerras mundiais, armas de destruição em massa..., Aaahhhh, isso é ótimo e ninguém melhor para comandar esse caos que minha princesa guerreira. - Diz o velho, já totalmente recuperado. Indiferente à cena ao seu redor, pega a bengala e num clarão desaparece do local.

Estacionado próximo a porta principal da biblioteca, após um breve cochilo o motorista se  assusta com o baque de sua própria cabeça pendendo para frente; sonolento tentando espantar o sono que teima em chegar, liga o rádio para ouvir as últimas notícias, é uma hora da manhã, o rádio fala sobre o atentado no metrô de Madri, sobre a interminável guerra no Oriente Médio e outras notícias do gênero, que já se tornaram corriqueiras no mundo atual.

- Estou todo moído. - Resmunga o motorista.

- Os carros não foram feitos para se dormir. - Fala uma voz firme no banco traseiro.

O motorista se assusta, virando-se de um pulo dá de cara com o velho sentado observando-o friamente.

- Senhor..., eu..., eu... - O homem gagueja desconcertado.

- Cale-se! - Esbraveja o velho - Vamos para casa.

O carro sai do campus da universidade. O motorista não entende como o velho entrou no carro sem que ele ouvisse nenhum som, é como se ele tivesse se materializado dentro do carro, mas isso era impossível. Numa olhada pelo retrovisor depara com os olhos frios e perversos do velho. Teve a sensação que sua alma seria arrancada do corpo somente com o poder daquele olhar. Desconfortável com a situação, desviou o olhar, fixando a atenção na estrada.

A situação tinha se complicado. O velho não esperava que a loirinha fosse mostrar resistência e agora além de tudo ela tinha uma experiente e excelente guarda-costas. Zina e o velho já tinham se confrontado em outras épocas; ela era uma adversária a altura, combativa, obstinada, inteligente, uma líder nata e uma linda e desejável mulher. Seu passado era bem conhecido pelo velho, mas agora eles chegaram numa encruzilhada. Zina estava no caminho entre ele, a arqueóloga e o pergaminho. Sabia que ela tinha interesse que o documento não chegasse as mãos dele e que ela arriscaria a própria vida para detê-lo.

O velho digita um número reservado. A ligação é rapidamente atendida. - Alô? - Diz o homem atendendo o celular. Sem perda de tempo com formalidades, ele recebe ordens para localizar uma mulher de nome Cyrene e mais algumas instruções.

- Quero essas informações ainda hoje e não quero esperar muito. - Determina o velho e sem mais palavras desliga o telefone.

Quase uma hora depois o telefone toca, era o homem com as informações. - Venha imediatamente para cá. - Ordena o velho. - Vamos fazer uma visita a essa senhora. - Desliga o telefone, com um malévolo brilho nos olhos.

......................................................

- Você já teve a impressão de algum fato ou alguma cena estar se repetindo na sua vida? - Cyrene pergunta e sem esperar resposta continua. - Já teve a sensação de conhecer profundamente uma pessoa sem ter convivido com ela, simplesmente com o fato dela ter aparecido na sua vida?

Gabrielle olha confusa para Cyrene e em seguida para Zina. Para por alguns minutos como se avaliasse o que responderia. - Eu..., já tive essa sensação sim.

- Você já teve essa sensação com relação a ela? - Pergunta Cyrene se referindo a Zina. Os penetrantes olhos azuis da agente incomodavam Gabrielle, é como se ela estivesse lendo seus pensamentos, vendo sua alma.

Gabrielle se sentia perturbada com as perguntas de Cyrene. Zina assistia tudo sentada em uma poltrona próxima, calada, apenas observando.

- Eu..., bem é..., já tive sim. - Responde abaixando os olhos, tentando escapar do olhar de Zina.

- E como você explica isso? - Pergunta Cyrene.

- Eu não sei como explicar, mas outro dia enquanto estávamos..., - Olhou rapidamente para Cyrene, sentiu suas faces corarem e desconcertada de cabeça baixa, continuou. - Enquanto estávamos abraçadas. - Disse num quase sussurro.

- O que você sentiu? - Perguntou Cyrene.

Gabrielle a olha e muito embaraçada responde: - Bem, foi uma sensação de aconchego, de companheirismo, me senti protegida e...

- E... ? - Perguntou Cyrene, insistindo que a loira continuasse a falar.

Gabrielle levanta os olhos, deparando com os olhos de Zina, que em nenhum momento deixara de observá-la e que também espera ansiosamente pela resposta, embora não demonstre.

- Vamos fale, o que mais você sentiu? - Insistia Cyrene.

Gabrielle engoliu em seco, as mãos suavam, suas faces queimavam, a respiração estava alterada e num profundo suspiro, como se procurando coragem, disse encarando o olhar de Zina. - Me senti amada! - No momento seguinte sentiu um alívio inexplicável.

Zina se controla, gostaria de abraçá-la, de aconchegá-la novamente em seu colo, mas sabia que ainda não era a hora.

Com muita perícia e precaução, Cyrene vai mostrando a Gabrielle as intrigantes “coincidências” de sentimentos desde que ela e Zina se encontraram, mas sabia que isso não seria suficiente para convencer a loira que seus caminhos sempre estiveram unidos desde encarnações passadas e que agora depois de muito, muito tempo suas almas tinham se reencontrado. Zina sentia isso, agora restava Gabrielle encontrar esse caminho. A terapeuta trabalhava as emoções da loira, instigando a curiosidade, a inquietação e a ansiedade dela.

........... Lembrando o passado.

Uma pequena porta se abre, ela desce uma estreita escada em caracol que se estende por vários metros. Tudo é escuro a sua volta, nenhum som, a não ser o da sua própria respiração. Chega enfim a outra porta que pelo estado, mostrava a falta de uso. Provavelmente não conseguirá abri-la, mas para sua surpresa, o leve encostar de seus dedos faz a porta se abrir sem qualquer esforço. Ela abaixa a cabeça para passar pela porta estreita; entra na expectativa de encontrar um novo mundo, recuar alguns séculos, mas assim que coloca os pés do outro lado da porta, se depara com a dura realidade do... nada.

Esse ambiente já não é uma escuridão total como o anterior, existe uma penumbra que lhe permite enxergar que é o prosseguimento de um túnel. Uma distante luz amarelada indicava o seu final. Enquanto percorre o longo túnel vê que existem inúmeras portas em ambos os lados de seu comprimento, à medida que ela avançava as portas se abriam, exibindo como filmes, cenas marcantes de suas vidas passadas. Gabrielle estava num estado de letargia tamanha que não conseguia pronunciar uma palavra, se limitava a assistir seu passado se tornando presente ante seus olhos. Via-se como uma simples camponesa vivendo em uma aldeia na Grécia antiga; em outra grávida e depois parindo uma menina que chamou de Hope; em outra se via como uma guerreira amazona; em outra se mostrava como um jovem guerreiro indiano; em outra era uma guerreira de cabelos curtos manejando sais com agilidade indescritível, em mais outra assistia sua própria morte crucificada em uma montanha gelada. As cenas queimavam em seu cérebro, marcando a fogo suas lembranças. Mostrava suas jornadas pela Grécia antiga, Roma, Bretanha, Egito, Índia, China, algum país nórdico e vários outros lugares. O mais curioso era que sempre estava acompanhada por uma mulher alta, forte, de longos cabelos negros e profundos olhos azuis, de destreza e habilidades incomparáveis, uma guerreira. Sentia um vínculo mais forte que a morte entre elas, seus destinos estavam traçados para nunca se separarem, elas se pertenciam.

A luz já não tem mais a tonalidade amarelada, vai se tornando cada vez mais branca. As lembranças de dores e felicidades, de alegrias e tristezas vividas se fixando em sua mente que já trabalha absorvendo as informações em uma velocidade vertiginosa. Agora ela lembra-se de Pérdicas, Callisto, Alti, Joxer, César, Ephiny, Beowulf, Brunhilda, Eli e muitos outros que passaram pelas suas vidas. A luz vai se intensificando cada vez mais. Aphrodite..., Ares... Não conseguia enxergar a fonte da poderosa luz, mas sentia que a porta estava lá. A luz aumentou a tal ponto que a está cegando, queimando seus olhos..., no meio dela vê uma figura se delinear e vir em sua direção. Parecia uma mulher...É ela...

- XENA! - Grita, acordando num pulo no divã.  Está saindo do transe, se sente desnorteada, confusa, assustada. A respiração ofegante, a testa molhada de suor, sente o corpo trêmulo, quando a realidade a tira do choque depara com a figura de Zina segurando-a, tentando acalmá-la. Num ímpeto a loira se abraça fortemente a mulher. Sente seu abraço ser correspondido, se sente segura nos braços daquela mulher, seja ela quem for.

......................................................

O motorista se sente tenso por causa do homem ao seu lado e do velho as suas costas. - Esses caras mexem com meus nervos! - Pensa.

O carro se dirige a cidade de trezentos mil habitantes. Após algum tempo para na porta de uma modesta clínica. O homem desce do carro e abre a porta para o velho. Entram na clínica sem se anunciarem. Cyrene se surpreende quando o velho e o outro homem entram na sala, ela imediatamente se levanta protestando pela invasão.

O velho se depara com a cena de Gabrielle aconchegada nos braços de Zina. Contrai as feições cerrando os dentes com força, seu olhar faísca de raiva, ou será ciúme?

Ao sentir a invasão da sala, Zina num reflexo de milésimos de segundos, levanta-se empurrando Gabrielle para trás de si, simultaneamente pega um peso de papel sobre a mesa junto ao divã, escondendo-o na mão.

O velho acena com a cabeça na direção de Cyrene, o homem saca o revólver da cintura e atira certeiramente no peito da mulher.

A cena passa lentamente aos olhos de Zina, ela acompanha Cyrene sentir o impacto da bala; a vê se desequilibrar esbarrando na mesinha e derrubando os objetos. O corpo cai pesadamente entre a mesinha e o sofá de dois lugares. Ela grita: - MÃÃEEE!

- Mãe?! - Repete Gabrielle surpresa.

Com os olhos fixos no corpo, Zina percebe um pequeno detalhe. Seus olhos faíscam ódio, seus músculos estão tensos, as feições contraídas lhe davam um ar de perversidade.

O assassino não desvia o olhar dela, pronto para reagir ao menor movimento que ela fizer. O velho senta na poltrona onde minutos antes Cyrene estava acomodada. Um pesado silêncio cai sobre a sala. 

Gabrielle está paralisada. Um gemido vindo do corpo que jazia no chão, chama atenção de quase todos na sala. Essa fração de segundos foi suficiente para que Zina arremessasse certeiramente o peso de papel no rosto do assassino. O objeto atingiu com tamanha força o nariz do homem, que abriu um corte profundo, fazendo o sangue escorrer vigorosamente. O homem se dobra e cambaleia com um grito de dor. O desequilíbrio dele é tempo suficiente para que Zina com um pulo e uma cambalhota em pleno ar caia perto o suficiente para aplicar um violento chute em seu queixo, deslocando visivelmente a mandíbula do homem, o sangue espirra junto com alguns dentes; Zina o agarra por trás e quebra seu pescoço sem piedade. O homem cai pesadamente no chão. O sangue que escorre pelo ferimento do nariz e de sua boca vão formando uma  poça.

O velho assiste a cena impassível. Zina retorna rapidamente para junto de Gabrielle, protegendo-a com seu corpo.

- Me diga uma coisa Xena..., o que foi que você viu nessa loirinha irritante? - Pergunta o velho, fuzilando Gabrielle com o olhar.

O velho agora tem os olhos fixos em Zina. Após alguns segundos de silêncio, com um sarcástico sorriso ele diz: - Você é fantástica! Sua fúria me excita! Você é a mulher perfeita para mim!

O velho levanta-se erguendo seu corpo envergado pela idade, mas vai se aprumando vagarosamente, esticando-se e de repente num clarão, o velho dá lugar a um homem muito alto, forte, olhos negros como a escuridão da morte, cavanhaque e farta cabeleira negra, ombros e peito largo, pernas e braços rígidos, a roupa de couro realçava seu físico musculoso, tinha um ar animalesco nos gestos e na fala, uma aura de perversidade envolvia seu corpo. Agora todos viam o que estava escondido sob a carcaça daquele velho debilitado. Ares o deus da guerra mostrava sua verdadeira face. O ar antes perfumado com incenso, agora era pesado e cheirava a morte.

- Vim buscar as duas coisas que me pertencem..., o pergaminho e você. - Disse, devorando Zina com o olhar. - Me entregue o pergaminho! - Fala, agora olhando para Gabrielle.

- Nunca! - Responde à loira.

Ares cerra os punhos, seus olhos viraram brasas vivas de puro ódio. Sua face se contrai, por entre seus dedos escapuliam diminutas faíscas, sua voz sai poderosa e aterrorizante.

- Pela última vez, me dê esse pergaminho! - Ordena o deus bufando de raiva.

- Não está com ela! - Zina responde encarando-o e retira o pergaminho por um corte no forro do casaco. - É isso que você quer Ares?

 - É Ares, parece que ainda não vai ser dessa vez. - Ironiza Gabrielle.

O deus explode em fúria. Num rápido gesto sua mão descarrega um raio que pulveriza o divã próximo a elas. Com reflexo felino, Zina joga-se no chão agarrada a Gabrielle. Ela sabe que Ares não irá matá-la, mas não quer dizer que não possa feri-la. As mulheres se levantam e pulam por cima do sofá caindo junto ao corpo de Cyrene. O sofá não será empecilho para ele, será pulverizado como o divã. A mente da agente trabalha com rapidez, ela só terá uma única chance. Zina aperta a mão de Gabrielle e diz: - Eu te amo e vou te amar para sempre..., nem a morte vai nos separar!

- AGORA CHEGA XENA, MINHA PACIÊNCIA ACABOU! - Berra o deus. - SE DESPEÇA DA SUA AMIGUINHA!

- XENA NÃÃÃOOOO! - Gabrielle grita enquanto em segundos a mulher se levanta pulando para frente do sofá exatamente no momento que Ares lança o raio na direção do móvel. A descarga é tamanha que um clarão e uma pequena explosão simultânea cega a loira.

Está tudo acabado.

- NÃÃÃÃOOOO! - O grito gutural do deus, vindo da garganta do inferno ressoa pela sala. Por alguns minutos um pesado silêncio paira no ar. O cheiro de queimado se faz sentir. Minutos depois outro clarão se expande pelo ambiente e Ares desaparece no ar.

Do sofá restaram alguns pontos com pequenas chamas consumindo o tecido. Um enorme buraco negro transpassa o encosto. Zina jazia caída próxima ao que restara do móvel.

Gabrielle pula por sobre os restos do sofá, se ajoelha junto ao corpo da mulher, acolhendo-a em seu colo. A cabeça de Zina pende para trás, uma grande mancha negra cobrindo todo seu abdômen marca suas roupas rasgadas devido a explosão.

Gabrielle em choque acaricia seus cabelos negros e o rosto chamuscado; embala a mulher em seu colo como se segurasse uma criança. Não veria mais aqueles lindos olhos azuis, não sentiria mais o aconchego do seu peito nem o calor do seu abraço. A realidade desaba sobre ela abruptamente, a infinita dor da perda a destrói. Agora que ela tinha consciência que Zina era a sua Xena e ela a tinha perdido novamente. As lágrimas escorrem pelo rosto da loira.

- Foi tudo culpa minha..., me perdoe. - Abraçada a Zina seu corpo se sacode em soluços. Grita desesperada, chamando o nome da companheira.

Um gemido chama atenção da loira, mas era Cyrene, que vai recobrando a consciência vagarosamente, sua cabeça dói com o impacto da pancada contra o chão, ela olha em volta atordoada, até que vê Gabrielle agarrada ao corpo de sua filha. Com esforço rasteja para junto delas, a imagem de Zina naquele estado a deixa desesperada.

- O que..., o que houve? - Pergunta sem tirar os olhos de Zina, seus olhos marejam enquanto acaricia os cabelos da filha.

Gabrielle não consegue responder, está em prantos, agarrada fortemente ao corpo. Cyrene também chora descontroladamente.

Um novo gemido e Gabrielle olha para Cyrene, que surpresa olha para Zina.

- AH MEU DEUS, ELA ESTÁ VIVA! - Gabrielle grita. - ELA ESTÁ VIVA! - Cyrene e Gabrielle comemoram entre risos e lágrimas a sobrevivência de Zina.

.....................................................

Zina agora está sentada no sofá na antessala da casa, ainda atordoada. Seu corpo dói, ela olha para Gabrielle ajoelhada a sua frente e depois para Cyrene ao seu lado.

- Você nos deu um susto filha. - Disse Cyrene olhando-a com ternura, enquanto acariciava seus cabelos.

O olhar da loira é pura ternura e admiração. Sente um imenso carinho por aquela mulher guerreira, mas que agora se mostra frágil e desprotegida. Está sem roupas da cintura para cima. Tem uma grande vermelhidão no tórax e nas mãos indicando leves queimaduras, mas nenhum ferimento grave.

- Alguém pode me explicar o que foi isso tudo que aconteceu? - Pergunta a arqueóloga enquanto passa cuidadosamente a pomada para queimaduras nos seios e nas mãos de Zina.

Zina respira fundo e olhando para Gabrielle começa a explicar: - O pergaminho era legítimo, um contrato de casamento com Ares, deus grego feito a milênios atrás. O casamento foi feito diante das Moiras, portanto só poderia ser desfeito pelo próprio Ares, então só me restava fazer com que ele destruísse o documento. - A mulher dá uma pausa, toma um gole de água que Cyrene trouxera e continua. - A única maneira seria expor o pergaminho exatamente quando Ares desferisse o golpe..., me joguei na frente do raio com o pergaminho aberto, ele concentrou tanta fúria no golpe que quando atingiu o pergaminho o incinerou totalmente.

Gabrielle estava parada, pasma com o que escutava. Olhava Zina incrédula.

- Você podia ter morrido... E sua mãe, como pode estar viva? Ela levou um tiro no peito! - Questiona a loira.

Zina mostra a Gabrielle o medalhão Yin Yang que Cyrene tem pendurado no pescoço. O medalhão tinha um amassado profundo. A bala tinha atingido o medalhão impedindo que o projétil perfurasse o coração da mulher. - Quando ela caiu percebi que não tinha sangue na roupa. - Zina explica.

- E você sempre me criticando por causa dos meus colares. - Ironiza Cyrene.

- E como eles vieram parar aqui? - Pergunta Gabrielle, se referindo aos homens.

- Ares sabia que ela foi minha mãe numa vida anterior. Foi só juntar as peças. - Zina responde.

O olhar de Gabrielle mostrava o amor que tinha por aquela mulher e o olhar era correspondido por Zina na mesma intensidade.

Cyrene percebe que sua presença era desnecessária no momento. - Bem..., agora que já está tudo esclarecido, vou arrumar a bagunça. - Diz, enquanto levanta-se se dirigindo a outra sala quase destruída. Esboça um sorriso malicioso e fecha a porta atrás de si.

Quando ficaram a sós, Zina pegas as mãos de Gabrielle e olhando-a nos olhos, com uma ternura  nunca vista antes pela loira, diz: - Gabrielle..., me perdoe por ter destruído seu sonho.

- Como assim? - Pergunta a loira.

- Eu destruí a única prova que você tinha sobre a existência de deuses. - Disse Zina abaixando a cabeça.

Alguns segundos de silêncio se passam, até que a loira sorri com aquele jeitinho todo seu, franzindo o nariz. Com as duas mãos carinhosamente levanta o rosto de Zina e vê um olhar triste e carente, como nunca pensara em ver no rosto daquela mulher.

- Eu não perdi nada..., ao contrário eu achei..., achei o amor da minha vida, a minha alma gêmea, o meu caminho..., e o meu caminho é ao seu lado Xena.

A mulher abre um sorriso de felicidade que ilumina todo seu rosto, seus olhos assumem um brilho radiante, Gabrielle estava novamente com ela.

Num ímpeto de alegria Gabrielle abraça-a com toda força.

- Aaaiiiiii... - Zina solta um gemido de dor, assustando a loira que se afasta imediatamente.

- Ai meu Deus..., me desculpe. Eu esqueci! - Diz Gabrielle.

- Não foi nada..., tudo bem. - Zina respira fundo se recuperando da dor. - Vamos ter que esperar mais um pouco para comemorar, mas depois...

- Zina..., você mal está se aguentando em pé, nem pense nisso. - Diz a loira, embora estivesse intimamente desejosa de uma rapidíssima recuperação de sua amada.

- É, mas beijar eu posso. - Zina responde abrindo um lindo sorriso.

Gabrielle sorri e carinhosamente beija Zina. Os lábios se tocam e se entreabrem num beijo profundo e sensual, um beijo apaixonado, que enche a alma de amor e de luz; um beijo que sela a certeza que suas almas estão destinadas a caminharem juntas por todas as vidas futuras.

Continua...

 



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