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História Encröachment - You Are Innocent


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Hello, cookies :) aqui estou eu de novo, e dessa vez, dentro do prazo. Espero que gostem <3

Capítulo 10 - You Are Innocent


            Eu estava cansada pra caralho, mas tudo o que conseguia fazer era rolar na cama, pensando em tudo e em todos que bagunçavam minha mente, e são pessoas demais só para esse serviço. Em relação a Taylor, eu me sentia bem. Ela claramente herdara a loucura de Psique, e duvido muito que exista algo capaz de curá-la. E isso, junto ao fato de ela ver tudo, não me dava muitas esperanças sobre sua mente embaralhada. Ela podia até se esquecer de que eu estive lá, que eu falei com ela, mas agora, sei um pouco mais sobre ela. Sei como falar com ela. E loucos se entendem. Você diria que eu estou em sã consciência? Eu não.

            Enquanto isso, em relação a certas outras pessoas, eu me sentia extremamente usada. Me sentia ridícula por apanhar dele e depois beijá-lo como se não houvesse amanhã. Não é que eu quisesse beijar ele, eu definitivamente estava com muita raiva, e não queria nem olhar para aquela cara perfeita por um longo tempo, mas se coloque em meu lugar: você resistiria? Você acha que resistiria aos lábios macios e aos toques suaves e sincronizados de Andy Biersack? Você realmente acha? Boa sorte em tentar.

            Eu pensava mentalmente, comigo mesma, sobre tudo. Fazia perguntas a mim mesma, mas eu não conseguiria responde-las nem em mil anos de teorias mentais. Tudo o que conseguiria era um pouco mais de loucura. Me encolhi na cama e puxei mais os cobertores, me esquentando. Por que tinha de ser tão difícil? Por que ele havia me batido? Eu entendo que ele ame a Taylor, isso já está claro, mas Andy não se importava ao menos um pouco comigo? Eu não tinha nem um pequeno espacinho naquele coração congelado? Nada me consolava. E eu tentava encontrar alguém para culpar, mas não haviam opções. Apenas ele. Mas por que minha raiva não parecia suficiente? Sentia que se ele fosse gentil por alguns minutos já me ganharia, e isso me matava por dentro. Eu serei forte. Eu não direi o que ele quer ouvir. Repeti isso para mim mesma por milhares de vezes, mas eu me sentia extremamente inútil. Algo doía em meu peito, uma dor que me rasgava lentamente e me dava vontade de chorar a noite inteira, mas eu não me permitia. Eu queria algo para me preencher. Me sentia vazia e dolorida por dentro. Faltava algo. Alguém. Mais especificamente, a pessoa a quem eu tentava odiar com todas as minhas forças, em vão.

            Seria esse o efeito das flechas de Eros? Esse vazio, seria o buraco deixado por elas? Minha intuição dizia que sim. E eu sabia que não deveria ficar com raiva dele. A culpa, sem dúvidas, não era dele. Esse era apenas o trabalho de Eros, e no fim, não é ele quem decide nada, somos nós mesmos. Mas porque eu teria escolhido Andy? Eu, sem dúvidas, não escolheria ele como o cara para me apaixonar. Tantas pessoas menos problemáticas e carinhosas por aí, e eu teria escolhido alguém incapaz de retribuir o que sinto?

            E sendo mais especifica, o que sinto? Não sei dizer. Tentei tirar esse assunto da cabeça, mas, obviamente, eu não consegui. Mas então parei para pensar: onde estaria Eros? Ele estava “desaparecido” por um tempo. Ele estaria bem? Mas que pergunta besta Drizzle, ele é um deus. Lógico que está bem.

            Mas então, uma dúvida ainda maior surgiu: se Eros havia se apaixonado por Psique, ele avia atirado em si mesmo? Ele teria escolha, se tivesse de atirar? Faria isso por ela? Da mesma forma que Andy me bateu por Taylor...?

            A porta, entreaberta, foi levemente aberta. Fora o vento? Já ia me levantar para fecha-la, quando uma bola de pelos se deitou ao meu lado.

- Olá, Sun - murmurei, acariciando-a enquanto ela se deitava aconchegada próxima a minha barriga -. Não se acostume com isso - repreendi, vendo que ela já dormia. Pelo cheirinho bom, minha mãe já havia dado banho nela. Jane sabe que as coisas andam meio complicadas para mim, então, cuida de Sun, dando comida e tudo o que ela precisa.

            Acariciei a Sun, e me lembrei do gato do Andy. Moon. Parecia até provocação que seu gato tivesse esse nome. Talvez fosse uma brincadeira sem graça de Eros. Talvez.

Repentinamente, notei o quanto estava cansada. A dor nas costas e o latejar de minha cabeça vieram ao mesmo tempo, como se tivessem decidido, juntos, que esse era o momento para me atormentar. Percebi então que havia ficado muito tempo vendo pelos dois planos. E também, que estava com sono. Então me senti cair, cair nos sonhos onde meu irmão sorria e fingia estar bem. Cai no mundo dos sonhos, um lugar doce, uma ilha em meio a tempestade; era como chegar a costa, empurrada pelas marés. Mas antes que eu fechasse os olhos, juro que senti algo impossível. Senti os lábios dele sobre os meus. Um gosto doce em um toque delicado. Mas não durou nem um segundo, e logo os sonhos se tornaram pesadelos.

 

(...)

 

            A escada rangia sob meus All Stars sujos e surrados enquanto eu descia apressada, vestindo um moletom vermelho e aberto, também surrado, por cima de minha camiseta cinza sem estampa e ajeitava minha calça preta melhor na cintura. Não sei se deu para entender, mas eu estou atrasada. Sexta-feira, baby. Não deveriam haver aulas nesse dia.

- Oi, mãe, oi pai; tchau mãe, tchau, pai - passei correndo pela cozinha, pegando uma maçã qualquer no cesto de frutas.

- Drizzle - meu pai chamou firmemente, e eu me virei, impaciente -. Sente-se.

-Pai, estou atrasada, preciso ir para escola - já estava quase abrindo a porta, mas a voz de minha mãe soou, firme.

- Eu te levo - afirmou -. Agora sente-se.

            Já vi que a porra era séria. Me sentei, tensa, e Sun, folgada, subiu em meu colo.

- O que aconteceu? - Não gosto nada de tensão e olhares sérios. Nunca significam boa coisa.

- Drizzle - meu pai começou, calmo -, daqui a dois meses, nós vamos viajar.

- Viajar? - Franzi o cenho, confusa, até que entendi - Ah, não. Agora, não. As coisas estão complicadas demais.

- Não tem jeito, Drizzle. Precisamos visita-los, já faz anos. Você não sente falta da tia Ofélia?

            Ok, acho que você não está entendendo nada. Eles querem visitar nossos parentes no Brasil. Mas não há momento pior para isso. E Ofélia não é exatamente minha tia. É apenas uma amiga dos meus pais, mas ela é como uma mãe para mim. E sim, eu já fui ao Brasil, obviamente, e falo português também. Mas não estou no clima para voltar para lá.

- Mas... Deixem para o ano que vem, temos muita coisa para resolver- fui cortada.

- Não reclame, Drizzle - minha mãe protestou, novamente firme e sem rodeios -. Nós vamos sim, e se quiser levar um amigo ou amiga, está livre. As coisas são baratas lá, assim como as passagens, então dinheiro não é problema.

            Quando minha mão falava dessa forma, eu sabia que não teríamos discussão. Era isso ou isso. Mas não significava que eu gostava. Bufei irritada, e coloquei Sun no chão. Um grande foda-se para os horários. Não quero ir com ela para escola. Caminhei até a porta, e minha mãe se levantou, como se achasse que eu iria com ela, mas quando eu girei a maçaneta e a abri, estaquei ali mesmo.

            Biersack estava encostado em seu carro, em seus trajes escuros e óculos de sol, mesmo que o dia estivesse nublado; e apenas um lenço azul e preto se destacava em meio a todo o preto. Sua pele, branca como porcelana, também se destacava, a pouca luz do dia tornando-a ainda mais clara.

Quando me viu ali, parada na porta - e com minha mãe da mesma forma atrás de mim, um tanto confusa -, ele caminhou até mim, e eu amaldiçoei cada deus que já existira ou existe e proporciona essas ocasiões de merda para mim. Andy caminhou até mim quase como se desfilasse, e não estava muito longe disso, e parou bem na minha frente, sorrindo de lado.

- Bom dia, Drizz - cumprimentou - Bom dia, Jane - sorriu para ela.

            Nós duas respondemos um bom dia meio gaguejado, sem entender direito o que estava acontecendo.

- O que você tá fazendo aqui? - Lembrei que deveria estar com raiva dele, e que não deveria admirar sua perfeição agora. Talvez mais tarde... Drizzle! Nada de admirar a perfeição dele. Foco, Drizzle Young.

- Bem, eu meio que estou te devendo uma, então vim te dar uma carona - respondeu enquanto tirava os óculos, os olhos azuis brilhando, se divertindo com a minha confusão. Não olhe em seus olhos Drizzle, não olhe -. A propósito, estamos atrasados. Podemos ir?

- Você pode ir. Fique à vontade para tirar essa bunda magra daqui e ir, mas eu vou sozinha - passei ao seu lado, fazendo questão de esbarrar em seu ombro. Senti que ele sorria de lado, e que minha mãe estava prestes a protestar loucamente contra mim, sem saber meu lado.

- Eu falo com ela - ouvi ele dizer, gentil, para minha mãe, e eles se despediram rapidamente - Drizzle Young - Biersack disse firme, caminhando em minha direção, com um sorriso divertido demais para o momento, e eu ouvi a porta se fechando. Minha mãe não estava aqui para me salvar, então acelerei o passo -. Do que está fugindo? - Andy me virou e me colocou contra o carro, que estava ao meu lado.

- Não estou fugindo de ninguém - não olhei em seus olhos por nem mesmo um segundo, tentando me livrar dele - Pode me soltar, por favor? - disse irônica, finalmente o encarando. Os olhos lindos brilhavam, me olhando seriamente, parecendo ler minha alma.

- Só se você prometer entrar no carro, e não sair correndo - assenti, concordando.      

            Ele me soltou, e eu saí correndo. Ouvi ele bufar atrás de mim, e não pude deixar de sorrir.

- Está bem - Six deu de ombros, como se não se importasse - Faltam apenas 5 minutos para aula de matemática começar, boa sorte em chegar a tempo.

            Estaquei ali, e olhei para trás. Eu não chegaria a tempo. Andy deu a volta, e entrou no carro. No momento em que ele ligou o motor, entendi que ele queria me fazer ir até ele. Merda, odeio minha vida. Corri em direção ao carro, e no momento em que fechei a porta, o carro já começara a andar.

- Drizzle, que surpresa ver você aqui - comentou, sorrindo irônico - achei que não quisesse pegar carona comigo. O que a traz aqui?

- O que me traz aqui? - Ironia ao mesmo nível - Uma maldita aula de matemática - Biersack soltou uma risada fofa, e tive de virar para o lado para esconder o sorriso que não consegui segurar.

- Não se preocupe tanto. Na verdade, faltam 10 minutos para aula começar - ele riu, sem desviar o olhar da estrada.

- O que? - O olhei incrédula enquanto ele ria - Seu mentiroso!

- Mas você chegaria encima da hora se não fosse por mim - se gabou, ao mesmo tempo em que se defendia dos tapas que eu dava em seu ombro -. Para com isso! Eu vou bater o carro!

            Ele até parecia querer ficar bravo, mas não estava dando muito certo. E isso me irritou muito, porque eu queria ficar com raiva dele. Então apenas bufei e encarei a janela, evitando olhar para ele. Era esse Andy o qual eu gostava. Não conseguia ficar com raiva desse Andy. E eu estou sim, certa de que ele é bipolar.

            Logo chegamos ao colégio, e, em pouco tempo, fomos esmagados pelos outros cabeludos e por Juliet, que, a propósito, havia ido muito bem no treino com as líderes de torcida. Estava se enturmando, segundo ela. Depois de berrar muito, nós fomos para as longas e tediosas aulas, tendo de suportar o professor reclamando do nosso atraso.

 

(...)

 

- E você não tem escolha? - Juliet perguntava, enquanto andávamos sozinhas para as mesas da cantina, eu, com minhas batatas fritas, e uma coca, e ela com uma barrinha de cereal. Nem me senti gorda. Havia pedido aos meninos que nos deixassem sozinhas por um tempo, pois queria falar de coisas de garotas com a Juliet. Eles duvidaram que eu tivesse assuntos de menina que eles não pudessem saber, mas chutei todos, e eles caíram fora. Até Andy, dá para acreditar?

- Não - eu lamentei. Havia contado a Juliet sobre a futura viagem. Apenas mais um peso, mais uma preocupação para minha mente já lotada -. Eles só disseram que posso levar alguém - olhei para ela, os olhos brilhando como um cachorrinho abandonado -. Você topa? Meus parentes não gostam de mim.

- Drizzle, isso é bem complicado - ela me olhou, visivelmente triste -. Meu pai... Ele não é muito fácil de convencer. É protetor demais, acho que ele não me deixaria ir. Mas eu posso tentar convencê-lo - sorriu, tentando me animar.

- Tudo bem - sorri, triste. Eu sei que não é nada fácil convencer seus pais a te deixarem fazer uma viagem para o exterior com pessoas que eles nem conhecem. Pais são complicados assim mesmo -. Acho que talvez um dos meninos possa ir comigo. Contanto que não seja Andy ou Ashley, tudo bem - suspirei. Não queria muito levar um deles comigo. Não que eu não gostasse deles, eu adoro aqueles escandalosos, só que seria estranho estar com só um deles.

- Por que os dois não? - Me olhou curiosa.

- Bem... Não quero nem olhar na cara do Biersack por um bom tempo - comecei -. E eu não me sentiria segura numa viagem com Ashley Purdy.

- Sobre o Ashley, entendo completamente - riu, divertida -. Mas por que não quer ir com Andy?

- Digamos que nós tivemos um desentendimento - não consegui encontrar as palavras certas para explicar, sendo que não queria comentar com ninguém o que realmente havia acontecido -, e quero manter distância dele por um bom tempo.

            Juliet me olhou confusa, querendo saber mais, mas então seu olhar se prendeu atrás de mim, um tanto confusa e assustada. Olhei par ela igualmente confusa, tentando entender sua expressão, então senti uma respiração em meu ombro, e me virei rapidamente, dando um gritinho.

- Então você vai viajar com alguém - ele comentou, me encarando com uma expressão indescritível que não deixava transparecer um único sentimento - que não pode ser eu?

            Eu estava atônita demais para dizer alguma coisa. Acho que acabei balbuciando algo, porque Juliet deu uma risada meio contida, mas ela não estava entendendo a encrenca em que eu havia me metido.

- Pelo visto, nosso pequeno desentendimento ainda não está resolvido - suspirou, cansado, se sentando ao meu lado e roubando uma das minhas batatas, recebendo um olhar que dizia claramente "minhas batatas. Minhas", o qual ele ignorou ao pegar mais uma -. Vamos ter que conversar um pouco, senhorita Young - se eu me arrepiei com o tom autoritário? Totalmente.

- Que desentendimento? - CC chegou abraçando Juliet pelas costas, fazendo-a dar um gritinho assustado.

- Também quero saber - Jake se sentou ao meu lado, e pegou uma das minhas batatas. Qual o problema deles com batata frita? Por que não podem comprar suas próprias? Por que estão aqui quando chutei todos eles, com uma clara declaração de que não deveriam chegar perto? Vou matar todo mundo!

- Andy Biersack pedindo D.R. - Ashley se sentou ao lado de Juliet, com um sorriso levado - Isso não acontece todos os dias.

            Para finalizar, Jinxx se sentou ao lado de Jake, sem dizer nada, mas com um olhar que o entregava. Agora todo mundo quer cuidar da minha vida, ótimo. Eu definitivamente não queria falar sobre nada disso com ninguém, e tudo o que eu precisava era de meia dúzia de olhares fixos em mim, como se soubessem que não conseguiriam arrancar nada de Andy.

- Não é nada que vocês precisem saber - Andy respondeu, antes que eu cometesse uma burrada. Ele saboreava minhas batatas fritas descaradamente, como se eu nem estivesse ali -. Se algum dia ela quiser contar, ela que conte.

            Era isso mesmo produção? Biersack, quem nos trouxe a essa situação de merda, estava me defendendo? Todos encaravam Six tão incrédulos quanto eu, enquanto ele comia as batatas fritas, parecendo não notar. Tinha até esquecido das batatas. Afastei elas dele e comecei a comer, recebendo um olhar bravo como resposta.

            Ele puxou as batatas de volta, e eu lhe lancei o mesmo olhar. Ficamos puxando a bandeja, brigando pelas batatas enquanto todos nos olhavam como se estivéssemos usando fantasias de unicórnio e dançando Gangnam Style. Quê?

- Vocês... - Jake começou, enquanto apontava de mim para Andy, e de Andy para mim, ainda incrédulo - Como... Andy... Quê?

            Nem preciso dizer que ele estava confuso. Todos estavam claramente confusos, até Juliet. Não entendi porquê. Enquanto isso, eu ainda brigava pelas batatas, até que Biersack as levantou, colocando-as em uma altura que eu não alcançava.

- Vocês dois, prestem atenção - Jinxx falou com uma autoridade que deu até medo. Alguém aqui já viu Jinxx levantar o tom? Pois é, é assustador -. Expliquem agora. Que merda tá acontecendo aí? - Apontou para nós dois, como se achasse a ideia de estarmos brigando por batatas sinistra demais.

- Ela tá tentando roubar minhas batatas fritas - Andy se defendeu, ainda mantendo a bandeja afastada, mas mesmo assim, comendo. Gordo.

- Suas batatas? Agora tu apanha - estava prestes a socar a cara dele, mas mamãe Jinxx não deixou.

- Parem - falou, baixo e firme, como uma mãe contando até três - Andy devolve as batatas para ela - Andy bufou, e me devolveu as batatas, com uma cara de “nem queria mesmo” - Drizzle, se sente - me sentei, com um olhar vitorioso, saboreando minhas batatas - Agora expliquem. Vocês estão se pegando?

            Eu quase cuspi tudo o que tinha na boca quando comecei a rir como uma retardada. Andy me olhou, como se eu fosse louca, assim como todo o resto da mesa.

- Vocês acham que eu estou pegando isso? - Apontei para o Andy, como se ele fosse a pessoa menos gostosa dali. Mentir é pecado, Drizzle - Por favor, contem outra.

            Pude ouvir várias risadas na mesa, todos zuando Biersack. Fiquei bastante satisfeita com isso, devo dizer. Six, ao contrário, estava em silêncio. Ele apenas se aproximou da minha orelha, com um sorriso provocador.

- Você tem certeza do que disse, Drizzle? - Sua voz soou rouca e insinuante quando ele sussurrou, fazendo questão de resvalar o hálito quente em meu pescoço - A garota virgem que está aos meus pés é você, querida.

            Cada fibra do meu corpo ardeu de raiva, e o orgulho falou mais alto do que tudo. Eu não seria humilhada assim.

- O que te garante que ainda sou virgem? - Olhei para ele com um sorriso filho da puta, mentindo tão bem como nunca havia feito em toda minha vida. Imediatamente, ele se afastou um pouco para olhar em meus olhos.

- Oi? - Ele ergueu as sobrancelhas, como se não tivesse ouvido direito.

- Que foi? - Me fiz de desentendida. A expressão de susto em seu rosto me deixava extremamente contente. Podia até ouvir as engrenagens girando em sua cabeça, e isso me divertia muito.

- Ashley! - Andy gritou, olhando para o amigo com uma expressão assassina. Ashley, que puxava o cabelo de Jake, se virou, como se previsse merda.

- Andy! - Gritei da mesma forma, rindo da cara assustada do Ashley, e do fato dele ser a primeira pessoa a vir na mente de Andy - O Ashley não fez nada - continuei rindo da cara assustada dele, como se ainda não estivesse processando tudo - Você achou mesmo que teria alguma coisa?

- Eu não achei, Young - ele se aproximou de forma dominadora, me olhando nos olhos, com um ar de desafio tão grande que me engolia naquele mar azul e frio - Eu terei. Você ainda será minha, e depois disso, não conseguirá ser de mais ninguém sem pensar em mim.

            Seu tom soou como uma maldição, e cada molécula do meu corpo se arrepiou. Eu não tinha resposta para aquilo. Talvez tivesse, se ele não estivesse extremamente próximo, me devorando com os olhos. É difícil pensar sob pressão, se é que me entende.

- Vou no banheiro - não consegui pensar em nada melhor.

            Conforme me afastava do refeitório, pude sentir seu sorriso, mesmo com a distância. Um sorriso vitorioso, que me deixava com uma puta raiva.

            Rumei silenciosa, porém extremamente rápida, até o banheiro feminino, e quando cheguei, parei em frente a pia, me olhando no espelho. Eu estava bastante ofegante, e não era pela corrida. Por que ele conseguia me deixar assim? Isso não está certo. Eu tenho tanto o que me preocupar, não deveria estar sendo atormentada dessa forma por um dos meus problemas. Eu nunca deveria ter aceitado aquela aposta louca. Nunca deveria tê-lo beijado. Nunca deveria ter conhecido Six. Nunca deveria ter vindo a Deadwood, mesmo que não tivesse escolha.

            Parei para pensar nos momentos em que tive com ele. Definitivamente, eu havia adorado aqueles em que ele me irritava, mas me fazia sorrir com isso. Mas os que eu não esqueceria eram aqueles em que sua boca estava com a minha. Parando para pensar, nunca tivemos nenhum beijo descente. Em todos, ele de alguma forma, tentara avançar. Fosse me deitando no banco do seu carro, ou quase me despindo no banheiro da casa de alguém que eu nem conhecia. Acho que o mais próximo de “beijo descente” que viemos a ter nem chegou a ser um beijo de verdade. Fumaça. A fumaça nunca mais me pareceu a mesma depois do beijo de fumaça. Ele mal me tocara, mas ainda assim, eu tenho certeza que pude senti-lo durante aquela pequena troca de ar. Mas parando para pensar, eu deveria, realmente, ter sentido seu verdadeiro eu ali, porque estávamos nos matando. Estávamos poluindo nossos próprios pulmões mutuamente, e a morte é o que faz os demônios se sentirem vivos. Talvez ele tivesse se sentido vivo com aquela pequena agressão. E talvez, só talvez, eu tenha um lado demoníaco que me trouxe a mesma sensação.

            Balancei a cabeça, afastando os pensamentos, e olhando meu reflexo. Maquiagem pesada, cara entediada. Você não é nada interessante, Drizzle. Fui até o canto do banheiro, contrário a porta, e me encostei na parede. Peguei um cigarro no bolso da blusa de frio e o ascendi. Que se fodam as regras.

Escorreguei pela parede fria e me sentei no chão, encolhida. Como Deadwood conseguia ser tão fria o tempo todo? Mesmo com roupas bem quentes, eu estava congelando haviam horas.

Suspirei, entediada. Traguei a fumaça e olhei o cigarro entre meus dedos magros. Por que estou me matando tão lentamente? Se quero morrer, deveria estourar meus miolos de uma vez. Mas eu quero morrer? Não, acho que não. Sou orgulhosa demais para querer me matar. Prefiro deixar ela vir até mim. Talvez porque eu não queira ser como Logan nisso.

Olhei para o chão, me sentindo vazia. Não sabia o que pensar, e nem queria fazê-lo. Ficar assim as vezes é bom. A menos que você seja uma insana cujos antepassados foram satânicos, médiuns, ou qualquer merda que envolvessem espíritos presos o tempo inteiro. Aí, com certeza, vai dar merda.

A luz do banheiro apagou, e eu nem me movi. Se você achou que eu fiquei imóvel por não temer, parabéns, você está tremendamente errado. O pânico foi tanto, e a onda de adrenalina descarregada foi tão forte, que eu não consegui levantar um dedo. Ou, talvez, fosse apenas um efeito do que quer que tenha vindo me fazer uma visitinha.

Ouvi um barulho. Pareciam dedos, sem unhas, batucando freneticamente em algo. E eu diria ser o espelho. Os dedos foram acompanhados por passos. Pés descalços se aproximando.

O mundo parecia não existir fora do banheiro. Não ouvia nada, e não havia luz. O som se tornava próximo, e a teoria de que o pânico me imobilizara já não era mais aceitável, já que eu não conseguia nem mesmo erguer o olhar. Eu continuava olhando para o chão, contra minha vontade.

Quando o batuque nos espelhos parou, eu pude ver apenas um fraco contorno de dois pés, brancos, como de alguém morto, e ossudos. Quase como um esqueleto coberto por um fino e apertado tecido branco. Eu senti meu corpo todo se enrijecer, como se esperasse um golpe. Ouvi os dedos tamborilando novamente, no chão ao meu lado. E depois, sobre minha cabeça. No espelho. Nas portas das cabines. No teto. O lugar todo se encheu com um tamborilar frenético, e eu nem conseguia olhar em volta.

Ouvi o som de papel. Quase como um pacote. Foi colocado próximo a mim.

Eu estava com muito medo. Queria gritar, mas não conseguia abrir a boca, e isso me frustrava, e ficar frustrada me dava vontade de chorar. Eu queria respirar mais profundamente, eu precisava de ar, mas ao contrário de meu psicológico, meu corpo continuava na calmaria anterior.

E então, o banheiro estava normal. Olhei em volta, procurando a origem do som que havia cessado, mas não encontrei nada. Repentinamente, eu podia me mexer, e não havia nada ali. Como se nada tivesse acontecido. Como se eu tivesse entrado em minha própria mente por menos de um segundo, que me parecera uma eternidade. Mas havia algo ali que provava a mim mesma que não fora completamente imaginação, ao menos. O papel que eu ouvira. Havia uma carta.

O envelope estava parado ao meu lado, amarelado, sem nem mesmo uma palavra escrita. Estendi a mão em sua direção, receosa, e o peguei, lentamente. Passei os dedos por ele, e o abri, delicadamente. Tirei uma carta de dentro, feita no mesmo papel amarelado, e essa, com uma caligrafia impecável, curvada e cheia de floreios.

 

Drizzle Blawatsky,

A senhorita muito provavelmente não me conhece, mas sou um velho amigo da família. Sei o suficiente da história dela para dizer que você provavelmente é inocente e não reconhece o quão perigoso é o crime que está a cometer. Não pretendo me apresentar, não agora, mas você ainda saberá quem sou. No momento, só estou lhe avisando: pare de escondê-lo. Ele não é tão bom quanto pensa. Pode ser ingênuo agora, mas dê-lhe o conhecimento, e ele a matará em uma fúria incontrolável. Eu estou dando um conselho como um amigo, e lhe avisando para relatar a um médium capaz sobre aquele que escondes, mas se não agir, terei de acabar com o demônio com minhas próprias mãos.

 

Era uma carta pequena, mas era clara. Alguém sabia sobre Andy. Eu tinha certeza de que era isso, e tinha certeza de que precisava fazer alguma coisa imediatamente. Mas o que estava ao meu alcance? Não tinha nada que me ajudasse nessa situação. Não podia contar para Chris, e muito menos para Andy. Não havia ninguém que pudesse me ajudar. Nem meus pais entenderiam. Taylor era insana demais para compreender qualquer coisa do que eu dissesse. Não havia ninguém para lutar ao meu lado.

Mas ainda assim, eu não queria que nada de ruim acontecesse a Andy. A carta tremia em minhas mãos enquanto eu pensava no que fariam com ele se descobrissem. O matariam? Arrancariam suas asas? O mandariam para o inferno?

Eu não gostava de nenhuma das alternativas. Eu queria gritar, e queria muito mais, matar quem quer que estava me ameaçando de uma forma tão baixa. Tudo isso, a falta de alternativas, o medo e a insegurança me consumiam tão rápido quanto fogo se espalhando por gasolina. Mas como eu explodiria? Preciso ficar quieta e manter a cabeça no lugar, ou então o mundo inteiro pagará por meus erros.

Respirei fundo, tentando não sair correndo e espancar a primeira pessoa que aparecesse. Me levantei, trêmula, com a carta e o envelope em mãos. A dobrei e escondi dentro da minha blusa. Isso não podia cair nas mãos de ninguém.

Parei em frente ao espelho, jogando o cigarro dentro da pia, e olhei meu próprio reflexo. Eu manteria tudo em segredo.

No fim, isso podia ser apenas uma brincadeira sem graça de alguém. Alguém querendo me assustar com ideias ridículas, e eu estava acreditando.

Uma pequena voz em minha cabeça negava firmemente minhas teorias, e dizia a mim que eu sabia que era verdade, mas eu não queria acreditar. E mesmo se fosse verdade, eu não moveria um dedo. Chris havia dito que nem mesmo ele, que já era experiente e tinha grandes habilidades, conseguiria derrotar um anjo do tipo do Andy sozinho. E na carta, estava bem claro que era apenas um “amigo” da família. Ele não deveria ter companheiros. Deveria estar acreditando que eu entraria em pânico e contaria a Chris imediatamente, e que ele não precisaria mover um dedo, mas ele está muito enganado.

Depois de respirar fundo umas boas vezes, ouvi o sinal bater, indicando que o intervalo havia acabado, então rumei para a sala de aula, os ombros pesando, como se um elefante estivesse montado neles.

Assim que entrei na sala, ainda vazia, e me sentei na cadeira, percebi o quanto estava cansada. Tenho tido muitas noites mal dormidas, pensando nas coisas que muito me atormentavam, como a ausência de Eros, ou a simples existência de Andy Biersack. Então simplesmente deitei a cabeça sobre meus braços, os cabelos como uma cortina em minha volta, e dormi. Depois disso, não ouvi nem mesmo um barulho exterior, porque eu mergulhava em pesadelos.

 

 

- Eu te avisei - o velho com roupas formais dizia, segurando uma faca enorme ensanguentada. Havia um corpo ao seu lado, mas estava escuro, e a tempestade caia forte ao nosso redor, o som dos trovões soando imponentes fazendo meu corpo se encolher -. Eu lhe disse que deveria ter acabado com ele enquanto era tempo. Deveria ter contado a alguém, mas achou que um anjo caído era capaz de atitudes boas.

            Eu não estava entendendo ao certo o que acontecia. Percebi então que estava sentada no chão, com alguém em meu colo, mas não conseguia identificar seu rosto em meio a escuridão. Lágrimas desciam incessantemente por minhas bochechas, mas eu não sabia porque chorava.

- Se você tivesse me ouvido, apenas o demônio teria morrido, e o nobre Cerulli estaria vivo - um relâmpago repentinamente iluminou tudo, e pude ver claramente. O corpo ao lado do velho era de um garoto, com cabelos pretos, sem camisa, encolhido, de cosas para mim. Duas asas negras saiam de suas costas, e eu via sangue ao seu redor. Andy era o morto ali, pálido e imóvel. No meu colo, a cabeça de Chris descansava, imóvel, assim como todo seu corpo. Uma faca completamente negra estava fincada na altura de seus quadris, no lado esquerdo.

            Comecei a respirar rápida e profundamente. O pânico começou a me consumir, e eu sentia que iria explodir. Acariciei o rosto molhado e frio de Chris, e depois olhei para Andy. Não sabia o que fazer. Qual dos dois deveria tentar ajudar? Eu seria capaz de salvar ao menos um? Eles ainda estão vivos?

            Não, não, não. Eu me recuso. Não posso perder os dois. Não posso perder nenhum dos dois. São igualmente importantes para mim. Ergui então o olhar para o velho. Já não era capaz de enxergar mais nada, tanto pelo relâmpago ter sido curto, quanto pelas lágrimas que bloqueavam minha visão.

- Você os matou - murmurei, com uma raiva que nunca havia sentido -. Vou matar você.

- Não, querida. Seu amigo aqui - disse com nojo, apontando para Andy - matou o Cerulli. Eu só matei o demônio, o que foi um favor para a humanidade.

- Eu vou matar você.

            Já não ouvia mais nada. Fiquei em pé lentamente, colocando a cabeça de Chris delicadamente no chão. Sentia uma força que eu nunca sentira antes, mas ela vinha do ódio. Eu fechava a mão com força, cravando as unhas em minha própria pele de forma que me cortava, mas eu nem sentia. Havia uma faca na mão de Chris. A peguei, sem tirar os olhos do velho.

- Não precisamos disso - ele falou, entediado.

            Não respondi. Avancei em sua direção, e quando ele achou que eu correria e tentaria acertá-lo, arremessei a faca. Em um milésimo de segundos, vi seus olhos arregalarem e a faca voando em direção a seu rosto, com velocidade, força e precisão. Estava a centímetros de perfurar sua testa. Ele não podia desviar nessa velocidade.

 

- Drizzle! - ouvi uma voz murmurar irritada, e senti um beliscão na minha cintura.

            Levantei a cabeça rapidamente, e fiquei tonta por isso. Eu respirava como se o ar fosse acabar, e então reparei que eu estava na escola. O professor estava sentado em sua mesa, mexendo em alguns papéis, e os alunos começavam a conversar, guardando os materiais.

- Você pode, por favor, me explicar como consegue não ser pega enquanto dorme na sala? - Andy reclamava enquanto guardava suas coisas - Sério, seria bem útil.

- Eu... - espera... Quê? Eu estava sonhando?

            Olhei para Andy, guardando seus materiais, como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse sido assassinado por um velhinho psicótico e nem matado Chris. Ele estava vivo. Inteiro e sem asas. Normal, a seu próprio modo, é claro.

            Eu quis esquecer que ele era um filho da puta e abraça-lo ali mesmo, ao mesmo tempo que quis socar a cara dele até a morte por ter matado Chris, mesmo que não tivesse sido real. Eu devo ter ficado encarando ele por muito tempo, já que ele começou a me olhar com o cenho franzido, como se eu fosse louca.

- Você realmente me ama, garota - comentou com um sorriso convencido, me olhando pelo canto do olho.

- Definitivamente, não - retruquei enquanto guardava minhas coisas.

            Juliet já havia ido embora, assim como os meninos. Eu caminhava pelo estacionamento, indo até a saída rapidamente, já que não estava chovendo, mas o ar estava úmido e o céu estava fechado, deixando claro que se eu não me apressasse, acabaria molhada.

            Estava cruzando o portão, quando um certo carro preto parou ao meu lado.

- Aonde a senhorita vai sozinha? - Andy perguntou, me olhando com um sorriso matador - Não aceita uma carona?

- Não, obrigada - bufei, voltando a andar, mas Andy abriu a porta e segurou meu pulso.

- Drizzle, eu preciso conversar imediatamente com você - disse, sério -. E de qualquer forma, se não for agora, não importa, porque eu vou passar o dia na sua casa de qualquer jeito - me virei para ele, os olhos arregalados, sem entender nada.

- Como assim? Eu nem te convidei - fui curta e grossa.

- Eu já avisei sua mãe - o olhei ainda mais confusa -. Deveria ter uma senha mais difícil, Young.

- Idiota - me soltei dele, brava.

- Drizzle, hoje terei um pequeno show com a banda, e esperamos que você vá. Ben e os outros estarão lá também.

            O olhei, brava, sem saber o que responder. Eu até iria no show, mas apenas pelos outros meninos e pela The Pretty Reckless. Já ia me soltar dele e dizer que iria sozinha mesmo assim, quando uma gota de água fria pingou em meu ombro, seguida por outras ao nosso redor.

- Vamos para o carro - ele me soltou lentamente, quase que apreciando o toque, olhando em meus olhos. Então caminhou em direção ao carro.

            Olhei para a rua em minha frente. A chuva já aumentara um pouco, e mais alguns segundos ali e eu estaria toda molhada. Bufei, irritada, e entrei no carro. O universo parecia conspirar contra mim, pois tudo sempre estava ao favor dele. Não sei como vou aguentar um dia com esse idiota. E se Chris aparecer? Ou Eros? E se eles descobrirem?

            Não faço a mínima ideia do que irá acontecer, mas não prevejo coisas boas.

 

 

 

 

 

“Seus olhos estão me engolindo

Espelhos começam a sussurrar

Sombras começam a cantar

Minha pele está me sufocando

Me ajude a achar um jeito de respirar

O tempo parou

Do mesmo jeito que antes

É como se eu estivesse sonâmbulo

Caí em outro buraco novamente.

É como se eu estivesse sonâmbulo”

Bring Me The Horizon


Notas Finais


Espero que esteja bom <3
Boa noite º3º


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