Chego à porta da rua tentando abrir meu guarda-chuva — que percebo agora estar quebrado — e amaldiçoando o cronograma da Terra que marcou chuva forte para logo cedo de manhã.
Ora essa, eu tenho meu próprio cronograma! Meus compromissos, meus horários, minhas dores de cabeça. Não precisava “cerejar” o bolo com sapatos hidratados por causa de rua alagada.
E o pior é que o primeiro lugar que tenho que ir é tão perto que, se eu chegar lá de ônibus, vão rir da minha cara. Ou seria de fato melhor eu ir a pé hoje? Do jeito que anda a minha sorte, é provável que o ônibus passe reto e ainda me molhe dos pés a cabeça de lama.
“Ah, que se dane essa droga”, decido largar o objeto defeituoso e pego minha capa de chuva amarelo mostarda, que é feia, mas pelo menos não me deixa na mão.
Ótimo. Vão me chamar de pintinho quando eu chegar lá usando isso. Esse dia não tem como ficar melhor.
Saio de casa batendo a porta automática, na mesma hora sentindo dezenas de pingos de chuva caindo sobre a minha cabeça parcialmente protegida. O contato deles com o plástico da capa é barulhento e irritante (como tudo hoje) sobre as minhas orelhas, porém ainda é melhor do que chegar com a roupa molhada e com atraso (embora, em relação a essa segunda parte, eu já não possa fazer nada além de me conter quando chegar lá e não soltar um “não queria nem vir”).
Apesar do som da tempestade encobrir todos os outros sons, meu ouvido esquerdo ainda capta o ruído da porta ao lado da minha batendo e a movimentação ao meu lado me impede de começar a correr por aquela rua deserta como uma pessoa louca.
Lee Daehwi, o meu vizinho, por algum motivo desconhecido está saindo de casa quase ao mesmo tempo que eu. Diferente de mim, ele está usando uma capa transparente (nota zero no quesito vergonhoso) e um guarda-chuva (com orelhinhas no topo e vermelho vivo, a única cor além daquela na minha capa que se destaca nessa manhã pálida de segunda-feira).
Daehwi me nota sem que eu tenha dito nada, abrindo um sorriso largo na sombra do seu guarda-chuva e com esse ato comprimindo um pouco os olhos.
“Bom dia!”, ele exclama alto, cheio de energia.
Sorrio em resposta, devolvendo o cumprimento.
Ele imediatamente parte, indo para sabe-se lá onde, fazer algo que nem a chuva consegue empatá-lo de fazer.
Eu vou para o lado oposto, enxaguando os pés enquanto rodopio pela água, subitamente muito alegre.
Será que foi o sorriso? Será que foi a voz? Será que foi o guarda-chuva vermelho e fofo?
Seguro em um poste na esquina e dou um giro, cantando.
“I don’t know why~”
Que dia maravilhoso, estou transbordando energia.
Se arriscasse dar uma explicação para isso, só teria duas palavras:
Foi Daehwi. Com certeza, foi Daehwi.
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