História Energy - Mentirosa

Katherine

—Prontos? – o professor perguntou.

Continuei em silêncio encarando meu objetivo, um sino no topo da parede de escalada. Eu iria mostrar para o idiota do Flash quem precisava sair na frente.

O professor assoprou o apito e eu comecei a subir a parede me apoiando nas agarras, e vez ou outra pulando algumas delas. Peter e Flash seguiam logo atrás de mim, eu podia escutar Josie gritando meu nome. Continuei subindo, já estava quase alcançando o sino quando escutei Flash falar.

—Esse é o truque, Parker – ele falou antes de parar para recuperar o fôlego – Você deixa as garotas irem na frente e sempre terá a melhor das vistas.

Parei onde estava e olhei para baixo, mais exatamente para Flash, e eu não estava feliz. Eu seria capaz de eletrocutar aquele topete horrível dele, mas eu não poderia fazer isso na frente de todos.

 Esperei o garoto chegar próximo o suficiente de mim para que eu pudesse chutar seu pé, o desequilibrando. Flash soltou as mãos das agarras sem querer, e caiu sendo segurado pela corda de segurança.

—Como eu queria que essa corda rompesse – comentei olhando para baixo, vendo Flash sendo ajudado pelo professor.

—Ainda assim teria o colchão – Peter falou parando ao meu lado e eu escutei o professor gritar meu nome – Vai acabar levando detenção por causa do Flash. Ele não vale a pena.

—Mas ver a cara de derrota dele vai – respondi sorrindo e Peter riu.

Soltei minhas mãos e meus pés da agarra e deixei meu corpo descer sendo segurado pela corda. Observei Peter chegar ao topo enquanto tirava meu equipamento.

—Porque derrubou o Flash, senhorita Millicent? – o professor perguntou parando ao meu lado, no mesmo instante em que Peter chegou ao chão.

—Não derrubei Flash. Ele estava próximo de mim e sem querer esbarrei nele – expliquei com minha maior cara de inocente.

—Mentirosa! Me derrubou de propósito só porque eu falei do namoradinho dela! – Flash praticamente gritou se aproximando de mim enquanto apontava para Peter, que ficou instantaneamente vermelho.

A atenção de todos estava na gente.

—Já disse que foi sem querer Flash – repeti lhe encarando e, para confirmar minha mentira, dei um passo em sua direção – Peço desculpas se você acha o contrário, e sei que você é obcecado por atenção, mas não precisa fazer esse escândalo todo.

Escutei algumas pessoas rindo enquanto Flash me encarava com os olhos cheios de raiva.

—Tudo bem – o professor falou colocando a mão no ombro do garoto – Katherine disse que foi sem querer e mesmo assim pediu desculpas Flash, você pode sair para tomar um ar. Millicent e Peter, vão para a arquibancada com quem já subiu. Os próximos, não pensem que vão se livrar da parede!

—Me lembre de nunca te irritar – Peter falou enquanto caminhávamos lado a lado para a arquibancada e eu ri.

Nos sentamos ao lado de Ned e ficamos conversando enquanto os outros alunos escalavam. Era estranho a sensação que eu tinha ao lado desses garotos. Como se eu finalmente encaixasse aqui. Como se eu fosse normal. Mas eu sabia que nada disso passava de uma ilusão temporária, que eu aproveitaria enquanto me fosse permitido.

Josie, a garota que havia sentado ao meu lado em uma das aulas e que havia se revelado alguém muito interessante de se estar com, sorriu para mim ao descer da parede e caminhou em nossa direção.

—Katy, você arrasou com o Flash. Quando eu crescer quero ser igual a você – ela falou se sentando no banco a baixo e em seguida voltando sua atenção para os garotos ao meu lado – Peter, Ned e Michelle. Estou certa, né?

—Tá sim – Ned falou a encarando encantado e Josie sorriu.

—Vocês vão na festa do Flash no fim de semana? – ela perguntou.

—Não, o Flash nunca nos convidaria para a festa dele – Peter respondeu.

—Mas ele convidou Katy, e disse que ela poderia levar alguns amigos se quisesse – Josie falou voltando a me encarar com um sorriso.

—Ele me convidou no começo da aula. Duvido que o convite ainda esteja de pé. E eu não estou a fim de ir numa festa na casa do Flash – falei por fim dando de ombros e ela bufou.

—Não importa. Nunca entraram numa festa de penetra? – ela perguntou animada encarando a nós três e por fim sua expressão se tornou tediosa – É claro que não. Vocês precisam se divertir. Nós vamos nessa festa, vamos ter a melhor noite de nossas vidas, e vamos estar cagando para o Flash.

—Duvido muito.

—Por favor! – ela insistiu juntando as mãos a frente do corpo – Vamos, vai ser legal!

—Eu tô dentro – Ned falou rapidamente levantando a mão sorrindo e logo em seguida cutucando Peter.

—Não sei se é uma boa ideia – Peter disse me encarando com dúvida.

—Mesmo se não for uma boa ideia pelo menos teremos uma história legal para contar depois – Josie falou e nos encarou fazendo bico – Então?

—Tudo bem – Peter respondeu incerto e eu assenti.

A garota bateu palmas e abraçou a nós dois sem jeito. Ri encarando Peter, que estava perto demais, e ele apenas me encarou com um sorriso. Ela nos soltou e segurou minha mão quando o último sinal tocou. Esse era um ponto negativo sobre Josie: ela está sempre tocando.

Eu já havia combinado de sair com ela para fazer alguma coisa, nós convidamos Michelle para nos acompanhar, mas ela negou imediatamente dizendo que tinha coisas melhores para fazer. Então nós nos despedimos dos garotos e depois de tirarmos a roupa de ginástica caminhamos em direção a uma cafeteria.

—Nós precisamos estar arrasando na festa para que não sejamos expulsas dela – Josie falou empolgada enquanto andávamos pelas ruas com nossos cafés em mãos – O que você acha de uma roupa nova?

—Acho que custa dinheiro – respondi enquanto arrumava minha mochila no ombro – E eu não tenho dinheiro para uma roupa nova e não posso pedir a Agnes.

—Quem é Agnes? – ela perguntou me encarando.

—Minha avó – menti rapidamente e ela assentiu.

—Tudo bem. Meu pai ausente me deu um cartão de crédito para compensar todos os anos que ele passou com a outra família – ela disse com um breve olhar triste que logo se transformou num de pura maldade acompanhado de um sorriso – Meu objetivo é estourar esse cartão até que não caiba mais nenhuma porcaria dentro de casa.

—Bem, então acho que como sua mais nova intitulada amiga – falei lembrando de como ela havia definido que seriamos amiga mais cedo – Eu tenho a obrigação de te ajudar com isso.

—Obrigada – ela respondeu sinceramente.

E mais uma vez eu senti que talvez pudesse pertencer a este mundo.