Clínica.
Exame de ultrassom.
—Certo? — a médica, jovem de cabelos curtos e escuros, vestindo jaleco, pergunta depois de dar uma curta explicação do processo.—Pode levantar sua blusa? — pede.
Somi, aparentemente nervosa e sentada inclinada em uma cadeira própria para isso, levanta sua blusa folgada cinza.
Somente agora me dou conta que a barriga lisa de Somi, agora cresceu mesmo que pouco.
A doutora Kwon Yoojin passa uma pequena máquina sobre o gel e barriga de Somi, enviando informações para um computador próximo a ela. Coletando informações.
Assusto-me ao ver um corpo já formado
—Já deixou de ser um embrião, podemos considerá-lo feto. — ela detalha — Aparenta ter 10 semanas, pelas informações que você deu sobre seu último ciclo. — diz a Somi.
—Quantos meses são 10 semanas? Eu soube que o tempo é contado diferente. — ela diz.
—2 meses. Quase 3 meses. O feto já possuí todos os órgãos internos, mesmo que no início do desenvolvimento.
—Que bom! — Somi sorri.
Eu apenas permaneço em silêncio, sentado em uma cadeira preta ao lado de Somi. Observando a conversa.
—Vocês são bem novos, não são? — a médica pergunta.
—Sim. Eu acabei de me formar do colégio. — Somi diz. — Mas, Jimin e eu moramos juntos e não vamos deixar o bebê na adoção.
—Entendi. — ela diz, analisando ainda o feto. Então aponta na tela. — Conseguem ver isso? É a cabeça do feto. — diz apontando a parte maior.
—Ele já parece tão formado. — finalmente me pronuncio — Tem certeza que é apenas 10 semanas?
—Ele só tem 4cm. — ela diz sorrindo. — Não está tão formado, o zoom dá essa falsa impressão— explica. — Podemos ouvir o coração. — diz e então usa outros acessórios.
Procura por batimentos, e então ouvimos.
Ok, mais assustador. O coração do feto bate rápido. Há realmente uma vida dentro de Somi. E eu ajudei a fazer isso.
Depois de mais informações e conselhos, apenas marcamos a próxima consulta para daqui 3 semanas, então deixo Somi no nosso ap e vou direto a empresa.
Assim que chego, meu pai vem tirar satisfações comigo sobre a consulta. Repasso as mesmas informações da doutora Kwon. Depois de alguns conselhos desnecessários, ele me deixa em paz.
Horas mais tarde.
Saindo da empresa.
O estacionamento é interno, ou seja, coberto e dentro da empresa. Entro em meu carro, e então saio para a rua; Sinto-me cansado só com a ideia de voltar as atividades da universidade logo amanhã. As férias passaram tão rápido. Pelo trabalho, meu horário será mudado. Das 7h até 12h30, e então trabalharei das 13h15 até 18h45.
Ao chegar no meu ap, sinto cheiro de comida. Vou até a cozinha, e vejo Somi cozinhando algo enquanto cantarola alguma música, com os fones no ouvido. Completamente distraída. Ela é tão doce.
Sorrio, vou até ela e a surpreendo abraçando-a por trás. Ela se assusta, como era de se imaginar. Eu rio fraco e beijo levemente seu pescoço.
—Senti sua falta. — sussurro em seu ouvido.
—Eu também senti. — ela diz rindo do próprio susto, então desliga o fogo, se vira para mim — Oppa, lembra quando te disse sobre ir comigo a um lugar além das consultas?
—Sim. — recordo — Qual lugar? — pergunto e pego algumas das panquecas doces que ela fritou.
—Ah... — ela pensa — Eu não sei bem como explicar, oppa... — olha para baixo.
Não entendo. Contraio minhas sobrancelhas, confuso.
—Que tipo de lugar é esse? — pergunto enquanto como o hotteok.
—É... uma amiga. — levanta seus olhos para mim — Eu acho que ela pode te ajudar.
—Me ajudar em quê? — questiono.
—Os seus mistérios. Nossos. — ela diz — Ainda tem aqueles sonhos estranhos? Ela entende disso.
—Não, não é sério. Isso é bobagem, como ela pode me ajudar em uma bobagem? — pergunto, acabando de comer a panqueca — Meus sonhos são confusos porque eu sou estranho, simples.
—Jimin, não é só isso. Ela sabe de muitas coisas, e... — interrompo.
—Somi, pare com isso. — digo, encarando seu olhar. — Eu não preciso de ajuda, é apenas loucura da minha cabeça.
—Por favor, só uma visita! —ela insiste — Ela quer te conhecer.
Penso.
—Ah — suspiro — Eu não sei. Meu tempo está ocupado com universidade e trabalho. — digo — Afinal, onde a conheceu? Como ela chama?
—Ela me pediu ajuda na rua, quando eu estava indo embora do colégio. Ela já é uma senhora. Senhora Hwang. — ela diz. — Você não a conhece.
—Não, não a conheço. — concordo. Caminho em direção nosso quarto, ela me segue. — O que preciso mesmo é de um banho.
—Quer que eu vá com você? — ela sugere.
Viro-me, e sorrio malicioso para ela que ri da minha animação.
Debaixo do chuveiro, enquanto a água quente desce e escorre por nossos corpos, que também estão quentes. Suas pernas entrelaçadas em minha cintura, enquanto a estoco cada vez mais e profundo. Os gemidos de prazer, vindo de mim e dela. Enquanto sua intimidade aperta meu membro rígido, satisfeitos pelo contato. Beijo seu pescoço enquanto controlo os movimentos, e minha respiração e batimentos já estão em ritmo acelerado.
Solto palavras sem nexo em meios aos gemidos, alguns palavrões. A sensação é tão boa. Sinto-me aliviado.
Nunca fiz isso com outras mulheres, mas nem almejo fazer.
Quando você ama uma pessoa, apenas ela basta.
Depois do banho, apenas jantamos e enquanto assistimos alguns episódios de dramas, como costumamos fazer. Adormeço, preparando-me psicologicamente para as aulas de amanhã.
Dia seguinte. 12:37.
Caminho para o estacionamento da universidade, que é ao ar livre. Ao passar pela recepção da grande faculdade, um sunbae me para. Não diz nada, apenas entrega um papel. Vejo um número e local.
—O que é isso? — pergunto e rio baixo para o hyung.
—Uma senhora deixou isso aqui, e pediu para te entregar. Ela não disse nome, apenas deixou o papel. — ele explica, também sem entender.
—Mm, ok. — digo, prestes a amassar o pequeno papel, ele segura meu pulso.
—Ela disse que é importante. Devia verificar isso, Jimin. — ele sugere.
—Eu vou pensar. — digo simples. — Tchau, hyung.
Ele apenas acena, então caminho para meu carro. Há vários carros de modelos atuais estacionados aqui, e uma certa movimentação por ser o horário livre.
Ao entrar, deixo a anotação no porta-luvas. Sigo para meu ap.
9:21 PM.
Estou deitado, a luz está apagada, e meu quarto é iluminado apenas pela claridade que saí da televisão ligada no canal da SBS. Somi está tomando banho. Normalmente, ela faz isso cedo e antes de jantar, mas hoje inverteu.
Ouço o chuveiro sendo desligado, o que sinaliza que já acabou seu banho. Então olho para a porta da suíte, apenas esperando que saía e venha se deitar comigo.
Sensação estranha. Sinto-me desconfortável com algo, aperto meus olhos, confuso.
Deja vu.
Sempre odiei ter deja vus, a sensação de já ter feito isso antes me traz aflição. É óbvio que já estive antes esperando Somi sair do banho, várias vezes, mas não sentia essa sensação pesada. Afinal, é algo simples.
Em poucos minutos, ela saí do banheiro. Vestindo um pijama simples, folgado e branco. Saí bocejando. O que me faz sorrir com o jeito doce que só ela tem.
Enquanto caminha até a cama, sinto outro deja vu. É como se algo estivesse errado. O que é extremamente chato, porque eu quase nunca permito que algo dê errado. Eu sempre faço as coisas certas e direito. Certas a minha visão, ao meu ponto de vista, é claro. Como Jinyeong disse, eu sempre fui cauteloso.
Somi deita-se ao meu lado, e percebe minha expressão confusa.
—Jimin-ah, algo errado? — pergunta meio preocupada.
—N-não... — digo, balanço a cabeça, tentando despertar-me de meus delírios — Não é nada, meu amor.
—Mm, certo. — ela fica despreocupada. Olha para a tela. — O banho quente me deixou mais sonolenta, então, a não ser que você queira muito assistir...
—Não, desligue. Não estou afim. — digo.
—Ok. — ela pega o controle, aponta para a TV, desligando-a. Deita a cabeça no travesseiro. — Boa noite, Jiminie-oppa.
—Boa noite, Somi-ya. — digo e abraço seu corpo, confortando-a.
Escuro. É o que define o quarto agora.
Os deja vus ainda me incomodam. Sinto-me inquieto. Respiro fundo.
—O que foi? — ela percebe.
—Nada. — digo.
—Não aja como se eu não te conhecesse. — ela diz um pouco irritada — Tem algo te incomodando, o que é?
—Eu não sei... Eu odeio ter deja vus, e eu tive alguns. — conto.
Silêncio, ninguém sabe o que dizer. Não há o que dizer.
—Isso não é nada. — ela diz. — Sei que está cedo, então se distraía com alguma coisa até dormir.
—Não estou afim, eu preciso descansar minha mente. — digo.
Outro silêncio.
Olhos fechados. A estranha sensação diminui aos poucos. Então, de repente, várias imagens como flashback vêm até minha mente, demasiadamente. Minha respiração acelera, junto ao meu coração, que volta a ser tomado por aflição. Tenho um espasmo. Somi se assusta.
—O que foi!? — ela diz incomodada — Mas que merda, Jimin! Você está com problemas e não quer falar disso comigo!
—Eu não sei! Eu não sei o que é! — também me irrito, acendo a luz. — Eu... — não encontro palavras.
Ela me encara de forma estranha. Antes que eu pergunte o problema, ela se pronuncia.
—Seus... olhos estão muito vermelhos. — ela diz confusa. — Como se estivessem muito irritados.
Também me sinto confuso. E cansado de toda essa confusão. Reviro os olhos, respiro fundo, apago a luz. Deito-me e volto a posição que estava antes. Lembro-me da anotação que deixei no porta-luvas, da senhora que passou na faculdade e da amiga de Somi.
—Somi-ya... Talvez... seja melhor eu visitar aquela sua amiga. — digo me rendendo.
—Sim. — ela concorda — Isso tudo já está exaustivo e irritante.
—Sim...
Ficamos conversando sobre tudo isso por mais um tempo, até que eu adormeça.
‘’Noite. Dillinger's Bar
Sentado em um banquinho, próximo ao balcão do barman.
—Obrigado. — digo cabisbaixo e engole todo líquido do copo, rapidamente, meu corpo reage se contraindo e apertando meus olhos.
—Pois é, Jeon. Você sempre foi cauteloso, e deixou isso acontecer. — diz um cara ao meu lado, parece ter a minha idade. Somos jovens.
—Não jogue a culpa na minha cara, eu faço isso todo segundo. — digo, suspiro. — Eu sinto como se estivesse morrendo.
—Fighting, amigo. — ele tenta me encorajar, também bebe sua bebida. — Você não sabia que isso aconteceria.
—Eu deveria saber, Seunghyung. — digo, encaro-o. — Eu nunca mais serei o mesmo. Eu deveria saber. — digo novamente, com ênfase. Dou mais um gole em meu soju.
Ele me encara com lamento.
Outra cena.
Madrugada.
Monte Namsan —N Seul Tower — Terraço.
Totalmente bêbado, andando torto, tentando manter o equilíbrio enquanto tenho uma garrafa de soju na minha mão.
—KIM AYUMI! — grito — ME PERDOA, MEU AMOR. EU SEMPRE AMEI VOCÊ! — choro — EU AMO VOCÊ! — mais lágrimas —EU NÃO QUERIA QUE AQUILO TIVESSE ACONTECIDO, MAS EU NÃO PUDE EVITAR, MEU AMOR! — caio de joelhos — ME PERDOA, EU AMO VOCÊ!
Sinto uma lanterna em mim. Ouço vozes.
—Ei, rapaz! Agora e aqui não é hora de declarações de amor! — vejo um policial vindo em minha direção.
Ainda cambaleando, saio correndo.’’
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Senhora Hwang
‘’가리지마’’
‘’Não se esconda’’, era o que meus pais sempre me diziam. Essa frase parece simples, mas envolve muitas coisas. Talvez o fato de que eu possa sentir o que ninguém mais pode. Ver o que ninguém mais vê. Saber o que vai acontecer, sem qualquer vestígio de que isso realmente aconteceria.
Tudo que eu sempre soube, é que com meus dons eu poderia ajudar as pessoas. Poderia ajudar almas a encontrarem seu caminho, quando já estão perdidas no labirinto de energias.
Ao ver uma pessoa, eu consigo ter uma descrição, quase que instantânea, sobre ela. Se tocá-la, posso pegar suas energias, boas ou ruins, para mim; Quando mais nova, eu não conseguia entender ou administrar nada disso, mas agora, aos meus 50 anos, tudo é bem mais claro e fácil. Cumpro a promessa que fiz aos meus pais: só usarei meu dom para o bem.
Para isso, terei que lutar bastante.
Estive presente na vida de Jimin em sua infância, mas agora é o momento em que ele mais precisa de mim, então lutarei por ele.
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