Segunda consulta
Decido que é melhor esperar alguns dias para voltar ao apartamento da senhora Hwang. A experiência foi meio forte, foi mais real do que os sonhos e extremamente confuso pra mim. Eu ainda tento digerir tudo que está acontecendo. Estou prestes a terminar a faculdade, estou trabalhando com meu pai na Toyota, morando com Somi e prestes a ser pai. Eu, Park Jimin se tornando pai. Quem diria?
Decido ir durante manhã de domingo. Claro, não tão cedo, mas ás 11h.
Depois de tomar o café da manhã. Dirigindo até Jongno-gu.
KBS FM.
‘’Os seus olhos, nariz e lábios
O seu tocar, sempre me tocando
Até as pontas dos dedos
Eu ainda posso te sentir
Mas como uma chama queimando
Veio e queimou todo o nosso amor
Tanta dor, agora você
Será como uma memória’’
—Essa música é linda. — comento, enquanto ouço Somi sussurrando a letra, cantando baixo. Ela me encara e sorri.
—Sim, é linda. — ela concorda.
—TaeYang é um bom cantor. — digo. — ‘Rise’ tem várias letras bonitas. — encaro-a rapidamente — Lembram-me você. — sorrio fraco.
Ela ri fraco.
—Parece que Park Jimin acordou de bom humor hoje. — diz.
—Como é? Eu sempre sou amoroso contigo, Somi-ya! — repreendo-a com um sorriso.
Ela ri baixinho novamente. Então olha para sua barriga. Percebo pelo canto do olho que ela encara sua barriga por um determinado tempo.
—Preocupada? — pergunto, chego a um semáforo e paro. Encaro-a.
—Mm... talvez. — também me olha. Então acaricia a barriga. — Eu... Não sei. É normal sentir-se preocupada, não é?
—De vez em quando, sim. — digo, também encaro a barriga, logo voltando o olhar para seu rosto — Mas ela está bem, amor. Vamos à outra consulta em breve.
Ela suspira.
—É, tem razão. — por fim diz.
Alguns segundos e o semáforo abre. Não demora muito até que eu chegue ao pequeno prédio de GaYeon.
Após estacionar o carro no mesmo lugar da última vez, desço rapidamente, dando a volta até o outro lado. Então abro a porta para Somi.
—Obrigado? — ela pergunta rindo.
Sorrio, fecho a porta e entrelaço nossos dedos; Caminhamos até o outro lado da rua, que não está movimentada. Vamos até o prédio preto, entramos.
Já na frente da porta de Hwang.
A porta é aberta.
—Entrem. — ela nos recebe com o mesmo doce sorriso.
Reverenciamos. Tudo está organizado como há 4 dias atrás. Ela nos convida a sentar no sofá.
—Preparei kyungdan, espero que gostem. Quer dizer — ela dá um risinho — Quando eram crianças, amavam meus bolinhos de arroz.
Apenas sorrimos, como afirmação; Ela se retira.
Suspiro.
—O que foi, oppa? — Somi pergunta.
—Eu quero logo uma resposta pra tudo que vem acontecendo, e que isso pare de acontecer. — digo. — Já estou cansado.
Alguns segundos e Hwang volta com uma bandeja em mãos, com vários bolinhos de arroz coloridos. Ela senta na poltrona, próxima a nós, e coloca a bandeja em uma pequena mesa de centro de vidro, que há entre nós; Agradecemos e saboreamos o pequeno doce com recheio de mel e açúcar.
—Durante esses dias, vocês sonharam com algo incomodo? — ela então pergunta, também saboreando o doce.
—Não. — respondemos juntos. — Desde o teste, não. Mas não acredito que vá parar.
—Não, não vai mesmo. — ela diz. Então me assusto. —Não se preocupe, Jimin. Já que estou aqui para te ajudar. — sua suave voz transmite paz.
—Obrigado, senhora Hwang. Enfim — suspiro, acabando meu doce — Ah... Afinal, por favor, abra o jogo. Eu estou pronto. — digo com convicção — Hwang, o que está acontecendo?
Ela me encara, séria. Silêncio. O clima se torna pesado, sinto-me ansioso e de certa forma, com medo.
—Jiminie. — ela diz rígida. — Você está morto.
Contraio minhas sobrancelhas, confuso. Então rio nervoso.
—Hã? — pergunto — C-como assim, senhora Hwang? Eu estou vivo. —rio.
—O seu ‘eu’ de agora está vivo. Mas estou falando da sua vida passada. — ela diz— Uma tragédia aconteceu e você... Você se matou.
Silêncio, mais uma vez.
—Ok. Que seja então. Não importa mais, eu morri mas já estou vivo outra vez. Várias pessoas cometem suicídios. —digo — A Coreia do Sul é o país número 1 em suicídios. E daí? E agora? O que isso tem a ver com tudo? — questiono.
Ela respira fundo, encara agora Somi.
—Somi morreu. — ela diz — Por esse motivo você se suicidou. Estão prontos para a história?
Nos entreolhamos rapidamente.
—Sim, estamos. — respondemos firme.
—Somi-ya era coreana-japonesa de pais muito rígidos. Jimin era de Busan, e no último ano do ensino médio, vocês se conheceram. Criaram um grande laço amoroso, realmente, muito forte. Suas energias entraram em harmonia, tornando-se uma só. Talvez já estivessem destinados. ‘Maktub, algumas coisas são destinadas a acontecer.’ — ela cita, arrepiando-me — Eram um casal daqueles do tipo perfeito. Algo que costumamos ver apenas na TV. Um era a fortaleza do outro, sempre ajudando, superando medos, quebrando regras, ultrapassando limites. — enquanto ela diz, sinto-me estranho — Até que a tragédia aconteceu.
—Que tragédia? — perguntamos juntos.
—Algo aconteceu, então um tempo depois, Jimin não resistiu. — ela diz — A culpa era grande demais.
—Culpa? — pergunto — Eu a matei?! — pergunto surpreso e assustado.
—Eu não sei de todas as coisas, querido. — ela diz calmamente — Eu apenas... sinto muita culpa na sua alma. Desespero. Arrependimento. Eu não sei.
Olho para o chão, sinto-me estranho, uma enorme vontade de chorar me atinge. Minhas mãos ficam frias, e sinto lágrimas enchendo meus olhos.
—Jiminie, fique calmo... — Somi diz aproximando-se de mim, mas percebo que seu tom está abalado — Jimin, deve... ter sido um acidente, eu não... — interrompo.
—Eu preciso respirar. — digo me levantando — Eu... Eu... — começo a andar de um lado para o outro. Então encaro Hwang, Somi. — Se eu a amava, por que fiz isso?!
—Eu não disse que a culpa foi sua. — Hwang mantém a serenidade — Jimin, vamos descobrir isso junto com os testes. Você disse que estava pronto pra tudo.
Penso.
—Sim. Sim, eu disse. Mas não esperava que fosse tão pesado. — digo, estou abalado, aproximo-me dela. — Senhora Hwang, eu ainda não entendo!
—Com o teste podemos montar esse quebra-cabeça, querido. — ela dá a solução— Sugiro que hoje seja com ela.
—Eu? —Somi diz assustada. — M-mas... e se eu não voltar, ou... —interrompe.
—Somi-ya, não seja medrosa! Você tem força! — Hwang a encoraja.
—Mas...
—Somi-ya, ela tem razão. — digo, sério — Precisamos montar esse quebra cabeça.
Ela respira fundo.
—Tudo bem. — decide, então se levanta. — Então vamos logo.
—Ok. — Hwang concorda, levantando-se também.
—Mas espera. — digo, as duas me encaram. —Ainda não respondeu. Somi e eu morremos na vida passada, isso é óbvio. Mas por que eu sou assim? Por que ela é assim? E por que continuamos ligados?
—A união de duas almas é um laço que não pode ser corrompido. Vocês foram interrompidos, e por isso continuam agora. A razão pela qual você é desse jeito, pode ser respondido assim que o quebra cabeça por montado, e simplesmente, Somi ser o contrário do que você é.
—Se sentiu tão mal e pisado com minha morte, talvez essa amargura ainda esteja impregnada na sua alma. — Somi sugere.
—Isso também. — Hwang logo concorda — Bem, vamos aos testes.
Concordamos.
Caminhamos pelo corredor até o pequeno quarto de paredes claras, azuis. Entramos na sala. Agora, sento-me na poltrona vermelha, assim como Somi fez na outra vez.
—Deite-se ai, querida. — Hwang aponta para a poltrona reclinável, no centro da sala. — Deite, relaxe e concentre-se na minha voz.
—Tudo bem. — ela diz meio incomodada com a ideia.
De certa forma, até eu estou com receio. Sei que posso confiar na senhora Hwang, mas me preocupo tanto com Somi. Eu a amo tanto, é tanta pressão.
Alguns minutos depois.
—Agora, quero que entre. Quero que abra a porta, entre e diga o que vê. — GaYeon diz.
Poucos segundos. Somi respira fundo, pesado.
—Eu... estou em um elevador. — ela diz, ainda respirando fundo. Começa a fungar, assustando-me. — O elevador abriu. —começa a chorar.
Fico em transe enquanto a observo, de olhos fechados, mas chorando. Seu corpo se contraí a cada fungada.
—Somi, por que você está chorando? — Gayeon pergunta.
—Meu nome é Ayumi. — ela diz um pouco estressada. — Hyungwoo e eu brigamos. — volta ao choro.
—O que você está vendo? O que está acontecendo?
Ela fica em silêncio.
—Eu... Estou andando pelas ruas. As ruas estão vazias, e já é muito, muito tarde— ela conta. — Eu... estou andando rápido. Eu estou com medo. Eu... — ela inspira fundo, como se ficasse sem ar.
—Senhora Hwang! — digo com medo.
—Jimin, ela não está em perigo. Fique quieto! — Hwang me adverte. — Somi, o que foi?
—Eu... Estou em outro lugar. — diz sem chorar — O-onde eu estou? — ela sussurra.
—Como é esse lugar, So... Ayumi? — ela pergunta.
—Escuro... Fedido. Eu... estou com medo. — volta a chorar. — Hyungwoo? Hyungwoo? — silêncio — Eu quero sair daqui. — suspira cansada.
—Pode acabar logo com isso? — sussurro insistente a GaYeon.
Ignorado.
—AHHHHHH! — Somi começa a gritar, arregalo meus olhos — SAÍ DAQUI! SOCORRO! AH!!!
—SENHORA HWANG! — também grito, então me aproximo de Somi — Acorde, acorde, acorde! Park Somi, acorde! — digo repetida vezes, estalando os dedos.
—Park Somi, hora de voltar. Acorde. — Hwang diz calmamente, e estala os dedos.
Ela levanta rapidamente, como se fosse salva de um afogamento. Me encara confusa. Logo a abraço.
—Eu amo você, amo, amo, amo. — digo ainda assustado, abraçando-a. — Eu amo você, Park.
—Oppa, o que aconteceu? — ela pergunta ainda confusa.
—Eu ainda não sei. Mas eu amo você, entendeu? — desaproxima, encaro seus olhos. — Eu te amo. — selo nossos lábios.
Olho para trás. Encaro a senhora Hwang.
—Isso é só o começo. — ela diz.
•
•
•
Meses mais tarde
Após minha formatura, sinto-me um pouco mais livre. Agora estou sem trabalhos e pesquisas. O horário na Toyota aumentou, como combinado, mas eu prefiro estar na empresa do que na universidade.
A barriga de Somi já está aparente, ela já está de 6 meses. Ou seja, se passaram 3 meses. Como já dito pela senhora Hwang, minha primeira criança é uma menina; Ainda não decidimos o nome. Sobre meu sentimento por essa criança, ah... Bem, vejamos. Eu acho que estou começando a gostar da ideia. Somi é tão cuidadosa com crianças, e isso é tão fofo.
Os testes com a Senhora Hwang ainda continuam, vamos visita-la pelo menos uma vez por semana, sempre revezando. Uma consulta eu, outra ela. Juntos, nós 3 tentamos montar o quebra cabeça, com as informações que Hwang tem e as memórias quebradas que conseguimos com os testes. Montando sequências, procurando sentido. Já conseguimos muito.
Já na sala, sentados no sofá, esperando Hwang voltar com algum doce ou bebida.
Ela logo volta, com uma bandeja com alguns tteoks, bolinhos de massa de arroz recheado de pasta de feijão doce azuki, parecido com o mochi japonês. Coloca sobre a mesa de vidro.
—Crianças, eu tenho duas notícias. Uma boa e uma ruim. — ela diz, então esticamos nossos braços para pegar os bolinhos — Jimin.
—Eu. — digo, saboreando o bolinho.
—Sinta-se aliviado, você não tem nenhum envolvimento na morte de Somi. — ela diz, então suspiro tranquilo — Você apenas se sentiu culpado por não estar com ela naquele momento, já que a amava tanto.
—Ainda bem. — digo sorrindo, dou um beijo de esquimó em Somi. — Mas a senhora tem mesmo certeza?
—Sim. — ela diz séria. — Eu soube do verdadeiro assassino de Somi.
—Pode dizer mais a respeito?
—É essa a notícia ruim, crianças. — ela diz séria. — O assassino também está em nova vida. — faz uma pausa.
Silêncio.
—O assassino... É a filha de vocês. — diz com ênfase — O assassino de Somi, agora está em seu ventre.
Engulo em seco. Sinto-me nervoso, começo a suar frio. Encaro Somi. Seu rosto não tem reação, ela também está abismada.
A raiva volta a florescer em mim.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.